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Perdas catastróficas foram baixas no primeiro semestre

Perdas catastróficas: O mercado de seguros sofreu um impacto bastante moderado de eventos catastróficos no primeiro semestre. Isso de acordo com estimativas da Swiss Re.

Segundo levantamento preliminar da resseguradora, as perdas econômicas causadas por eventos catastróficos de janeiro a junho chegaram a US$ 44 bilhões (R$ 139,3 bilhões).

Deste total, US$ 23 bilhões (R$ 72,7 bilhões) estavam cobertos por seguro.

Contudo, são números bastante inferiores ao da média histórica registrada pela Swiss Re. Essa média chega a US$ 120 bilhões em perdas econômicas. E US$ 33 bilhões em perdas seguradas.

Dessa forma, esses números devem tornar ainda mais improvável que chegue ao fim, no curto prazo, o atual mercado brando. A princípio, os preços já caíram por 17 trimestres consecutivos, segundo a corretora Marsh.

2016 foi pior

No ano passado, as perdas catastróficas também foram muito maiores do que no primeiro semestre de 2017. Assim chegando a US$ 117 bilhões de prejuízos econômicos. Da mesma maneira, com US$ 36 bilhões cobertos por seguros.

Em contrapartida, a queda foi de 62% nas perdas econômicas. E 38% naquelas que foram absorvidas pelo mercado segurador.

Por outro lado, o número de vítimas mortais em eventos catastróficos foi bastante similar ao dos seis primeiros meses de 2016.

Ao todo, 4.400 pessoas morreram em decorrência de furacões, tempestades e outros desastres de janeiro a junho, contra 4.800 no mesmo período do ano passado.

A Swiss Re observa, porém, que este número pode aumentar uma vez que sejam computadas as mortes ocorridas durante a onda de calor que atingiu a Europa no mês de junho.

Os eventos

As maiores perda do primeiro semestre foram causadas por tempestades nos Estados Unidos.

Quatro eventos do tipo que ocorreram entre fevereiro e maio geraram perdas de mais de US$ 1 bilhão cada.

A maior de todas aconteceu no estado de Colorado. Ela foi acompanhada de fortes ventos e queda de granizo, gerando perdas econômicas de US$ 2,9 bilhões, e seguradas, de US$ 1,9 bilhão.

No total, uma série de tempestades americanas causou perdas de US$ 16 bilhões para o mercado de seguros.

Fora dos Estados Unidos, o evento mais caro foi o ciclone Debbie, de categoria 4, que gerou sinistros no valor de US$ 1,3 bilhão.

Em 2016, houve no primeiro semestre vários grandes eventos, incluindo fortes terremotos no Equador e no Japão e o gigantesco incêndio florestal de Fort McMurray, no Canadá.

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IRB Brasil: uma IPO decepcionante?

IRB Brasil. O que está acontecendo com a empresa? Após anos de preparativos, tentativas abortadas e muita especulação, havia grande expectativa para a oferta inicial de ações do IRB Brasil Re. O que acabou ocorrendo no final de julho. Porém, apesar da avaliação positiva do processo feita pelos próprios dirigentes da empresa, o resultado da IPO até agora tem sido no mínimo decepcionante.

Assim, durante o processo de oferta, notícias foram plantadas na grande imprensa. Segundo as quais era intenso o interesse de investidores internacionais pela operação. Isso poderia levantar até R$ 2,9 bilhões. Dessa forma, empresas como a Berkshire Hathaway poderiam ancorar o processo. E tornar-se parceiros estratégicos da maior resseguradora do Brasil.

Afinal, os acionistas tiveram que se conformar com menos de R$ 2 bilhões. Uma vez que os papéis foram lançados ao mercado pelo menor dos preços indicados como alvo pelos organizadores do negócio. Os R$ 27,24 por ação ficaram bem abaixo dos R$ 33,65 que os organizadores tinham esperança de que a IPO, realizada no Mercado Novo da B3, poderia alcançar.

Alta

A ação teve uma subida imediata de 8% após o lançamento. Porém, logo começou a cair, voltando, no dia 9 de agosto, a R$ 27,80.

Contudo, o mais interessante é que a queda das ações ocorreu logo após o IRB Brasil divulgar resultados. Os números incluíam um aumento de 10% no lucro líquido no primeiro semestre. Isso comparado com o mesmo período do ano passado. A taxa de ROAE chegou a 28%, dois pontos mais do que em junho de 2016. Assim consolidando a posição do IRB Brasil como uma das resseguradoras mais rentáveis. Senão a mais rentável, de todo o mundo.

Ainda assim, após a divulgação dos resultados, a ação entrou em queda. Inclusive em dias em que o índice IBOVESPA subiu. A resposta para isso pode ser que os investidores do mercado financeiro mantêm um olho no desempenho atual e outro no futuro. E é justamente olhando adiante que se vê que será muito difícil para o IRB seguir apresentando resultados tão positivos.

Financeiro x técnico

O primeiro ponto a colocar uma interrogação sobre o desempenho futuro do IRB é o retorno de seus investimentos financeiros. Afinal, no primeiro semestre caíram 16% comparado com o primeiro semestre de 2016. Dessa forma, com o Banco Central acelerando o ritmo de queda das taxas de juros, é de se esperar que este item vai continuar em queda livre nos próximos trimestres.

Esse dado é vital porque, apesar da queda, a carteira de investimentos continua representando a maior parte do faturamento da empresa. Ela rendeu R$ 438 milhões para a empresa no primeiro semestre. Comparado com R$ 365 milhões de resultado de underwriting.

Em teleconferência com investidores, o CFO do IRB, Fernando Passos, colocou muita ênfase no fato de que esse último número melhorou muito no semestre. De janeiro a junho de 2017, o resultado de underwriting aumentou 74%. Isso comparado com o mesmo período de 2016. O que, na visão do executivo, confirma o sucesso da estratégia de substituir resultados financeiros por resultados técnicos.

IRB Brasil

Mas a manutenção de tal ritmo também deve enfrentar desafios no futuro. Para começar, o IRB celebrou um aumento de 13% no total de prêmios emitidos no semestre chegando a R$ 2,9 bilhões.

Porém, analisando os números, vê-se que o volume de prêmios caiu levemente no Brasil. Chegou a pouco mais de R$ 1,9 bilhão enquanto teve um forte crescimento no exterior, onde está em R$ 926 milhões.

A redução no volume de prêmios no Brasil pode ser atribuída ao fraco desempenho do mercado de seguros no período. O mercado está sofrendo com a longa crise econômica. Mas também pode estar relacionada à reabertura do setor de resseguros. Gradualmente, o setor, até o ano de 2020, está acabando com a vida mansa de ter um mercado quase cativo de até 40% dos prêmios de resseguros no país.

Especialmente as dificuldades se mostram marcadas no mercado de seguros de grandes riscos. Um mercado dominado por empresas estrangeiras que têm seus próprios esquemas de resseguro . Elas disporão de cada vez mais liberdade para integrar seus programas domésticos a seus programas globais.

Lá fora também não está mole

O crescimento no exterior soa como impressionante. Da mesma forma que os prêmios aumentaram em 56% na comparação com o ano passado. Mas vale aqui lembrar que o mercado global de resseguros está vivendo um longo período de baixas de preços. O que está levando grandes resseguradoras a buscar alternativas de crescimento em mercados emergentes. Justamente o caminho oposto ao tomado pelo IRB.

Além disso, alguns dos mercados que o IRB apresenta como chaves para sua estratégia internacional, basicamente na América do Sul, têm problemas evidentes. A Argentina, onde o IRB aproveitou um movimento protecionista semelhante ao do Brasil após 2010 para abrir uma resseguradora local, também decidiu reabrir seu mercado. Outros mercados sul-americanos, como a Colômbia, já são extremamente competitivos e está difícil para todo mundo ganhar dinheiro lá.

Miami

Para complicar ainda mais, está ganhando força o mercado de Miami como um hub de resseguros regional focado na América Latina. Segundo fontes, resseguradoras com unidades na Flórida já estão de olho nas oportunidades abertas no Mercosul, agora que Brasil e Argentina estão abandonando suas políticas protecionistas.

O lucro do IRB no período também foi bombado por uma queda de 94,7% para 86% do índice combinado. O índice de sinistralidade caiu de 65,8% para 57,5%.

A exposição ao mercado global, porém, pode também aumentar a exposição do IRB ao risco catastrófico, que é praticamente inexistente no Brasil e pode arruinar o resultado técnico em um ano especialmente negativo.

Outro item que ajudou a aumentar o lucro foi a redução de despesas administrativas, que foi especialmente marcante nos meses que antecederam a oferta. Se a empresa pretende crescer cada vez mais, porém, é difícil ver como esta trajetória de queda pode ser mantida.

Sócio indigesto

Tais dificuldades podem explicar porque a IPO acabou sendo lançado com o preço mais baixo, e porque até o momento não emergiu o nome de nenhum parceiro estratégico como resultado da operação.

Outro fator pode ter também reduzido o entusiasmo dos investidores: a manutenção da golden share que a União detém no IRB.

A golden share permite à União vetar decisões como a escolha do presidente do Conselho e mudanças nas política de subscrição.

Além disso, em assembleia na segunda quinzena de agosto, os acionistas devem votar proposta de permitir que a União use seu golden share para vetar mudanças no capital acionário na empresa. Uma perspectiva que deve preocupar qualquer investidor que tenha uma participação significativa na empresa e queira vendê-la ou ampliá-la. Uma vez que estaria sujeita às veleidades do governo brasileiro do momento.

Fatos como a recente decisão de encostar um descontente do Ministério da Fazenda como CEO da empresa. Bem como a suposta indicação de um protegido do Presidente da Câmara para uma diretoria, só aumenta a incerteza quanto à influência deletéria da União sobre o futuro da empresa. O loteamento da Susep para partidos fisiológicos, uma prática cimentada em Brasília, só consolida esta impressão.

Lava Jato

Além disso, após anos de Lava Jato e as revelações do uso de empresas controladas pela União para fins de corrupção, seria natural que muitos departamentos de compliance de investidores cada vez mais preocupados com governança tenham expressado dúvidas sobre a conveniência de associar-se a um parceiro tão indigesto.

Em resumo, ainda é cedo para dizer se a oferta de ações do IRB foi um sucesso ou não. O timing parece revelador. Já que ocorreu em uma época de incerteza sobre a economia brasileira. Ou seja, longe da ideal.

Afinal, isso pode indicar que o governo estava desesperado para faturar qualquer caraminguá para aliviar sua trágica posição fiscal. Ações controladas direta ou indiretamente pela União constituíram mais da metade da oferta. Assim evantando mais de R$ 1 bilhão para os combalidos cofres públicos.

Ou que os acionistas pressentiam que, caso não fosse feita agora, seria mais difícil apresentar resultados tão favoráveis para convencer os investidores no futuro.

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Investimento em ativo ligado a seguro bate recorde

Investimento em ativo: os investimentos de mercados de capitais em ativos ligados aos seguros, os chamados veículos ILS, atingiram novos recordes no segundo trimestre de 2017. O que pode representar um momento de ruptura para o mercado de resseguros.

A avaliação é a da corretora Willis Towers Watson. A corretora acaba de publicar seu relatório trimestral sobre o mercado global de investimentos ILS.

Entre abril e junho, foram emitidos US$ 6,3 bilhões em novos veículos ILS ligados ao mercado de seguros não-vida em todo o mundo. A marca mais alta já registrada para um período de três meses.

Com isso, o volume de instrumentos ILS emitidos nos seis primeiros meses do ano chegou a US$ 8 bilhões. Valor só comparável ao do primeiro semestre de 2014.

O total de ativos cujo vencimento ainda não ocorreu chegou a US$ 24,7 bilhões. Também um novo recorde.

Os analistas da corretora comparam o resultado do segundo trimestre com a emergência da indústria de capital de risco em 1990. Foi quando um setor pouco conhecido do mercado de capitais se tornou um protagonista da economia global.

Caso a previsão se confirme, eles acreditam que o período pode representar o “aviso da morte do modelo tradicional de resseguro catastrófico patrimonial”.

Investimento em ativo: fatores a favor e contra

Os instrumentos ILS são utilizados por cedentes, que incluem seguradoras, resseguradoras, companhias ou entidades públicas. Dessa forma podem transferir riscos diretamente ao mercado de capitais, pagando uma taxa de remuneração pelo serviço.

Tais veículos têm ganhado impulso devido a fatores regulatórios. Esses fatores motivam os subscritores a buscar maneiras de diversificar sua gestão de capital de solvência.

Além disso, os investidores têm mostrado forte apetite por estes ativos, que oferecem remuneração atraente em um momento em que as taxas de juros nos países desenvolvidos estão no chão.

Porém, a Willis Tower Watson também nota que há fatores jogando contra os instrumentos ILS no momento. Como a incerteza que os investidores sentem devido ao Brexit. Assim como a eventuais mudanças tributárias nos Estados Unidos. Já o longo mercado brando incentiva as seguradoras a reter o risco. Bem como torna mais difícil para elas pagarem as taxas acertadas com os investidores em suas emissões ILS.

Ainda assim, as negociações entre subscritores e investidores avançaram com vento em popa no trimestre anterior, nota a corretora.

Enfim, a empresa prevê que as emissões fecharão 2017 em patamares inéditos. E que a tendência de alta deve se repetir no ano que vem.

Os números

Dessa forma, os US$ 6,3 bilhões emitidos no segundo trimestre foram resultado de 36 operações. Assim também superando o recorde trimestral anterior, de US$ 4,5 bilhões, registrado no mesmo período de 2014.

A Willis Towers Re selecionou duas emissões gigantes como destaques do período.

A primeira foi o título Kilimanjaro II Re, série 2017-1, que, em três operações, levantou US$ 950 milhões para a Everest Re, a fim de cobrir sua exposição a tempestades e terremotos nos Estados Unidos, Porto Rico e Canadá. O título tem vencimento de quatro anos.

Já a Autoridade de Terremotos da Califórnia, CEA, uma agência governamental americana, obteve US$ 925 milhões com vencimento em três anos com seu título Ursa Re, que foi emitido em duas operações.

Otimismo

Apesar do otimismo do relatório com relação ao futuro do mercado de veículos ILS, o setor enfrenta desafios, com analistas alertando que a capacidade de emissões ligadas a eventos catastróficos nos EUA, Europa e Japão tem um limite, e que é preciso disseminar as emissões para outros segmentos.

“O crescimento futuro do mercado ILS virá da redução das lacunas de cobertura e da atração de novos riscos para o setor”, afirmou Greg Wijciechowski, CEO da Bolsa de Valores de Bermudas, principal plataforma de negociações dos produtos, aos autores do estudo.

“Enquanto que a ampla maioria dos fundos de ILS ainda estão focados em catástrofes, alguns gerentes acreditam que há oportunidades adicionais em seguros patrimoniais, de responsabilidade, de vida e de saúde.”

Um dos caminhos buscados pelo mercado é chegar a novas regiões geográficas. O apetite foi aproveitado pela resseguradora Terra Brasis, por exemplo, para lançar seu primeiro veículo ILS neste ano.

Com o esperado desenvolvimento do mercado, novos centros estão tentando competir com Bermuda para hospedar as emissões. Um deles é Londres, onde o governo britânico está analisando novas regras para incentivar o desenvolvimento do setor no principal centro de resseguros global.

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Retenção em alta mostra resseguro mais maduro, aponta Terra Brasis

Rodrigo Botti, diretor da Terra Brasis
Rodrigo Botti, diretor da Terra Brasis.

O nível de retenção das resseguradoras locais no Brasil passou de 30% a 40%, entre 2011 e 2014, para 40% a 50% no últimos dois anos. O que representa mais um sinal de amadurecimento do mercado brasileiro. A análise é da Terra Brasis.

Após dez anos de abertura do setor no país, o capital somado das demais locais fica próximo ao do IRB, antigo monopólio e líder absoluto do setor. É o que aponta o Terra Report, estudo de mercado recém publicado. “Este feito não deve ser menosprezado”, nota Rodrigo Botti, diretor-geral da resseguradora, na introdução do trabalho.

Segundo a Terra Brasis, a capacidade estimada de retenção do mercado é de R$ 13,5 bilhões. Sendo que são aplicados atualmente R$ 5,5 bilhões.  Dessa forma “Existe significativo espaço para maior retenção de risco no mercado local”, diz Botti.

Em contrapartida, após a abertura, 15 resseguradoras locais se instalaram no país. Segundo o estudo, o capital somado delas chega a R$ 3,6 bilhões. Enquanto o capital do IRB é de R$ 3,1 bilhões.  Assim, “Em dez anos o capital alocado em resseguros foi dobrado”, aponta o estudo. “Concluímos que as resseguradoras locais encontram-se com ampla capacidade de expansão.”

Made in Brazil

Contudo, para a resseguradora, outro sinal de amadurecimento é a continuidade de crescimento dos prêmios com origem no exterior. Afinal, nos 12 meses terminados em março deste ano, houve incremento de 25% desses prêmios nas locais. Saltou para R$ 1,6 bilhão, em relação ao mesmo período anterior. “Igualmente o mercado local está em ótima posição para exportar resseguro”, avalia o diretor.

Todavia, no início deste ano a alta foi mais forte. Foi 64% maior no primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2016.

Assim, no trimestre, os prêmios de resseguros vindo de cedentes brasileiras cresceu 11%.

Mercado geral

Nos prêmios totais (com cedentes brasileiras e estrangeiras), 72% vieram do Brasil nos 12 meses finalizados em março.

Neste período, o volume total de prêmios de resseguro (bruto de comissão) somou R$ 10,5 bilhões, 2,7% a mais em comparação com o período anterior. Para a Terra Brasis, trata-se de um “comportamento estável” do mercado.

Cedentes brasileiras representaram R$ 7,6 bilhões do volume de negócios. Sendo o IRB Brasil Re responsável por 45% desse resultado.

No primeiro trimestre do ano, o prêmio emitido pelas resseguradoras locais bateu em R$ 2,37 bilhões (R$ 1,38 bilhão só do IRB). Resultado 19% a mais do que no mesmo trimestre de 2016.

Dessa forma, a sinistralidade teve queda expressiva nos 12 meses finalizados em março. Registrando 56% contra 101% no mesmo período anterior. No primeiro trimestre, ela foi de 47%.

Retenção legal

A Terra Brasis lembra que em 2015 houve mudança na legislação. De forma a retornar gradativamente os patamares pré-mudanças estabelecidas em 2011 “em decorrência do comportamentos de alguns participantes [do mercado] não condizentes com o espírito da regulamentação”.

O objetivo era limitar as operações intra grupo. E fixou-se na época que 40% dos prêmios de resseguros deveriam ser ofertados no mercado local.

As mudanças mais recentes estabeleceram que até 2020 a oferta preferencial a resseguradores locais cairá gradativamente. Até chegar a 15%. Sendo que em 2017 este patamar fica em 30%.

Clique aqui para acessar o Terra Report na íntegra.




Argentina expande abertura ao setor de resseguros

Resseguros: a Argentina deu um passo rumo à abertura e consolidação de seu mercado local. Isso com a publicação de uma nova resolução. Medida que facilita o acesso das cedentes locais ao mercado internacional. Ao mesmo tempo que impõe exigências de capital mais rigorosas para as resseguradoras.

Segundo fontes do mercado, a Resolução 40.422, publicada em maio pela SSN, a Susep argentina, deve motivar o fechamento de várias resseguradoras locais no país. E também jogar uma água fria nos planos de outras resseguradoras latino-americanas de crescer no mercado local.

A princípio, a resolução libera, a partir de julho, que as seguradoras argentinas transfiram 50% de seu risco para o mercado internacional. Isso através de resseguradoras admitidas registradas no país. No ano que vem, o limite aumentará para 60%. E em 2019, para 75%.

Até então, as cedentes locais eram obrigadas a ceder a totalidade de seus prêmios de resseguros a reasseguradoras locais. Porém, algumas medidas de abertura do mercado de seguros já haviam sido anunciadas no ano passado.

A medida, similar à recente reabertura do mercado de resseguros brasileiro, aparece como mais um esforço do governo de Mauricio Macri para reverter a política de Cristina Fernández de Kirchner. E de tentar criar à força um mercado de resseguros local no país.

Segundo fontes consultadas por Risco Seguro Brasil, a medida pode prejudicar a estratégia do IRB Brasil Re no país vizinho. Uma vez que, graças a regras do Mercosul, a empresa brasileira podia alavancar suas reservas de capital na Argentina. Da mesma maneira utilizando as reservas de sua casa matriz. O que lhe proporcionava uma vantagem competitiva no mercado fechado.

Mais mudanças

Em outra medida liberalizante, a SSN autorizou cedentes argentinos a colocar riscos a partir de US$ 30 milhões diretamente no mercado global. Isso através de contratos facultativos. Até então, somente riscos superiores a US$ 50 milhões, e a partir deste valor, podiam ser transferidos diretamente às resseguradoras admitidas.

Igualmente as seguradoras também poderão, a partir de julho, transferir prêmios de seguros de vida coletivo e seguro funeral ao resseguro. Antes o acesso ao resseguro era vedado a essas linhas.

Em termos de exigência de capital, a SSN aumentou o nível mínimo de reservas exigidos das resseguradoras locais de US$ 30 milhões para US$ 350 milhões.

Já entre as resseguradoras admitidas, o patamar mínimo passou de US$ 30 milhões para US$ 100 milhões.

Para observadores, esse aumento de capital das resseguradoras admitidas deve atrapalhar os planos de players regionais de pequeno e médio porte de crescer na Argentina. Alguns citaram resseguradoras locais brasileiras de menor tamanho como possíveis afetadas.

Resseguro

Contudo, a resolução foi bem aceita por grande parte do mercado. Isso porque, de acordo com Francisco Astelarra, presidente da AACS, a associação argentina de seguradoras, as restrições anteriores acabaram apenas criando um nível intermediário na cadeia do resseguro. O que aumentava os custos das operações sem trazer nenhum benefício aparente.

“É uma boa mudança, que mostra estamos avançando na direção correta, ainda que preferiríamos ver a liberalização completa do mercado”, disse Astelarra.

Segundo especialistas, o que acontecia,  era que resseguradoras locais foram criadas para receber os prêmios das seguradoras. Em seguida os transferindo para o resseguro global através de contratos de retrocessão.

“A maior parte dos resseguradores locais se transformou em intermediários que acrescentavam um custo extra às coberturas. Ao mesmo tempo em que os prêmios de resseguros acabavam no mercado internacional de qualquer maneira”, disse Pablo Cerejido. Ele é especialista em direito do seguro no escritório Marval,O’Farrell & Mairal, em Buenos Aires.

Oportunidades

Porém, especialistas notam que há no mercado várias empresas que foram criadas com o objetivo de realmente aproveitar as oportunidades criadas pelo fechamento do mercado, em 2011, através de operações de resseguro local bem capitalizadas.

É o caso do próprio IRB Brasil, da espanhola Mapfre Re e da francesa Scor. Elas montaram significativas resseguradoras locais. Outros grupos internacionais montaram resseguradoras locais que funcionavam como cativas. Também eram usadas para transferir parte de seus prêmios argentinos para seus programas regionais de resseguro.

Da mesma forma, houve empreendedores argentinos que montaram resseguradoras locais. Elas vêm atuando há anos como empresas comercialmente ativas. E não só como intermediárias, como observou Cerejido. Para ele, o fato de que o governo escalonou o processo de chegar aos novos patamares de reserva, de certa maneira, procura compensar os investimentos feitos por esse último grupo.

As resseguradoras locais terão que chegar a US$ 60 milhões de capital em julho. Devem somar US$ 120 milhões em julho de 2018. E US$ 350 milhões no mesmo mês de 2019.

Quem fica

No mercado de resseguros, a SSN exigiu que as resseguradoras locais observassem, em seus balanços do primeiro trimestre, como pretendem atingir os novos patamares de capital.

Segundo o órgão supervisor, três disseram que vão alocar imediatamente o capital exigido. Enquanto outras 15 o farão gradualmente.

Todavia, seis empresas optaram por um processo de “recoversão”. O que significa que elas podem se transformar em seguradoras. Assim, fundir-se com outras empresas. Ou ainda ser adquiridas por terceiros.

Duas resseguradoras locais optaram pela liquidação voluntária.

“Aquelas que optarem por continuar no mercado terão que alocar quantidades significativas de capital para garantir suas operações”, disse Alejandro Guerrero. Ele é CEO da corretora Marsh para Argentina e Uruguai.

Para Horacio Cavallero, o diretor geral da resseguradora Punto Sur, que decidiu permanecer no mercado, vai continuar havendo oportunidades para as empresas de capital argentino. Até porque 25% dos prêmios de resseguroras terão que ser colocados localmente mesmo após 2019.

Fragmentação

Além disso, segundo ele, a alta fragmentação do mercado, onde atuam mais de 170 seguradoras, significa que muito da demanda por resseguro não é atraente. Pelo menos para as grandes empresas do setor.

“Há muita necessidade de resseguro facultativo”, afirmou. “Mas estamos falando de contratos de pequeno porte. Que não atingem os patamares mínimos de valor exigidos pelas resseguradoras internacionais.” A Punto Sur foi criada pelo Grupo Sancor, um dos principais grupos de seguros de capital argentino.

Para Diego Nemirovski, um analista de seguros da agência de avaliação de crédito Moody’s, as mudanças são saudáveis. Isso do ponto-de-vista da solvência do setor de seguros.

Mas analistas observaram que as constantes mudanças de regras, que podem ser alteradas pela SSN sem consulta com o mercado, criam incerteza para os investidores do setor. A Resolução 40.422 reverte o fechamento do mercado que havia sido implementado em 2011.

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Conservador, seguro tenta adotar novas tecnologias

A indústria de seguros é conhecida por sua relutância em adotar novas tecnológias. Especialmente no mercado de grandes riscos como o Lloyd’s de Londres, o relacionamento cara a cara entre clientes e subscritores continua valendo tanto ou mais do que os últimos programas de computador e ferramentas de gestão de riscos.

Mas esse famoso conservadorismo, que por três séculos ajudou a indústria a ganhar a confiança dos clientes, pode acabar se tornando um problema. Isso na medida em que novos jogadores aproveitam evoluções tecnológicas e de hábitos de consumo para causar marola no mercado de seguros. As chamadas InsurTechs e os sites de comparação de preços são exemplos desta tendência. Mas gigantes tecnológicas como Google, Facebook, Amazon e Apple também já andaram sondando iniciativas no setor.

Novas tecnologias

Em contrapartida, para tentar não ficar para trás, muitas seguradoras e resseguradoras estão procurando investir na integração de novas tecnologias aos seus modelos de negócio. É o que mostra um relatório divulgado pela Swiss Re.

Algumas criaram fundos de capital de risco (venture capital) para investir em InsurTechs inovadoras. Assim buscam adotar as novas ideias que estas empresas estão introduzindo no mercado. Outras têm seus próprios setores de desenvolvimento de novas tecnologias ou incubadoras tecnológicas. E também há quem está firmando parceiras com gigantes tecnológicas para tentar fazer crescer o seu negócio.

A Swiss Re nota que, enquanto algumas novidades tecnológicas constituem uma ameaça para o setor. Por exemplo, como os sites de comparação de preços, que competem diretamente com os corretores. Bem como os veículos autodirigidos, que podem reduzir a necessidade de seguros para automóveis. Outras abrem perspectivas interessantes para os subscritores aprimorarem seus negócios.

Por exemplo, o desenvolvimento de tecnologias de inteligência artificial pode aumentar a previsibilidade de muitos riscos. Assim facilitando sua precificação. A ruminação cada vez mais afiada de um fluxo gigantesco de informações coletadas dos clientes também pode ajudar as seguradoras a reduzir fraudes. Bem como acelerar a gestão de sinistros. Além, é claro, de possibilitar a venda de coberturas sob medida para cada cliente.

InsurTechs

A princípio, o aumento do interesse em soluções inovadoras se reflete no crescimento do volume de operações de investimento em startups na área de seguros. São as chamadas InsurTechs.

Dados da Willis Towers Watson citados no relatório mostram que, em 2012, foram tornadas públicas cerca de 40 operações de financiamento de InsurTechs em todo o mundo. No ano passado, foram mais de 160.

Da mesma maneira, os volumes envolvidos também aumentaram significativamente. Foram de cerca de US$ 500 milhões cinco anos atrás para quase US$ 1,8 bilhão em 2016. Em 2015, impulsionados por duas operações gigantes, os investimentos passaram de US$ 2,4 bilhões.

O ramo preferido pelas InsurTechs é o de não-vida. Especialmente produtos individuais. Como os seguros para automóveis e moradias. Assim como as coberturas para pequenas e médias empresas (ver gráfico acima).

O segmento mais visado por estas empresas é o da distribuição, seguido pela precificação, serviços, novos riscos e gestão de sinistros (ver gráfico acima).

Nesse último caso, a Swiss Re nota que o uso de métodos analíticos avançados e tecnologias de “machine learning” estão possibilitando implementar melhorias na prevenção de riscos dos clientes e também a acelerar os pagamentos de perdas.

Linhas comerciais

Apesar da concentração nas linhas de seguros individuais, também já há startups fazendo barulho no setor de seguros para empresas.

A Swiss lista em seu relatório várias iniciativas, como por exemplo as das empresas Human Condition Safety e Argo Risk Tech, que desenvolveram tecnologias para monitorar a postura dos empregados e sistemas de alerta para evitar acidentes e, assim, reduzir a frequência de sinistros no segmento de benefícios para empregados.

Já a WayGum e Relayr introduziram tecnologias que visam evitar perdas em equipamentos industriais através de dispositivos que controlam maquinaria de difícil acesso e logaritmos que ajudam a fazer a manutenção preventiva dos equipamentos.

A Lightfoot e a The Floow criaram tecnologias para a gestão de frotas comerciais que recompensam bons hábitos de condução e agilizam a manutenção dos veículos. Por sua vez, empresas como BitSight e Cyence oferecem soluções para gerir os riscos cibernéticos no ambiente de trabalho.

Gigantes despertos

Para não ficar atrás, os grandes subscritores estão tentando abraçar algumas startups através de parcerias.

Mas seus próprios times de especialistas estão procurando patentear suas próprias soluções tecnológicas, observa o relatório.

A própria Swiss Re desenvolveu um sistema que utiliza dados criados por empresas de gestão de tráfego aéreo para criar um seguro contra o atraso de voos que permite o pagamento de indenização assim que é recebida a confirmação de que um voo não saiu na hora esperada.

Outros exemplos incluem a MetLife, que patenteou um sistema de uso de drones na subscrição de apólices, e a Hartford Fire, que registrou um sistema de subscrição baseado em tecnologia telemática.

Clique aqui para acessar o relatório em inglês.

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Austral aposta em recuperação de riscos do petróleo

Elias Junior_Austral Re
Elias Silva Júnior, da Austral Re (Foto: Divulgação)

A Austral Re está apostando na retomada do setor de petróleo e gás no Brasil. Assim está expandindo sua presença na área de riscos de energia.

A empresa contratou Elias Silva Júnior para desenvolver a atuação da empresa em um segmento que enfrentou um duro período nos últimos anos. Porém, vê a possibilidade de dias melhores pela frente.

A indústria petroleira foi severamente atingida desde 2015. Principalmente pelos efeitos da operação Lava Jato. A operação que começou investigando escândalos centrados na Petrobras. Também pela dramática desaceleração da economia brasileira.

Para completar a “tempestade perfeita”, o preço do petróleo despencou. Chegando a menos de US$ 30 por barril no mês de março de 2016. O que deprimiu ainda mais os investimentos no setor.

A falta de atividade atingiu o mercado segurador. O mercado viu os prêmios de riscos de petróleo caírem quase pela metade entre 2013 e 2016 (de R$ 720 milhões para R$ 390 milhões).

Mas a retomada do preço do petróleo para cerca de US$ 50, a incipiente melhoria do cenário econômico doméstico. Bem como as mudanças das regras de exploração das reservas do pré-sal estão reanimando as empresas de seguros e resseguros que trabalham com o setor.

“O fim da exigência de participação da Petrobras nos projetos do pré-sal facilita a atração de novas empresas para o Brasil”, disse Silva Júnior a Risco Seguro Brasil. “A tendência é que a atividade no setor volte a ser igual ou superior à do auge da indústria do petróleo no Brasil, em 2013 e 2014.”

Pulverização do risco

“O setor de seguros vai voltar a ter oportunidades neste segmento. E nós estamos nos preparando para oferecer capacidade para o mercado”, acrescentou o executivo.

Afinal, o mercado de seguros de petróleo apresenta uma elevada parcela de utilização de resseguro. E a Austral identifica o cenário como uma oportunidade para as resseguradoras locais.

Segundo Silva Júnior, que antes trabalhava no IRB Brasil Re, a média de transferência de prêmios ao resseguro chega a 85%. Isso devido a alta intensidade dos sinistros que podem potencialmente afetar o setor.

Só para ter uma ideia, a BP estimou que o custo total do grande vazamento de petróleo em uma de suas plataformas no Golfo do México (EUA), em 2010, chegou a quase US$ 62 bilhões. O que representa cerca de R$ 195 bilhões no câmbio atual.

Os próprios mercados de resseguros tendem a pulverizar muito estes riscos. Dividindo as exposições em consórcios formados por vários atores globais.

“É um mercado extremamente dependente do resseguro”, afirmou Silva Júnior. “Ninguém fica com 100% do risco.”

Além do Brasil, a Austral planeja expandir sua oferta no ramo de energia para outros países da América Latina onde opera. Por exemplo, como Colômbia e Equador. Países que são importantes produtores de petróleo.

Silva Júnior afirmou que a Austral vai atuar em todas as coberturas disponíveis na cadeia do petróleo, desde a construção até riscos operacionais e a operação dos poços.

Da mesma maneira, a empresa está estruturando sua área de energia. Assim, Silva Júnior espera que já comece a operar no segmento em junho deste ano. A meta é aproveitar uma esperada retomada de negócios no setor em 2018.

Duro para todo mundo

Ao mesmo tempo não é só no Brasil que o mercado de riscos de energia anda complicado. Segundo relatório da Willis Tower Watson, o principal centro de resseguros para o setor viu uma queda significativa no volume de prêmios nos últimos dois anos.

Segundo a corretora, em 2014, os prêmios de seguros de energia do mercado Lloyd’s chegavam a mais de 1 bilhão de libras. No final de 2016, não passavam de 700 milhões.

Isso porque os preços estão sob pressão de baixa devido a uma abundância de capacidade no mercado internacional. A empresa estima que, para as atividades de exploração, a capacidade global chega a US$ 7,72 bilhões. Comparado com US$ 7,56 bilhões no relatório anterior, divulgado no ano passado.

Nas atividades downstream, ou seja, de refino e distribuição, a capacidade aumentou de US$ 6,19 bilhões para US$ 6,5 bilhões. E para cobrir riscos de responsabilidade das empresas de energia, de US$ 3,2 bilhões para US$ 3,3 bilhões.

Além disso, a competição está cada vez mais dura. Com um número crescente de resseguradoras mostrando disposição para assumir posições de liderança em contratos para todos os tipos de risco.

Contudo, a Willis Tower Watson observa que, apesar do mercado difícil, os portfólios de risco de energia continuam dando lucro para o setor. Mas também alerta que mesmo um modesto aumento nos níveis de sinistralidade pode reverter esta situação.




Renovações de abril repetem queda moderada de preços

Seguro e resseguro: as renovações de abril mostram que o mercado continua favorável aos compradores, de acordo com levantamentos feitos por corretoras globais.

De acordo com relatório divulgado em 5 de abril pela Aon Benfield, os preços de resseguros voltaram a apresentar queda no mês de abril.

As quedas se devem sobretudo à grande oferta de capacidade no mercado de resseguros. Situação que ajudou a segurar as pressões por tarifas mais elevadas. Isso apesar de um leve aumento na demanda por parte das entidades cedentes.

A Aon Benfield espera que novas reduções de preços sejam obtidas pelos compradores de resseguros nas renovações de junho e julho.

Mas a Willis Re afirma que o ritmo das quedas de preços continua se desacelerando. Assim confirmando tendência observada nas renovações de janeiro.

Enquanto em trimestres anteriores era comum ver reduções de “duplo dígito” nas tarifas de resseguros, agora elas tendem a ficar abaixo de 10%. É o que afirma a empresa em seu relatório trimestral.

Ambas as empresas afirmam que os cedentes estão buscando aumentar seus limites de cobertura no que pode ser um reflexo do maior clima de insegurança geopolítica e econômica prevalente hoje no mundo.

Capital de sobra

Uma tendência que segue clara no mercado é a contínua chegada de mais capital para a transferência de riscos seguráveis.

Segundo a Aon Benfield, ao final de 2016 havia US$ 595 bilhões de capacidade disponível no mercado. É a maior marca desde pelo menos 2006.

O aumento com relação a 2015 foi de 5%. O principal destaque ficou por conta do capital trazido por investidores em veículos de transferência de risco alternativos. Os chamados investimentos ligados aos seguros, ILS, que aumentou 13% no ano passado.

O mercado de ILS chegou a US$ 81 bilhões em 2016. Comparado com US$ 72 bilhões no ano anterior. No mercado tradicional, o aumento de capital foi de 4%, chegando a US$ 514 bilhões.

Setor atraente

Os números mostram que, apesar das dificuldades causadas pelo longo mercado brando, o mercado de resseguros continua oferecendo uma alternativa atraente para investidores institucionais. Um mercado que busca diversificação em tempos de instabilidade.

A entrada de capitais no mercado alternativo se acelerou no último trimestre de 2016. A tendência de alta se manteve nos três primeiros meses de 2017, segundo observadores do mercado.

Além disso, as resseguradoras tradicionais continuam apresentando boa performance. Mesmo apesar de lucros menores. Entre 23 empresas monitoradas pela Aon Benfield, o índice de retorno sobre patrimônio líquido (ROE) foi de 8,4% no ano passado, um nível aceitável apesar de ter caído pelo terceiro ano consecutivo.

Ainda segundo a AOn Benfield, as perdas catastróficas globais atingiram US$ 7,6 bilhões no primeiro trimestre, que está abaixo tanto do primeiro trimestres de 2016 quanto da média do período nos últimos dez anos.

A Willis Re, por sua vez, afirma que as resseguradoras estão se mostrando cada vez mais dispostos a reportar menores aumentos de prêmios, tomando menos riscos que estão a preços considerados baixos demais.

A empresa também observa que o primeiro trimestre foi difícil especialmente para a nova capacidade que chegou ao mercado, uma vez que os atuais players mostraram forte capacidade de retenção de negócios.

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Insurtech vai oferecer trading de riscos seguráveis

O logo da Extraordinary Re. (Reprodução)
O logo da Extraordinary Re. (Reprodução)

Uma insurtech quer revolucionar o mercado de investimentos ligados aos seguros (ILS) ao criar uma bolsa para a negociação de riscos que seguradoras e resseguradoras desejem ceder aos mercados de capitais.

Além de facilitar o acesso de investidores a um setor que cresce, mas segue pouco conhecido, a Extraordinary Re também espera que sua plataforma de negociação de riscos seguráveis ajude o mercado. Da mesma forma, auxilie ao expandir coberturas em segmentos onde a capacidade é limitada, como os riscos cibernéticos.

A Extraordinary Re foi criada há dois anos por um grupo de profissionais do seguro e resseguro. O objetivo é implementar uma maneira inovadora de negociar produtos que atraem cada vez maior atenção de investidores institucionais como hedge funds e fundos de pensão.

Mas as colocações de produtos ILS tendem a ser demoradas e complexas. Assim tardando meses de negociações e ficando limitadas a um número restrito de investidores altamente especializados.

Insurtech

Para ampliar o acesso do mercado, a Extraordinary Re está desenvolvendo uma plataforma de trading que vai funcionar de forma parecida com as das bolsas de valores.

“Nosso plano é permitir que os investidores adquiram ações de riscos seguráveis . E em seguida os negociem na plataforma que estamos construindo”, disse Will Dove, CEO da Extraordinary Re, a Risco Seguro Brasil.

Para isso, a insurtech está usando tecnologia licenciada de uma empresa que já atua no setor de bolsas de valores. Segundo Dove, a insurtech conta com o apoio de resseguradoras, seguradoras. Além de investidores no mercado de ILS. A empresa levantou capital semente no final do ano passado. Assim planeja fazer uma rodada de financiamento com investidores de capital de risco (venture capital) ainda neste ano.

A empresa espera começar a negociar títulos em sua plataforma no ano que vem.

Como funcionará

Segundo Dove, o primeiro passo do processo, será firmar um contrato de resseguro tradicional entre a Extraordinary Re. Assim como com seguradoras ou resseguradoras que queiram ceder parte de seu portfólio de riscos. A empresa está registrada como uma resseguradora nas Bermudas.

Uma vez que estes riscos entrem no sistema, eles serão “fatiados” de acordo com critérios acertados com os investidores e ofertados na plataforma. A Extraordinary Re está desenvolvendo um sistema digitalizado que vai realizar este fatiamento, de acordo com o CEO.

Os participantes serão hedge funds. Além de outros investidores qualificados que estarão previamente registrados na plataforma. Direito ganho com a aquisição de um pacote de ações preferenciais da Extraordinary Re.

Uma vez adquirida as ações, o investidor tem direito a uma conta de trading, e receberá dividendos de acordo com os lucros auferidos por esta conta. Eles poderão vender ou comprar riscos ingressados na plataforma, ou negociar entre si títulos já existentes.

“Podemos dizer que é algo similar a uma versão do mercado Lloyd’s para o século 21”, afirmou Dove. “As ações preferenciais adquiridas pelos investidores serão um novo tipo de produto ILS.”

Risco cibernético

Dove disse que uma das virtudes da plataforma será a capacidade de avaliar riscos que hoje o mercado têm dificuldade de precificar devido à falta de estatísticas ou modelos confiáveis.

É o caso, por exemplo, dos riscos cibernéticos, para os quais a capacidade de resseguro segue sendo limitada no mercado global.

“Queremos que a plataforma seja capaz de manejar qualquer tipo de riscos”, disse o executivo. “Mudanças tecnológicas e econômicas estão criando novos tipos de exposições que são fundamentalmente difíceis para que as seguradoras lidem com elas da maneira tradicional. Isso faz com que seja complicado precificar novos produtos.”

A solução oferecida pela Extraordinary Re será permitir que os mercados de capitais decidam o quanto querem pagar por tais riscos. “Vamos propiciar acesso a uma nova base de capital que antes não tinha acesso a riscos seguráveis”, disse Dove. “Os mercados de capitais são muito bons na hora de colocar um preço no risco em ambientes em evolução.”

Desta forma, a plataforma também poderá gerar uma grande quantidade de informações e dados sobre riscos emergentes, como os cibernéticos, que ajudarão o mercado de seguros e resseguros a compreendê-los de maneira mais eficiente.

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Terra Brasis inova com primeiro ILS brasileiro

Rodrigo Botti, diretor da Terra Brasis
Rodrigo Botti, diretor da Terra Brasis.

A resseguradora Terra Brasis patrocinou em fevereiro a emissão de um instrumento ligado aos seguros, ou ILS. Trata-se de uma iniciativa que visa ajudar a fomentar o desenvolvimento de um mercado de capitais para risco seguráveis no Brasil.

A emissão do título, no valor de US$ 5 milhões, marca a estreia de uma resseguradora brasileira neste tipo de operação. A informação é de Rodrigo Botti, CFO da empresa.

O Alpha Terra Validus I, listado nas Bermudas, cobre a exposição a riscos de danos a bens ligados a catástrofes naturais da Terra Brasis na América Latina.

A cobertura abrange todo o continente, mas as maiores exposições da empresa se encontram fora do Brasil. Especialmente em países como Peru e Colômbia. A Terra Brasis abriu recentemente um escritório de representação na capital colombiana, Bogotá.

O objetivo da empresa, além de obter um grau extra de proteção para suas crescentes atividades internacionais, é fomentar o debate sobre o desenvolvimento de um mercado ILS no Brasil. É o que afirma Botti em entrevista a Risco Seguro Brasil.

Tecnologia

“Mais do que qualquer coisa, nosso objetivo foi aumentar a percepção desta tecnologia no mercado latino-americano”, disse o executivo. “Quisemos mostrar que é possível.”

Entretanto, para fomentar este mercado no Brasil, é preciso que ocorram mudanças na legislação relacionada aos seguros. Uma vez que a lei brasileira proíbe os subscritores de transferir riscos aos mercados de capitais.

Para viabilizar a operação do Alpha Terra Validus I, a Terra Brasis teve que primeiro transferir os riscos para uma resseguradora suíça registrada no Brasil, a Validus Re.

Foi a empresa suíça que, em seguida, realizou a operação com os mercados de capitais, através da White Rock Insurance. Trata-se de uma unidade da Aon nas Bermudas. O título foi negociado integralmente com a AlphaCat Managers. A AlphaCat  é uma gestora de fundos especializada no mercado de ILS. Ela pertence ao mesmo grupo da Validus Re.

Demanda em alta

Dessa forma, os produtos ILS (Insurance-Linked Securities), grupo que inclui os chamados cat bonds, permitem que subscritores transfiram riscos tomados de seus clientes aos mercados de capitais. Isso em troca de um retorno sobre o investimento feito.

Ao mesmo tempo, estes produtos têm tido forte demanda por parte de hedge funds, fundos de pensão e outros investidores institucionais. Isso devido à sua baixa correlação com outros tipos de investimentos. Por exemplo, como ações e renda fixa.

No ano passado, de acordo com a resseguradora Swiss Re, o volume de novas emissões de cat bonds chegou a US$ 5,9 bilhões no mercado global de produtos ILS. Foi um número inferior ao de 2015. Porém, superior ao volume de emissões anteriores que atingiram sua maturidade em 2016. Dessa maneira, o estoque de cat bonds manteve-se estável em mais de US$ 24 bilhões, segundo a empresa suíça. Todo o mercado de produtos ILS chega a US$ 75 bilhões.

Neste ano, as emissões de novos cat bonds devem atingir US$ 8 bilhões. Isso de acordo com estimativas preliminares da Aon Securities.

ILS: vantagens

Para seguradoras e resseguradoras, além de alguns emissores privados e ligados a agências governamentais, a vantagem dos produtos ILS é que eles lhes ajudam a reduzir a exposição a riscos de grande intensidade como terremotos e furacões.

Os exemplos mais conhecidos são os chamados cat bonds emitidos nos Estados Unidos para cobrir excessos de perdas causadas. Por exemplo, pelos furacões que costumam atingir a Flórida com alguma frequência.

Com isso, os subscritores conseguem também reduzir suas necessidades de formar reservas de capital para fins regulatório. Assim liberando capacidade de cobertura. Bem como incrementando sua lucratividade.

Legislação

Porém, no Brasil, o mercado ILS ainda não decolou. Um dos motivos é a baixa penetração dos seguros no país. Além de sua reduzida exposição aos riscos catastróficos tradicionais do mercado. Como os furacões e terremotos.

Mas o mercado está se expandindo para outras áreas. Como longevidade e até mesmo riscos operacionais,. Assim, Botti acredita que nesta diversificação podem estar as oportunidades para potenciais emissores brasileiros.

“Eu vejo potencial no seguro agrícola, no seguro garantia, riscos de engenharia, longevidade, toda a parte da saúde”, disse o executivo. “Há uma série de produtos que podem ser utilizados para essas operações.”

O mercado tem mostrado apetite por riscos não tradicionais, como mostrou uma bem-sucedida operação feita pela seguradora italiana Generali no ano passado. A empresa transferiu US$ 255 milhões através do Horse Capital, um título lastrado em sua exposição a riscos de responsabilidade civil de automóvel em vários países europeus.

Novos países

O interesse por diversificação também inclui novos países. Tradicionalmente, os mercados de produtos ILS são os Estados Unidos, a Europa e o Japão, com algumas emissões feitas por cedentes australianos e neozelandeses. Em 2015, porém, a China Re inaugurou a participação do mercado chinês com o título Panda Re.

Na América Latina, há emissões feitas com riscos localizados México e no Caribe, mas sempre com o apoio de instituições multilaterais como o Banco Mundial, além de algumas colocações privadas.

Para que as empresas brasileiras possam desfrutar de forma mais intensa desta fonte de capital, porém, é necessário que o governo aceite fazer mudanças na legislação, observou Botti. Negociações já estão sendo realizadas neste sentido.

“Estamos trabalhando com as autoridades brasileiras para desenvolver este produto onshore no Brasil”, disse o executivo. “Não vai ser um trabalho rápido, mas é algo que queremos desenvolver pensando no longo prazo.”

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