Para investidores, compliance em empresas agora é prioridade
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- Rodrigo Amaral, rodrigo@riscoseguro.com.br
- 18 de setembro de 2019
- Sem categoria
Mais do que nunca, o compliance das empresas está sendo valorizado pelos investidores. Após vários anos de escândalos de corrupção, não é de estranhar que, hoje, investidores estejam com a pulga atrás da orelha com relação a empresas latino-americanas.
E uma das coisas que muitos querem saber, antes de colocar dinheiro em uma companhia da região, é se ela possui um programa de compliance digno do nome.
Risco Seguro Brasil conversou com investidores de empresas de private equity, gestoras e fundos de pensão internacionais. O objetivo é saber como as empresas latino-americanas podem recuperar a confiança do mercado e ter um programa de compliance de qualidade e seguro.
Alguns querem conhecer em detalhes aprofundados as regras de governanças de potenciais alvos de investimento. Do mesmo modo, outros acham melhor simplesmente evitar alguns setores mais arriscados.
E há quem prefira criar suas empresas do zero. Assim, ao invés de comprar uma já existente, querem evitar ter nas mãos um ativo com cultura contaminada.
Leia abaixo algumas das opiniões colhidas pela reportagem:
David Soucar, gerente de Portfólio do fundo Vontobel Quality Growth

Soucar afirmou que seu fundo coloca muita ênfase em assuntos ligados à governança, temas sociais e meio ambiente. Portanto, ele leva em consideração o tripé ESG, na sigla em inglês – na hora de definir a alocação de recursos.
Nesse sentido, empresas que não têm um bom sistema de controles internos e compliance dificilmente vai entrar no portfólio.
“Nós investimos em negócios onde a probabilidade de que eles se envolvam em algo errado é baixa”, afirmou.
Isso significa evitar setores inteiros como a construção ligada à infraestrutura e a indústria do petróleo e gás natural.
No entanto, ele observa: “No caso de uma construtora, ainda que diga que está implementando políticas de compliance, a probabilidade de que vai fazer algo errado é maior [que em outros setores]”.
A ênfase na boa governança tem uma lógica de investimento. Soucar cita estudos da suíça Vontobel, segundo os quais empresas que possuem ratings mais elevados em temas ESG têm uma performance superior em 700 pontos-base na comparação com as que têm qualificação mais baixa.
Além disso, como investidor minoritário, é importante não se ver envolvido em situações em que no futuro é preciso recorrer à Justiça para fazer valer seus direitos. Investidores consideram que os direitos dos minoritários não são particularmente respeitados na região.
“É importante selecionar as companhias corretas para investir. Isso porque, uma vez que ocorre um problema, não há muito que fazer além de vender a posição”, concluiu.
Janne Werning, chefe de ESG na Union Investment

O fundo de pensão alemão é um investidor ativista. Portanto, presta muita atenção em áreas como a corrupção na hora de definir seus investimentos, observou Werning.
Isso significa não só evitar possíveis armadilhas. Nesse sentido, também é preciso avaliar posições em empresas que se envolveram em escândalos no passado. Porém, elas agora conseguem convencer ao fundo de que mudaram de forma definitiva suas práticas empresariais.
Segundo ele, com os escândalos dos últimos anos, muitas empresas latino-americanas estão fazendo um esforço neste sentido.
“Nossa percepção é que as empresas estão mais envolvidas com o diálogo que queremos ter como investidores ativistas”, observou. “Ainda que algumas são mais proativas que outras ao endereçar nossas preocupações na área de ESG.
Segundo ele, emissores latino-americanos hoje vão à sede do fundo de pensão, em Frankfurt, para explicar o que estão fazendo para evitar casos de corrupção e outros riscos de governança. Cinco anos atrás, isso não acontecia.
Em geral, porém, a percepção é que as empresas da região ainda ficam atrás de seus pares globais na ênfase a temas ESG.
“O que notamos é que, em geral, ainda há escassez de algumas medidas que gostaríamos de ver”, disse ele.
“Por exemplo, na maioria das vezes, as empresas não possuem medidas de proteção para os ‘whistleblowers’. Ou comprovação externa de que padrões éticos estão sendo seguidos, o que é diferente de simplesmente ter uma política neste sentido.”
Lucy Heintz, Sócia da área de Energia, e Shami Nissan, chefe de ESG na Actis

A empresa de private equity londrina Actis tem um foco em mercados emergentes e está submetida ao UK Bribery Act. Trata-se de uma das legislações anticorrupção mais rígidas do planeta.
Por esse motivo, segundo Heintz, temas ligados à corrupção são sempre uma grande preocupação em seus investimentos em qualquer parte do mundo.
Bem como, para reduzir o risco de envolvimento em casos obscuros, a empresa procura sempre ter uma parcela de controle no capital de suas participadas.
Com frequência, monta suas operações desde o zero para garantir que a cultura da participada está em sintonia com a da matriz. Foi que aconteceu no Brasil, por exemplo, com a Atlantic Energias Renováveis.
A Actis abandonou negócios várias vezes quando viu que o nível de transparência do outro lado não era satisfatório.
Em outras palavras, Nissam observa: “Se há uma falta de sintonia em termos de valores e cultura de integridade, isso é algo que consideramos que não tem conserto”.

Ela disse que a Actis faz um trabalho exaustivo de due diligence antes de considerar um investimento. De acordo com ela, se o ativo em questão alguma vez esteve envolvido em irregularidades, o mais provável é que a negociação nem passe do telefonema inicial.
Maria Negrete-Gruson, gestora líder do fundo Sustainable Emerging Markets, da Artisan Partners (EUA

Para Negrete-Gruson, o grande desafio das empresas que querem mostrar que reforçaram seus sistemas de segurança é provar que as mudanças não estão só no papel.
Em sua opinião, na América Latina, ainda que avanços institucionais tenham ocorrido nos últimos anos no combate à corrupção, na cultura de negócios a transformação não está tão clara.
Por exemplo: “Algumas das empresas que estiveram envolvidas em escândalos fizeram mudanças muito profundas. Elas começaram a contabilizar os fatores envolvidos”, disse ela.
“Nós queremos ver mudanças que são quantificáveis. Muitas companhias estão tentando fazer isso. Em termos de reportar e registrar incidentes, em vez de simplesmente só ficar falando de suas políticas.”
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