Argentina deve ter consolidação no seguro com novas regras de capital
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- Rodrigo Amaral
- 14 de setembro de 2016
- Sem categoria
Analistas prevêem movimento entre empresas menores e resseguradoras locais, mas tendência é que mercado corporativo siga brando
Novos requerimentos de capital devem gerar uma onda de fusões e aquisições no mercado de seguros da Argentina, de acordo com especialistas.
Mas corretores afirmam que é pouco provável que a consolidação do mercado resulte em condições mais difíceis para os compradores de seguros corporativos no país.
No final de julho, a Superintendência de Seguros da Nação, SSN, supervisor do mercado argentino, publicou uma circular atualizando os valores das reservas mínimas de capital exigido das seguradoras e resseguradoras argentinas.
A nova norma exige que as empresas incrementem suas reservas de três a dez vezes, comparado com as exigências anteriores.
“Provavelmetne vamos ver muitas fusões e aquisições na Argentina nos próximos anos”, afirmou Carlos Caputo, CEO da Merkel América Latina. “Muitos grupos não terão a capacidade de aumentar seus níveis de capital por seus próprios meios.”
Atualmente, o mercado é bastante fragmentado, com mais de 150 empresas inscritas na SSN. Mas no setor de seguros corporativos, por exemplo, os especialistas estimam que as 20 maiores empresas concentrem mais de 80% dos prêmios.
Como estas empresas são bem capitalizadas, não é neste grupo que se espera o maior número de fusões e aquisições, e sim nas companhias de menor porte, que muitas vezes são negócios familiares.
Roman Mesuraca, diretor de Placement na Willis Towers Watson na Argentina, acredita que o principal efeito das medidas ocorrerá entre as resseguradoras locais, cujas demandas de capital aumentaram de forma mais dramática do que as das seguradoras.
“As novas normas de solvência não são suficientes para desencadear um processo de consolidação de grande escala na indústria seguradora”, afirmou. “No entanto, elas provavelmente terão efeitos no setor ressegurador.”
Acidentes de trabalho e automóveis
Os dois segmentos que sofrem maior pressão hoje no país são os de acidentes de trabalho e de automóveis, onde uma mescla de elevada sinistralidade com extrema competição levou as seguradoras argentinas que trabalham nestes ramos a sofrer persistentes resultados técnicos negativos.
A situação é especialmente preocupante no ramo de acidentes de trabalho, que sofre com altos índices de litigiosidade. Tanto a cobertura de acidentes de trabalho quanto a de responsabilidade civil para automóveis são obrigatórias na Argentina.
Devido especialmente a estes dois ramos, o índice combinado das empresas de não-vida argentinas chegou a uma média de 107% nos últimos cinco anos, um dos motivos por que a agência de qualificação de crédito Standard & Poor’s recentemente classificou o setor como de “risco muito elevado”.
De acordo com fontes de mercado, está sendo realizado um trabalho entre o governo argentino e as seguradoras especializadas no segmento para elaborar um projeto que reduza o número de apólices que acabam na Justiça. Especialistas esperam que mudanças já aconteçam em 2017.
“Dependendo da qualidade do risco e da natureza da atividade, o ramo de acidentes de trabalho é o único onde as empresas podem enfrentar custos mais altos para comprar suas coberturas na Argentina”, disse Marcelo Rodríguez, presidente e CEO da corretora RiskGroup, em Buenos Aires.
Isso porque, em suas palavras, para as linhas tradicionais dos seguros corporativos há capacidade em excesso no mercado argentino.
Queda de preços
Em realidade, com a crise econômica que a Argentina passa no momento, a demanda também está em baixa, e os compradores têm obtido quedas de preço até superiores às observadas no mercado internacional, afirmam os corretores.
Segundo Mesuraca, as empresas de seguros aumentaram muito a capacidade disponível para grandes riscos de bens e responsabilidades, chegando a US$ 50 milhões entre as empresas líderes do setor. A capacidade pode ser aumentada através de co-seguro, que é bastante utilizado no país.
Dez anos atrás, o valor não passava de US$ 10 milhões. No caso de linhas mais especializadas, como D&O e responsabilidade civil para aviação comercial, a capacidade é menor, mas pode ser complementada sem grandes problemas no mercado de resseguro, diz o executivo.
“Há abundante capacidade no mercado local, em especial para riscos médio e médios para grandes”, disse Mesuraca. “No caso de riscos muito grandes, as resseguradoras internacionais têm sido muito receptivos a eles e têm provido capacidade adicional ao mercado local. Dessa maneira, muitos compradores têm obtidos quedas de tarifas de 20% a 30%.”
Nova confiança
Hoje, segundo o executivo, as empresas mais ativas no mercado são as seguradoras locais, já que várias das seguradoras internacionais presentes na Argentina têm relutado em entrar na guerra de preços nos segmentos corporativos.
Há exceções, porém, como a australiana QBE, que está reforçando suas equipes para tirar proveito de uma eventual recuperação da economia argentina, segundo Mesuraca.
“Esperamos que as seguradoras internacionais voltem a reforçar suas atividades no país. No entanto, alguns dos principais players do mercado estão passando por seus próprios processos de transição, e isso se reflete nas suas unidades argentinas”, disse Mesuraca.
Analistas também esperam que seguradoras estrangeiras voltem a apostar no mercado argentino na proporção em que o governo de Mauricio Macri vá removendo as medidas mais heterodoxas adotadas pela administração anterior e que afetaram o mercado de seguros.
Algumas medidas já foram bem recebidas pelo setor. Por exemplo, a remoção de controles de capital que dificultaram em muito as operações de resseguro no exterior e o envio de dividendos das unidades locais para suas matrizes em outros países.
O governo Macri também eliminou uma exigência de que as seguradoras investissem seus portfólios de prêmios em projetos de interesse nacional, o que ameaçava a capacidade das empresas de obter os rendimentos necessários para manter capitais de solvência.
“Como o governo anterior adotou políticas que estavam fora de linha com as práticas comerciais estabelecidas ao redor do mundo, as seguradoras e resseguradoras deixaram de fazer investimentos na Argentina”, diz Caputo.
“Mas a atual administração está tentando criar um ambiente de negócios onde os investidores podem se sentir à vontade para voltar ao país.”
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