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Mercado abre 2016 com dúvidas sobre preços e resultados

Na medida em que divulgam seus resultados anuais, algumas seguradoras e resseguradoras globais têm deixado saber que há sinais de que o longo mercado brando pode estar finalmente chegando ao fim. Mas é possível também que os preços estejam se estabilizando porque os subscritores já não têm mais capacidade financeira de seguir reduzindo as tarifas.

Empresas como a Hannover Re, a Munich RE e a Scor, três das principais resseguradoras do mundo, anuciaram que as quedas de preço foram mais moderadas nas renovações de janeiro do que em períodos anteriores.

Durante a conferência anual dos gestores de riscos franceses, entre os dias 3 e 5 de fevereiro em Lille, players no mercado de grandes riscos como a Zurich avisaram que vão ter de atualizar suas políticas de subscrição, resultando em uma “revisão” de preços ou no abandono de contratos por meio de uma seleção dos melhores clientes.

No mesmo evento, a corretora AON avisou que não está mais aceitando participar, na França, de licitações realizadas por grandes clientes que visam achatar cada vez mais preços e comissões.

As esperanças de endurecimento do mercado global, porém, enfrentam um sério obstáculo, que é a manutenção das condições do mercado financeiro que inundaram o mercado de seguros de liquidez nos últimos anos.

A recente redução das taxas de juros do Banco do Japão para patamares negativos ilustra a dimensão do problema. Com a economia mundial entrando em um período que parece ser de crise generalizada, é bem pouco provável que as taxas de juros aumentem nos países desenvolvidos.

Mesmo a esperada elevação gradual dos juros pelo Fed americano poderia estar em risco, já que a economia do país parece menos pujante do que se esperava. As turbulências nos mercados de ações desde o começo do ano constituem um fator a mais a afugentar investimentos.

Com ativos de risco pouco atraentes, e instrumentos de renda fixa pagando uma miséria, investidores europeus, americanos e asiáticos devem continuar vendo o mercado de seguros e produtos de transferência de risco alternativos como uma opção menos pior para fazer seu dinheiro trabalhar.

Como resultado, os mercados de seguros podem continuar recebendo grandes quantidades de capital, mantendo níveis abundantes de capacidade para a maioria das linhas de seguro corporativo.

Pressão sobre resultados

O fator que está motivando as grandes seguradoras e resseguradoras globais a conter as baixas de preço parece ser, portanto, o impacto que as sucessivas quedas estão tendo em seus resultados.

De acordo com a Amrae, associação francesa de gestão de riscos, o mercado brando já dura doze anos. Neste período, as baixas ininterruptas vêm colocando pressão sobre o resultado técnico das empresas.

Baixos níveis de sinistralidade catastrófica em 2014 e 2015 ajudaram o setor a minimizar o impacto. Mas há evidências de que, mesmo neste entorno benéfico do ponto de vista das grandes perdas, os resultados financeiros das empesas estão se deteriorando cada vez mais.

A Argo, por exemplo, divulgou que seu lucro líquido caiu 31% no quarto trimestre de 2015, comparado com o mesmo período do ano anterior. Isso apesar de a empresa ter registrado um aumento de 5% no volume de prêmios.

Em todo o ano, o lucro líquido da Argo caiu 11%, apesar de o volume de prêmios ter aumentado 5,6%. A empresa afirmou que os preços apresentaram uma “modesta queda” no período.

Já a Zurich anunciou que espera uma perda operacional de aproximadamente US$ 100 milhões no quarto trimestre de 2015, quando a empresa sofreu um significativo impacto das enchentes no Reino Unido. A Zurich também anunciou a troca de seu CEO. Mario Greco, ex-Generali, vai assumir a empresa em março. Problemas financeiros já haviam levado a companhia a suspender a aquisição da RSA no decorrer de 2015.

Por sua vez, a Hannover Re comemorou o fato de que os preços caíram uma média de “um modesto 1,5%” nas renovações de janeiro. A Munich Re e a Scor anunciaram que os preços caíram 1% nas últimas renovações. Como em anos recentes as quedas comumemente superavam mais de 10%, tais números podem ser interpretados como sinais de estabilidade no mercado.

Há poucos indícios, porém, de que os subscritores estejam em condições de impor aumentos efetivos de preços a seus clientes. Por isso, o temor de analistas é que os resultados se deteriorem cada vez mais devido à contínua, ainda que mais moderada, queda de preços.

Maquiagem

Em uma conversa reservada com Risco Seguro Brasil, o CEO de um dos maiores corretores da Alemanha expressou sua preocupação de que muitas seguradoras e resseguradoras vêm maquiando seus resultado por meio de estratagemas como a liberação de reservas de capital que servem para vitaminar os dividendos e manter seus acionistas felizes.

Na opinião dele, no entanto, o acúmulo de vários anos de maus resultados técnicos, agravados pelo baixo rendimento dos investimentos financeiros em renda fixa resultantes das minúsculas taxas de juros vigentes nos Estados Unidos e na Europa, estão tornando cada vez mais difícil manter o que este executivo considera ser uma imagem algo enganadora da saúde do setor.

O caso da Zurich seria um exemplo do que pode estar acontecendo com outras empresas do setor. A pressão por melhor lucratividade também está entre os motivos de uma campanha de investidores ativistas pelo desmembramento da americana AIG.

Gerentes de riscos de grandes multinacionais também têm expressado preocupação com a situação. Alguns veem com desconfiança o fato de que, devido ao aumento do número de subscritores e dos preços cada vez mais baixos, muitas vezes terem de fechar programas de grande valor com sindicatos formados por dezenas de seguradores e resseguradores.

Esses grupos frequentemente incluem empresas recém-chegadas ao mercado, que têm pouco renome entre os compradores e, por isso, geram incerteza a respeito da robustez dos programas de seguros.

A dúvida é o que pode acontecer caso uma grande catástrofe afete o setor e empresas que estão trabalhando no osso necessitem pagar altos volumes de indenização.

Mais consolidação

Outro sintoma da possível fragilidade financeira de algumas seguradoras e resseguradoras é que analistas continuam apostando em mais fusões e aquisições no setor neste ano.

Em parte o processo é movido pela abundância de capital no mercado e a falta de melhores oportunidades de investir o dinheiro do caixa das empresas, de acordo com uma pesquisa feita pela Willis Tower Watson.

Mas a busca de oportunidades geradas por empresas em aperto financeiro, especialmente entre seguradoras e resseguradoras de menor porte, especializadas em nichos de mercado, também está contribuindo para o alto volume de operações.

Em 2015, as operações de fusão e aquisição no mercado de seguros e resseguros somaram US$ 143,5 bilhões, segundo a Willis Towers Waston. Trata-se do maior valor já registrado e equivale ao triplo de 2014.




Nevasca é uma das mais ‘caras’ já registradas nos Estados Unidos

A nevasca que atingiu a Costa Leste dos Estados Unidos nesta semana deve causar prejuízos de vários bilhões de dólares, sendo uma das mais custosas catástrofes naturais do tipo já registradas.

A corretora de resseguros AON Benfield comparou os danos materiais causados pela Jonas, que matou mais de 40 pessoas, com os que foram causados por uma tempestade de neve similar que atingiu o país em 1996, causando perdas de US$ 4,8 bilhões (quase R$ 20 bilhões), das quais US$ 920 milhões estavam asseguradas.

“Dados os danos físicos causados a habitações, negócios e outras estruturas e automóveis, mais os altos custos gerados pela interrupção de negócios, espera-se que isto terminará tendo um custo econômico multi-bilionário”, disse a AON Benfield em uma nota.

A resseguradora estima que Jonas se tornará uma das 15 nevascas mais custosas a atingir a Costa Leste americana.

Já a Moody’s Analytics colocou o provável custo da nevasca em um patamar entre US$2,5 bilhões e US$3 bilhões, de acordo com a revista Forbes.

A nevasca atingiu Nova York, Washington e várias outras cidades em 14 estados americanos. Em alguns lugares, a acumulação de neve chegou a mais de um metro de altura.

De acordo com o site da rede de TV Weather Channel, não havia registro anterior de acúmulo de neve tão grande nos aeroportos JFK e La Guardia, em Nova York, com mais de 77 cm e a quase 72 cm, respectivamente.

Em cidades como Nova York e Washington, a tempestade causou severos distúrbios nos transportes e forçou o fechamento de várias empresas. Até a manhã de quarta-feira, 26 de janeiro, 46 mortes haviam sido associadas à tempestade, segundo o Weather Channel.

Catástrofes naturais

Caso as estimativas de prejuízos sejam confirmadas, a nevasca indica a possibilidade de que 2016 não seja um ano relativamente tranquilo em termos de perdas econômicas causadas por catástrofes, como foi o caso de 2015.

De acordo com a AON Benfield, as perdas econômicas derivadas de catástrofes naturais atingiram US$ 123 bilhões (mais de R$ 500 bilhões) no ano, um número 30% menor do que a média dos últimos 15 anos, que chega a US$ 175 bilhões.

As perdas asseguradas chegaram a US$ 35 bilhões, ou 31% menos do que a média desde o ano 2000.

Por outro lado, o número de eventos catastróficos observados no ano, 300, foi superior à média anual de 269, o que mostra que o menor impacto econômico está menos relacionado à severidade e freqüência dos eventos catastróficos do que com a casualidade de eles se haverem concentrado em regiões de baixo desenvolvimento econômico.

Indonésia e Nepal

Os maiores danos foram causados por incêndios florestais que ocorreram durante todo o ano na Indonésia, causados por exploração agrícola. As perdas chegaram a US$ 16,1 bilhões, de acordo com o Banco Mundial, e 19 pessoas perderam a vida.

Entre os eventos não-climáticos, destacaram-se os terremoto do Nepal, cujos custos de reconstrução devem se elevar a US$ 8 bilhões. A tragédia nepalense causou 9.120 fatalidades e foi o evento mais mortal do ano, seguida de ondas de calor na Índia e no Paquistão, que mataram 2.500 e 1.233 pessoas, respectivamente.

Mas as perdas asseguradas na Indonésia e Nepal chegaram a apenas US$ 250 milhões e US$ 200 milhões, respectivamente, refletindo a baixa penetração da indústria seguradora nos dois países.

As maiores perdas asseguradas causadas por um único evento ocorreram nos Estados Unidos, onde tempestades de inverno custaram US$ 2,1 bilhões a seguradoras oficiais e privadas no mês de fevereiro.

No acumulado de 2015, as enchentes custaram US$ 27 bilhões em todo o mundo, seguidas pelos eventos climáticos severos, com US$ 26 bilhões, os incêndios florestais, com US$ 19 bilhões, ciclones tropicais, com US$ 15 bilhões, e as secas, com US$ 14 bilhões.

Top 10 desastres de 2015

1. Incêndios florestais na Indonésia (Todo o ano)
Perdas econômicas: US$ 16,1 bilhões
Perdas asseguradas: US$ 250 milhões
Mortes: 19

2. Terremotos no Nepal (Abril e maio)
Perdas econômicas: US$ 8 bilhões
Perdas asseguradas: US$ 200 milhões
Mortes: 9.120

3. Enchentes nos EUA (Outubro)
Perdas econômicas: US$ 5 bilhões
Perdas asseguradas: US$ 700 milhões
Mortes: 21

4. Ciclone tropical na China e nas Filipinas (Outubro)
Perdas econômicas: US$ 4,2 bilhões
Perdas asseguradas: US$ 100 milhões
Mortes: 22

5. Enchentes na Índia e Sri Lanka (Novembro e dezembro)
Perdas econômicas: US$ 4 bilhões
Perdas asseguradas: US$ 650 milhões
Mortes: 386

6. Distúrbios climáticos nos EUA (Maio)
Perdas econômicas: US$ 3.8 bilhões
Perdas asseguradas: US$ 1.4 blihão
Mortes: 32

7. Onda de frio nos EUA (Fevereiro)
Perdas econômicas: US$ 3,3 bilhões
Perdas asseguradas: US$ 2,1 bilhões
Mortes: 30

8. Ciclone Tropical na China e Taiwan (Agosto)
Perdas econômicas: US$ 3,2 bilhões
Perdas asseguradas: US$ 100 milhões
Mortes: 34

9. Distúrbios climáticos nos EUA (Dezembro)
Perdas econômicas: US$ 3 bilhões
Perdas asseguradas: US$ 1,4 bilhão
Mortes: 46

10. Enchentes no Reino Unido
Perdas econômicas: US$ 2,5 bilhões
Perdas asseguradas: US$ 1,3 bilhão
Mortes: Não disponível

Fonte: Aon Benfield




Aquisição da VIS dá sequência a expansão no país

Empresa investiu R$ 5 mi em 2015
Empresa investiu R$ 5 mi em 3 anos

Em meados de dezembro, a Lockton Brasil adquiriu a corretora VIS, uma empresa especializada em seguros corporativos que se posicionava no mercado como uma butique de seguros, com atendimento sob medida para clientes.

“O nosso foco não é simplesmente fazer venda de seguro, mas entender como o cliente pode transferir ou não os riscos dele”, afirma Nicholas Weiser, CEO da VIS e atual diretor de varejo da Lockton.

O valor do negócio não foi revelado, no entanto contempla a estratégia para o país da corretora norte-americana, que é trabalhar com prestação de serviços que considera diferenciados. Ajuda também no objetivo de obter crescimento orgânico no Brasil — só o incremento da VIS fez a companhia crescer cerca de 15%.

Em 2015, mesmo com a crise econômica, o volume de prêmios angariados pela corretora deve ter fechado o ano de 2015 com uma alta de 20 e 30%, diz o vice-presidente Guilherme Perondi. Para 2016, ele prevê alta de 10%, seguindo uma média geral estimada para o setor segurador. Para isso, aposta no reforço de linhas especiais de seguros.

Segundo Perondi, o volume de prêmios captados no mercado brasileiro pela Lockton fechará o ano fiscal que termina em abril de 2016 na casa dos R$ 450 milhões, sendo que a VIS deverá agregar mais R$ 70 milhões a esse valor.

Investimento

Nos últimos três anos, a Lockton investiu R$ 5 milhões para reforçar sua posição no Brasil, segundo Perondi.

O valor não inclui a compra da VIS. A maior parte dos recursos foi destinada a uma nova sede em São Paulo (R$ 2,5 milhões). O restante foi para tecnologia e contratações, com reforço da equipe do qual o próprio Perondi é exemplo — vindo da Allianz, ele está Lockton há cerca de três meses.

Com a aquisição da VIS, os cerca de 500 clientes corporativos da Lockton subiram para 600, e as 3.000 pessoas físicas passaram para 4.000.

O time de 27 funcionários da corretora foi totalmente incorporado à Lockton, incluindo os nove sócios da corretora, que passam a ter cargos estratégicos na nova companhia, diz Weiser. A marca VIS deixará de existir.

Segundo ele, nos quatro anos de existência da VIS houve várias sondagens para aquisição da empresa, todas recusadas. Ele viu, no entanto, na oferta da Lockton, “uma proposta de valor muito grande”.

“O portfólio de clientes da VIS é muito interessante”, diz Perondi. “A equipe é de profissionais absolutamente reconhecidos pelo mercado e a empresa tem um perfil inovador, parecido com o nosso, que é de levar serviços diferenciados para o cliente corporativo.”




Em ano de crise, Lockton visa nichos pouco explorados

Guilherme Perondi, vice-presidente da Lockton. (Foto: Divulgação)
Guilherme Perondi, VP da Lockton. (Foto: Divulgação)

A Lockton terminou 2015 estruturando duas operações envolvendo seguro contra risco político no Brasil. Foram as primeiras do gênero durante o ano na corretora e servem para antecipar uma movimentação que deve ocorrer de maneira mais acentuada em 2016, segundo o vice-presidente da empresa, Guilherme Perondi.

As operações são de empresas estrangeiras que farão negócios aqui. As apólices cobrem o risco de calote do governo brasileiro com a dívida soberana.

Trata-se de uma possibilidade bastante remota. Mas, com a perda do grau de investimento do país em duas agências de classificação de riscos, o seguro passou a ser uma exigência do negócio.

Nicholas Weiser, diretor da Lockton. (Foto: Divulgação)
Nicholas Weiser, diretor da Lockton. (Foto: Divulgação)

“É o preço que se paga pela ausência do grau de investimento. É uma oportunidade de negócio [para o setor de seguros]”, diz Perondi. “A boa notícia é que ainda existe apetite para assumir risco no Brasil.”

O aumento da procura no risco político ocorre principalmente por parte de bancos multinacionais que estão  estruturando algum tipo de financiamento no país.

É um exemplo de como a crise econômica e política vai afetar o setor de seguros em 2016.

Inovação

De acordo com Perondi, o mercado segurador deve buscar ampliar a participação de linhas de produtos pouco utilizadas no Brasil atualmente. O objetivo é compensar eventuais quedas nas linhas tradicionais. Os clientes da carteira de transportes da corretora, por exemplo, registraram quedas de até 50% na movimentação de cargas.

O novo movimento no risco político deverá ser acompanhado por outras linhas de seguro.  “O mercado precisa mudar um pouquinho”, disse Perondi em entrevista à Risco Seguro Brasil.

“Nas linhas tradicionais, o mercado não está conseguindo absorver alguns riscos, existe um mercado soft com queda de taxas e tanto as corretoras como as seguradoras estão tentando inovar.”

De acordo com Nicholas Weiser, novo diretor da área de varejo da empresa, a inovação deve passar pela valorização de linhas novas ou muito pouco utilizadas no país, como seguros na área de fusões e aquisições (F&A), seguros ambientais, novas operações estruturadas com seguro garantia, garantia judicial e seguro de sequestro, por exemplo.

“Há muitos produtos novos entrando no mercado”, afirma ele, que assumiu o posto após a Lockton adquirir a VIS, corretora da qual era CEO.

Reclamação trabalhista

Um produto que a Lockton acredita que terá mais demanda com a crise é o chamado  EPL (Employment Pratices Liability), pouco utilizado hoje pelas empresas.

Com o desemprego em alta, a tendência é de aumento no número de ações trabalhistas, sendo que muitas delas tendem a incluir as questões cobertas pelo EPL.

Trata-se de um seguro que protege contra reclamações por danos morais e assédio, com apólices que podem ser individuais ou coletivas. “É um seguro pouco conhecido no mercado brasileiro, mas que tem gerado demanda em função do momento atual”, afirma Perondi.

A base ainda é pequena, mas número de apólices negociadas na corretora pulou de cinco para nove em questão de dias no fim do ano.

“Sem dúvida que a demanda [por essa linha] vai ser muito forte”, afirmou Perondi. “A crise vai ajudar a impulsionar esse mercado.”

A corretora diz que também irá reforçar o trabalho nas linhas mais clássicas.

“A estratégia para 2016 é buscar novos mercados e expandir para novos clientes”, disse Márcio de Araújo, gerente técnico de transportes da Lockton. “Estamos com uma equipe muito focada nas vendas.”




Corrupção em alta deixa seguro D&O mais caro e rigoroso

O estouro dos casos de empresas envolvidas com corrupção, dos quais a operação Lava Jato é o mais emblemático e atual, fez aumentar a sinistralidade do seguro D&O (Directors and Officers) e alterou o perfil do produto, voltado para proteção dos executivos das empresas.

Segundo especialistas reunidos em painel sobre o seguro e a aplicabilidade da Lei Anticorrupção no XI Seminário Internacional de Gestão de Riscos e Seguros, em São Paulo, o seguro ficou mais caro para algumas empresas, a subscrição está mais rigorosa e mudaram os limites das coberturas.

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Além disso, as seguradoras começaram a aplicar mais exclusões e franquias mais elevadas, aumentou o foco sobre o compliance dos tomadores, e estão surgindo algumas novidades na gestão do produto.

O maior impacto para os compradores do seguro recai sobre empresas estatais e aquelas que têm relações com estatais, além das empresas com histórico de sinistros.

Nesse processo, o subscritor de D&O ganhou mais preponderância e responsabilidade, e as seguradoras estão cobrando muito mais informações do tomador do seguro.

“Estão perguntando mais e precificando de forma diferente”, disse Celso Soares Júnior, responsável pelas linhas financeiras da seguradora Zurich.

Medidas de proteção

Soares diz que se busca conhecer de maneira detalhada como está estruturado o programa na empresa, como funciona o canal de denúncias, se há política anticorrupção, se há treinamento nessa área para os funcionários, entre outras coisas. “Percebemos que muitas empresas falham nesses itens”, disse ele.

“Acredito quer a subscrição vai ficar muito mais personalizada”, completou Álvaro Igrejas, diretor de grandes riscos da corretora Willis.

De acordo com Igrejas, a expectativa é que a fase atual do D&O irá desembocar num maior envolvimento da alta direção das empresas nos assuntos de compliance e gestão de riscos. Além disso, a tendência é que os procedimentos internos passem a ser melhores, com análise periódica e avaliação de riscos, canais de denúncias e controles internos.

A advogada Márcia Cicarelli, do escritório Demarest, lembrou que o D&O é uma importante ferramenta de proteção dos executivos, mas não é a única. “O seguro é complementar”, afirmou.

De acordo com ela, outras formas de proteger a empresa e o board, evitando práticas nebulosas, é limitar o poder dos executivos, produzir atas claras do conselho de administração e utilizar as confort letters (mecanismo pelo qual a empresa assume responsabilidade de seus executivos, desde que eles ajam de acordo com a legislação e as regras da companhia).

Ela lembrou que programas efetivos de compliance têm potencial de reduzir em até 50% os casos de corrupção numa companhia. E deu números para o tamanho do problema no Brasil.

Citando como fonte reportagem do Valor Econômico, lembrou que a corrupção consome 2,3% (ou cerca de R$ 95 bilhões) do PIB brasileiro e que 15% dos executivos do país se disseram dispostos a pagar propina para viabilizar algum negócio.

Sinistros

A sinistralidade no seguro D&O passou de 32,30% em 2013 para 53,50% em 2014, com prêmios na ordem de R$ 230 milhões e R$ 227 milhões. Este ano,  caiu (até outubro), para 36%, mesmo com os vários casos decorrentes das ações do Ministério Público.

O motivo, no entanto, é técnico.  Igrejas explica que os sinistros foram retirados das reservas das seguradoras porque nos processos que ainda estão em andamento.

As seguradoras também estão trabalhando com versões diferentes para as cláusulas de exclusão, disse Soares.

Entraram no circuito itens como exclusão absoluta, pagamento de custos com defesa só depois de a ação judicial ter sido finalizada, além de sublimites para cobertura dos custos. “A inversão de pagamento está supercomum hoje”, disse Soares.

Novidades

Também surgiram algumas novidades no mercado, como a possibilidade real de o Brasil vir a ter a chamada delação remunerada.

Trata-se de um instrumento comum nos Estados Unidos, pelo qual quem denúncia uma irregularidade pode receber 2% do que a empresas deixou de ter de prejuízo.

“Acho que logo vai ter no Brasil”, disse Álvaro Igrejas, diretor de riscos corporativos da corretora Willis.

Outra novidade são estudos especiais para empresas que passam por recuperação judicial, desdobramento da Lava Jato.




Após aquisição, AXA promete mais flexibilidade em contratos

Uma maior flexibilidade nos clausulados dos contratos é o diferencial que a AXA Corporate Solutions promete oferecer ao mercado brasileiro após a aquisição, em maio, da unidade de grandes riscos do Grupo Sul América.

Em entrevista exclusiva à Risco Seguro Brasil, Philippe Jouvelot, presidente e CEO da seguradora francesa no país, também afirmou que a operação vai acelerar a estratégia do grupo de crescer no Brasil pelo segmento dos seguros comerciais.

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“A aquisição é chave para a empresa porque a AXA decidiu entrar no mercado brasileiro por meio das linhas de riscos corporativos”, disse Jouvelot.  “A integração da nova unidade nos proporciona um avanço de quatro anos no plano de investimentos para o desenvolvimento da AXA CS no Brasil, que tem um prazo de 25 anos.”

Além disso, para ele, a nova dimensão do negócio serve como um atrativo para os grandes clientes brasileiros.

“As grandes corporações gostam de fazer negócios com grandes seguradoras”, afirmou Jouvelot. “Pode ser um tema mais psicológico que outra coisa, mas a verdade é que agora somos grandes seguradores corporativos também no Brasil.”

A intenção é visar não apenas as empresas brasileiras que transferem grandes riscos para o mercado, mas também multinacionais que necessitam comprar coberturas no Brasil e integrá-las a seus programas internacionais.

“Cerca de cem subscritores vão se integrar à AXA CS com a aquisição”, informou o executivo. “A expertise que os novos colaboradores nos trazem é extremamente valiosa. Tendo em vista especialmente os programas internacionais, é muito interessante ter em nossos quadros gente que conhece o mercado local a fundo. E eles também nos proporcionam de forma imediata um novo escritório brasileiro, no Rio de Janeiro, que é o segundo maior mercado de seguros do país.”

Produto sob medida

Em uma afirmação que deve soar como música aos grandes compradores de seguro no Brasil, Jouvelot prometeu que a companhia vai se diferenciar por uma maior capacidade de elaborar contratos sob medida para seus clientes corporativos.

“A AXA CS aporta um nível extra de capacidade, especialmente financeira, e muito mais flexibilidade com os clausulados”, garante. “É importante ter flexibilidade com os clausulados para refletir as necessidades reais dos clientes e para tornar possível a integração das coberturas a programas internacionais.”

A rigidez dos clausulados é uma queixa comum de gestores de risco no Brasil. Seguradoras costumam reclamar, por sua vez, que a Superintendência de Seguros Privados (Susep) lhes dá pouca margem para inovação ao exigir que os clausulados sejam aprovados pelo órgão antes de ser vendido aos clientes.

Jouvelot, no entanto, acredita que desde o fim do monopólio do resseguro, em 2008, aumentou a possibilidade para as seguradoras darem uma resposta às necessidades de seus clientes. “Durante o monopólio, todo mundo tinha os mesmos clausulados nos contratos”, disse. “Mas a Susep tem o objetivo de modernizar o setor, mesmo que ainda exista no mercado alguma resistência contra mudanças.”

Transferência diversificada

Mesmo as restrições de transferências de riscos ao resseguro não precisam ser um obstáculo para uma empresa como a AXA CS, argumenta Jouvelot. Como exemplo, ele cita o fato de que as seguradoras não podem passar mais do que a metade de seus riscos para o mercado ressegurador.

“A restrição dos 50% de transferência de prêmios não se aplica a cada contrato de seguro”, afirma o executivo. “Ela se aplica ao portfólio total de uma seguradora. Portanto, se uma empresa possui um portfólio diversificado, ela tem a possibilidade de transferir ao mercado ressegurador uma proporção mais elevada de um grande risco para um cliente em particular, no contexto do programa internacional deste cliente.”

A AXA CS entrou no mercado brasileiro em 2013 e no passado recebeu autorização para montar uma resseguradora local. Segundo Jouvelot, a estrutura do grupo no Brasil permite oferecer coberturas requeridas por clientes cada vez mais globalizados. Ele também segue acreditando no potencial do mercado brasileiro, apesar do fraco desempenho da economia.

“O desenvolvimento do mercado de seguros no Brasil está mais relacionado com a penetração do setor na economia do que com o crescimento do PIB”, avalia. “Cinco anos atrás, os seguros representavam 1,7% do PIB. Hoje, a proporção ainda é de apenas 3%. Em comparação, na França atinge quase 10%. Há, portanto, potencial de crescimento, e a CNSeg estima que o volume de prêmios vai aumentar 15% neste ano.”

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Onda de fusões e aquisições alimenta seguro transacional

A onda mundial de fusões e aquisições está incrementando a procura por coberturas de seguros transacionais, que protegem os participantes das operações de litígios surgidos após o fechamento do negócio.

De acordo com corretores internacionais, coberturas do tipo Representations & Warranties (R&I), também conhecidas como Warranties & Indemnities (W&I), se tornam aspectos cada vez mais comuns nas transações, ainda que o número de negócios cobertos por elas continue sendo minoritário.

Os especialistas também dizem que as coberturas em questão já chegaram ao Brasil. A Marsh britânica reportou ter fechado ao menos um contrato de W&I para uma operação envolvendo empresas brasileiras. Especialistas presentes no XI Seminário Internacional de Riscos e Seguros, no final de outubro em São Paulo, afirmaram que a tendência é que a procura por estes produtos aumente no país.

De acordo com a Dealogic, uma empresa de pesquisa de mercado, o volume global de fusões e aquisições em todo o mundo chegou a US$ 4,9 trilhões entre janeiro e a metade de dezembro deste ano, estabelecendo um novo recorde histórico.

No Brasil, o volume de fusões e aquisições se desacelerou em 2015 devido à crise econômica e a incertezas políticas, mas especialistas acreditam que mais negócios surgirão no futuro, na medida em que investidores internacionais sintam mais confiança para aproveitar as barganhas que existem hoje no país.

Boom

“A demanda por coberturas W&I tem disparado desde a crise financeira global, quando os participantes se tornaram mais conscientes dos riscos envolvidos”, disse Clemens Kueppers, diretor de Riscos Transacionais da corretora Willis em Londres.

“O atual boom das fusões e aquisiões, porém, está levando a um crescimento sem precedentes em termos de operações que são asseguradas e da entrada de novos atores no mercado. Nós esperamos que o crescimento continue no futuro.”

De acordo com a Marsh, até poucos anos atrás, havia apenas um par de seguradoras que ofereciam as chamadas coberturas de seguro transacionais no mercado global. Hoje já há mais de 15 apenas no mercado londrino, e players regionais estão surgindo na Europa, na Ásia e outras partes do mundo.

Como resultado, os preços destas coberturas estão caindo, e as condições se tornam mais favoráveis aos compradores das apólices. Em geral, estes são os investidores que realizam as aquisições, ainda que vendedores também possam ter interesse em adquirir o produto em determinadas situações.

“Há poucas jurisdições no mundo em que já não fechamos algum negócio”, disse Andrew Hunt, diretor de Private Equity e Fusões & Aquisições na Marsh em Londres. Transações em alguns setores, como o farmacêutico e o financeiro, podem ter maior dificuldade em obter as coberturas devido ao alto risco de litígio futuro inerente às transações.

O crescimento da demanda não é de hoje. Em 2014, a Marsh já havia registrado um aumento de 36% na venda de apólices de seguro transacional. Mas Hunt vê potencial para mais crescimento, uma vez que se estima que não mais que 10% a 15% das transações de F&A em todo o mundo são cobertas por este tipo de seguro.

Private equity e compliance

Um dos fatores por trás do aumento da demanda é a crescente participação de fundos de private equity em operações de F&A. Tais investidores são especialmente interessados em vender seus ativos sem ter que se preocupar em enfrentar problemas legais no futuro, dizem os especialistas.

Uma crescente preocupação de investidores com temas de compliance e de gestão de riscos também ajuda o segmento a se desenvolver.

Além das apólices de R&W ou W&I, como são conhecidas nos Estados Unidos e Reino Unido respectivamente, outros tipos de seguros transacionais incluem coberturas contra passivos tributários e outros temas.

Sua função é basicamente garantir que o comprador de uma empresa não tenha que arcar com os custos de um passivo trabalhista, ambiental, tributário ou outro risco que não tenha sido encontrado durante o processo de due diligence.

Em geral, os riscos cobertos são desconhecidos dos compradores. As exclusões dos contratos abrangem áreas como corrupção e compliance, riscos cibernéticos, alguns riscos tributários, guerra, terrorismo e outros riscos, de acordo com Kueppers, além dos riscos já identificados durante o processo de due diligence.

Hunt afirma, no entanto, que, em alguns casos em que é considerado de muita baixa probabilidade, é possível convencer as seguradoras a também tomar algum risco identificado previamente.




Seguradoras serão mais rigorosas com risco ambiental após Mariana

A tragédia de Mariana e outros desastres ambientais ocorridos recentemente estão aumentando o interesse das empresas por seguros de responsabilidade ambiental no Brasil, mas também devem tornar as seguradoras mais rigorosas na seleção dos riscos assumidos.

É o que disse Alexandre Jardim, diretor de Seguros Patrimoniais e Responsabilidade Civil da Aon Brasil, em entrevista à Risco Seguro Brasil.

Jardim afirmou que a oferta de coberturas para risco ambiental ainda é limitada no país, mas ainda assim há alternativas para transferir o risco em todo o seu ciclo de vida.

Mas as empresas seguem minimizando ou ignorando sua exposição, contratando limites muito baixos ou mesmo deixando de transferir um risco que ganha cada vez mais em intensidade.

“No Brasil, por questões culturais, as empresas ainda não tem o hábito de contratar esse tipo de seguro, ou se contratam, geralmente o fazem com limites bastante reduzidos, pois acreditam que não estão expostas a risco, seja por conta das suas atividades ou por desconhecimento da exposição a que estão sujeitas”, disse Jardim.

Capacidades

Segundo Jardim, há hoje três seguradoras oferecendo a linha completa de seguros ambientais, com outras cinco, aproximadamente, dedicando-se a apólices específicas para setores como os transportes.

Em geral, compradores têm pedido limites bastante reduzidos, de cerca de R$ 20 milhões, o que parece bastante insuficiente tendo em vista os danos causados por exemplo pelo rompimento das barragens de resíduos industriais da Samarco em Minas Gerais.

“Porém as seguradoras possuem capacidades bem superiores, com a capacidade somada do mercado local girando em torno de R$ 300 a R$ 400 milhões de reais, que pode ser aumentada por meio da contratação de resseguro”, afimou Jardim.

“Corretores e seguradoras sempre estão dispostos a oferecer maiores limites de cobertura, seja por meio de resseguro, com capacidades vindas do exterior, seja por cosseguro, utilizando-se da capacidade local. Basta haver interesse por parte dos contratantes.”

Segundo o executivo da AON, as apólices disponíveis oferecem coberturas amplas, que são capazes de atender a ocorrências ambientais que venham a atingir as empresas.

No caso de uma indústria, exemplificou, as coberturas podem ser contratadas desde o início da produção, passando pela manufatura, transporte e disposição final do produto e resíduos gerados no processo. Inclusive o descarte do produto pelo consumidor final pode ser coberto, em caso de corresponsabilidade do produtor por qualquer dano ambiental gerado.

“Em linhas gerais podemos dizer que o mercado oferece coberturas que amparam o segurado nas despesas incorridas quando este se encontra em uma situação de poluição”, explicou Jardim. “Dessa forma, as seguradoras arcam com os custos de limpeza e remediação dos locais atingidos, reposição do meio ambiente (fauna e flora), os custos com o monitoramento, custos de defesa em ações na Justiça, entre outros.”

Punições não

O que as apólices não cobrem, porém, são as punições aplicadas pelas autoridades a empresas poluidoras em caso de negligência ou má-fé.

“De maneira geral, os seguros são impedidos de cobrir qualquer tipo de multa ou penalizações ou até mesmo os TACs, Termos de Ajuste de Conduta, sejam elas em esfera municipal, estadual ou até mesmo federal”, disse Jardim.

Danos causados a terceiros, como as famílias das vítimas de Mariana ou atividades econômicas prejudicadas pelo desastre, são cobertas não pelo seguro ambiental, mas sim por coberturas de responsabilidade civil geral.

Jardim afirmou que o nível de contratação de seguros ambientais pelas empresas brasileiras segue baixo, mas já se nota no mercado uma movimentação de compradores em potencial para aprender mais a respeito destes produtos.

“Ainda que de maneira bastante discreta, empresas estão buscando saber o que está coberto, quais são os limites, custos envolvidos e que tipo de exigências são feitas pelas seguradoras para conceder a cobertura,” afirmou.

“O tema ambiental no Brasil ainda é um assunto em desenvolvimento”, continuou o especialista. “Cada novo evento, assim como a atuação dos órgãos governamentais de fiscalização, principalmente no Estado de São Paulo, trazem à luz situações que obrigam as seguradoras a repensarem seus produtos, tanto no que diz respeito a precificação como em termos de coberturas, limites e exclusões para cada atividade.”

Ele acredita que a tragédia de Mariana não terá grande efeito nos preços e capacidades, com exceção do setor de mineração. Porém é de se esperar que os subscritores se mostrem mais seletivos, exigindo sobretudo que potenciais compradores demonstrem sua disposição de gerenciar os riscos ambientais a que estão expostos.

“Os prêmios praticados pelo mercado para atividades não relacionadas à mineração não deve ser afetado, porém o critério de avaliação de risco como um todo fica mais rigoroso,” afirmou. “A liberação das capacidades por parte das seguradoras também exigirá das empresas contratantes garantias cada vez maiores de que possuem controle sobre suas plantas e operações.”




Pesadelo de seguradores, James Bond acumula R$ 46 bi em estragos

007 Contra Spectre
“Ups.”

Há várias décadas James Bond vem salvando o planeta dos mais variados vilões do cinema. E imagina-se que, em seu mundo, causando dor-de-cabeça para os peritos que avaliam as perdas de seguro que ele causa.

Por onde passa, o agente 007 deixa um rastro de destruição de automóveis, edifícios e helicópteros, em um verdadeiro pesadelo para os seguradores ficcionais. Para ser mais exato, no valor de € 600 milhões, ou R$ 2,44 bilhões, apenas em sua última aventura.

O cálculo foi feito pela venerável Gesamtverband der Deutschen Versicherungswirtschaft, GDV, a associação de seguradores da Alemanha, por meio de uma estimativa causada pelo agente preferido de Sua Majestade no filme 007 Contra Spectre, que foi lançado no Brasil em novembro.

No filme, Bond transforma em migalhas os mais variados bens segurados na Cidade do México, Roma, Londres, Marrocos e nos Alpes Suíços, onde inclusive destrói um avião.

Apenas em automóveis, a perda chegaria a € 32 milhões, ou R$ 130,2 milhões, graças à tendência mostrada pelo agente do MI6 em utilizar apenas modelos luxuosos da Aston Martin, Jaguar e Land Rover em suas perseguições.

Perdas em edifícios residenciais chegariam a mais € 500 milhões, ou R$ 2 bilhões, estima a GDV.

A associação não menciona em nenhum momento, porém, possíveis ações por responsabilidade e danos a terceiros, além de tratamento médico a feridos e indenizações às famílias de vilões mortos. Afinal, o mínimo que se deve exigir, em termos de gestão de risco de recursos humanos, de uma empresa sofisticada como a Spectre é que proveja seus capangas de cobertura de seguro de vida.

Bond light

Para dizer a verdade, os seguradores das aventuras de James Bond devem ter soltado um suspiro de alívio quando Daniel Craig assumiu o papel do agente de Sua Majestade.

Em suas quatro aparições no papel, o ator inglês causou perdas acumuladas de R$ 2,5 bilhões, ou R$ 625 milhões por filme, de acordo com a More Than, uma seguradora britânica que faz parte do grupo RSA.

Seu mais venerável antecessor, o escocês Sean Connery, causou perdas médias de R$ 1,25 bilhão, enquanto Pierce Brosnan chegou a R$ 2,75 bilhões por filme.

Todos palidecem, porém, em comparação com o genial Roger Moore, que deixou a indústria seguradora no chão ao gerar R$ 3,82 bilhões de perdas por filme.

Apenas no filme 007 Contra o Foguete da Morte, Moore causa prejuízos estimados em R$ 23,7 bilhões ao destruir várias espaçonaves e até mesmo uma estação espacial.

Em seus 50 anos de aventuras, os vários James Bond causaram danos estimados pela More Than em mais de R$ 46,2 bilhões.

James Bond não deixa de causar prejuízos para o mercado de seguros também no mundo real. A GDV nota, por exemplo, que cinco automóveis de alta linha foram roubados da equipe de filmagem durante rodagens na Alemanha, e eles estavam todos cobertos por apólices.

As coberturas de responsabilidade civil da produção também terão que ser atividades para arrumar danos causados pela equipe de filmagem no centro histórico da Cidade do México, de acordo com a mídia mexicana.

Podia ser pior

Os Vingadores
“No ano que vem mandamos o Hulk negociar a renovação do programa.”

Os diretores financeiros do mundo de James Bond podem se conformar porém com o fato de que a situação financeira do setor é certamente muito mais precária no universo ficcional da Marvel, onde o volume de destruição causado por heróis e vilões chega a níveis estratosféricos.

Por exemplo, em 2012 a empresa de avaliação de desastres Kinetic Analysis Corp. estimou, a pedido de The Hollywood Reporter, que os danos causados em Manhattan pela batalha entre Capitão América e seus amigos contra os Chitauris teriam chegado a US$ 160 bilhões, ou R$ 615 bilhões — o que constituiria a maior perda jamais sofrida pela indústria de seguro.

Esta sim parece ser uma perda capaz de dar um fim ao mercado brando no resseguro internacional. A batalha é descrita no filme Os Vingadores e superaria, em termos de perdas seguradas, os ataques de 9 de setembro de 2001, o furacão Katrina, de 2005, ou o tsunami e terremoto que afetaram o Japão em 2011.

A Risco Seguro Brasil sugere aos gestores de risco do mundo Marvel que considerem com bastante carinho a possibilidade de montar um par de empresas cativas e transferir os riscos de danos à propriedade e de responsabilidade civil diretamente ao mercado de resseguros.

É fogo mesmo?

"Grrrrr, preparem seus advogados!"
“Grrrrr, preparem seus advogados!”

As estimativas dos danos causados por um evento de tal magnitude não é um processo tranquilo, pois tende a gerar divergências entre seguradores e segurados e muita discussão sobre o que é coberto ou não pelas apólices.

A coisa é ainda mais complicada quando as causas são pouco usuais. Digamos, por exemplo, que sua empresa tenha uma presença física em uma cidade invadida por um lagarto de 100 metros de altura que cospe fogo pela boca.

Em 2014, o site Property Casualty 360º decidiu encarar o desafio e entrevistou especialistas para tentar estabelecer como os afetados pelos atos de Godzilla em São Francisco no filme homômino lançado naquele ano poderiam pedir as indenizações a que teriam direito.

É de se prever muitas das controvérsias resultantes teriam acabado na Justiça. O site observa por exemplo que empresas do setor de turismo poderiam pedir que suas cláusulas de interrupção de negócios fossem ativadas devido à fuga de turistas da cidade. Mas as seguradores poderiam argumentar que o fluxo de nerds fanáticos por Godzilla que infalivelmente invadiria a cidade nos meses seguintes mais do que compensaria tais perdas.

Também não está totalmente claro que tipo de apólice cobriria os danos causados aos automóveis da cidade. Em muitos casos, um expert argumenta, a melhor chance do segurado seria invocar a cláusula de danos causados por “contato com pássaro ou animal”.

Coberturas contra incêndio também poderiam dar problema. Afinal, há quem defenda que Godzilla na verdade não cospe fogo, e sim labaredas de radiação pura.

A boa notícia é que, com base na experiência cinematográfica, a menos que a empresa esteja sediada em Tóquio ou Nova York, é improvável que um gestor de risco tenha dificuldade em transferir seu risco contra ataques de lagartos pré-históricos ao mercado de seguros.

 

 




Falta fiscalização para os seguros obrigatórios no país

A lei brasileira estabelece uma série de seguros obrigatórios para as empresas, mas a falta de fiscalização faz com muitas delas simplesmente deixem de contratá-los, de acordo com o diretor de risco e seguros da DHL, Guilherme Brochmann.

“Há multa? Há. São aplicadas? A gente conta nos dedos de uma mão se algo aconteceu neste sentido nos últimos anos, porque não há fiscalização”, disse ele no III Congresso Latino Americano de Seguros de Transporte e Cascos, realizado em São Paulo em novembro.

Os seguros obrigatórios estão determinados em lei há quase 50 anos, pelo decreto 73, de 1966, que regula as operações de seguros no país.

Na área de transportes, há duas linhas de seguro obrigatório: a do embarcador (que cobre a carga) e a do transportador (que cobre as responsabilidades civis, em todos os modais).

De acordo com o especialista, muitas empresas não gerenciam adequadamente seus seguros. “Muitas não fazem nem os obrigatórios”, afirmou. Os programas de seguros, diz Brochmann, são mais bem administrados nas companhias que dispõem de uma área de gerenciamento de riscos — “normalmente, as multinacionais”.

O problema é que a maioria ainda não trabalha dessa forma — problema que a gestão de riscos enfrenta em vários setores. Ainda há muita dificuldade em estabelecer um departamento de gestão de riscos, considera o gestor.

“A implementação é complicada. Se não for uma decisão ‘top-down’ [da alta direção] já nasce morta”, disse Brochmann, que tem 33 anos de experiência no setor e lançou recentemente o livro “Gerenciamento de Riscos – 30 anos de história”, em co-autoria com Francisco Wanderley Sigali.

A DHL, por exemplo, que atua em 220 países, tem uma equipe de gestão de riscos e seguros de 260 pessoas em todo o globo. Só no Brasil são 20 pessoas. “Eu me sinto um privilegiado”, disse ele.

Cultura

Cristiane França Alves, presidente da Associação Brasileira de Gerenciamento de Riscos (ABGR), que também participou das discussões do congresso, lembrou que a setor vem vencendo resistências culturais e se firmando de maneira sólida no país.

“O mundo mudou, e o Brasil vem mudando”, disse ela. “O brasileiro está percebendo melhor a gestão de risco.”

Para Alves, a apólice é peça fundamental dessa gestão, que, no entanto, vai além de contratar seguro.

“A apólice serve para repor perdas. Isso é importante, mas precisamos também evitá-las”, disse, ressaltando que esse trabalho inclui identificar os riscos, quantificá-los, tratá-los, transferi-los e monitorá-los.

“Hoje a grande preocupação dos gestores de risco é com aquilo que não controlamos e precisamos controlar.”