QBE refaz planejamento para AL e retoma seguros corporativos no Brasil
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- Rodrigo Amaral, em São Paulo
- 10 de novembro de 2015
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Há 15 anos no país, australiana está lançando vários produtos e consolidando retorno ao setor, que havia deixado em 2006.
Apesar da crise e da saída de rivais brasileiros do setor de grandes riscos, a australiana QBE decidiu ir na direção contrária e apostar nos seguros corporativos no Brasil. É o que disse Raphael Swierczynski, CEO da empresa no país, em entrevista à Risco Seguro Brasil.
Desde o fim do ano passado a QBE voltou a negociar coberturas empresariais, uma área que havia abandonado, por razões estratégicas, em 2006. Swierczynski afirmou que a experiência tem sido produtiva e agora a empresa vai expandir a sua gama de produtos.
A QBE voltou aos seguros corporativos com uma cobertura para equipamentos pesados de mineração, uma especialidade do grupo, já que suas origens estão na Austrália, um dos principais mercados mineradores do planeta.
Mas até o final do ano deve estar operando também nos ramos de transportes, seguro de crédito e property para grandes riscos. No ano que vem, será a vez de lançar coberturas para os setores de engenharia e energia, além de produtos D&O e E&O.
“Estamos na contramão do mercado”, afirmou Swierczynski.
Crise
Segundo o executivo, a decisão de voltar aos seguros corporativos foi tomada já quando o Brasil estava enfrentando dificuldades econômicas. “A crise afeta mais o lado do varejo”, observou. “No seguro corporativo, não queremos ser um dos três primeiros do mercado. Mesmo que o setor sofra uma retração importante, se a gente conseguir pegar um pedaço deste mercado, já vamos obter o volume de prêmios de que precisamos.”
A mudança se deve a um replanejamento estratégico do grupo na América Latina, incluindo o Brasil. Swierczynski disse que a QBE vai atuar nos segmentos corporativos de maneira bastante seletiva, aceitando apenas os clientes que fizerem o seu dever de casa, a fim de poder cobrar um preço coerente com as coberturas oferecidas.
“Queremos ganhar mercado prestando melhores serviços e tendo uma precificação mais estruturada”, afirmou. “O mercado não precisa necessariamente crescer para que atinjamos nossos objetivos.”
Ele acredita que a estratégia deve ser beneficiada com a abertura gradual do mercado de resseguros, aplicada recentemente pelo governo por meio da Resolução 322. Especialmente graças ao relaxamento da proibição de transferências de prêmios entre empresas do mesmo grupo, que hoje não passa de 20%, mas chegará a 75% em 2020.
“A regra dos 20% é um limitador importante,” disse Swierczynski. “Na medida em que queremos entrar nos segmentos corporativos, em que vamos usar bastante resseguro, quanto mais pudermos ceder para o nosso grupo, melhor. Nós vamos fazer uma precificação bem feita, nosso risco será bom, portanto vamos querer reter grande parte dele.”
Hoje a QBE está presente no Brasil como resseguradora admitida, via Lloyds.
Clausulados
A ideia da QBE é trazer para o Brasil experiências bem-sucedidas em outros países, a exemplo da cobertura de equipamentos de mineração desenvolvido na Austrália. “O que a gente vê de interessante em outros países, a gente importa”, disse Swierczynski.
Ele acredita que uma vantagem oferecida pelo grupo é a criação de centros de excelência em subscrição sediados no escritório regional de Miami, que inclui o Brasil em sua área de competência. Estes centros têm a função de apoiar as unidades nacionais na precificação das coberturas, e também na importação e exportação de produtos, afirmou. Mas ele disse que as unidades têm autonomia local para fazer a grande maioria das decisões de subscrição.
A introdução de novos produtos no mercado brasileiro, porém, enfrenta desafios como o processo de aprovação de novos produtos na Superintendência de Seguros Privados (Susep). Mas Swierczynski vê sinais de que as coisas estão de alguma maneira melhorando nesta área em particular.
“Eu diria que já foi pior”, disse ele. “Um ano atrás era muito duro conseguir a aprovação dos clausulados. Mas nos últimos pedidos que fizemos, a resposta foi relativamente rápida.”
Ainda assim, é possível melhorar o sistema, por exemplo adotando uma postura mais aberta a inovações. “Quando um clausulado foge muito do que é tradicional, normalmente é recusado”, afirmou Swierczynski. “Acho que este tipo de tema poderia ser estudado mais a fundo.”
Ele também promete trabalhar para conseguir aprovar coberturas tailor-made, feitas sob medida para cobrir riscos específicos enfrentados por grandes clientes.
“A gente adora estas coisas”, afirmou. “Nossa estratégia é muito baseada em fazer as coisas de uma maneira diferente do que o mercado faz.”
Mas ele não chegou a prometer que conseguirá fornecer qualquer cobertura pedida por um cliente. “Pode haver situações em que o preço da cobertura não faz sentido”, observou. “Mas a gente certamente vai estudar. Também pode haver casos em que o cliente quer uma cobertura que aqui no Brasil não é encarada como seguro pela Susep. Aí a gente não pode cotar.”
“Existem mecanismos para obter estas coberturas, como pedir uma autorização especial para comprar o seguro fora do Brasil”, acrescentou. “Mas é impossível dar 100% de garantia que o cliente vai ter o seguro.”
Aos poucos
A QBE está presente no Brasil há 15 anos, ainda que na última década tenha se concentrado nos seguros individuais de mercado massivo. Swierczynski disse que a empresa está desenvolvendo sua estrutura de riscos corporativos com cautela, até para não repetir erros já vistos no mercado.
“Estamos fazendo tudo com bastante cautela para não criar uma empresa superinchada e depois ter que desinchar, como fizeram alguns dos nossos concorrentes nos últimos anos”, afirmou. Ele não prevê a abertura de sucursais para o setor de riscos corporativos antes de 2017.
Mas o executivo notou que nadar contra a maré tem suas vantagens, por exemplo na hora de contratar profissionais qualificados para os novos setores de negócios.
Durante anos, as seguradoras estrangeiras tiveram dificuldades para encontrar pessoal com a qualificação necessária para um setor de alta exigência técnica como o seguro corporativo.
Com a desaceleração da economia e várias empresas desanimando com as perspectivas do setor, a situação hoje é um pouco diferente, segundo Swierczynski.
“Algumas empresas saíram dos grandes riscos, outras diminuíram capacidade. Diversas companhias estão enxugando suas operações, e aí começa a ter um leque de opções interessante de profissionais disponíveis no mercado”, disse ele. “Não vou dizer que foi superfácil, mas conseguimos encontrar as pessoas que necessitávamos.”
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