Seguro contra risco de reputação é limitado e difícil de encontrar
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- Rodrigo Amaral
- 2 de outubro de 2015
- Sem categoria
Não disponível no Brasil, produto deve gerar £1 bi em prêmios no Reino Unido até 2019; marca Volks perde US$ 10 bi com escândalo, diz consultoria
O escândalo envolvendo a fraude nos testes de emissão de gases por parte da Volkswagen deixou clara a seriedade do risco de reputação. O que nem todo mundo sabe, porém, é que é possível transferir parte desse risco para o mercado de seguros.
Possível, mas não fácil. As apólices de seguro reputacional são oferecidas no mercado internacional, mas são poucas as seguradoras que trabalham com o produto.
Uma delas é a Munich Re, que oferece cobertura disponível na Europa e nos Estados Unidos, mas a empresa afirmou à Risco Seguro Brasil que também pode avaliar a possibilidade de negociar com clientes baseados em outras partes do mundo.
Já a Allianz Global Corporate and Specialty (AGCS) afirmou que no momento só negocia a cobertura na Europa. No Brasil, uma seguradora e uma corretora afirmaram à reportagem que a cobertura não está disponível no país.
Os compradores de seguro corporativo não fariam mal, portanto, em pressionar para que produtos capazes de lhes dar um nível de proteção contra este grave risco emergente sejam oferecidos no mercado nacional.
Tome-se o caso da Volkswagen. Segundo a consultoria de imagem Brand Finance, desde o anúncio da EPA, a agência ambiental americana, de que a empresa trapaceou nos testes de emissão, a marca da montadora alemã perdeu US$ 10 bilhões em valor de mercado. Antes do escândalo, a consultoria havia avaliado a marca em US$ 31 bilhões.
São valores nada desprezíveis mesmo para uma das maiores empresas automobilísticas do planeta. Desgastes reputacionais tampouco são uma exclusividade dos países desenvolvidos, como podem atestar as empresas citadas nas investigações da Operação Lava Jato no Brasil.
Com a difusão das mídias sociais, o risco tem se agravado com velocidade, e costuma aparecer entre as principais ameaças enfrentadas pelas empresas em pesquisas realizadas por seguradoras e corretoras. Não por acaso, há quem acredite num grande aumento da demanda pelo seguro de risco reputacional.
A corretora londrina Reputation Risk Solutions, que é especializada no setor, espera que o volume de prêmios e tarifas ligadas ao seguro de risco reputacional atinjam £ 1 bilhão até 2019 apenas no Reino Unido.
Escassez
Para chegar lá, porém, o mercado ainda precisa desenvolver o produto e ampliar a sua oferta.
De acordo com a Airmic, a associação de gestão de riscos da Grã-Bretanha, apenas 3% de seus associados já possuem coberturas de risco reputacional. O interesse existe, segundo a associação, mas a maior dificuldade encontrada pelos potenciais compradores é definir e avaliar os riscos a que suas reputações estão expostas.
Já um estudo publicado em setembro nos Estados Unidos encontrou apenas seis produtos no mercado que oferecem coberturas contra o risco reputacional.
Segundo Johan Schmitt, professora de Gestão de Riscos e Seguros na Wisconsin School of Business, uma das autoras do estudo, as apólices oferecidos possuem limitações que podem estar brecando o interesse de potenciais compradores.
“Há um grande volume de interesse pelo seguro de risco de reputação porque os líderes das empresas estão vendo histórias que danificam [as marcas] se espalhar como o fogo nas mídias sociais, e como os clientes querem fazer negócios com empresas socialmente responsáveis”, disse Schmitt em uma nota divulgada junto com o estudo.
“No entanto, o caráter nebuloso do que constitui uma perda direta resultante do dano de reputação tem levado à criação de apólices que têm um alcance limitado e um custo alto, o que está reprimindo a demanda.”
Cobertura
Como observam Schmitt e suas colegas no estudo em questão, o risco reputacional, por ser intangível, tem uma quantificação muito difícil de ser feita.
Valores citados pela Brand Finance e outras consultorias constituem uma avaliação subjetiva, que não necessariamente refletem o efeito total do dano reputacional sobre a performance e o valor de mercado da empresa. Não são utilizáveis, portanto, pelo mercado de seguros para precificar o risco.
Em geral, portanto, o que as coberturas de risco reputacional cobrem são os custos mais concretos, como os gastos de gestão da crise de imagem (campanhas de mídia, cotratação de empresa de relações públicas etc.).
A Munich Re, porém, oferece a possiblidade de cobrir a perda financeira resultante de um dano de reputação.
Neste caso, a apólice é ativada quando, depois que a empresa sofre uma crise de reputação, há uma queda de faturamento significativa e que pode ser ao menos parcialmente atribuída ao evento em questão.
A avaliação da perda financeira é feita por um perito, que vai determinar a parcela da perda total que pode ser ligada à crise reputacional.
O objetivo da cobertura, portanto, é prover uma fonte de liquidez em um momento em que o caixa da empresa passa por um aperto, e em que fontes tradicionais de crédito podem se mostrar relutantes em conceder linhas de financiamento.
“Eventos reputacionais podem se originar em todos os ângulos do negócio, como produção, cadeia de suprimento, marketing, operações, incidentes de risco cibernético, recursos huimanos, o comportamento de pessoas-chave para a organização etc. Todos esses incidentes podem ser assegurados”, disse Ulrike Raible, a subscritora de riscos reputacionais da Munich Re.
Segundo a seguradora, a cobertura pode abranger os negócios do cliente em todos os países que desejar, de acordo com suas necessidades. Já o preço varia de acordo com a avaliação de risco do cliente feito pela seguradora e tem variado entre 1% e 2% ROL (rate on line, ou taxa de faixa), segundo Raible.
A avaliação do risco do cliente inclui fatores como a sua linha de negócio, os limites solicitados, suas práticas de gestão de risco, a cobertura que a mídia normalmente faz da empresa, seu histórico de perdas em riscos reputacionais, e a possibilidade de que o cliente seja afetado por eventos que danifiquem a sua imagem.
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