Para especialista, Samarco ignorou avisos e gestão de riscos falhou
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- Oscar Röcker Netto
- 8 de dezembro de 2015
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Diretor técnico da GeoCompany afirma que indícios anteriores apontavam para risco de rompimento da estrutura da barragem do Fundão
A gestão do risco de rompimento nas barragens da Samarco em Mariana (MG) falhou, na opinião de Roberto Kochen, presidente e diretor técnico da empresa de engenharia e geotecnia GeoCompany.
“Por tudo que tem sido noticiado, a gestão de risco falhou em evitar um desastre de grandes proporções, com danos a propriedades, meio ambiente e dezenas de vítimas entre mortos e desaparecidos”, avalia ele, ressalvando que ainda não estão reunidas todas as informações necessárias para se descobrir as causas exatas do desastre.
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De acordo com o especialista, que também é diretor de infraestrutura do Instituto de Engenharia de São Paulo, os vazamentos e infiltrações anteriores ao rompimento da Barragem do Fundão, relatados pela imprensa, eram indicativos de uma “estabilidade insuficiente” na obra.
“A monitoração, caso tivesse sido instalada e feita de forma consistente, teria mostrado indícios de instabilidade e possível ruptura”, afirmou ele à Risco Seguro Brasil. “Normalmente, uma barragem apresenta indícios, como trincas, fissuras, infiltrações, movimentações e outros fenômenos que apontam para uma condição de estabilidade deficiente. São patologias bem conhecidas da engenharia de barragens. A impressão é de que todos esses aspectos foram desconsiderados pela mineradora.”
O Plano de Ação Emergencial, segundo Kochen, também deixou a desejar, uma vez que os moradores vizinhos à obra não foram avisados e removidos a tempo de evitar vítimas.
Surpresa rara
Segundo o diretor da GeoCompany, é muito raro que uma barragem se rompa bruscamente, sem avisos prévios. Assim como apontou outro especialista, Kochen lembra que o rompimento de rápido e imprevisto, apesar de incomum, é mais frequente em estrutura para rejeitos de minério do que em outros tipos. Isso ocorre porque há mais variação nas propriedades do material da barragem e dos rejeitos estocados.
Um rompimento brusco poderia acontecer, por exemplo, em caso de terremoto com alta intensidade. Os tremores de terra relatados na região no dia do desastre, no entanto, não seriam suficientes, diz Kochen, para causarem o desastre.
“Eles não causariam a ruptura caso a barragem tivesse sido construída de acordo com a boa técnica de engenharia, tivesse inspeção, avaliação de segurança monitorada, como preconiza a lei atual de segurança em barragens.”
Inspeções rotineiras
Kochen afirma que inspeção, avaliação de segurança e monitoração das barragens devem ser feitas mensalmente, com revisão anual de práticas e procedimentos. Em casos com risco elevado, a frequência deve aumentar para ações quinzenais ou semanais.
O especialista considera boa e tecnicamente bem embasada a lei atual que rege o funcionamento das barragens, a 12.334. “Mas falta fiscalização, que é ponto crucial em situações como a da Barragem do Fundão”, afirma. “O problema é a falta de observação pelas empresas e entidades responsáveis por aplicar a lei.”
Kochen acredita que o episódio da Samarco, no entanto, leve a um aprimoramento da fiscalização. “A lição que podemos tirar desta tragédia em Mariana é a de revisar as prioridades referentes à segurança das barragens no Brasil.”
Ele destaca que as barragens de minério são estruturas com muitas variáveis. Não há uma receita pronta de gestão dos seus riscos, já que cada mina tem processos diferentes de separação do mineral, estocagem dos rejeitos, de acordo com o tipo de minério, entre outros fatores.
“Todas as técnicas têm de ser avaliadas caso a caso”, diz Kochen. “Mas sem dúvida nenhuma é possível construir e operar barragens de rejeito com margem de segurança muito elevada, evitando-se tragédias como a de Mariana.”
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