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Aumentos devem chegar a mercados não-catastróficos como o Brasil

Bruno Freire, CEO da Austral Re.
Bruno Freire, CEO da Austral Re.

Após a inusitada série de catástrofes naturais que causou severas perdas à indústria de seguros, a expectativa do mercado é que os preços aumentem. Isso deve ocorrer pela primeira vez em vários anos, nas renovações de janeiro de 2018.

Mas será que o Brasil vai seguir esta mesma tendência? Afinal de contas, as perdas ocorreram principalmente nos Estados Unidos, México e Caribe. O Brasil, que está fora do circuito de furacões e terremotos, não sofreu grandes perdas catastróficas no ano.

Mesmo assim, devido ao caráter global da indústria, os compradores de seguro corporativo podem muito bem topar com aumentos das cotações nas próximas renovações. Isso porque o caráter global da indústria produz um “efeito mariposa”. Através do qual as perdas sofridas em uma parte do mundo acabam se refletindo em outros países também.

Prova disso foi que, de acordo com participantes, o principal tema da reunião bianual da Fides, a federação de seguradoras latino-americanas, em El Salvador foi o possível aumento de tarifas no mercado da região.

E isso vale mesmo para as grandes economias poupadas pelas catástrofes naturais,. Como o Brasil, a Argentina e o Chile.

“Não acredito que os preços voltem aos patamares de 2011″, disse Bruno Freire, CEO da Austral re, que compareceu ao evento em San Salvador. “Mas eles devem parar de cair, e algum tipo de aumento deve acontecer.”

Aumentos generalizados

Aumentos devem ocorrer. Freire vê as perdas catastróficas repercutindo nos preços dos seguros em todo o mundo. E de maneira similar ao efeito da forte disponibilidade de capital no mercado ressegurador, que em sua maior parte se origina nos países desenvolvidos.

“Assim como os preços caíram em praticamente todos os segmentos, não é correto argumentar que as linhas catastróficas devem subir. Mas as não-catastróficas, não”, afirmou. “Na verdade, o lucro das linhas catastróficas vinha segurando as margens de vários resseguradoras. Ainda que elas fossem estreitas, já que as tarifas em outras linhas haviam caído bastante.”

Além disso, os aumentos de preço acabam chegando aos países não expostos a catástrofes por meio dos contratos de retrocessão. Através dos quais as resseguradoras atuantes em cada mercado acabam diluindo seus riscos no resseguro internacional.

Como resultado, os países com significativa exposição catastróficas, como a Colômbia e o Peru, devem ver seus preços mais diretamente afetados pelas perdas de 2017.

Porém, os compradores brasileiros devem também preparar-se para uma reversão do mercado brando.

Explicações

Com isso, os corretores já estão afiando o discurso para explicar a seus clientes por que a conta do seguro pode acabar sendo mais cara em 2018.

“Ainda não está 100% claro qual será a conta final das recentes catástrofes naturais. Mas há um sentimento unânime de que as tarifas vão subir nas próximas renovações”, disse José Astorqui, CEO da unidade latino-americana da corretora londrina BMS.

“Subscritores nos disseram que, para os riscos muito bons, as renovações serão estáveis. Mas novas quedas de preço não devem ocorrer.”

Com as economias latino-americanas saindo de momentos difíceis. Assim como os orçamentos das empresas sob pressão, Astorqui espera que muitos clientes reduzam suas coberturas. Ou então aceitem franquias mais elevadas, caso os preços de fato aumentem.

Da mesma forma, muitos devem expressar descontentamento ao ver suas apólices subirem por causa de eventos que não tiveram nada que ver. Nem com sua gestão de risco nem com as condições do mercado local.

“Compradores em mercados como Brasil, Argentina e Chile estão perguntando por que eles devem ser afetados por preços mais altos. Já que não sofreram com nenhuma catástrofe”, afirmou. “É um momento complicado para os corretores. E teremos que explicar por que os preços vão subir também naqueles mercados.”

Superação

Apesar das dificuldades dos últimos anos, a América Latina continua atraindo o interesse de subscritores de outras partes do planeta. Isso ficou claro no caso da conferência da Fides.

E esse grupo está cada vez mais composto de companhias que vão além dos tradicionais mercados resseguradores. A saber os Estados Unidos, Europa e Bermuda.

Como resultado, participantes notaram a participação ativa de resseguradoras asiáticas como a coreana Korean Re e a indiana GIC no evento. A Korean Re já havia anunciado, em fevereiro, uma parceria com o IRB Brasil Re.

A Rússia marcou presença com a Russian Re, Russian National Reinsurance Company, a Selecta Insurance and Reinsurance e a Transsib re. A Sava re, da Eslovênia, também esteve entre os participantes.

“É interessante e útil ter um maior número de resseguradoras de fora da América Latina fazendo negócio na região”, disse David Battman, chefe da área Internacional da BMS.

A próxima edição da Fides ocorrerá em 2019, em Santa Cruz, na Bolívia.




Setor crescerá 3% em 2018 e 2019, prevê Swiss Re

O mercado global de seguros não-vida deve crescer 3% por ano em 2018 e 2019. Porém,  o ritmo deve acelerar. Isso caso se concretizem os aumentos de tarifas esperados a partir de janeiro do ano que vem.

É o que afirma a seguradora Swiss Re em relatório sobre as perspectivas para o setor de seguros. O relatório foi divulgado nesta semana em Zurique.

De fato, a empresa acredita que os aumentos de preços de seguros e resseguros serão inevitáveis para o que o mercado recupere seu rentabilidade. Isso após o forte impacto das catástrofes naturais em 2017.

“Aumentos de preços nos segmentos mais afetados já estão acontecendo e podem ser substanciais”, disse Kurt Karl, economista-chefe da Swiss Re.

“O volume total de perdas ainda não é conhecido. Porém, parece que vai ser elevado suficiente para causar aumentos (de preços) para além dos setores afetados. Isso também está acontecendo porque os preços caíram a patamares tão baixos nos últimos anos.”

Da mesma forma, a corretora Marsh estima que os preços globais de seguros comerciais vêm caindo de forma ininterrupta já há 18 trimestres. (Clique aqui para saber mais.)

Mercados emergentes

No setor de seguros de vida, a Swiss Re espera que o volume de prêmios cresça 4% no ano que vem. Em ambos os segmentos, serão as economias emergentes que devem funcionar como principais motores do crescimento global.

A Swiss Re estima que os prêmios não-vida vão se expandir de 6% a 7% anualmente no próximo biênio nos países emergentes. Todavia com a Ásia puxando o carro com maior vigor.

A resseguradora suíça prevê que o mercado latino-americano deve seguir se recuperando. Isso pós ter encolhido 1,8% em 2016.

Mas a taxa de crescimento de 1% no volume de prêmios, esperada para 2017, está longe de impressionar. Especialmente comparada com os 10% registrados nos mercados emergentes da Ásia.

Uma das locomotivas da recuperação do seguro não-vida na região deve ser o mercado de seguros comerciais no Brasil, em que a empresa espera uma forte demanda.

Lucros em queda

A perspectiva de ajuste nos preços se reforça pela deterioração dos resultados das seguradoras não-vida.

De acordo com a Swiss Re, a taxa de rentabilidade líquida (ROE) das seguradoras não-vida globais caiu para 3% neste ano, contra 6% em 2016.

Além das elevadas perdas catastróficas, as persistentes quedas de preço e os baixos rendimentos das carteiras de investimento nos mercados desenvolvidos colaboram para esta pior performance.

Caso a subida de preços se confirme. Assim como as taxas de juros subam nos Estados Unidos e Europa,  o cenário pode mudar. A empresa espera que a rentabilidade se recupere. Ainda que não passe do patamar de 7% a 8% no ano que vem.

No mercado de  resseguros, a expectativa é que o aumento de prêmio se restrinja a 1%. Neste caso, o destaque deve ser as cessões de seguro de vida na Ásia emergente. Afinal, eles podem se expandir em 10%.

Clique aqui para ler o relatório em inglês.




Preços caem de novo, mas mercado já espera aumentos em janeiro

Os preços globais de seguros caíram pelo 18º trimestre consecutivo, de acordo com a corretora Marsh.

Mas os sinais de que uma mudança de ciclo está à volta da esquina estão se tornando cada vez mais evidentes. Especialmente na medida em que os subscritores assimilam as elevadas perdas catastróficas do terceiro trimestre.

Segundo a Marsh, os preços caíram 1.6% entre julho e agosto. A princípio é uma tendência observada em todas as linhas de negócio e regiões do planeta. Com exceção da Austrália.

Os preços dos seguros de bens e propriedades registraram queda de 1,7%. Da mesma forma, o ritmo foi observado entre as coberturas de responsabilidade civil.

Já nas linhas financeiras e profissionais, a variação foi de -1,4%. Mesmo os seguros cibernéticos seguem com preço em queda. Isso pós apresentarem uma redução de 1,1% nos Estados Unidos. Os EUA servem como referência mundial por ser disparado o maior mercado desta cobertura.

Na América Latina, as tarifas apresentaram queda global de 0,9%, puxadas pelos seguros de bens e propriedades, que ficaram em média 3,9% mais baratos no trimestre.

As outras duas grandes famílias de produtos, porém, tiveram aumento na região. Os seguros de responsabilidade encareceram 5,1%, e as linhas financeiras, 1,1%.

Aumentos à vista

De acordo com o levantamento da Marsh, os preços globais de seguros estão em queda desde março de 2013.

Mas o ritmo de queda de preços já vinha se desacelerando mesmo antes das catástrofes do terceiro trimestre. As reduções chegaram ao ápice no fim de 2015, com -5%, e desde então vêm se moderando.

Neste ano, as variações já haviam sido de -2,3% no primeiro trimestre e -2,2% no segundo.

Na América Latina, os preços têm sido mais voláteis, mas a tendência de desaceleração também é evidente.

Na mais recente temporada de divulgação de resultados, vários subscritores internacionais anunciaram que terão que buscar aumentos de preços nas renovações de janeiro para enfrentar as perdas sofridas durante os furacões, terremotos e incêndios florestais que atingiram os Estados Unidos, Caribe, México e outras partes do mundo entre julho e outubro.

As perdas acumuladas devem passar de US$ 100 bilhões, com alguns analistas prevendo que serão as maiores jamais sofridas pela indústria em um só ano.

Nesta semana, o economista-chefe da Swiss Re, Kurt Karl, alertou que as seguradoras e resseguradoras terão que implementar aumentos significativos para voltar a ter lucro no futuro próximo. (Clique aqui para ler a matéria.)

Fontes também disseram à RSB que o principal tema de discussões no recente encontro da Fides, a federação de seguros latino-americana, em El Salvador, foi até que ponto a esperada mudança de ciclo global vai atingir os mercados da região.

Estados Unidos

O principal obstáculo para os aumentos de preços, porém, é a abundante capacidade que continua disponível no mercado.

Segundo a Marsh, no final do segundo trimestre, havia US$ 746 bilhões de capacidade no mercado dos Estados Unidos, o maior do mundo. No começo de 2012, este número era de US$ 583 bilhões.

Por sua vez, a agência de avaliação de riscos AM Best calculou que as perdas catastróficas no mercado americano de bens e propriedades chegaram a US$ 38,4 bilhões nos nove primeiros meses do ano, um aumento de 89,1% na comparação com o mesmo período de 2016.

Com isso, o índice combinado do setor se detereriorou em quatro pontos percentuais, chegando a 104%.

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Mercado emite mais sinais de que preços devem subir

Na medida em que seguradoras e resseguradoras internacionais noticiam resultados cada vez mais pressionados pela sequência de catástrofes naturais dos últimos meses, se consolida no mercado a ideia de que o longo ciclo de queda de preços pode ter chegado ao fim.

Relatório divulgado pelo banco de investimento Morgan Stanley afirma que os executivos das empresas de seguros têm esperança de poder negociar aumentos de tarifas nas renovações de janeiro. Algo que não puderam fazer na maior parte das linhas de seguro comercial nos últimos 17 trimestres.

Os autores do relatório do mercado citam o caso da seguradora Travelers. Ao anunciar seu último balanço trimestral, o documento afirmou que as condições estão mais propícias para um aumento de preços.

Ainda assim, durante a apresentação de resultados do trimestre, em 19 de outubro, o CEO da Travelers, Alan Schnitzler, disse que a empresa está “mais confiante”. Isso em sua capacidade de obter aumentos de preços nas próximas renovações.

Portanto, a questão seria muito bem-vindo para o setor. Principalmente porque, nos cálculos do Morgan Stanley, um aumento médio entre 1% e 5% nos preços seria capaz de dar um gás. O volume esperado ficaria entre 6% e 29% para as empresas cujas ações são pesquisadas pelos seus analistas.

Com isso, os investidores de renda variável poderiam mostrar um maior interesse pelas empresas do setor.  Dessa forma, incluiria as corretoras especializadas nesse segmento do mercado. Isso  de acordo com o relatório, que foi divulgado pela Intelligent Insurer.

Mercado X Catástrofes

A perspectiva de mudança de ciclo nos preços dos seguros comerciais vem sendo reforçada pela inusitada sequência de catástrofes naturais registrada desde agosto.

Nos últimos três meses,  os furacões Harvey, Irma e Maria causaram grandes perdas nos Estados Unidos e Caribe. O México sofreu dois terremotos. Gigantescos incêndios florestais causaram devastação na Califórnia, Portugal e Espanha. E a Irlanda foi atingida por uma tempestade tropical.

Até o Brasil sofreu com um desastre natural. Ainda que o enorme incêndio no Parque da Chapada dos Veadeiros ocorre em uma região de escassa penetração de seguros.

Contudo, o impacto acumulado de tantas catástrofes sobre o mercado de seguros e resseguros deve configurar 2017 como um dos anos com maiores perdas para o setor.

Por exemplo, a Swiss Re, divulgou nesta semana estimativa de que apenas os furacões Irma, Harvey e Maria e os terremotos mexicanos devem gerar perdas seguradas de US$ 95 bilhões.

Resultados

As perdas sofridas na temporada de catástrofes seguem causando danos aos resultados dos grandes grupos.

A Swiss Re, por exemplo, disse que os furacões e terremotos lhe custarão US$ 3,6 bilhões.

Por outro lado, uma de suas principais rivais, a Munich Re,  disse que sua exposição aos furacões chega a €2,7 bilhões. E as perdas totais no terceiro trimestre, a €3,2 bilhões.

Com isso, a empresa teve um prejuízo de € 1,4 bilhão entre julho e setembro. A empresa alertou seus acionistas que as pesadas perdas catastróficas podem fazer com as metas de lucros não sejam atingidas neste ano.

Em contrapartida, outra das maiores resseguradoras do mundo, a francesa SCOR, perdeu € 430 milhões com os furacões e terremotos. Assim resultando em um prejuízo líquido de € 267 milhões no trimestre.

Já a XL teve US$ 1,4 bilhão em perdas com catástrofes naturais no terceiro trimestre. Assim comparado com US$ 97,4 milhões no mesmo período de 2016. Com isso, o grupo fechou o balanço trimestral com um prejuízo líquido de US$ 1,04 bilhão.

Por sua vez, a Mapfre divulgou ter tido um lucro líquido de US$ 444,6 milhões  nos primeiros nove meses do ano, um resultado 22,3% inferior ao do mesmo período do ano passado. A empresa estima que suas perdas catastróficas no terceiro trimestre vão oscilar entre € 150 milhões e € 200 milhões.

A americana Travelers teve uma queda de lucros de mais de US$ 400 milhões no trimestre, na comparação com o mesmo período de 2016. O grupo fechou o período com um lucro de US$ 293 milhões, após ter um baque estimado em US$ 700 milhões de perdas catastróficas.

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Seguro garantia à brasileira dispara e atrai estrangeiros

O seguro garantia judicial, em grande medida uma criação do mercado brasileiro, está crescendo a toque de caixa. E, no processo, atraindo atores internacionais para o mercado de seguros e resseguros do Brasil.

Daniela Durán, da Aon
Daniela Durán, da Aon

De acordo com dados da Susep, os prêmios de seguro garantia, incluindo tanto o segmento judicial quanto o de infraestrutura, expandiram-se mais de 60% nos primeiros oito meses de 2017. Isso na comparação com o mesmo período do ano passado.

Corretores consultados por Risco Seguro Brasil afirmam que entre 70% e 80% dos prêmios são derivados de contratos de seguro garantia judicial. Eles são utilizado por empresas na hora de colocar garantias financeiras para apresentar recursos contra decisões judiciais.

“Algumas emissões judiciais foram responsáveis pelo crescimento do mercado de seguro garantia no primeiro semestre”, disse Daniela Durán, gerente de Produtos Financeiros da Aon. “Estimamos que aproximadamente cinco apólices foram responsáveis por 50% do volume total. Assim sendo que a principal delas foi uma emissão da Petrobras.”

O garantia judicial à brasileira tem poucos similares no mercado global. Da mesma forma, experts dizem que o peso que o produto ganhou no Brasil não tem comparação em outros países.

Isso porque se trata de uma cobertura elaborada para resolver uma ineficiência típica da economia brasileira. A saber, a grande demora do Poder Judiciário em tomar decisões relacionadas a casos complexos em áreas como disputas tributárias ou trabalhistas.

“A situação no Brasil é única no mundo”, disse Eduardo Cruci, gerente de Linhas de Crédito da AIG no Brasil. “A demanda pelo garantia judicial está sendo movida por um sistema tributário extremamente complexo que está sempre mudando. Em consequência, gera altos níveis de judicialização.”

Para inglês entender

Portanto, o garantia judicial constitui um exemplo de cobertura desenvolvida pelo mercado de seguros para satisfazer as necessidades muito específicas de clientes corporativos no país.

Stephanie Zalcman, da JLT
Stephanie Zalcman, da JLT

O produto se beneficiou de decisões legais que autorizaram a utilização das coberturas como garantias em processos judiciais. Especialmente após 2014.

Também ganhou força porque os bancos, tradicionais fornecedores de cartas de crédito para as empresas apresentarem como garantias, estão tendo que se adaptar a normas de solvência mais rigorosas. Por esse motivo, se sentem menos dispostos a prestar este serviço.

Outras modalidades de garantia, como os ativos físicos ou os depósitos de capital próprio das empresas, constituem usos bastante ineficientes dos recursos de uma organização. Considerando que podem ter de ficar imobilizados por vários anos. Ou até décadas nos casos mais extremos. Como naqueles em que a Justiça se mostra particularmente demorada.

“As empresas perceberam a economia em contratar o seguro garantia judicial em relação à fiança bancária. Além da agilidade do seguro, a melhoria nos seus balanços. Também o não comprometimento das linhas de crédito junto aos bancos etc”, afirma Álvaro Igrejas, diretor executivo de Financial Lines da Willis Towers Watson.

Contudo, a procura cada vez mais forte pelo produto atraiu novos atores para o mercado. Incluindo seguradoras e resseguradoras internacionais. Elas tiveram que aprender como funciona essa cobertura tipicamente brasileira.

Garantia judicial

“Alguns aspectos do garantia judicial são difíceis de explicar para parceiros internacionais”, disse Luis Menezes, superintendente de Seguro Garantia da Marsh. “Por exemplo, a duração das apólices, que normalmente é de cinco anos. Porém, em alguns casos, precisam ser renovadas por até 20 anos.”

Conforme afirmou Menezes, seguradores e resseguradores acostumados a trabalhar em mercados com baixos níveis de inflação e taxas de juros civilizadas também precisam entender como é importante que os contratos abordem a questão da correção monetária dos valores envolvidos.

Mas a estranheza não está impedindo a chegada de novos subscritores. Corretores lembram que, há uma década, havia meia dúzia de provedores de seguro garantia no mercado. O monopólio de resseguro do IRB limitava as alternativas de coberturas e uma seguradora, a JMalucelli, controlava cerca de três quartos do segmento. Dessa forma voltado puramente ao setor de infraestrutura.

Álvaro Igrejas, da Willis Towers Watson
Álvaro Igrejas, da Willis Towers Watson

Porém, agora,  há mais de 30 empresas registradas na Susep . Um mercado amplo para oferecer seguro garantia. Isso com a modalidade judicial emergindo como o principal foco dos novos participantes. Recém chegados ao mercado incluem a Cesce, Euler Hermes, BMG e Axa.

Internacionais

Resseguradores internacionais também estão cada vez mais de olho neste setor. Afinal, estima-se que cerca de dez resseguradores provêm capacidade para seguro garantia, muitos deles participando de contratos da modalidade judicial.

“Por um tempo, o mercado de resseguros não entendia o seguro garantia no Brasil. O que é realmente bastante particular”, disse Stephanie Zalcman, diretora da Garantia da JLT.

Contudo, atualmente alguns resseguradores que preferiam entrar neste segmento em contratos facultativos, a fim de aprender a lidar com os riscos, já aceitam participar também de contratos automáticos. Alguns estão buscando aumentar suas cotas nos contratos. E há rumores de que novos resseguradores baseados em Miami, na Europa e até na Ásia estão planejando participar deste mercado.

Potencial

O que atrai tantos novos participantes é o potencial do mercado. Rogério Gonçalves, superintendente de Garantia da Axa no Brasil, cita algumas estimativas. Segundo as quais há hoje mais de R$ 100 bilhões em garantias financeiras imobilizadas nos tribunais. Elas poderiam ser trocadas por apólices de seguro garantia.

Ainda que seja improvável que as coberturas substituam todas essas garantias, não é difícil imaginar que R$ 1 bilhão em prêmios de seguro garantia judicial seja gerado. Principalmente na medida em que tais garantias precisem ser renovadas. E, assim, as empresas decidam liberar capital. Ou ainda utilizar suas linhas de crédito bancárias para fins mais produtivos.

Segundo a Susep, os prêmios do seguro garantia, em todas as modalidades, chegavam a R$ 1,8 bilhão nos oito primeiros meses do ano.

No entanto, o potencial do seguro garantia, não se limita ao segmento judicial. O mercado também espera que a demanda por produtos de garantia para obras, como os performance bonds, bid bonds e completion bonds, ganhem força nos próximos anos. Principalmente na medida em que voltarem os investimentos em infraestrutura.

Foi esta possibilidade que animou a Axa, por exemplo, a montar um departamento de seguro garantia no Brasil. O setor começou a funcionar em junho de 2016. Mesmo mês do impeachment da presidente Dilma Rousseff.

“Nós demos início a operação no auge da crise”, disse Gonçalves. “Mas queríamos estruturar nosso departamento e estar preparados para quando a economia começasse a crescer outra vez.”

Retomada

A perspectiva é que isso aconteça a partir de 2018. Uma vez que a economia já começou a dar sinais de retomada. Eo sucesso de recentes de leilões de concessões de petróleo, energia e aeroportos indicam que os investimentos podem voltar em breve.

“Estamos vendo um número maior de empresas estrangeiras com planos de entrar no mercado brasileiro de infraestrutura”, afirma Cruci, da AIG. “Como temos uma forte relação com essas empresas, estamos otimistas para o ano que vem.”

“Esperamos que o mercado de garantia continue a crescer. E a um ritmo ainda mais forte”, acrescentou Gonçalves. “Além do garantia judicial, o aumento da parcela dos projetos de infraestrutura a ser coberta pelo seguro garantia também deve dar um impulso ao mercado.”

Nova lei

O aumento mencionado por Gonçalves elevaria os níveis de cobertura do seguro de garantia de infraestrutura. Dos atuais 5% para 30% do valor do projeto, quando este supera R$ 100 milhões.

Também está sendo discutido a elevação do limite para 20% nos casos de projetos inferiores a esse patamar. Da mesma forma, de 1% para 5% no caso dos bid bonds, apresentados pelas empresas a fim de participar de uma licitação.

Essas mudanças estão sendo discutidas no Congresso Nacional. Isso no âmbito da nova Lei de Licitações, que ainda está em tramitação .

Especialistas consultados por Risco Seguro Brasil acreditam que, se tais mudanças se tornarem realidade, o mercado receberá um forte impulso. Ao mesmo tempo em que será menor o risco de projetos de infraestrutura não serem concluídos.

Em contrapartida, a nova lei também prevê que as seguradoras assumam a responsabilidade de conclusão de um projeto. Isso caso o concessionário que comprou a apólice se torne inadimplente. O que seria feito buscando uma nova empresa para terminar as obras.

Outras importantes inovações da Lei de Licitações incluem exigências de matrizes de riscos mais rigorosas. Além da apresentação de projetos executivos para as concessões de obras de infraestrutura.

A nova lei também permitirá ao Estado que exija outras coberturas. Como a garantia dos participante das licitações. Isso poderá dar um novo gás para segmentos como os seguros de engenharia ou responsabilidade civil.

Riscos

Mas o projeto também apresenta riscos para o setor. Como a pressão feita por alguns parlamentares no sentido de que as apólices de seguro garantia cubram 100% do valor das obras. Da mesma forma como ocorre nos Estados Unidos.

Para André Dabus, diretor de Infrastructura na Marsh, tal medida inviabilizaria o produto. Teria um efeito contrário ao objetivo da lei, que é o de garantir que as obras sejam finalizadas.

“A indústria tem procurado mostrar ao Congresso que o que o Estado realmente espera do seguro garantia é uma ferramenta que lhe possibilite cumprir sua missão de prover infraestrutura de qualidade para a população”, observou Dabus. “Para isso, tudo que esta ferramenta precisa fazer é cobrir os custos de substituir uma empresa inadimplente por uma outra.”

Para isso, em sua opinião , o limite de 30% é adequado. A cobertura do valor total da obra colocaria pressão excessiva sobre a capacidade dos subscritores. Faria com que menos empresas participassem do mercado.

Conforme afirmou Dabus, a Lei de Licitações também traz outros riscos em potencial para o setor. Por exemplo, há planos de impingir às seguradoras passivos da empresa segurada. Ainda que não estejam relacionados com o projeto coberto pela apólice

Coberturas

Outro possível vetor de desenvolvimento do seguro garantia pode vir de uma maior aceitação das coberturas por parte do BNDES, Banco do Nordeste e outros do gênero.

“Outro desafio é ampliar a demanda por parte dos bancos de desenvolvimento do produto completion bond”, disse Gustavo Henrich. Ele é vice-presidente da JMalucelli Seguradora.

“Trata-se de um instrumento que aumenta a segurança destes bancos nos financiamentos de longo prazo ao garantir que o empreendimento financiado será concluído. Consequentemente gerará os recebíveis necessários que irão compor o pacote de garantias para repagamento da dívida exigido pelos bancos.”

Há ainda mais um fator que pode pesar no desenvolvimento do mercado. O aumento da sinistralidade observado nos últimos meses. Isso como resultado da interrupção de vários projetos de infraestrutura, como a concessão do aeroporto de Viracopos.

Em agosto, a sinistralidade chegou a 40%, de acordo com a Susep. Comparada com 21% no mesmo mês do ano passado. E, como o garantia judicial é um produto ainda recente, o mercado ainda não sabe que níveis de sinistralidade vão ser a característica desse produto.

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O ano que pode quebrar recorde de perdas catastróficas

Sim, são perdas catastróficas. Pois o acúmulo de eventos catastróficos dos últimos meses pode levar a perdas seguradas de até US$ 190 bilhões em 2017. Isso de acordo com a agência de avaliação de crédito Fitch.

Neste caso, as perdas acumuladas podem ter um impacto significativo sobre as reservas de capital de seguradoras e resseguradoras. Assim afetando suas avaliações de risco, conforme afirmou a empresa em uma nota.

Nos últimos dois meses, os Estados Unidos e o Caribe foram afetados pelos furacões Harvey, Irma e José. Na última semana, outro furacão, o Maria, causou grande devastação no Caribe e no território americano de Porto Rico.

Além disso, dois fortes terremotos atingiram o México em setembro. O segundo dos quais destruiu propriedades na Cidade do México, capital e principal centro econômico do país.

Por motivos variados, apesar das grandes perdas econômicas causadas, nenhum dos eventos foi suficiente para, sozinho, afetar as reservas do mercado de seguros.

Porém, a indústria pode sentir os efeitos da agregação de perdas seguradas. Segundo a Fitch, elas devem superar US$ 100 bilhões.

No cenário mais negativo, o número pode ser de até US$ 190 bilhões. Nesse caso, será uma das maiores perdas já sofridas pela indústria de seguros e resseguros em um só ano.

Maria

Em sua nota, a Fitch cita estimativas da empresa de modelação de riscos Air Worldwide. Segundo a qual o furacão Maria terá causado perdas asseguradas de até US$ 85 bilhões.

O Maria foi especialmente destruidor em Porto Rico. Na região, matou 16 pessoas de acordo com as últimas estimativas.

O custo do Irma, que atingiu a Flórida e o Caribe, é estimado em US$ 50 bilhões, e o do Harvey, em US$ 25 bilhões.

Já os terremotos do México devem custar US$ 3 bilhões ao setor. Dessa forma, a esses números devem-se somar os US$ 20 bilhões em perdas no que foi um benéfico. Porém já distante primeiro semestre para a indústria.

A Fitch estima que as empresas de seguro patrimonial dos Estados Unidos, mais afetadas pelos eventos catastróficos, acumulam cerca de US$ 700 bilhões em reservas de capital regulatório.

Já a indústria global de resseguros, que vai absorver parte do baque, tem outros US$ 600 bilhões, incluindo fontes de capital alternativo.

Estes números mostram que, ainda que as perdas acumuladas se confirmem no ponto mais alto das estimativas, a indústria tem capital suficiente suficiente para absorvê-las.

Mas as perdas são de tal magnitude que empresas individuais mais expostas aos furacões e terremotos podem ver suas reservas de capital afetadas.

Em alguns casos, segundo a Fitch, esse pode resultar no corte das avaliações de risco de crédito dessas companhias. As mais expostas são seguradoras locais de Porto Rico e da Flórida.

A empresa cita, no caso portorriquenho, a Universal, que faz parte do grupo Mapfre entre as seguradoras patrimoniais com maior parcela do mercado.

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Miami se firma como centro de resseguros e mira Brasil

Resseguradoras baseadas em Miami estão de olho no mercado brasileiro, que aos poucos está se tornando mais aberto ao resseguro internacional.

Segundo fontes ouvidas pela Risco Seguro Brasil, companhias estabelecidas na Flórida vêem no Brasil um mercado promissor. Porém,  protecionista. Mas agora pode entrar de vez nas suas estratégias de negócio.

Em 2020, a reserva do resseguro local terá caído para 15% no Brasil. Comparado com 40% dois anos atrás. No mesmo ano, subscritores registrados no Brasil poderão transferir até 75% de seus prêmios a empresas do mesmo grupo. Antes de 2016, o limite era de 20%.

O mesmo vale para a Argentina. Assim como o Brasil, o país está gradualmente reabrindo seu mercado ressegurador para os atores globais.

“Uma parcela dos prêmios (de resseguro) da Argentina deve vir para Miami no futuro”, disse José Astorqui. Ele comanda o escritório da corretora BMS na cidade americana. “Quando o mercado do Brasil abrir, os cedentes brasileiros vão buscar os melhores preços e condições. Da mesma forma, alguns podem optar por colocar seus riscos em Miami também.”

Crescimento

De fato, Miami tem crescido de forma sólida como uma opção ao Lloyd’s, de Londres, para seguradoras e clientes corporativos baseados na América Latina.

Igualmente o mercado local começou a se desenvolver no início dos anos 1990. Por exemplo, com a chegada de um punhado de empresas como Odissey Re, Trans Re, Everest e Scor. Nos últimos anos, o ritmo de crescimento tem se acelerado. Com vários sindicatos londrinos e resseguradoras globais optando pela cidade como sede de suas operações latino-americanas.

Foi o caso, por exemplo, da MS Amlin, que abriu escritório em Miami em outubro de 2014. “Quando abrimos, tínhamos um pequeno portfólio na região, primariamente de resseguros automáticos”, disse Louis de Ségonzac. Ele lidera a operação latino-americana da empresa desde a cidade na Flórida.

“Desde então, nosso portfólio já aumentou em dez vezes. E com negócios que a empresa não tinha em Londres.”

A MS Amlin hoje tem 12 pessoas trabalhando em Miami. Incluindo um responsável por sinistros e uma capacidade de modelização catastrófica, disse o executivo.

Todas as linhas

“Miami começou como um centro de resseguros automáticos. Porém, agora, oferece todos os tipos de linhas facultativas também”, disse Astorqui. “É verdade que, nos casos de linhas mais técnicas, como aviação ou energia, Londres continuar a ter um papel proeminente. Mas hoje Miami pode satisfazer praticamente todas as necessidades dos cedentes latino-americanos.”

“Miami provavelmente detém uma das maiores capacidades de resseguros automáticos para a América Latina. Da mesma forma,  a capacidade facultativa segue crescendo. Especialmente em linhas patrimoniais, mas em especialidades também,” observou Segonzac.

Estima-se que mais de 30 resseguradoras já instalaram o comando de seus negócios latino-americanos na cidade. O grupo inclui desde grandes grupos globais até sindicatos do Lloyd’s londrino. Assim como resseguradoras especializadas em nichos, como a suiça Helvetia.

A experiência tem sido satisfatória para várias delas. E ao menos duas empresas, Everest e Navigators, ampliaram as responsabilidades de executivos baseados em Miami para outras economias emergentes, além da América Latina.

Entre as vantagens oferecidas por Miami para as resseguradoras encontra-se a regulamentação local, uma vez que a lei da Flórida é bastante rigorosa com os seguros vendidos nos EUA, mas mais relaxada com operações que visam mercados estrangeiros.

“O regulador de seguros da Flórida aplica regras favoráveis para contratos de resseguros assinados com cedentes latino-americanos”, disse Alex Guillamont, que lidera a prática latino-americana do escritório de advocacia Kennedy’s em Miami.

Língua e férias

Também há fatores mais prosaicos, mas ainda assim importantes, que beneficiam o progresso de centro de seguros de Miami, segundo os especialistas.

Um deles é a língua. Com uma grande população de origem latina, o espanhol é uma língua franca em Miami, o que facilita em muito a redação dos contratos.

Mesmo especialistas capazes de falar português do Brasil podem ser contratados com relativa facilidade na cidade.

O fuso horário também ajuda, especialmente na competição com Londres, e também o fato de que a cidade está conectada, por meio de avião, a praticamente todas as cidades economicamente importantes da região.

Outro atrativo é o fato de que muitos executivos latino-americanos estudaram nos Estados Unidos e alguns até possuem propriedades na Flórida.

Além disso, não deve ser ignorado o fascínio que Miami exerce sobre as classes abastadas da América Latina como um centro de turismo e compras.

A rua dos seguros

Para completar, o hub de resseguros de Miami acabou se concentrando em uma região em particular, a Brickell Avenue, no coração financeiro da cidade.

No decorrer dos anos, dezenas de subscritores se instalaram na avenida, e logo foram seguidos por corretores, escritórios de advocacia, peritos e outros profissionais ligados ao seguro e ao resseguro.

Com isso, os executivos das empresas cedentes podem se deslocar a pé de um lugar ao outro, perdendo pouco tempo ao visitar diversos potenciais parceiros comerciais.

A boa qualidade de vida oferecida pela cidade também facilita a atração de executivos especializados em resseguros, muitos dos quais poderiam mostrar relutância em se comprometer a viver no longo prazo em uma metrópole latino-americana.

“Com frequência, as resseguradoras estabelece seus quartéis-generais regionais em Miami, e depois criam escritórios locais em países latino-americanos”, observou Guillamont.




IRB Brasil cresce e já é a 28ª maior resseguradora do mundo

O IRB Brasil subiu oito posições no ranking mundial de resseguradoras. Já é a 28ª maior empresa do setor em volume de prêmios.

Ranking elaborado pela agência de avaliação de riscos AM Best mostra que o IRB Brasil fechou 2016 com US$ 1,52 bilhão em prêmios brutos de resseguros. Isso em uma performance ajudada tanto pelo crescimento da carteira da empresa quanto pela valorização do real com relação ao dólar americano.

Da mesma forma, outro levantamento, da corretora Willis Re, confirmou a posição do IRB como a resseguradora mais lucrativa do planeta.

A empresa reportou um índice de retorno sobre patrimônio líquido de 27,5% no primeiro semestre. Contra uma média de 4,6% do mercado como um todo.

São números como esses que estão levando analistas a recomendar a recém-listada ação do IRB a seus clientes. Por exemplo, o banco JP Morgan recentemente lançou um relatório classificando a ação do IRB como OW (Overweight). Ou seja, recomendando um peso maior do que o normal em um portfólio de ações.

O JP Morgan estabeleceu uma meta de R$ 34 para a ação do IRB, que foi lançada no mercado no final de julho a R$ 27,23. No dia 14 de setembro fechou o pregão da B3 em R$ 31,15.

IRB: Teste à vista

Os bons resultados do IRB Brasil devem ser colocados à prova. Porém, neste trimestre, uma vez que as perdas catastróficas enfrentadas pelo setor de resseguros estão se acumulando de forma notável.

Nos últimos anos, o IRB fez um esforço para aumentar seu portfólio de riscos no exterior. Iso em uma estratégia que visa reduzir a dependência da empresa aos resultados dos investimentos financeiros.

Com vários anos benéficos em termos de perdas catastróficas, a estratégia tem dado resultado. Como resultado,  o IRB vem reportando elevado crescimento de prêmios. Assim como baixos índices combinados que, bombados pelos resultados dos investimentos, proporcionaram fortes retornos aos acionistas.

Porém, a maior exposição a clientes no exterior também significa uma exposição maior a riscos catastróficos. Algo que pouco existe no Brasil.

Segundo o prospecto final da IPO, em março de 2017, o IRB tinha 5% de sua receita líquida ligada a contratos de resseguros nos Estados Unidos. Eles foram fortemente afetados pelos furacões Irma e Harvey nas últimas semanas.

Já outros 13% são originados na Europa. É onde as resseguradoras estiveram bastante expostas aos furacões e outras catástrofes nos últimos meses. O IRB pode estar exposto a estes mesmos riscos através de contratos de retrocessão.

O impacto das recentes catástrofes no índice combinado da empresa no terceiro trimestre vai mostrar que tipo de riscos o IRB Brasil esteve disposto a tomar a fim de vitaminar seu portfólio internacional às vésperas da IPO. Em dezembro de 2016, 6% da receita líquida do IRB vinha de clientes na Europa, e 3%, nos Estados Unidos.

Prêmios

O ranking da AM Best mostra que a Swiss Re assumiu a liderança do mercado de resseguros no final de 2016. Assim totalizando US$ 35,6 bilhões em prêmios brutos.

Ela ultrapassou assim a Munich Re, que fechou o ano com US$ 33,2 bilhões.

As duas têm grande vantagem sobre a terceira colocada. A Hannover Rück, com US$ 17,2 bilhões.

Em quarto lugar aparece a francesa Scor, com US$ 14,6 bilhões. O top 5 mundial é completado pela Berkshire Hathaway, com US$ 12,7 bilhões.

O Lloyd’s ficou na sexta colocação, com US$ 11,6 bilhões. Enquanto que duas resseguradoras de países emergentes aparecem entre as dez maiores. A China Re (oitava com US$ 7,9 bilhões) e a Korean Re (décima, US$ 5,6 bilhões).

A empresa que mais galgou postos no ranking foi a japonesa MS&AD, que assimilou em 2016 os prêmios da britânica Amlin, o que lhe valeu 11 posições no ranking. A empresa fechou 2016 como 16ª maior do mundo.

Em seguida aparece o IRB, que subiu da 36ª colocação para a 28ª. Endurance e Peak Re ganharam 7 posições cada.

Rentabilidade

No ranking de rentabilidade da Willis Re, os 27,5% de retorno sobre patrimônio líquido obtidos pelo IRB no primeiro semestre de 2017 deixam longe a segunda colocada, Beazley, com 17,6%.

Everest Re (12,9%), Korean RE (12,7%) e African Re (12,65%) fecham o top 5, ainda que no caso dessa última os dados se refiram ao ano de 2016.

O IRB também se destaca por ter um dos mais baixos índices combinados entre as 34 empresas avaliadas pela Willis Re, com 86% no final de junho.

Apenas Arch Capital (83,1%), Validus (82,9%), Renaissance Re (79,7%) e Lancashire (78,4%) tiveram índices inferiores.

 




Preços em queda devem resistir a furacões e terremoto

O que justifica os preços em queda?

No último mês, os Estados Unidos e o Caribe foram atingidos por dois fortes furacões. Já o México, por um poderoso terremoto. E fortes inundações também afligiram a Itália e partes da Ásia.

Ainda assim, a expectativa do mercado é que a tendência de baixa de preços no resseguro mundial não seja interrompida.

Para analistas reunidos em Monte Carlo para o encontro anual da indústria de resseguros, nesta semana, o impacto dos furacões Irma e Harvey no setor serão significativos. Assim devem afetar os resultados de vários subscritores, resultando em preços em queda.

Mas as catástrofes de agosto e setembro não devem ser suficientes para corroer a base de capital do mercado global de resseguros. O que, se ocorresse, poderia gerar um aumento dos preços nas próximas renovações.

A mais recente estimativa das perdas causadas pelo furacão Irma, divulgadas pela empresa de modelização catastrófica Karen & Co, colocou as perdas asseguradas em US$ 25 bilhões, US$ 18 bilhões dos quais nos Estados Unidos.

São perdas consideráveis. Porém, muito distantes dos US$ 130 bilhões que faziam parte da estimativa mais pessimista divulgada pelo Lloyd’s de Londres. O Irma perdeu força antes de atingir em cheio a Flórida e mudou de rumo. Dessa forma afastando-se das regiões mais habitadas. O que minimizou o seu impacto econômico.

Outros analistas de riscos divulgaram estimativas de perdas seguradas entre US$ 15 bilhões e US$ 40 bilhões devidos à passagem do Irma. Por sua vez, a agência de ratings AM Best, calculou que o furacão pode ter causado perdas de até US$ 12,5 bilhões ao mercado de títulos catastróficos. Uma importante fonte de capital adicional para o mercado ressegurador.

Harvey

Já o impacto do furacão Harvey, que atingiu o Texas e outros estados americanos uma semana antes do Irma, continua gerando debate no mercado.

A Karen & Co estima que o Harvey causou prejuízos segurados de US$ 15,4 bilhões. As perdas foram minimizadas pelo fato de que a maior parte dos contratos de seguro patrimoniais na região atingida cobrem danos causados pelos ventos. Mas não por inundações, principal perda causada pelo furacão.

A empresa estima que, do total de danos segurados do Harvey, apenas US$ 2,5 bilhões foram resultado da ação dos ventos. Enquanto que as inundações chegaram a US$ 12,5 bilhões. O alto valor se deve, sobretudo, às coberturas de seguros de automóveis que devem ser acionadas por causa das cheias.

Mas o número pode ser maior. Uma vez que forem computados os prejuízos cobertos pelo NFIP. Trata-se de programa de proteção contra inundações mantido pelo governo americano.

Em depoimento à AM Best, David Flandro, responsável pela área analítica da corretora JLT Re, estimou que, uma vez computados os gastos do NFIP, as perdas asseguradas causadas pelo Harvey podem chegar a US$ 45 bilhões. Porém, não está claro que parcela dos riscos cobertos pelo NFIP seria derivada ao mercado de resseguros. Estimativas divulgadas em Monte Carlo colocam as perdas totais do Harvey entre US$ 20 bilhões e US$ 30 bilhões.

Todavia, Flandro estima que o mercado de resseguros tem um excesso de capacidade de US$ 60 bilhões. O que indica que o impacto dos dois furacões devem ser absorvidos sem grandes dificuldades pela indústria.

Mercado alternativo

Além disso, analistas calculam que o mercado alternativo fornece entre US$ 80 bilhões e US$ 100 bilhões de capacidade extra.

Em Monte Carlo, diretores da AM Best disseram que, se o custo dos furacões tivesse alcançado um patamar entre US$ 100 bilhões e US$ 150 bilhões, o mercado poderia ver uma reversão de tendência. Da mesma forma, com os preços passando a aumentar.

Mas, como isso não aconteceu, deve seguir o cenário atual de baixos preços. Assim como termos e condições mais amistosas,. Bem como redução na liberação de reservas e abundância de capital.

A AM Best colocou o mercado de resseguros em uma perspectiva futura negativa.

Empresas com forte exposição ao mercado da Flórida, em especial, tendem a ter seus resultados afetados como resultado da temporada de furacões.

O Harvey causou a morte de ao menos 70 pessoas. Enquanto que o Irma já está diretamente associado a mais de 30 mortes nos Estados Unidos e 38 no Caribe.

México X preços em queda

Já o terremoto mexicano do começo de setembro, que chegou a 8,2 pontos na escala Richter, deve ter pouco impacto no mercado. Já que atingiu principalmente uma região de baixa densidade populacional.

Os estados afetados foram principalmente Oaxaca, Chiapas e Tabasco. São áreas onde o potencial de perdas asseguradas é reduzida.

A Cidade do México, onde os prejuízos poderiam ser bem mais significativos, foi em grande medida poupada pelo tremor.

O estado mexicano deve arcar com a maior parcela das perdas. Assim, parte dos prejuízos devem ser cobertos por títulos catastróficos de US$ 360 milhões que foram emitidos pelo governo mexicano nos últimos anos.

A catástrofe deixou mais de 90 mortos. Especialmente em Oaxaca.

Enchentes no estado de Bihar, além de outra partes da Índia, Nepal e Bangladesh, também causaram grande destruição em agosto, matando mais de 600 pessoas. Porém, seu impacto sobre a indústria de seguros tende a ser limitado.

Na Itália, as enchentes têm atingido principalmente a região da Toscana, causando a morte de ao menos seis pessoas.

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Harvey deve ter impacto reduzido sobre seguros

O furacão Harvey, que atingiu os Estados Unidos esta semana, deve ter um impacto significativo, mas mitigado,l sobre a indústria de seguro e resseguro. Isso segundo a agência de avaliação de riscos AM Best.

Da mesma forma, governo do Texas, estado americano mais afetado pelo furacão, divulgou estimativa de que serão necessários US$ 125 bilhões em ajuda federal para reconstruir os estragos.

O valor, se confirmado, será superior até mesmo ao dos danos causados pelo furacão Katrina. O Katrina devastou New Orleans em 2005.

Já a empresa de modelação de riscos RMS estima que as perdas econômicas ficarão entre US$ 70 bilhões e US$ 90 bilhões. Por sua vez, com uma pequena parcela coberta por seguros. Porém, a RMS alertou, que a estimativa pode mudar na medida em que fique mais clara a amplitude dos estragos causados.

Da mesma forma, cálculos preliminares colocam as perdas seguradas entre US$ 8 bilhões e US$ 20 bilhões. É o que firma a AM Best em relatório.

Outra agência de análise de risco de crédito, a Standard & Poor’s, acredita que os danos das seguradoras serão praticamente todos absorvidos pelos seguradores primários. Isso com reduzido efeito sobre o resseguro global.

Se for assim, não deve ser suficiente para mudar a tendência do mercado global. O mesmo mercado já se beneficiou de um primeiro semestre favorável. Isso em termos de perdas catastróficas.

Contudo, até a sexta-feira, 1º de setembro, o Harvey, um furacão de categoria 4, já havia sido responsável pela morte de 44 pessoas no Texas e regiões vizinhas.

Todavia, especialistas dizem que o furacão causou inundações de um nível que só se espera que ocorram uma vez a cada mil anos na região.

Inundações

A AM Best nota que o volume total de perdas seguradas será relativamente baixo. Isso porque as principais causas de danos patrimoniais causados pelo Harvey são as inundações. Elas não são normalmente cobertas pelas apólices de seguro habitacional nos Estados Unidos.

As coberturas por inundações são mais comuns. Porém, nas apólices de seguro empresarial. Elas também devem ser acionadas para cobrir perdas de lucro cessante com dano físico direto ou indireto.

Mesmo assim, se entre os riscos cobertos não há referência específica às inundações, as coberturas tampouco podem ser acionadas.

Ainda que a indústria dos seguros seja poupada, o estrago causado pelo Harvey deve ser maiúsculo sobre a economia do Texas. Em especial sobre Houston, a metrópole mais afetada.

O Centro de Riscos Cambridge divulgou estimativa que, além das grandes perdas sofridas pela cidade em termos de danos patrimoniais, a economia da cidade deve perder US$ 60 bilhões em riqueza como resultado da catástrofe natural.

“Ademais da perda de vidas humanas e a destruição física de propriedades, as inundações vão causar perturbação na economia da cidade. O que por sua vez influenciará a economia da região. Assim com possíveis impactos na economia dos Estados Unidos e a nível internacional”, disse Simon Ruffle. Ele é diretor de Inovação e Pesquisa do centro, que é ligado à Universidade de Cambridge.

O prejuízo será causado pelo fechamento de estabelecimentos comerciais. Além de perda de mão-de-obra, cortes de energia elétrica e fornecimento de água. Bem como suspensão de tráfico aéreo e marítimo. Redução da demanda por parte da população e um possível surto de inflação pós-desastre, afirma o centrol.

Ruffle espera que a economia da cidade volte ao normal dentro de um ano ou dois. Uma vez que Houston é qualificada pelo centro como uma economia “altamente resiliente”.

Impacto local

De maneira geral, segundo a AM Best, o impacto do Harvey deve ser assimilado sem grande dificuldade pela indústria de seguros texana. Com algum impacto no setor ressegurador global, uma vez que as políticas de retenção dos subscritores locais sejam ultrapassadas.

Assim, o impacto sobre o resseguro global deve constituir um evento significativo nos resultados trimestrais das resseguradoras. Porém, sem afetar suas reservas de capital. É o que prevê a AM Best. Segundo a agência, tanto o mercado de Londres quanto o de Bermuda e as grandes resseguradoras globais estão expostos ao furacão.

Parte da exposição se dá através do NFIP. Trata-se d programa federal de seguros contra as inundações. Mas ainda não está claro a partir de que volume de perdas os danos serão repassados às resseguradoras.

A RMS calcula que a penetração do NFIP em Houston chega a apenas 20% das propriedades. Cerca de 500 mil apólices cobertas pelo programa devem ser afetadas pelo furacão, acredita a empresa.

As seguradoras ativas no Texas podem ver seus resultados abalados. Porém, ainda parece pouco provável que tenham problemas de solvência como consequência da catástrofe.

As maiores seguradoras empresariais no Texas incluem a CNA, Liberty Mutual, Chubb INA, AIG, Travelers, Zurich, Sompo, Germania, Farmers e Assurant.