1

Para consultoria, Odebrecht pode ser ‘prego no caixão’ de Dilma

A condenação do empresário Marcelo Odebrecht pode ser o “prego no caixão” da presidente Dilma Rousseff, na opinião de uma das mais conceituadas consultorias de risco político internacionais.

Em nota publicada um dia após a condenação de Odebrecht a 19 anos e 4 meses de prisão como decorrência das investigações da Operação Lava Jato, a Verisk Maplecroft comenta que os acordos de delação premiada que podem se originar daqui adiante “aumentam a perspectiva de uma saída prematura” da presidente.

Isso porque a caixa de revelações que poderia ser aberta pelo empresário baiano tem chances de aproximar cada vez mais de Dilma as investigações de corrupção na Petrobras e financiamento de partidos políticos.

“A colaboração de Odebrecht pode implicar formalmente o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva na investigação da Lava Jato”, afirma Jimena Blanco, chefe da seção de Américas da consultoria, que assina a análise distribuída a investidores internacionais.

“Dilma com freqüência tem se apoiado em Lula para reforçar sua imagem em tempos políticos difíceis, mas o envolvimento de seu mentor nas investigações de corrupção significa que os dois presidente do PT podem afundar juntos.”

Na opinião de Blanco, caso fique comprovada a culpa de Lula em algum caso de financiamento ilegal do PT, será “praticamente impossível” para Dilma continuar alegando desconhecimento sobre a corrupção na Petrobras, empresa da qual foi conselheira entre 2003 e 2010.

A análise da Verisk Maplecroft conclui que, com a possibilidade cada vez mais clara de que Dilma seja ligada aos eventos apurados pela Lava Jato, sua posição ficará insustentável, e o risco para as atividades das empresas continuarão a aumentar.

Por outro lado, a possibilidade de mudança de governo, e uma eventual aprovação de reformas econômicas pela próxima administração, servem como um “moderado” lado positivo de toda a situação.

A analista observa, por exemplo, que os mercados reagiram positivamente à condução coerciva de Lula para depor na Operação Lava Jato, na semana passada, e o real desde então tem apresentado um desempenho superior ao de outras moedas de economias emergentes.

Competição

Esta tendência recente contraria as previsões de outra análise de risco político em países emergentes, desta vez feita pela corretora AON, que também alerta para a situação difícil vivida pelo país em um relatório para investidores e clientes internacionais.

De fato, na América Latina, apenas a Venezuela aparece como um país em circunstâncias mais complicadas, segundo a AON. Mas a República Bolivariana é um caso à parte, descrito pela corretora como “possivelmente a pior economia do mundo”.

“O Brasil enfrenta a deterioração de seu déficit de conta corrente, dos níveis de dívida em geral, e dos custos de serviço da dívida”, afirma o Mapa de Riscos Políticos em 2016 publicado pela empresa. “Tudo isso torna mais difícil para o Brasil refinanciar suas dívidas sem cortar investimentos.”

Mas a corretora coincide com outros analistas que afirmam que, se a situação econômica do Brasil preocupa, é na instabilidade política que realmente mora o perigo para as empresas.

“As medidas econômicas e fiscais que são necessárias não foram implementadas, o que erode ainda mais a credibilidade econômica do Brasil”, diz o documento, que alerta os investidores que há mais problemas à vista para o Brasil.

“O impacto do vírus da zika na economia ainda é desconhecido. Entretanto, se a situação se deteriorar ainda mais, poderia ter conseqüências de longo prazo para o país como um todo.”

“A economia brasileira está experimentando seu período de desaceleração mais prolongado na história recente ao tempo que se prepara para a Rio 2016”, disse Paul Domjan, diretor gerente da Roubini Global Economics, empresa de avaliação de risco soberano que participa da elaboração do mapa de riscos políticos da AON.

“No longo prazo, o ambiente para as empresas tem se enfraquecido pela pobre performance econômica, e isso poderia se tornar um problema ainda mais grave para as empresas que operam no Brasil. As proteções com que o país conta estão se erodindo, e mesmo o progresso em potencial derivado da revelação de corrupção está criando importantes danos colaterais na medida em que os casos avançam no sistema legal”, concluiu Domjan.




Fraudes em queda podem revelar falhas de controles internos

Martin Whitehead, sócio da PwC. (divulgação)
Martin Whitehead, sócio da PwC. (divulgação)

Uma boa notícia pode mostrar uma melhoria em determinada área, mas também pode indicar alguma situação que precisará de tempo para ser mais bem compreendida.

É o que se deduz da oitava edição da Pesquisa Global sobre Crimes Econômicos, da PwC, que acaba de ser divulgada. Um dado do levantamento é auspicioso: apenas 12% das empresas brasileiras reportaram terem sido vítimas de crimes econômicos nos últimos 24 meses — uma queda de 15 pontos porcentuais em relação ao levantamento anterior.

Esse desempenho coloca o Brasil no grupo de países onde o problema menos ocorre no planeta. A média global é de 36% (o triplo) e a dos Brics (os principais países emergentes), 39%.

A pesquisa considerou 13 tipos de fraudes, como roubo, suborno, corrupção, crime cibernético e lavagem de dinheiro, além de um 14º item (classificado como “outros”, casos menores). A sétima edição do estudo mostrava que também em 2013 já houvera uma queda nessas ocorrências, de 33% para 27%, o que levou a consultoria a concluir que o combate e fraudes estava melhorando. A média global naquele levantamento ficou em 37%, dez pontos acima da brasileira.

Jabuticaba

Fernando Alves, sócio-presidente da PwC Brasil. (Divulgação)
Fernando Alves, sócio-presidente da PwC Brasil. (Divulgação)

Estamos tão bem assim? Talvez não, numa situação que lembra a “jabuticaba” da anedota, aquelas coisas que só acontecem aqui.

“Algo estranho parece ter acontecido no Brasil recentemente em relação à incidência dos crimes econômicos”, avaliou Martin J. Whitehead, sócio da PwC Brasil, sobre os dados agora divulgados (e relativos a 2015). A estranheza da consultoria fica clara na “visão geral” exposta na apresentação do trabalho: “Fraudes despencam no Brasil: maturidade crescente, mudança temporária ou algo à espreita?”.

A interrogação levou a consultoria a apresentar uma hipótese, baseada em outro dado da pesquisa. As companhias brasileiras podem estar falhando em descobrir crimes de que são vítimas. Isso porque o levantamento mostra que a identificação de incidentes por métodos sob controle da administração caiu de 52% para 30%. Ou seja: a maioria não consegue descobrir por conta própria que é vítima de alguma fraude.

Daí sai uma relação em não saber e dizer que não sofreu fraude.

Outros levantamentos nesta área reforçam a hipótese. Mesmo tendo metodologias e universos pesquisados diferentes, servem para iluminar mais um pouco mais o tema. Em meados de fevereiro, um levantamento da mesma PwC mostrou que o número de incidentes relacionados a ataques cibernéticos no Brasil cresceu sete vezes mais que a média global. Trata-se também de um tipo de fraude.

Já uma pesquisa da Kroll apontou em 2015 que 77% das companhias ouvidas disseram que foram vítimas de algum tipo de fraude ao longo do último ano de atividade, com desvios financeiros aparecendo como principal problema (23% dos casos).

Ambos estudos apontam para a direção de que fraudes pegam pesado nas companhias.

Outro dado da Pesquisa Global de Crimes Econômicos relativiza a situação das fraudes no Brasil: a maioria das pesquisadas reconhece que não está preparada para entender os riscos cibernéticos que enfrenta — este uma das grandes preocupações mundiais do momento. Em todo o mundo, 37% dizem possuir plano para lidar com este tipo de incidente enquanto no Brasil são 27% — os 71% restantes formam o maná dos hackers.

Mil coisas

Para a PwC, a situação ora exposta pode ter sido influenciada por três fatores — ou uma mistura de três. E, mesmo que a situação não seja tão boa quanto os números apontam, indicam evolução.

“O primeiro seria uma consequência de investimentos feitos em prevenção [motivados pela Lei Anticorrupção]”, atestam na apresentação do trabalho o sócio-presidente da PwC, Fernando Alves, e Whitehead, o sócio especialista na área. “Nossa pesquisa capturou alguns dados positivos neste sentido.”

“Uma segunda explicação seria a piora nos mecanismos de detecção”, diz o relatório. “Cresceram muito também os incidentes revelados por mecanismos fora da influência da gestão, como a mídia e agentes públicos”, dizem eles. “Além disso, aumentou também a importância das delações e canais formais de denúncias, um possível sinal de intolerância da sociedade em relação a esses malfeitos.”

“A nova lei pode ter dado um impulso inicial nesse processo”, afirma Leonardo Lopes, outro sócio especialista no assunto da PwC.

Alves e Whitehead continuam: “Um terceiro fator, de caráter mais comportamental, não encontra paralelo em outras partes do mundo. Com a forte repercussão das investigações [no âmbito da Lava Jato], mesmo no exterior, e punições pesadas para os envolvidos, é natural que a atuação dos criminosos tenha sido inibida, mesmo que temporariamente”.

Danos

Seja como for, os danos causados pelas fraudes são altos. Numa situação em que 17% das empresas brasileiras afirmam nunca ter realizado avaliação de risco nessa área (e 22% no mundo), a maior parte (27%) dos prejuízos relatados em decorrência delas fica entre US$ 1 milhão e R$ 5 milhões, segundo a PwC. Outros 23% ficaram na faixa entre US$ 100 mil e US$ 1 milhão.

Na mesma linha de outras pesquisas, a PwC aponta que os agentes internos são considerados como principal fonte dos desvios, sendo responsáveis por 58% dos crimes econômicos nas empresas (no mundo, a média é de 46%). A imensa maioria dos funcionários que cometem desvios, 87%, ocupa cargo de gerência executiva ou intermediária, reporta o estudo — no mundo, fica em 51%.

Apesar de alta, a “causa interna” caiu em relação à pesquisa anterior. Em 2014, 64% dos problemas decorriam de ação de funcionários.

O estudo avalia que “esses resultados apontam para uma possível fragilidade dos controles internos, cujas medidas servem mais como exercícios burocráticos para ‘cumprir tabela’ do que processos incorporados à cultura da organização”.

A enquete Pesquisa Global sobre Crimes Econômicos é realizada a cada dois anos. Para esta oitava edição foram ouvidas 6.337 pessoas, de 115 países. As informações referem-se ao ano de 2015. O número de empresas brasileiras participantes foi de 211.




Fraudes nas empresas: o perigo pode morar na baia ao lado

De acordo com pesquisa recente da Kroll, no ano passado três em cada quatro empresas foram vítimas de algum tipo de fraude — indicador que vale para o Brasil e para o restante do mundo.

Problema tão antigo quando a própria existência de empresas, bens, serviços e dinheiro, a picaretagem continuará garantindo trabalho árduo para gestores de risco pelo resto dos tempos — pelo menos enquanto os seres humanos forem os responsáveis pelos processos.

Não se trata de jogar toda a humanidade no mesmo balaio de corruptos atávicos. Mas como dizem dez entre dez especialistas toda atividade embute o risco de falhas causadas pelo comportamento humano.

Contra a natureza de alguns, existem os processos de controle, análise e mitigação dos riscos. É um jogo que vai além, por exemplo, de correr atrás do bandido, com fez Tom Hanks com Leonardo di Caprio em “Prenda-me se for capaz”.

Sem o romantismo do cinema, as fraudes causam estragos que vão desde perdas financeiras significativas até danos de reputação e, eventualmente e mais recentemente no Brasil, no  enquadramento à Lei Anticorrupção. O leque é amplo e pesado para as empresas.

O fraudador, no entanto, tende a dificultar o trabalho de ser flagrado. Dificilmente ele usa máscara de bandido e sai gritando “é um assalto” ou “burlei o reembolso” pelos corredores da companhia.

Infiltrado

Outro levantamento recente, feito pela PwC, apontou que é bastante comum ele estar instalado na baia ao lado e frequentar o cafezinho da firma. No Brasil, segundo o estudo, 41% das companhias apontam seus próprios funcionários como os responsáveis por ataques cibernéticos (um tipo de fraude que cresce no mundo todo). Problema que se repete também na média global da pesquisa feita pela consultoria. (Veja abaixo, a origem de ataques em diversos setores produtivos.)

O dinheiro domina a motivação para fraudar e pode causar desde danos “menores” com desvios de alguma centenas ou milhares de reais até rombos de R$ 60 milhões, que é o valor estimado para o caso revelado no fim do ano passado. Um grupo de funcionários da CNova, empresa de comércio eletrônico do grupo Casino promoveu desfalques sistemáticos na unidade brasileira desde 2011. O problema impactou inclusive o balanço da companhia, já que foi escamoteado com ajustes contábeis.

Os prejuízos médios do mercado foram apontados por uma pesquisa da Association of Certified Fraud Examiners (ACFE), que levantou 1.483 casos em todo o mundo em 2014. Concluiu que a perda média por fraude em 57 casos ocorridos na América Latina e Caribe foi de US$ 200 mil. As regiões campeãs foram a Europa Oriental e o centro e o oeste asiáticos, onde as fraudes envolveram US$ 383 mil na média. Nos Estados Unidos (que somou 48% dos casos) o prejuízo médio ficou na casa de US$ 100 mil por fraude.

É rombo suficiente para chamar a atenção de qualquer empresário para sistemas de controle. E um problema cuja dimensão fica mais complexa na medida em que tem várias fontes.

Ao lado do funcionário mal-intencionado, a empresa pode ser vítima também de ex-funcionários mal-intencionados — e não raras vezes enraivecidos por terem saído da companhia.

De acordo com o levantamento da PwC, de nove setores produtivos, eles aparecem como segunda principal fonte de fraudes cibernéticas em seis áreas — e em primeiro, em duas.

Os dados da consultoria mostram também que, apesar do “fraude amiga ou ex-amiga” ser muito forte, a origem de ataques é bem distribuída. No setor de varejo, por exemplo, 30% deles têm origem em funcionários; 26% em ex-funcionários; 23% em prestadores de serviço; 21% nos hackers; e 18% no crime organizado.

Veja a seguir a origem de ataques cibernéticos em nove setores produtivos, de acordo com o levantamento da PwC. Os dados são relativos a 2015.

Empresas financeiras
Empregados: 34%
Ex-empregados: 30%
Crime organizado: 27%
Hackers: 25%
Prestadores de serviços: 24%

Varejo
Empregados: 30%.
Ex-empregados: 26%
Prestadores de serviços: 23%
Hackers: 21%
Crime organizado: 18%

Setor público
Empregados: 32%
Ex-empregados: 22%
Prestadores de serviços: 21
Hackers: 20%
Ex-prestadores de serviços: 18%.

Produtos manufaturados
Hackers: 35%
Empregados: 30%
Ex-empregados: 28%
Competidores: 24%
Prestadores de serviços: 22%

Mídia, entretenimento e comunicação
Hackers: 26%
Ex-empregados: 25%
Ex-prestadores de serviços: 22%
Empregados: 20%
Competidores: 20%

Telecomunicações
Ex-empregados: 38%
Empregados: 33%
Hackers: 30%
Ex-prestadores de serviços: 25%
Competidores: 25%

Automotivo
Empregados: 41%
Ex-empregados: 39%
Hackers: 30%
Competidores: 30%
Ex-prestadores de serviços: 25%

Tecnologia
Ex-empregados: 34%
Empregados: 31%
Prestadores de serviços: 25%
Ex-prestadores de serviço: 23%
Parceiros: 17%

Energia
Empregados: 24%
Ex-empregados: 39%
Hackers: 23%
Crime organizado: 20%
Prestadores de serviço: 17%




Multis enfrentam riscos extremos na área de direitos humanos no Brasil

Empresas globais do setor de mineração que possuem parceiros sediados no Brasil enfrentam um risco extremo de ver seu nome associado a trabalho infantil e trabalho forçado, de acordo com uma consultoria internacional.

A avaliação da Verisk Maplecroft coloca o Brasil no mesmo patamar, neste quesito,  de grandes economias emergentes como a China, a Rússia, o México e a Índia, além de Peru, Bolívia e vários países asiáticos e africanos.

A qualificação foi detalhada em um relatório da consultoria sobre os riscos de desrespeito aos direitos humanos ligados às cadeias de suprimentos.

Com fornecedores espalhados por todo o mundo, as empresas multinacionais cada vez mais se expõem a se ver envolvidas em casos de exploração de trabalho escravo ou infantil, especialmente com parceiros comerciais que se encontram em países em desenvolvimento.

E, como observa a Verisk Maplecroft, a legislação de países como os Estados Unidos e os membros da União Europeia são cada vez mais rigorosas em suas exigências de transparência e responsabilidade sobre o desrespeito aos direitos humanos nas cadeias de suprimento.

Além disso, além de estarem sujeitas a penalidades financeiras e legais, as empresas se expõem a elevado risco reputacional, caso se vejam envolvidas com violações aos direitos dos trabalhadores, já que este é um tema que chama muito a atenção da opinião pública em seus países de origem.

Corrente

O Brasil também aparece no relatório como uma economia de riscos extremos de trabalho forçado na cadeia de suprimento do setor têxtil, de discriminação de gênero na remuneração dos trabalhadores, e também de que os empregados enfrentem más condições de trabalho em suas empresas.

As multinacionais da área de mineração também devem estar preocupadas com a elevada possibilidade de violação dos direitos do povos indígenas no mercado brasileiro, de acordo com a Verisk Maplecroft.

O estudo aponta diversas outras situações em que as multinacionais podem se ver envolvidas em casos de desrespeito dos direitos humanos em suas cadeias de suprimento.

Países em desenvolvimento são aqueles que apresentam os maiores níveis de risco, com economias asiáticas como a China, o Vietnã e o Camboja criando alguns dos principais desafios para as empresas em termos dos tratos dados aos trabalhadores.

Mas mesmo na Europa o tema preocupa, já que a chegada de números recordes de refugiados da Síria e outras zonas de conflito cria situações em que muita gente aceita trabalhar no mercado informal em condições deploráveis.

Passo atrás

O estudo também observa que os sistemas de auditoria das grandes empresas não estão conseguindo acompanhar a extensão de suas redes de provedores no que diz respeito à fiscalização do risco de desrespeito dos direitos humanos, especialmente no que diz respeito aos parceiros comerciais de segundo ou terceiro nível – aqueles com quem a empresa não lida diretamente.

Por esse motivo, a solução do problema passa por um processo de engajamento com os trabalhadores, por exemplo promovendo um melhor fluxo de informações sobre o tema entre a diretoria, os empregados e seus representantes sindicais.




Para IBGC, falhas de gestão de risco expõem sociedade a catástrofes

O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) considera “urgente” que empresas envolvidas com questões ambientais façam uma revisão de seus processos decisórios, cobra um posicionamento mais consistente de diretores e conselhos de administração e avalia que a pouca atenção dada por eles à área tende a gerar falhas no gerenciamento de riscos — que por sua vez podem resultar em “verdadeiras catástrofes”.

“A ocorrência ainda frequente de desastres ambientais relacionados à atividade empresarial impõe aos conselheiros de administração, diretores e demais agentes de governança uma necessidade urgente: revisar seus processos de tomada de decisão, de prestação de contas, de transparência e de comunicação com as partes interessadas e o público como um todo”, diz o instituto por meio de uma Carta de Opinião emitida em 12 de fevereiro.

Trata-se da primeira manifestação formal do IBGC sobre o tema após o desastre em Minas Gerais, em 5 de novembro de 2015. O documento pode vir ser desdobrado em outras análises e recomendações do instituto na área de governança.

De acordo com o instituto, “investidores, conselheiros e diretores estão sujeitos a uma nova realidade, que concebe um papel abrangente da empresa na sociedade, muito além do mero agente do mercado financeiro”.

O documento lembra que além de “perdas irreversíveis para o meio ambiente, o patrimônio público e a sociedade” os danos causados por catástrofes podem ser fatais para as empresas envolvidas, com “danos na reputação, multas e prejuízos financeiros”.

Como é praxe na instituição, nenhuma empresa é citada nominalmente. A ligação óbvia, no entanto, é a Samarco, responsável por um dos maiores desastres ambientais do país.

A empresa está envolvida em ações que envolvem até R$ 20 bilhões em compensações e pagamentos pelos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana.

Mais pressão

Para o IBGC, a maior pressão da opinião pública exige uma conduta mais responsável das empresas na área ambiental. “Essas cobranças podem e devem ser encaradas como fontes de oportunidades, inovação e vantagem competitiva – e não como entraves ou custos adicionais”, aponta o documento. “Os desastres ambientais são uma dolorosa oportunidade de reforçar essa visão e adotar novas e melhores condutas.”

De acordo com o documento, as empresas precisam ter um enfoque de longo prazo, com opção por buscar um “lucro ótimo” e não “lucro máximo”. “As considerações envolvendo aspectos socioambientais serão refletidas, mais cedo ou mais tarde, nas demonstrações contábeis, no valor econômico e de mercado da empresa, podendo afetar decisivamente sua longevidade.”

Para fazer valer essas premissas, as empresas precisam se ancorar no que a Carta de Opinião chama de pilar da responsabilidade corporativa: “Os agentes de governança corporativa devem zelar pela viabilidade econômico-financeira das organizações, reduzir externalidades negativas de seus negócios e suas operações e aumentar as positivas, levando em consideração, no seu modelo de negócios, os diversos capitais (financeiro, manufaturado, intelectual, humano, social, ambiental, reputacional, etc.) no curto, médio e longo prazos”.

Para quem tem dúvidas sobre como proceder, o IBGC faz ainda recomendações concretas, retiradas da 5ª edição do Código de Melhores Práticas de Governança Corporativa, publicado pelo instituto.

São ações como: mapear riscos, medir probabilidade de ocorrência, tomar medidas para preveni-los ou mitigá-los, cumprir código de conduta e treinar os públicos por ele afetados, ser transparente, entre outras.

“Hoje, mais importante que obter resultados, é atentar à forma pela qual são obtidos”, orienta o instituto.

Clique aqui para ler a íntegra da carta.




Aedes aegypti e zika movimentam ações nas empresas

Ricardo Sant’Ana, diretor de benefícios da Lockton.
Ricardo Sant’Ana, diretor de benefícios da Lockton.

As empresas não escaparam da crise causada pelo Aedes aegypti, o mosquito de meio centímetro de comprimento e dois pares de asas que transmite dengue, chikungunya e zika — e criou mais uma frente de gerenciamento de um risco explosivo na sociedade.

Com planos de saúde bem disseminados no mercado e cobrindo os tratamentos de saúde, a situação pede atenção especial das companhias aos funcionários em viagem e aos programas de conscientização e prevenção

Das três doenças, a zika é a que no momento vem causando preocupação crescente, a ponto de a Organização Mundial de Saúde decretar emergência de saúde pública global. Novas suspeitas de transmissão por ato sexual, além da presença do vírus na saliva e urina, vêm agravando a situação.

Os sérios problemas de saúde pública geram uma série de desdobramentos — da discussão ética de usar abortivos às ações de governo e mobilização da sociedade. Inevitável que ocorram problemas econômicos. As Olimpíadas do Rio de Janeiro, por exemplo, estão sob fogo cerrado por causa da zika. Há grupos pedindo o cancelamento do evento, já descartado pelo governo De qualquer forma,  turismo vai sofrer com o medo de uma epidemia de Zika.

Diante deste quadro, cabe às empresas gerenciar o risco com seus funcionários. Além de poderem contrair as doenças, também podem fazer parte de soluções, como participar e disseminar os cuidados para acabar com os focos de Aedes aegypti.

Walderez Tuma Fogarolli, diretora de saúde da Willis.
Walderez Tuma Fogarolli, da Willis Towers Watson..

Ninguém quer sofrer quer sofrer com febre, dores no corpo, conjuntive, coceiras e outros sintomas das doenças transmitidas pelo mosquito. Principalmente porque os problemas não param por aí.

A dengue pode matar; chicungunya também, mas é mais raro. Já a zika, pode estar associada à microcefalia no fetos, uma má formação do cérebro que pode causar deficiências mentais e de aprendizado. Há no Brasil atualmente quase 3,5 mil casos suspeitos de serem causados pela kika, sendo 270 confirmados até agora. A OMS diz que o vírus doença pode atingir 4 milhões de pessoas, sendo que o grupo de risco mais preocupante é o das grávidas — na maioria das vezes, ela é assintomática para as demais pessoas.

Gestão de crise

As empresas parecem empenhadas em mitigar o problema. De acordo com Ricardo Sant’Anna, diretor de benefícios e operações da Lockton Brasil, a grande maioria (80%) das empresas clientes da corretora de seguros está dedicada a diminuir o potencial de estrago do mosquito, basicamente com comunicação, conscientização e prevenção das doenças transmitidas pelo Aedes.

Segundo Sant’Anna, houve um “crescimento intenso” do uso de recursos de saúde dos planos por conta do mosquito. “Todas as empresas estão muito preocupadas”, disse Sant’Anna à Risco Seguro Brasil, lembrando que os planos de saúde empresariais — amplamente disseminados no mercado — cobrem tratamento das doenças.

A corretora Willis Towers Watson Brasil, por sua vez, distribuiu ela própria uma material explicativo sobre Zika e prevenção do mosquito para seus clientes.

“As empresas devem promover campanhas e comunicação contínua para sensibilizar os colaboradores”, recomenda diretora de saúde e benefícios da corretora, Walderez Tuma Fogarolli. “As medidas preventivas vêm sendo amplamente divulgadas pela mídia: evitar lixo, água acumulada, uso de repelentes etc.”

Além de ajudar a diminuir os focos do mosquito, também é importante evitar a contaminação feita por aqueles que já estão voando por aí. E eles estão bastante disseminados. Segundo o Ministério da Saúde, 40% dos municípios brasileiros registraram epidemia de dengue em 2015, tendo portanto forte presença do mosquito poliativo.

Além de ajudar a exterminar os focos do mosquito, os programas de prevenção tratam de fazer as pessoas evitarem ser picadas. O Aedes voa baixo (normalmente entre 0,5 e 1,5 m do chão, mas tem fôlego para chegar a até cerca de 18 m), daí que gosta especialmente de pernas, tornozelos e pés, principalmente de manhã ou no fim da tarde. O negócio então é usar repelente, calça e camisa comprida, de forma a expor a se expor o mínimo possível do corpo.

Cobertura

Sant’Anna lembra que desde o começo deste ano, os planos são obrigados a cobrir os exames para detecção da dengue e da febre chikungunya. A detecção do zika — uma doença em muitos casos assintomática — pode ser feita por exclusão das demais.

Não há seguro especial para cobrir problemas da zika. A microcefalia demandará amplo suporte de saúde e reabilitação.  “O portador necessita de assistência média e orientação, de terapias — fonoterapia, fisioterapia, terapia ocupacional etc, para melhoria das habilidades intelectuais e motoras”, diz Walderez Fogarolli.

O  tratamento, no entanto, das três doenças transmitidas pelo Aedes aegypti são clínicos e, portanto, cobertos pelos planos de saúde nos limites estabelecidos no contrato, reforçam os especialistas.

Seguro viagem

Apesar disso, as empresas precisam estar atentas à cobertura dos planos de saúde contratados, principalmente nos casos de funcionários que viajam a trabalho.

É comum que a cobertura geográfica seja ampla, diz Sant’Anna. Mas se não for, é recomendável criar um plano de contingência para seus funcionários em deslocamento, verificando a situação do lugar para onde eles vão, a rede de saúde disponível e, caso uma doença seja contraída, como e aonde o funcionário pode buscar auxílio.

De acordo com o diretor da Lockton, seguro para viagens internas no Brasil não são comuns, por limitação de mercado. Mas são quase obrigatórios para viagens ao exterior e devem contemplar assistência médica adequada.

Possante

Não bastasse o situação complicada de saúde pública, o vírus da zika ainda faz das suas no mundo do marketing. A montadora indiana Tata Motors teve de cancelar uma campanha de lançamento de um novo hatch, estrelada por Lionel Messi. O modelo, batizado de Zica, pretende fazer a marca avançar num mercado de carros mais sofisticados. Com esse nome, a Tata achou que a tarefa ia ficar um pouco mais complicada.




Cresce número de ações coletivas contra empresas nos EUA

O número de ações coletivas movidas por investidores em ações e títulos de dívida nos Estados Unidos está em pleno crescimento e chegou neste ano ao número mais alto desde 2008.

A informação vem de um relatório publicado esta semana pela NERA, uma empresa de consultoria econômica sediada em Nova York.

As ações coletivas movidas por investidores, ou securities class actions, viraram notícia no Brasil recentemente após a Petrobras e a Vale terem sido alvos nos últimos meses de processos desse tipo na Justiça americana.

Os autores das ações são investidores que se consideram prejudicados pela queda no valor das ações e títulos das duas entidades, como resultado da Operação Lava Jato e a tragédia de Mariana, protagonizado pela Samarco, empresa da qual a Vale é co-proprietária.

De acordo com a NERA, no ano passado foram iniciadas 234 ações de classe de investidores, um patamar não visto desde o início da crise financeira global. Em 2014, o número chegou a 216.

Estrangeiros na mira

A maior parte do crescimento se deve a ações iniciadas de acordo com a regra 10b-5 da SEC, a agência reguladora dos mercados de capitais nos EUA, que proíbe empresas de falsificar ou omitir informações que convençam investidores a comprar seus títulos.

Esta é uma das cláusulas que o escritório The Rosen Law Firm invoca para justificar sua ação coletiva contra a Vale, em dezembro, assim como a cidade de Providence para argumentar sua ação coletiva contra a Petrobras, no final de 2014.

De acordo com outra consultoria, a Cornerstone Research, houve 35 casos de ações coletivas contra empresas estrangeiras nos Estados Unidos em 2015, um número bem maior do que a média entre 1997 e 2014, que chega a 22. Empresas brasileiras foram alvo de “múltiplas ações”, segundo a consultoria.

Apenas em 2011, quando houve uma onda de ações coletivas contra empresas chinesas, registrou-se um maior número de ações contra empresas não americanas, com 62.

Ameaça séria

As ações coletivas constituem uma tremenda dor de cabeça para empresas nos Estados Unidos, já que, por uma característica do sistema jurídico local, pessoas que se sintam prejudicadas por um produto, serviço ou investimento podem optar pelo pedido de indenização mesmo depois que os processos judiciais são iniciados.

Empresas americanas e internacionais com frequência se vêem alvo de ações coletivas movidas por consumidores que se queixam do mal funcionamento de produtos de consumo, problemas de saúde causados por alimentos ou remédios e assim por diante.

Advogados especializados buscam motivos para iniciar tais ações, e muitas empresas preferem chegar logo a um acordo, independentemente do mérito da ação, para não sofrer com a má publicidade gerada pelos casos.

As ações coletivas de investidores são movidas por pessoas ou entidades, como fundos de pensão, que, entre outros motivos, alegam ter comprado títulos emitidos por uma empresa após terem sido falsamente informados sobre o estado financeiro ou os sistemas de gestão da companhia em questão.

Vale lembrar que empresas brasileiras recorreram com freqüência aos mercados americanos, nos últimos anos, para levantar dinheiro a fim de financiar projetos de expansão, aproveitando-se das baixas taxas de juro praticadas pelo Fed, o banco central americano. Como resultado, muitas delas podem estar expostas a este tipo de ação.

Os valores envolvidos podem ser significativos. De acordo com a NERA, 108 casos de ação coletiva de investidores foram resolvidos por meio de acordo em 2015. Em média, os acordos representaram indenizações de cerca de US$ 7 milhões. Em 14 casos, porém, chegaram a mais de US$ 100 milhões.

Historicamente, a maior indenização neste tipo de ação supera US$ 7,2 bilhões, paga pela empresa de energia Enron, protagonista de um escândalo contábil gestado nos anos 1990  e que estourou em 2001 (veja quadro abaixo).

O valor das indenizações pedidas, porém, parece estar em alta. A NERA utiliza um parâmetro para calcular todas as perdas potenciais que os investidores podem ter sofrido ao colocar seu dinheiro nos títulos e ações emitidos pelas companhias processadas e que estão em litígio. Em 2015, este indicador chegou a US$ 183 bilhões, comparados com US$ 145 bilhões no ano anterior.

Os setores mais visados pelas ações foram os de tecnologia e serviços eletrônicos (22% dos casos), tecnologia e serviços de saúde (19%) e finanças (9%).

Conheça as 10 maiores indenizações pagas em ações coletivas de investidores nos EUA

1. Enron: US$ 7,2 bilhões

2. WorldCom: US$ 6,2 bilhões

3. Cendant: US$ 3,7 bilhões

4. Tyco International: US$ 3,2 bilhões

5. AOL Time Warner: US$ 2,65 bilhões

6. Bank of America: US$ 2,4 bilhoes

7. Nortel Networks: US$ 1,14 bilhão

8. Royal Adhold: US$ 1,1 bilhão

9. Nortel Networks: US$ 1,04 bilhão

10. McKesson HBOC: US$ 1,043

Clique aqui para ler na íntegra o relatório da NERA, em inglês.

 




Política, economia e dívidas rebaixam avaliação de risco do Brasil

A seguradora de risco de crédito Coface rebaixou pela segunda vez em menos de um ano a avaliação do Brasil, ressaltando a instabilidade política e econômica do país, mas também o alto nível de endividamento das empresas nacionais.

De acordo com a seguradora francesa, apenas na China e na Turquia houve um maior ritmo de endividamento das empresas do que no Brasil.

A nota do Brasil passou de B para C, o que significa um risco “elevado” de não pagamento de dívidas das empresas. Trata-se do segunda qualificação mais baixa atribuída pela Coface.

Estão no mesmo patamar de risco do Brasil países como a Argentina, a Rússia, o Egito e a Grécia. Na América Latina, apenas a Venezuela, Guiana e Cuba merecem qualificações piores.

Outras economias emergentes que tiveram suas notas rebaixadas pela Coface são a África do Sul, Argélia, Zâmbia, Tanzânia, Gabão, Namíbia, Madagáscar, Bahrein e Casaquistão.

O banco ICBC Standard Bank, por sua vez, diz que o Brasil é hoje o país emergente menos atraente para investidores globais em renda fixa, o que indica que não deverá ser nada fácil para as empresas captarem dinheiro neste ano nos mercados de títulos de dívida internacionais.

Conjuntura ruim

O rebaixamento ocorre em um momento em que cresce entre os investidores a preocupação a respeito da possibilidade de calote em países emergentes.

Uma conjuntura global negativa alimentada pela desaceleração da China, a queda dos preços das commodities, a lentidão das economias desenvolvidas e a valorização do dólar faz com que dívidas contraídas na moeda americana se tornem cada vez mais difíceis de pagar por parte de empresas de economias emergentes.

O Brasil, porém, tem sua situação agravada por instabilidade política e erros de política econômica, de acordo com a empresa.

Em nota de pesquisa, o banco chinês ICBC Standard Bank estima que, neste ano, as empresas e governos de países emergentes darão calote em dívidas equivalentes a US$ 27 bilhões, comparados com US$ 18 bilhões em 2015.

Com isso, a taxa de calotes global nos países emergentes subirá de 2,39% para 4%. Os dados não incluem a Venezuela, onde há um risco iminente de calote soberano e da petroleira PDVSA, o que elevaria a percentagem a 9%.

Rolagem

De acordo com a Coface, o país onde a relação da dívida das empresas com o PIB cresceu mais nos últimos sete anos foi a China, onde passou de 100% a 160%.

Em seguida vêm a Turquia, onde a dívida corporativa aumentou 30 pontos percentuais até cerca de 60% do PIB, e o Brasil, onde subiu 17 pontos para se aproximar da metade da riqueza produzida no país em um ano.

Mas, enquanto a maior parte da dívida chinesa se concentra na moeda local, um volume crescente de empréstimos e títulos corporativos na Turquia e no Brasil foram feitos em moeda estrangeira.

Por esse motivo, as fortes desvalorizações da lira turca e do real fazem com que o percepção de risco de calote nestes dois países seja mais intensa. Pelos mesmos motivos, as empresas russas também preocupam.

Grupos baseados no México e na Indonésia possuem níveis mais altos de endividamento em dólar, mas a proporção de dívida corporativa com relação ao PIB é bem inferior aos dos três países acima.

O lado positivo do atual cenário, segundo o ICIC Standard Bank, é que, em um momento de abundante liquidez local, as condições para que as empresas e governos refinanciem suas dívidas ou acertem acordos de rolagem são bem mais benéficas do que em crises anteriores.

Por esse motivo, o banco não espera que a situação se deteriore como em 2002 ou 2009, quando os níveis de inadimplência em títulos da dívida de países emergentes chegaram a 33% e 13,75%, respectivamente.

Mesmo este lado positivo da conjuntura pode não ajudar as empresas brasileiras, porém, já que os títulos da dívida do país parecem estar firmemente instalados na lista negra dos investidores globais.

Em 2015, o total de investimentos em renda fixa por investidores estrangeiros no Brasil caiu US$ 38,8 bilhões, segundo o banco, superando a fuga de capitais da Rússia (US$ 34,1 bilhões) e da Turquia (US$ 16,6 bilhões).

Mas não vale dizer que o sentimento é generalizado na América Latina, já que México, Chile, República Dominicana e Uruguai estiveram entre os dez países mais populares entre os investidores estrangeiros, postando US$ 6 bilhões, US$ 4,3 bilhões, US$ 3 bilhões e US$ 2,3 bilhões, respectivamente, em fluxos positivos.

Na verdade, não fosse por Brasil e Venezuela, o fluxo de investimentos em renda fixa na América Latina haveria sido positivo no ano passado.

A China foi o destino favorito dos investidores de renda fixa emergente em 2015, com US$ 60 bilhões positivos.




Cresce oferta de cursos em gestão de riscos e compliance

Valdir Domenegheti, da Fipecafi
Valdir Domenegheti, da Fipecafi.

Nos próximos dez anos, a independência dos profissionais de compliance e de gestão de riscos tende a se consolidar no Brasil, permitindo que os profissionais tenham mais autonomia e poder decisório nas empresas. Esta é a opinião de professores que vão ajudam a formar muitos dos profissionais que ocuparão estes cargos cada vez mais vitais para as empresas brasileiras.

“Trata-se de um processo que está amadurecendo”, diz Valdir Domenegheti, coordenador do MBA Controles Internos (Compliance) da Fundação de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi). “Tenho absoluta certeza de que a o número de cargos na área e a independência desses profissionais vai crescer, para que tenhamos empresas mais saudáveis e para que os acionistas, o governo e a sociedade tenham condição de verificar que os resultados apresentados no papel têm veracidade.”

A conclusão de Domenegheti é feita de um posto de observação que gera um bom termômetro do desenvolvimento deste setor no Brasil. A Fipecafi oferece cursos na área há dez anos, já abriu 25 turmas e formou aproximadamente 1.100 alunos. Para 2016, o interesse pelo MBA na área aumentou em 40% em relação a 2015, e a próxima classe deve começar os trabalhos com cerca de 25 alunos.

Fabio Coimbra, da Fecap
Fabio Coimbra, da Fecap.

As turmas estão ficando maiores, e um número também maior de instituições especializadas se dedica a ofertar formação específica na área, coisa que até 2013 era raridade. Mas este ano, por exemplo, a Fundação Escola Nacional de Seguros está oferecendo seu MBA de Gestão de Riscos e Seguros em cinco capitais.

A Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), por sua vez, lançou seu MBA de Gestão de Risco e Compliance no início de 2015 para atender a procura crescente. A terceira turma começará as atividades em março.

“A profissionalização do setor ainda é baixa, mas está crescendo”, diz o criador e coordenador do curso, Fabio Coimbra. “Nos próximos anos, vamos ter mais profissionais crescendo [nas suas empresas], até porque passamos a ter mais gente com formação e com experiência. Hoje, mesmo com a crise, já se observa uma maior contratação para área de riscos, controles internos e compliance.”

A expectativa de desenvolvimento aciona a roda da boa e velha lei da oferta e procura na área da formação. O interesse dos alunos aumentou em grande medida pelo fato de que palavras como “compliance”, “riscos”, “controles internos” e “auditoria” terem apitado com enorme frequência para a opinião pública em 2015, com casos decorrentes principalmente da Operação Lava Jato, Samarco, Volkswagen e Operação Zelotes, que de certa forma “massificaram” o tema.

De um lado, as empresas estão cada vez mais vendo que precisam dar tratamento adequado ao setor e estruturá-lo de forma mais consistente em seu organograma. De outro, profissionais buscam aprimoramento de olho nas oportunidades de crescimento de uma carreira que os especialistas consideram de alta exigência, com falta de gente capacitada e bons salários.

Por que será?

“As pessoas estão se perguntando: por que a estrutura de controle não funcionou em empresas grandes?”, diz Domenegheti sobre o efeito Lava Jato. “O que está faltando é que o profissional que atua na área esteja mais capacitado, para que a área de controles seja realmente independente. Tão importante quando mapear os controles internos é ter independência em relação às demais áreas da empresa.”

Segundo ele, 70% dos alunos do MBA da Fipecafi já trabalham no setor e buscam ampliar a formação específica. Os outros 30% são profissionais que estão de olho nas oportunidades. “É uma área muito promissora, no Brasil e no mundo.”

Coimbra, da Fecap, chama a atenção para outro efeito que está acontecendo neste setor: a migração de profissionais, já que quem já tem formação e experiência está sendo disputado. É que, por conta da forte regulação, sistemas de controle estão presentes há mais tempo e são mais desenvolvidos no setor financeiro — notadamente depois da grave crise de derivativos de 2008. “Há um movimento neste sentido, de profissionais do setor financeiro indo para o setor não financeiro, por conta da experiência que já adquirida”, diz ele. “Os conceitos e as boas práticas são aplicáveis em qualquer tipo de empresa.”

Reforço competitivo

Para as empresas, o reforço nesta área está ligado a um posicionamento que tem muito a ver com sua competitividade no mercado e que não está restrito às grandes companhias, dizem os especialistas. Pelo contrário.

“O processo contábil no Brasil, aliado ao processo de mapeamento de riscos e de controle de legislação, começa a permear todos os segmentos”, diz Domenegheti.  “Num mercado competitivo, vai sobreviver aquela empresa que tiver um controle mais rigoroso sobre as suas operações, independentemente do porte da companhia.”

Ambos os coordenadores relatam que os alunos em suas salas de aula não vêm só de grandes empresas. “Há bastante aluno que trabalha em empresa média”, diz Coimbra.

Convença o chefe

Eles levam para as salas de aula questões bem presentes no mundo atual da gestão de risco no Brasil. “A principal é a cultura, o entendimento por parte da alta direção sobre a importância do setor e como ele está ligado à estratégia do negócio”, afirma Coimbra, sobre as dificuldades expostas pelo alunos.

A questão da autonomia e da independência de atuação também vem à tona.  “Se você é um assistente de compliance e quem decide é um diretor financeiro, comercial ou administrativo, você não tem voz”, diz Donenegheti.

“Claro que tem de equilibrar o organograma de acordo com o tamanho da empresa. Numa pequena, talvez a força do compliance esteja no próprio gestor [geral]. Mas empresas de médio e grande porte têm de ter estrutura específica e independente, principalmente agora, depois da Petrobras.”




Conheça opções de estudos para começar neste ano

Os cursos de aperfeiçoamento em gestão de riscos, compliance a controles internos incluem formações mais ambiciosas, como MBAs, mas também ofertas mais pontuais, de duração mais curta, para quem saber mais sobre o assunto.

A Fipecafi, por exemplo, lançou em 2014 um curso de 40 horas de Mapeamento de Controles Internos. Desde então já houve 11 turmas.

“Vieram pessoas do Brasil inteiro”, diz Valdir Domenegheti, da Fipecafi.

Já a Fecap vai realizar um ciclo de palestras em fevereiro sobre Compliance e Gestão de Riscos. Além disso, instituições como a Unopar e a Unieducar oferecem cursos a distância. Veja algumas opções:

Fipecafi

MBA Controles Internos (Compliance)
376 horas (18 meses)
Início: 29 de fevereiro, em São Paulo
Preço: R$ 19.800 (à vista) ou em até 17 parcelas (com juros)
Mais informação: www.fipecafi.org/mba/mba-controles-internos.aspx

Fecap

MBA em Gestão de Risco e Compliance
480 horas (18 meses)
Início: 21 março, em São Paulo
Preço: R$ 25.199 (em 20 parcelas) ou R$ 25.935 (em 27 parcelas)
Mais informação: www.fecap.br/pos-graduacao/cursos/mba-gestao-riscos-compliance.php

Escola Nacional de Seguros

MBA Gestão de Riscos e Seguros
480 horas (20 a 22 meses)
Início:
São Paulo – 18 de março
Rio de Janeiro – 6 de maio
Curitiba – 3 de junho
Recife: 17 de junho
Goiânia – 24 de junho
Preço: R$ 18.500 à vista ou parcelado em até 24 vezes (com juros)
Mais informação: www.funenseg.org.br/mbas/riscos.php

Insper

Curso de Compliance
36 horas (5 semanas)
Início: 8 de março, em São Paulo
Preço: R$ 5.550,00 (com desconto e parcelamento em 3 vezes para matrículas antecipadas)
Mais informação: www.insper.edu.br/educacao-executiva/compliance/