Motivação para fraude vai além do dinheiro, diz consultor
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- Oscar Röcker Netto
- 2 de março de 2016
- Sem categoria
Segundo S2, demonstrações contábeis fraudulentas causam mais danos que corrupção; Lava Jato ajuda a aumentar conscientização sobre tema
Embora tendo a maior parte motivada por ganhos financeiros, a ocorrência de fraudes nas empresas não se assenta somente sobre o dinheiro. Há outros “estímulos” relevantes, como questões de status e até mesmo de autoproteção dentro da corporação, segundo Mario da Silva Jr., sócio diretor da S2 Consultoria, especializada em fraudes e assédio.
E para coibir esses casos, códigos de ética e outros instrumentos de governança não são suficientes. É preciso trabalhar permanentemente a cultura empresarial e mostrar claramente aos funcionários as consequências de decisões antiéticas que venham a tomar no ambiente de trabalho, diz Silva. A boa notícia, segundo ele, é que as empresas estão mais empenhadas em melhorar esse ponto.
A própria S2 serve de exemplo do aquecimento deste setor. Startup criada em novembro de 2014, a empresa obteve 36 contratos em 2015, com construtoras, empresas de bens de consumo, indústria de bebidas e bancos; algumas fazem parte das investigações da Operação Lava Jato.
“O número de consultas está crescendo muito, tanto do ponto de vista reativo quanto do preventivo”, diz Silva sobre as ações desenvolvidas internamente nos seus clientes. “O reativo está muito forte. Por conta da Lava Jato, as empresas estão procurando investigar mais.”
Motivação
Mas o que leva um funcionário a fraudar sua própria empresa? “Não há um fator determinante”, diz ele, reconhecendo, no entanto, a preponderância de desvios de dinheiro. “Muitas fraudes ocorrem por questão de status. O funcionário vende uma informação para mostrar que tem acesso privilegiado na companhia ou manipula um número para mostrar que sua área está melhor do que outras na empresa.”
Um exemplo. Um técnico muito bom foi designado para dirigir a fábrica com piores resultados de um grupo. Dois anos depois, não conseguiu resolver os problemas. Nas reuniões, figurava como a pessoa que não atingia metas.
“Isso mexeu tanto com a autoestima que ele começou a gerar resultados inexistentes e fez isso durante dois anos seguidos”, conta Silva. “Ele não teve nenhum ganho financeiro com a fraude, nem bônus nem nada. A única coisa que ele queria era voltar a ter a imagem de ser um profissional eficiente.”
Independentemente do tipo de estrago que a fraude cause, é importante que a empresa reaja a elas e tome medidas, avalia o consultor. “Hoje em dia, é mais do que obrigação fazer isso; a Lei Anticorrupção está aí”, lembra.
Como vem ficando patente com os escândalos recentes, dispor de instrumentos de governança “pró-forma” está longe de ser suficiente. Segundo Silva Jr., é fundamental trabalhar o que chama de “dimensão humana” da governança.
“Por mais que se tenha processo, controle, campanha, governança e compliance, a decisão de cometer uma fraude está na mão das pessoas. Por isso, um dos fatores mais fortes de educação corporativa é a questão de mostrar aos funcionários as consequências dos atos deles”, defende o diretor da S2. “Código de Ética todo mundo tem, e muitas vezes ele vira letra morta. Precisa muito mais.”
Fraude para todos os gostos
De acordo com os critérios da Association of Certified Fraud Examiners (ACFE), a fraude se divide em três tipos: corrupção (que pode ser, por exemplo, suborno ou extorsão), apropriação indevida (furto de caixa ou de mercadorias) e demonstração fraudulenta (que é a manipulação de resultados ou de informações confidenciais).
“Sem sombra de dúvida, os casos mais comuns são os de corrupção”, afirma Silva Jr.. “Mas o que mais causa impacto para as organizações são as demonstrações fraudulentas, que mexem com manipulação pesada de resultados. Normalmente, é um problema que ocorre ao longo de um grande período e influencia o resultado e a reputação da empresa”.
Segundo Silva, a corrupção é mais tópica, podendo ocorrer de forma isolada durante algum processo de compras, por exemplo, sem necessariamente se repetir.
“A chance de o funcionário continuar fazendo aquilo todos os meses não é tão grande”, afirma. “O impacto é menor. No caso de demonstração fraudulenta são milhões envolvidos; no de corrupção, são valores altos, mas não chegam a tanto.” Ele diz que os casos mais comuns envolvem cifras entre R$ 20 mil e R$ 100 mil.
Corporativismo
Uma situação que não é propriamente fraude, “mas está muito próxima” envolve assédio (moral e sexual) e corporativismo. Silva Jr. dá tanta importância para este tema que a S2 se apresenta como consultoria especializada em fraudes e assédios.
O corporativismo, diz ele, é muito comum. Trata-se de casos que expõem distorções dos instrumentos de governança. A origem dele “são aqueles clãs que se formam dentro da empresa, com dois ou três funcionários que se unem para prejudicar um terceiro ou uma área ou ainda para se autoprotegerem”, conta o diretor.
Normalmente, nesses casos se utilizam os mecanismos formais da empresa (o canal de denúncias, por exemplo) para prejudicar outras pessoas com denúncias inverídicas.
Com tantas variáveis práticas e com o tema “ética corporativa” borbulhando no noticiário, Silva Jr. vê um campo extenso de trabalho nesta área. “Nunca se vai chegar a um ponto máximo de ética ideal. A empresa é formada por pessoas. Tem de oxigenar a questão ética o tempo todo, até por que as pessoas mudam dentro das empresas.”
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