Exemplo de líder da empresa é vital para evitar corrupção
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- Rodrigo Amaral
- 27 de novembro de 2015
- Sem categoria
Estudo internacional ressalta importância de programas de compliance que de fato saiam do papel; avaliação é de que discurso e prática não batem
A luta contra a corrupção dentro das empresas depende da liderança de seus principais executivos, alerta a consultoria de risco internacional Control Risks.
“Resistir à corrupção deve ser responsabilidade de cada empregado, mas isso exige liderança por meio de exemplo”, diz a consultoria em sua mais recente pesquisa sobre as atitudes das empresas internacionais com respeito à corrupção.
Ela afirma que os riscos de corrupção seguem em evolução, mas a adoção de programas para enfrentar esta ameaça é cada vez mais uma vantagem competitiva para uma organização.
O estudo, lançado em novembro, afirma que 38% das empresas brasileiras entrevistadas acreditam ter perdido negócios porque rivais utilizaram propinas para amaciar uma das partes envolvidas.
Entre os países pesquisados, o Brasil só fica atrás da Nigéria (48%), Indonésia (46%), México (41%), Colômbia (43%) e Índia (39%) neste quesito.
Mais da metade das empresas brasileiras entrevistadas disser ter abandonado negócios devido a suspeitas de corrupção, contra uma média global de 41%.
Respostas pouco plausíveis
A auditoria levantou dúvidas, no entanto, sobre a verossimilhança das respostas prestadas por executivos que operam no Brasil ao ser indagados se recebem pedidos de propinas para facilitar o fechamento de negócios. Os entrevistados são executivos de compliance ou do departamento jurídico das empresas.
Das companhias brasileiras entrevistadas, 45% disseram que jamais recebem este tipo de pedido – um número mais positivo do que na Austrália, Estados Unidos ou França.
Para a Control Risks, as respostas das empresas que operam no Brasil, assim como em outros países como Indonésia e Nigéria, não parecem muito “plausíveis”.
“Este resultado sugere que os administradores sêniores, especialmente na sede da empresa, não possuem uma avaliação correta dos desafios que seus colegas enfrentam no dia-a-dia e estão falhando ao proporcionar a eles a orientação adequada”, afirma o estudo.
Líderes empresariais
Ou, possivelmente, algo mais. As revelações da Operação Lava-Jato, que já renderam prisões preventivas dos máximos executivos de empresas como a Odebrecht, Camargo Corrêa, OAS, Andrade Gutierrez, UTC e, mais recentemente, BTG Pactual, passam a impressão de que as respostas são especialmente implausíveis no Brasil.
De fato, o envolvimento de tantos líderes empresariais brasileiros na Operação Lava-Jato exemplifica as dificuldades que o desenvolvimento do compliance enfrenta no país, especialmente tendo em conta outras conclusões da Control Risks.
O estudo afirma que programas em que os executivos-chefes simplesmente divulgam a política da empresa e mandam os funcionários fazer treinamentos tendem a não ter sucesso na mitigação de riscos de corrupção.
“Os procedimentos que tem maior potencial para aumentar a compreensão sobre o risco de corrupção a nível operacional – due diligence, monitoramento e auditoria – não estão sendo realizados de forma eficiente, tão cedo quanto necessário, ou nem mesmo estão sendo implementados”, afirma Richard Fennings, CEO da Control Risks, na introdução ao estudo.
O estudo também faz alerta contra os programas de compliance que não saem do papel – outra característica que parece bastante difundida entre as empresas brasileiras.
Várias das empresas envolvidas na Lava Jato possuem políticas de compliance bastante elaboradas, e 78% das 65 companhias brasileiras entrevistadas pela Control Risks afirmaram ter implementado políticas que proíbem o pagamento de propinas.
Falsa segurança
De acordo com a consultoria, empresas que possuem um programa de compliance podem acabar se vendo envolvidas em casos de corrupção da mesma maneira. Para isso, basta com que os programas estejam com um foco equivocado, incompletos ou mal implementados.
“Uma confiança excessiva no compliance é algo perigoso”, escreve Fennings. Ele argumenta que executivos podem achar que o programa de compliance vai evitar que a empresa tenha problemas, e assim assumir riscos desnecessário.
“Assim como as pessoas dirigem mais rápido quando estão com o cinto de segurança posto, os programas de compliance podem levar a uma falsa sensação de segurança”, alerta o CEO.
Do lado positivo, 80% dos executivos brasileiros entrevistados acreditam que leis internacionais anticorrupção estão melhorando o ambiente de negócios.
O índice é similar ao de países como Nigéria, México, Indonésia e Índia, no que a consultoria interpreta como um sinal de que as empresas estão descontentes com a aplicação ineficiente das leis domésticas de seus países.
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