Fraudes nas empresas: o perigo pode morar na baia ao lado
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- Oscar Röcker Netto
- 2 de março de 2016
- Sem categoria
Estudos alertam que principal fonte de desvios de recursos nas organizações são, com frequência, seus próprios funcionários
De acordo com pesquisa recente da Kroll, no ano passado três em cada quatro empresas foram vítimas de algum tipo de fraude — indicador que vale para o Brasil e para o restante do mundo.
Problema tão antigo quando a própria existência de empresas, bens, serviços e dinheiro, a picaretagem continuará garantindo trabalho árduo para gestores de risco pelo resto dos tempos — pelo menos enquanto os seres humanos forem os responsáveis pelos processos.
Não se trata de jogar toda a humanidade no mesmo balaio de corruptos atávicos. Mas como dizem dez entre dez especialistas toda atividade embute o risco de falhas causadas pelo comportamento humano.
Contra a natureza de alguns, existem os processos de controle, análise e mitigação dos riscos. É um jogo que vai além, por exemplo, de correr atrás do bandido, com fez Tom Hanks com Leonardo di Caprio em “Prenda-me se for capaz”.
Sem o romantismo do cinema, as fraudes causam estragos que vão desde perdas financeiras significativas até danos de reputação e, eventualmente e mais recentemente no Brasil, no enquadramento à Lei Anticorrupção. O leque é amplo e pesado para as empresas.
O fraudador, no entanto, tende a dificultar o trabalho de ser flagrado. Dificilmente ele usa máscara de bandido e sai gritando “é um assalto” ou “burlei o reembolso” pelos corredores da companhia.
Infiltrado
Outro levantamento recente, feito pela PwC, apontou que é bastante comum ele estar instalado na baia ao lado e frequentar o cafezinho da firma. No Brasil, segundo o estudo, 41% das companhias apontam seus próprios funcionários como os responsáveis por ataques cibernéticos (um tipo de fraude que cresce no mundo todo). Problema que se repete também na média global da pesquisa feita pela consultoria. (Veja abaixo, a origem de ataques em diversos setores produtivos.)
O dinheiro domina a motivação para fraudar e pode causar desde danos “menores” com desvios de alguma centenas ou milhares de reais até rombos de R$ 60 milhões, que é o valor estimado para o caso revelado no fim do ano passado. Um grupo de funcionários da CNova, empresa de comércio eletrônico do grupo Casino promoveu desfalques sistemáticos na unidade brasileira desde 2011. O problema impactou inclusive o balanço da companhia, já que foi escamoteado com ajustes contábeis.
Os prejuízos médios do mercado foram apontados por uma pesquisa da Association of Certified Fraud Examiners (ACFE), que levantou 1.483 casos em todo o mundo em 2014. Concluiu que a perda média por fraude em 57 casos ocorridos na América Latina e Caribe foi de US$ 200 mil. As regiões campeãs foram a Europa Oriental e o centro e o oeste asiáticos, onde as fraudes envolveram US$ 383 mil na média. Nos Estados Unidos (que somou 48% dos casos) o prejuízo médio ficou na casa de US$ 100 mil por fraude.
É rombo suficiente para chamar a atenção de qualquer empresário para sistemas de controle. E um problema cuja dimensão fica mais complexa na medida em que tem várias fontes.
Ao lado do funcionário mal-intencionado, a empresa pode ser vítima também de ex-funcionários mal-intencionados — e não raras vezes enraivecidos por terem saído da companhia.
De acordo com o levantamento da PwC, de nove setores produtivos, eles aparecem como segunda principal fonte de fraudes cibernéticas em seis áreas — e em primeiro, em duas.
Os dados da consultoria mostram também que, apesar do “fraude amiga ou ex-amiga” ser muito forte, a origem de ataques é bem distribuída. No setor de varejo, por exemplo, 30% deles têm origem em funcionários; 26% em ex-funcionários; 23% em prestadores de serviço; 21% nos hackers; e 18% no crime organizado.
Veja a seguir a origem de ataques cibernéticos em nove setores produtivos, de acordo com o levantamento da PwC. Os dados são relativos a 2015.
Empresas financeiras
Empregados: 34%
Ex-empregados: 30%
Crime organizado: 27%
Hackers: 25%
Prestadores de serviços: 24%
Varejo
Empregados: 30%.
Ex-empregados: 26%
Prestadores de serviços: 23%
Hackers: 21%
Crime organizado: 18%
Setor público
Empregados: 32%
Ex-empregados: 22%
Prestadores de serviços: 21
Hackers: 20%
Ex-prestadores de serviços: 18%.
Produtos manufaturados
Hackers: 35%
Empregados: 30%
Ex-empregados: 28%
Competidores: 24%
Prestadores de serviços: 22%
Mídia, entretenimento e comunicação
Hackers: 26%
Ex-empregados: 25%
Ex-prestadores de serviços: 22%
Empregados: 20%
Competidores: 20%
Telecomunicações
Ex-empregados: 38%
Empregados: 33%
Hackers: 30%
Ex-prestadores de serviços: 25%
Competidores: 25%
Automotivo
Empregados: 41%
Ex-empregados: 39%
Hackers: 30%
Competidores: 30%
Ex-prestadores de serviços: 25%
Tecnologia
Ex-empregados: 34%
Empregados: 31%
Prestadores de serviços: 25%
Ex-prestadores de serviço: 23%
Parceiros: 17%
Energia
Empregados: 24%
Ex-empregados: 39%
Hackers: 23%
Crime organizado: 20%
Prestadores de serviço: 17%
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