Para especialista, tragédia ressalta importância da gestão de riscos
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- Oscar Röcker Netto
- 1 de junho de 2016
- Sem categoria
Diretor da Terra Brasis argumenta que ainda mais importante do que punir é adotar medidas que evitem novos vazamentos em barragens
Mais importante do que as multas bilionárias impostas pela União à Samarco por conta do desastre ocorrido em Mariana (MG), o episódio deveria suscitar maior preocupação com o gerenciamento de riscos das barragens para dificultar a ocorrência de acidentes e minimizar eventuais danos.
A avaliação é de Carlos Zoppa, diretor vice-presidente técnico da Terra Brasis. A resseguradora acaba de divulgar uma edição especial de seu Terra Report, tratando do caso da Samarco, que completa sete meses em 5 de maio (o trabalho abrange os seis meses do caso, completados em maio).
“Como normalmente acontece após acidentes desse porte, muitos se precipitam em condenar os envolvidos antes de uma apuração mais acurada das causas do evento”, diz Zoppa na apresentação do trabalho.
“Multas e penalidades astronômicas são fixadas pelos mais diferentes órgãos estatais. Toda a sociedade, incluindo as autoridades, deveria estar mais preocupada com a responsabilidade pelo gerenciamento de riscos como os das barragens e outros, para diminuir a possibilidade de futuros acidentes e minimizar seus efeitos”, defende.
Segundo ele, o desastre da Samarco, no entanto, “exige reflexão para analisarmos as falhas e apontarmos caminhos futuros que evitem ou minimizem tragédias como a acontecida em Mariana”.
A Terra Brasis se preocupou em traçar um paralelo entre a tragédia brasileira e o acidente com o superpetroleiro Exxon Valdez, ocorrido no Golfo do Alasca em 1989. O caso, reporta o estudo, fez com que em um ano as autoridades dos Estados Unidos emitissem nova regulamentação para o setor.
“Esperamos que este acidente, juntamente com o evento de Mariana, sirva de inspiração para que nossas autoridades aprimorem as legislações vigentes, adaptando-as às necessidades de proteção das pessoas e do meio ambiente”, diz Zoppa.
Potencial
Garantir condições mais seguras de operação no setor ganha contornos ainda mais importantes pelo número de barragens de rejeitos de mineração existentes no Brasil. São 600, de um total de 15 mil barragens em geral, segundo o Departamento Nacional de Produção Mineral. Vinte e quatro delas, são consideradas de “alto risco”, diz o Terra Report.
Precaver problemas nessas estruturas pode evitar a repetição dos números traumáticos no caso de Mariana. Para ficar em alguns deles: foram 19 mortos, 8 mil pessoas afetadas, um vilarejo inteiro devastado, outros 17 impactados e 586 dos 853 quilômetros de extensão do Rio Doce foram contaminados pela lama da Samarco, que chegou até o Oceano Atlântico.
A Terra Brasis considera ainda prematuro — o trabalho foi concluído por ocasião dos seis meses do desastre — precisar todos os valores necessários para reparar os danos. Mas as estimativas com os dados disponíveis apontam que a perda econômica em danos, multas e sanções resultantes do rompimento da barragem chegue a R$ 26,2 bilhões.
Somente as ações no âmbito federal e estadual pedem indenizações de R$ 20,2 bilhões à Samarco para cobrir os danos sociais, ambientais e econômicos sofridos na região — e possível responsabilização das associadas na empresa, Vale e BHP Biliton, incluindo ações movidas por acionistas contra as empresas nos Estados Unidos. A Vale estima uma queda de US$ 443 milhões (cerca de R$ 1,6 bilhão) nos seus resultados em 2016.
Para a Terra, os problemas ainda podem aumentar, com a abertura de inúmeras novas ações que deverão ser ajuizadas. “A tendência é que as ações judiciais se proliferem”, avalia o relatório.
O Report
A Terra Brasis publica seu Terra Report desde 2010, quando começou a operar como resseguradora local. Os documentos são periódicos e têm o objetivo de divulgar dados consolidados do mercado de resseguros.
Com o especial, a companhia afirma que espera contribuir para melhorar a compreensão de eventos catastróficos. Mariana, traz o relatório, deve servir “de alerta para a nossa sociedade da importância do aprimoramento da administração de riscos ambientais no Brasil”.
Clique aqui para ler o relatório na íntegra.
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