IRB mantém otimismo apesar de desafios e incerteza
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- Rodrigo Amaral
- 1 de junho de 2016
- Sem categoria
Segundo VP Paul Conolly, empresa não deseja saída da União, mas eventual entrada de novo parceiro internacional no capital seria bem-vinda
O Brasil passa por uma profunda crise, o mercado de resseguros será liberalizado, e há incerteza sobre a composição acionária da empresa. Ainda assim, a liderança do IRB Brasil Re acredita a maior resseguradora do Brasil continuará a apresentar resultados positivos no futuro.
Os números, até o momento, parecem estar dando razão a essa visão positiva do negócio. No primeiro trimestre de 2016, o IRB reportou um crescimento de 65% do lucro líquido, comparado com o mesmo período de 2015. No ano passado, a empresa já havia regisrtado os lucros mais altos de sua história.
Os bons resultados chegam em um momento em que se discute a possível saída da União do capital do IRB. Uma oferta pública, ou IPO, das ações que o governo detém na empresa havia sido planejada para o ano passado, mas foi adiada devido às condições desfavoráveis do mercado. Agora se cogita simplesmente vender a fatia da União diretamente a algum investidor.
Interessados provavelmente não faltariam. No primeiro trimestre, o IRB reportou retorno sobre o patrimônio líquido, ou ROE, de 32%, um aumento de 13 pontos sobre os três primeiros meses de 2015. Em tempos de mercado brando em todo o mundo, as resseguradoras globais têm tido dificuldade para obter retornos superiores a 10%.
Em entrevista a Risco Seguro Brasil, Paul Conolly, vice-presidente de Resseguros do IRB, disse que a empresa não quer que o governo saia de seu capital. Mas, caso isso aconteça, e um grupo internacional ocupe seu lugar, seria um desenvolvimento positivo para a resseguradora.
“Se entrar uma empresa internacional no capital do IRB, é positivo pela expertise que traz”, afirmou.
Ele ainda lembrou que a União é um entre cinco sócios com participação significativa no capital da resseguradora. Falar em privatização da empresa, como vem sendo feito pela mídia, é uma ideia equivocada, já que ela deixou de pertencer ao setor público em 2013.
Tudo depende, porém, de como seria feito o desinvestimento do governo. A União ainda detém 27,44% do capital do IRB (e uma Golden Share que lhe dá direitos de veto sobre vários aspectos da operação da empresa e lhe permite indicar o presidente). O Banco do Brasil possui outros 20,43% e administra a parcela da União sob mandato.
Um fundo da Caixa Econômica Federal 9,85% do capital, o que faz com que entidades ligadas ao governo detenham a maioria do capital da empresa. Além disso, Bradesco (20,43%) e Itaú (15%) possuem participações significativas, e vale lembrar que o primeiro está reduzindo seu envolvimento no setor de grandes riscos, que tem maior interconexão com o resseguro, e o segundo vendeu sua carteira na área em 2014.
Mais enxuto
A recente performance do IRB tem sido impulsionada pelo desempenho das aplicações financeiras, um importante fator para as empresas do setor em épocas de juros altos.
Mas Conolly também a atribui a fatores como a reestruturação e aumento da eficiência nas operações da empresa e a expansão de seus negócios internacionais.
Segundo ele, hoje o IRB conhece melhor do que nunca os seus clientes e, desta maneira, tem condições de otimizar a experiência adquirida no mercado nacional não só nos últimos anos, mas também durante as sete décadas em que deteve o monopólio do resseguro no país, encerrado em 2008.
“De 2010 a fins de 2014, a empresa passou por um processo de reestruturação interno muito importante”, afirmou. Por exemplo, ele disse que os sistemas de análise de informação foram completamente modernizados, integrando a riqueza de dados coletados pela empresa. Se antes se dizia que o IRB funcionava como se fosse 15 empresas diferentes, hoje a situação é bem diferente.
“Mudamos totalmente os sistemas de informática. O IRB Brasil hoje é uma empresa full SAP”, disse Conolly. “O IRB sempre teve muita informação, pois como monopólio acumulava dados sobre tudo. Mas não sabia como utilizar esta informação. Em 2015, já com o sistema implementado, criamos duas áreas interligadas entre elas: a de gestão de clientes e a de inteligência de mercado. Assim conseguimos trabalhar a informação e ter uma visão dos clientes como um todo.”
“Hoje podemos dar muito mais valor ao cliente do que se dava anteriormente”, continuou o vice-presidente da empresa. “Temos os históricos das contas e conhecemos os clientes. Então conseguimos entender quais são os melhores riscos.”
Contratação
Além disso, a privatização da companhia livrou o IRB das amarras enfrentadas pelas empresas estatais na hora de contratar pessoal, abrindo a possibilidade de agregar à equipe gente com experiência no mercado brasileiro e internacional.
“A privatização ajudou muito no sentido de que pudemos trazer pessoas de mercado, sem ter que fazer concursos públicos”, disse ele. “Assim foi possível contratar gente que tem conhecimento do mercado, e não alguém que passou em uma prova.”
Um exemplo é o próprio presidente da resseguradora, José Carlos Cardoso, que antes de chegar à resseguradora, em 2014, dirigiu a operação da Scor no Brasil. Já Conolly, passou pela Generali, Liberty e Guy Carpenter antes de se mudar para o IRB no ano passado.
A atração de talentos tem sido importante também para o IRB expandir sua presença no mercado internacional, uma das prioridades da empresa, que já obtém cerca de 24% de seus negócios fora do Brasil.
“Montamos equipes com gente especializada no mercado internacional”, disse Conolly. “Trouxemos profissionais de vários países, da Europa e da América Latina, para nos ajudar a desenvolver essa visão.”
Desde que Cardoso substituiu Leonardo Paixão, no ano passado, as prioridades do IRB no exterior têm mudado, passando de regiões como a África para uma ênfase maior na América Latina e em mercados mais maduros.
“Estamos fazendo muitas parcerias com as multinacionais. Participamos de contratos globais com várias delas, ajudando a pulverizar o risco com diversificação geográfica”, observou. “Participamos de contratos na Europa, Ásia, Estados Unidos, América Latina.”
Mercado doméstico
O IRB, no entanto, também conta com o resseguro local para continuar crescendo, segundo Conolly. “Uma parte do crescimento deve vir do mercado internacional, mas outra, também do mercado nacional. Nossa intenção é manter a mesma proporção entre Brasil e exterior”, afirmou.
Isso apesar de o setor enfrentar momentos complicados. “O mercado brasileiro deve crescer nominalmente, mas uma vez descontada a inflação, pode haver um decrescimento do resseguro. No ano passado, o resultado real foi -3%. Mas nós esperamos uma evolução entre 10% e 15% dos nossos números.”
Neste sentido, o IRB enfrentará o desafio de ver a gradual abertura do mercado de resseguros promovida pela Resolução 322, que reduzirá o direito de primeira recusa do resseguro local de 40% para 15% até 2020.
“O IRB de forma alguma se impõe com o limite dos 40%. Há alguns resseguradoras locais que eventualmente fazem mais uso dessa prerrogativa. Mas trabalhamos com seguradoras que reconhecem o valor agregado trazido pelo IRB”, afirmou Conolly. “A mudança do limite portanto não vai alterar nosso posicionamento no mercado.”
Ele tampouco vê dificuldades insuperáveis no fato de que o limite para as transferências de risco entre empresas de um mesmo grupo aumentará de 20% para 75% no mesmo período. Mesmo considerando que seguradoras estrangeiras, que têm seus próprios programas globais de resseguro já em vigor, estão tomando conta do setor de grandes riscos no país.
“Mais de 70% do prêmio do IRB é prêmio retido. O que a gente retrocede se refere a contratos de retrocessão que a gente compra, a contratos facultativos. São proteções de carteira que nós mesmos temos”, afirmou. “Então o volume de retrocessão que fazemos para essas multinacionais para retroceder prêmios para suas casas matrizes é muito pequeno. É claro que a liberalização vai afetar um pouco o negócio, mas nós já buscamos fazer muito pouco fronting. Nossa estratégia é buscar prêmios que queremos reter.”
Conolly também afirmou que o IRB conta com sua longa experiência e vasto conhecimento do mercado local para enfrentar os desafios. “Um dos valores agregados que a gente tem é que podemos oferecer suporte em todos os produtos. É uma vantagem que temos com relação aos nossos concorrentes aqui no Brasil”, disse o executivo. “Há resseguradoras no Brasil que são maiores do que a gente em termos globais, mas não têm a penetração que nós temos aqui no país.”
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