O que muda no mercado de grandes riscos com a negociação da Bradesco
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- Rodrigo Amaral
- 26 de fevereiro de 2016
- Sem categoria
Fusão em curso não terá o mesmo impacto que teve a venda do portfólio da Itaú Seguros, mas reforçará presença de HDI ou Swiss RE CS no país
A parceria da Bradesco Seguros na área de grandes riscos deve ser firmada com a Swiss RE Corporate Solutions ou a HDI, de acordo com notícia publicada pelo jornal Valor Econômico.
Caso a transação se confirme, será reforçada a primazia das empresas internacionais no mercado de seguros corporativos no Brasil, após as vendas, entre outras, das áreas de grandes riscos da Itaú Seguros e da Sul América para, respectivamente, a ACE e a AXA.
Do ponto de vista do comprador de seguros, o domínio das grandes empresas globais não é uma má notícia. Na teoria, ao menos, elas trazem um nível mais elevado de expertise em uma área tecnicamente complexa, além de reservas de capital vitaminadas por uma longa experiência no uso do mercado de resseguros globais para diversificar seu perfil de risco.
Para as seguradoras brasileiras, a alocação de reservas de capital para as áreas corporativas é uma alternativa menos eficiente do que focar suas balas nos mercados de seguro massivo, que promete taxas mais rápidas de crescimento, especialmente por meio das redes bancárias.
A falta de expertise em áreas tecnicamente cada vez mais complexas tampouco ajudam, e o longo mercado baixista torna o setor ainda menos atraente. De acordo com notícias recentes, a área de grandes riscos da Bradesco Seguros, que faz parte da unidade Bradesco Auto/Re, é deficitária.
Por outro lado, e outra vez ao menos em teoria, os novos atores dominantes no seguro corporativo tendem a impor exigências mais estritas em termos de gestão de risco, o que é uma boa notícia no longo prazo para a economia brasileira, mas pode restringir o acesso de algumas empresas às coberturas de que necessitam no futuro imediato.
Estes desenvolvimentos também significam que os preços do seguro corporativo no Brasil devem se alinhar ainda mais com as tendências internacionais, especialmente na medida em que o mercado de resseguro se abre, conforme as normas implementadas no ano passado pela resolução 322.
Tanto a Swiss Re CS quanto a HDI pertencem a grupos integrados cujas resseguradoras (Swiss Re e Hannover Re, respectivamente) figuram entre as maiores do mundo.
Efeitos no mercado
Mas qual deve ser o efeito da aquisição da Bradesco Seguros em termos de concentração do mercado? Com base nos números de 2015 disponibilizados pela Susep, na maioria das linhas onde a empresa atua, o comprador dos 51% da carteira de seguros corporativos sairá reforçado, mas não da mesma maneira como a ACE saiu após adquirir os grandes riscos da Itaú.
Hoje o grupo Chubb (antiga ACE) detém posições de liderança em várias linhas. Em seguro D&O, possui sozinho quase 50% dos prêmios diretos.
A Bradesco Auto/Re possui significativa presença em áeras como o seguro compreensivo empresarial, lucro cessante, riscos diversos e crédito interno, onde se encontra as dez maiores do país. Em riscos nomeados e operacionais, a empresa detinha a quarta colocação ao final de 2015, atrás de Mapfre, ACE SEguros Soluções Corporativas e Zurich Minas.
Também tem uma importante presença em seguros de transportes, que a empresa afirma em ser uma de suas especialidades.
Mas a Bradesco Auto/Re está ausente de algumas linhas que apresentam clara tendência de crescimento, como os seguros D&O e responsabilidade ambiental.
De qualquer maneira, a parceria pode proporcionar um importante impulso para os negócios da HDI e da Swiss RE CS, que estão tentando aumentar sua participação do mercado brasileiro.
De acordo com o Valor, o portfólio que está sendo negociado é estimado em cerca de R$ 400 milhões. A Swiss Re CS fechou o ano de 2015 com um incremento de quase 25% no volume de prêmios diretos, chegando a R$ 330 milhões.
Já a HDI-Gerling, a recém-chegada unidade de grandes riscos da HDI, terminou o ano com R$ 207,3 milhões, após crescimento de 788% em um ano. A HDI-Gerling está sendo renomeada HDI Global SE em plano global.
Ambas empresas devem certamente também tirar proveito da gigantesca rede de agências do Bradesco a fim de chega a clientes corporativos em todo o país.
Linha a linha
Os detalhes de como será feita a divisão ou fusão dos portfólios ainda não são conhecidos, portanto é difícil estimar qual será o impacto da operação nos ranking do seguro corporativo brasileiro.
É possível, no entanto, fazer uma estimativa com base na participação nos diversos segmentos.
Veja alguns exemplos:
Compreensivo empresarial
Com 5,6% dos prêmios diretos, a Bradesco Auto/Re ocupa a sétima colocação do ranking, com quase R$ 115 milhões em prêmios diretos e uma sinistralidade de 60%, um pouco mais elevada do que a média do segmento.
A sexta colocada, Tokio Marine, tem quase R$ 20 milhões a mais em prêmios. A líder é a Porto Seguro com R$ 380,7 milhões.
Uma eventual fusão dos portfólios pouco mudaria no setor. A HDI Seguros aparece em 21º lugar com R$ 16,6 milhões, enquanto que a HDI-Gerling Seguros Industriais fechou 2015 em 30º com R$ 1,6 mlhões.
Já a Swiss Re CS tem uma participação bastante modesta, com R$ 132 mil.
Lucro cessante
A líder do segmento é a Zurich Minas, com R$ 22,9 milhões em prêmios diretos, ou uma parcela de 19,1% do mercado. A Bradesco Auto/Re aparece em 9º, com 3,1%.
HDI Seguros (19º), HDI-Gerling (26º) e Swiss Re CS (29º) possuem participação pequena no setor.
Riscos de engenharia
A HDI-Gerling é um importante player em riscos de engenharia, ocupando a sétima posição do ranking com R$ 22,3 milhões em prêmios diretos (4,5% do total). Com o portfólio da Bradesco Auto/Re, conseguiria passar a Liberty e ocupar a sexta colocação.
Bradesco Auto/Re e Swiss Re CS fecharam 2015 com um volume de prêmios bastante parecidos, R$ 5,7 milhões e R$ 5,3 milhões, respectivamente.
Uma eventual fusão dos portfólios levaria à criação da 13ª maior seguradora do setor (hoje as duas são 16ª e 17ª, respectivamente).
Mas qualquer das fusões ainda estaria longe da líder, a AIG Seguros, que, com R$ 86,9 milhões em prêmios diretos, detinha 17,4% do setor ao final de 2015.
Riscos diversos
Em um ramo encabeçado pela Cardiff (R$ 200 milhões em prêmios diretos), a Bradesco Auto/Re ocupa a 6ª colocação com R$ 120,6 milhões, ou 7,3%.
As unidades da HDI têm uma participação bem pequena neste segmento, enquanto que a Swiss Re CS não aparece na lista de empresas com prêmios diretos em riscos diversos.
Riscos nomeados e operacionais
Aqui as coisas ficariam mais interessantes. A Bradesco Auto/Re é a quarta maior seguradora da linha de riscos nomeados e operacionais, e a HDI-Gerling, a oitava, com prêmios de R$ 164,5 milhões e R$ 83,4 milhões, respectivamente.
Juntas, elas ocupariam a terceira colocação (desbancando a Zurich Minas), e as três líderes do segmento (incluindo Mapfre e ACE) concentrariam quase 60% do mercado.
Já a participação da Swiss Re no segmento é muito pequena.
Riscos especiais
As três empresas envolvidas têm presença reduzida no setor de riscos do petróleo. Já a Bradesco Auto/Re é uma das duas únicas players em riscos nucleares, com quase um terço dos prêmios diretos. A líder é a Aliança do Brasil.
Responsabilidade civil geral
Mais um setor em que a HDI-Gerling realizou uma ofensiva desde sua chegada ao Brasil, e ao final de 2015 ocupava a oitava posição com R$ 42,5 milhões em prêmios, ou quase 5% do total.
A Bradesco Auto/Re fechou o ano no 16º lugar, com R$ 12,8 milhões; a Swiss Re CS, em 28º, com R$ 3 milhões, e a HDI Seguros, em 29º, com R$ 2,5 milhões.
A líder, Allianz, tinha 16,5% do segmento, ou R$ 144 milhões em prêmios diretos, no fim do ano passado.
Transportes
Um dos pontos fortes da Bradesco Auto/Re, que figura entre as líderes em linhas como APP (Acidentes Pessoais de Passageiros), na qual ocupa a terceira colocação com quase 10% dos prêmios diretos, uma posição atrás da HDI Seguros.
A Auto/Re é a sexta maior seguradora em transporte nacional e sétima em transporte internacional, linhas em que a HDI-Gerling ocupa a 14ª e 12ª posições. Swiss Re CS e HDI Seguros estão entre as 25 maiores em ambos os ramos.
A Bradesco Auto/Re é a única seguradora com prêmios registrados pela Susep em RC de transportador ferroviário, e a décima maior em RC transportador rodoviário de carga, linha na qual a HDI-Gerling aparece em 17º, a HDI Seguros, em 20º e a Swiss RE CS, em 25º. As participações são semelhantes em RC desvio de carga de transporte rodoviário.
Já a unidade do grupo Bradesco lidera, com quase um terço do mercado, o pequeno ramo de RC transporte aquaviário, com R$ 3 milhões em prêmios diretos.
Outras linhas
Em crédito interno, a Bradesco Auto/Re fechou 2015 na quinta colocação, com R$ 51,7 milhões em prêmios diretos, ou 8,7% do mercado, enquanto a Swiss Re foi a 12ª com R$ 8,6 milhões.
Em seguros marítimo (cascos) a participação da Auto/Re chega a 16,3%, com prêmios de R$ 37,5 milhões, o que lhe vale a segunda colocação, atrás da ACE Seguros Soluções Corporativas.
A empresa é a terceira maior em RC facultativa para aeronaves, com R$ 13,8 milhões em prêmios, ou 13% do total, e a quarta maior em aeronáutico (cascos), com R$ 33,3 milhões (11,4%).
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