Seguros paramétricos se expandem e cobrem novos riscos
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- Rodrigo Amaral, rodrigo@riscoseguro.com.br
- 29 de maio de 2019
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Os seguros paramétricos foram criados para revolucionar o mercado de coberturas para eventos climáticos em setores como a agricultura. Porém, agora, as coberturas baseadas em índices estão chegando também a outros segmentos do mercado.
Nos países desenvolvidos, a profusão de dados indexáveis colhidos por sensores e equipamentos em várias áreas diferentes estão facilitando o desenvolvimento de coberturas paramétricas. Isso em segmentos como os seguros contra terrorismo, de transportes, de viagens e até de saúde.
De acordo com executivos, este tipo de cobertura, que tem o potencial de facilitar tanto os processos de subscrição quanto a gestão de sinistros, está sendo mais bem recebida pelos compradores de seguro. E a demanda está aumentando.
“Nos últimos três anos, nosso portfolio de seguros paramétricos dobrou a cada ano”, disse Christian Wertli, diretor de Soluções de Risco Inovadoras na Swiss Re Corporate Solutions. “Hoje há mais dados, índices e pontos mesuráveis. Assim os produtos paramétricos estão ficando mais refinados como consequência disso.”
Como funciona
As coberturas paramétricas são acionadas automaticamente. Isso acontece quando um determinado índice ultrapassa um limite acordado entre o segurador e o segurado.
Um exemplo típico é a chuva. Risco comumente coberto por este tipo de seguro no setor agrícola.
Por exemplo, se uma estação meteorológica capta que o nível de precipitação é mais alto do que o acordado. Assim, a cobertura é atividade automaticamente. Isso sem necessidade de enviar um perito. A indenização é paga ainda que nenhum dano tenha sido sofrido pelo segurado.
Tradicionalmente, as coberturas paramétricas se focam em eventos climáticos como a chuva e a seca. São riscos cuja intensidade pode ser averiguada de forma científica e confiável.
Passos
Mas seguradoras como a Swiss Re CS estão trazendo a metodologia para outras áreas. A empresa lançou recentemente na Europa uma cobertura de lucros cessantes para companhias. Afinal, são empresas que fazem transporte de mercadorias através de rios, uma importante via de comunicação em países como a Alemanha.
O produto, chamado Flow, cobre perdas sofridas pela interrupção do negócio do cliente. Isso quando o nível dos rios que ele utiliza fica acima ou abaixo do que é necessário para sua navegabilidade.
Lucro cessante
Lucros cessantes também formam o principal atrativo de outro produto oferecido pela empresa. Antes de mais nada, o novo produto cobre as perdas ocorridas quando o número de visitantes em aeroportos, shopping centers, estações de trem e hotéis. Assim como em outros tipos de negócios que ficam abaixo de uma quantidade combinada com o cliente.
Na Europa e outros centros desenvolvidos, as seguradoras têm acesso a dados confiáveis sobre o número de pessoas que trafegam em determinados locais. Assim, permite a criação deste tipo de produto. O volume de visitante pode cair em razão de motivos como catástrofes naturais, atos terroristas ou epidemias.
“Se o número de visitantes cai demais em um aeroporto, pode causar graves perdas. Especialmente em termos de interrupção de negócios”, disse Thomas Keist, diretor de inovação na Europa na Swss Re CS.
Aon e o valor intangível
No caso da corretora Aon, as técnicas paramétricas permitiram a elaboração de um produto. Na visão da Aon, ele pode proteger empresas cujo valor está mais focado em sua marca que em seus ativos físicos, como as companhias de comércio digital, car sharing e similares.
O seguro paramétrico elaborado pela Aon cobre lucros cessantes sem danos à propriedade (conhecido em inglês como non-damage business interruption, ou NDBI). Afinal, essa é uma velha demanda das grandes empresas.
Por exemplo, empresas em setores como o car sharing ou room sharing podem ter grandes prejuízos. Principalmente em casos de terremotos, furacões, epidemias, atos terroristas e outros eventos. São situações que diminuem a utilização de seus serviços. Ainda que os bens diretamente afetados não pertençam a elas.
Para solucionar este problema, a cobertura da Aon é acionada quando um evento afeta o balanço da empresa. Bem como, quando as perdas financeiras chegam a um determinado nível acordado com o cliente.
“O valor das empresas está cada vez mais movendo-se dos ativos tangíveis para os intangíveis. O seguro paramétrico permite o desenvolvimento de soluções que protegem o valor intangível das empresas”, disse Kurt Cripps, diretor de Inovação e Soluções na Aon. “Nossa cobertura paramétrica NDBI cobre todos os riscos, exceto casos de insolvência ou fraude.”
Viagens na medida
Outro segmento que está vivendo a chegada dos seguros paramétricos é o seguro de viagens.
Em 2017, a Axa lançou na Europa uma cobertura que automaticamente paga uma indenização na conta corrente do cliente, caso seu voo atrase por mais tempo do que um período previamente acordado.
As técnicas paramétricas também foram usadas pela Steel City, uma agência de subscrição americana. Ela criou uma apólice de risco reputacional. Esta apólice é ativada por um índice elaborado a partir de uma série de dados que estão associados à boa ou má imagem da empresa.
Saúde
Experiências em outras também estão sendo desenvolvidas. Por exemplo, o Banco Mundial, tem um projeto para implementar seguros paramétricos contra pandemias em países pobres.
Já a seguradora americana MetLife está testando em Singapura uma cobertura baseada em dados sobre a saúde dos pacientes que protege mulheres grávidas contra um tipo de diabetes.
A empresa coleta dados dos registros médicos eletrônicos das seguradas. Nesse caso, pode ser acionada em questão de minutos após o diagnóstico da enfermidade, segundo a empresa.
“A única limitação ao desenvolvimento de produtos paramétricos é que precisamos encontrar índices confiáveis e independentes”, disse Wertli.
Eventos climáticos
Novidades também estão aparecendo nos segmentos de riscos climáticos em que os seguros paramétricos começaram a sua trajetória no mercado.
Em março, a resseguradora Swiss Re e a seguradora Falls Lakes lançaram nos Estados Unidos uma cobertura contra terremoto que é acionada automaticamente. Isso acontece se a região onde se localiza o imóvel segurado sofre um terremoto de magnitude superior a 4 na escala Richter.
Já em 2018 o mercado americano viu surgir a primeira cobertura contra granizo baseada em técnicas paramétricas.
Novas estações
Segundo Tanguy Touffout, fundador da agência de subscrição francesa Descartes Underwriting, essa cobertura se tornou possível com o desenvolvimento de novas estações meteorológicas para a medição de chuvas de granizo.
As novas estações são muito mais baratas do que as que haviam anteriormente no mercado, possibilitando sua instalação em mais pontos, e a captação de um volume maior de dados sobre as precipitações.
“Hoje podemos avaliar o tamanho das pedras de granizo de forma muito precisa, então podemos oferecer coberturas para concessionárias ou fabricantes de automóveis para que protejam os veículos de danos causados por chuvas de granizo”, explicou Touffout. “Mesmo nos segmentos de riscos climáticos há muitos novos produtos paramétricos sendo desenvolvidos.”
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