Banco Mundial propõe novo foco a gestão de risco catastrófico
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- Rodrigo Amaral
- 16 de novembro de 2016
- Sem categoria
Entidade propõe que ênfase não recaia em danos patrimoniais, mas sim no impacto sobre bem-estar das população mais expostas
O Banco Mundial (Bird) quer que as políticas públicas de gestão de riscos de desastres naturais levem em conta não apenas as perdas econômicas causadas por enchentes, tempestades, secas e terremotos, mas também a redução do bem-estar das pessoas afetadas por tais eventos.
Desta maneira, as políticas de prevenção teriam um foco mais claro nas populações vulneráveis, e não tanto nos setores mais ricos da sociedade, argumenta a organização. Como resultado, seria possível salvaguardar US$ 100 bilhões por ano em capacidade de consumo, mitigando o impacto global dos desastres naturais. No Brasil, os ganhos chegariam a US$ 2,7 bilhões por ano.
A proposta é apresentada em um relatório divulgado nesta semana pelo Bird. O objetivo do documento é romper a relação que existe entre a pobreza e os eventos climáticos mais extremos.
Para tanto, propõe a utilização de um novo tipo de metodologia para calcular as perdas causadas por desastres naturais, atribuindo um peso relativo aos danos sofridos pela população de baixa renda e pelos mais ricos e avaliando a capacidade de cada grupo social de reagir aos eventos.
Os relatórios de impacto catastrófico publicados periodicamente por entidades de mercado, como a resseguradora Swiss Re e a corretora Marsh, calculam as perdas econômicas causadas pelos mesmos. Desta maneira, logicamente, as regiões que concentram maiores níveis de riqueza aparecem como as mais afetadas, ainda que o impacto sobre a vida das pessoas não seja necessariamente mais dramático.
Um exemplo desta distorsão ocorreu no mês de abril, quando terremotos atingiram, no espaço de uma semana, tanto o Japão quanto o Equador. Os tremores da ilha japonesa de Kyushu mataram 69 pessoas e causaram um prejuízo estimado em US$ 25 bilhões pela resseguradora Munich Re. Já os terrremotos que devastaram o litoral equatoriano causaram um número de mortes dez vezes maior, mas os prejuízos foram estimados em um décimo dos sofridos no Japão.
Exatidão
O Banco Mundial afirma que, com sua nova metodologia, seria possível estimar com maior exatidão o impacto das catástrofes sobre o bem-estar da população.
Com base em estatísticas sobre a resiliência econômica de 117 países, o banco calcula que a redução de consumo causada por desastres naturais chega a US$ 520 bilhões, o que é 60% mais do que as perdas econômicas resultantes dos mesmos eventos catastróficos.
Ao colocar um valor no impacto sobre o padrão de vida da população, e não sobre as perdas econômicas, seria possível direcionar melhor os recursos públicos destinados à construção de diques, à atualização de normas de construção ou outras medidas destinadas a reduzir o impacto das catástrofes.
Os autores estimam que, se medidas preventivas fossem tomadas para reduzir o impacto de todos os desastres naturais esperados para o próximo ano, o número de pessoas que vivem abaixo do nível da pobreza no mundo cairia em 26 milhões.
Isso porque este grupo de pessoas está mais exposto a sofrer com os eventos catastróficos e, ainda que suas perdas absolutas sejam menores do que as sofridas pelos ricos, elas representam uma parcela maior de seu patrimônio.
Além disso, elas tendem a receber menos ajuda de familiares, amigos e organizações governamentais.
“Em realidade, os desastres podem lançar as pessoas à pobreza, e portanto a gestão de riscos de desastres pode ser considerada uma política de redução da pobreza”, afirma o documento. “E, como as políticas de redução da pobreza deixam as pessoas menos vulneráveis, elas podem ser consideradas como parte das ferramentas de gestão de risco de desastres.”
Economia
Para enfrentar estes problemas, o banco propõe uma série de medidas para aumentar a resistência dos países aos eventos naturais que, se adotadas completamente, poderiam gerar economias de US$ 100 bilhões por ano.
Este número seria alcançado pela proteção do bem-estar das populações mais afetadas, assegurando assim boa parte de sua capacidade de consumo.
O objetivo das medidas propostas seria evitar episódios como o impacto do furacão Ágatha na Guatemala em 2010. O consumo per capita caiu 5,5% no país após a passagem do furacão, aumentando o nível de pobreza em 14%.
Os pobres afetados pelos desastres também acabam tendo que tomar decisões drásticas, como tirar as crianças da escola para que trabalhem e ajudem a recuperar a renda familiar.
Mas o relatório lembra que não são só os grandes desastres que afetam os mais pobres. De fato, esse grupo de pessoas tende a sofrer mais, por exemplo, com pequenas enchentes que atingem cidades com sistema de saneamento insuficiente. Como são eventos que causam perdas econômicas agregadas modestas, eles não recebem atenção da mídia e acabam sendo pouco contemplados pelas políticas de prevenção de desastres.
A metodologia
Os autores do estudo argumentam que a metodologia tradicionalmente usada para medir os impactos de desastres naturais se focam nos danos causados a propriedades, já que focam em três fatores: a possibilidade de que um evento ocorra, a exposição da população e dos bens localizados nas áreas de risco, e a perda de valor dos bens quando eles são atingidos por um evento.
O relatório propõe agregar um quarto elemento a este método, que é a resiliência socioeconômica das regiões atingidas.
Desta maneira, é possível estimar o efeito dos eventos naturais tanto sobre as populações pobres quanto sobre as mais abastadas, calculando como os desastres podem afetar sua renda e sua capacidade de consumo.
As medidas propostas pelo banco incluem um direcionamento mais claro dos recursos públicos de prevenção de desastres, dando preferência às áreas com menor resiliência socioeconômica, além da utilização de programas de distribuição de renda para ajudar na recuperação das populações atingidas.
O banco estima que, no Brasil, por exemplo, cada dólar dedicado às populações mais pobres após um desastre resulta em US$ 4 de ganhos em termos de melhoria de bem-estar.
O Banco Mundial também diz que o mercado de seguros tem um papel a desempenhar, especialmente no atendimento à classe média, reduzindo a pressão sobre os cofres públicos em tempos de desastre. Desta maneira, os recursos governamentais podem se focar nas populações mais expostas.
Clique aqui para baixar o relatório em inglês.
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