Terremotos devem ter efeito desigual sobre setor segurador
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- Rodrigo Amaral
- 20 de abril de 2016
- Sem categoria
Sismo do Equador mata centenas, mas perdas da indústria são limitadas pela baixa penetração do seguro; no Japão, tremor deve acionar apólices de lucro cessante
O terremoto que atingiu o Equador no sábado deve ter um impacto limitado sobre a indústria global de seguros e resseguros. Mas os tremores que afetaram o Japão dias antes, apesar de menos potentes e letais, devem causar perdas bem mais significativas, de acordo com as primeiras estimativas.
No Equador, o governo afirma que já foram identificados 433 mortos e mais de 4.000 feridos pelo tremor de 7,8 pontos na escala Richter que atingiu o noroeste do país no dia 16 de abril. Até a noite de quarta-feira havia 232 desaparecidos, e dezenas de milhares tiveram que ser evacuadas de suas casas.
Centenas de tremores menores atingiram o país no dia seguinte. Na madrugada de quinta-feira, a mesma região sofreu um sismo de 6,1 pontos de magnitude, segundo o serviço geológico americano.
As perdas econômicas causadas pelo terremoto ainda são difíceis de estimar. A região mais atingida, nas províncias de Manabí e Esmeraldas, possui escassa atividade industrial, e sua economia está baseada no turismo, agricultura e pesca.
As cidades mais próximas ao epicentro também têm populações reduzidas, o que impede que o número de vítimas causadas pelo forte tremor seja ainda maior. É o caso de Muisne, com 13 mil habitantes, Tosagua, com 15 mil, e Pedernales, com 6.000.
As autoridades equatorianas vêm alertando que o número de mortos pode aumentar na medida em que as buscas se intensificam.
Impacto econômico
Cento três mil pessoas vivem em regiões que tiveram uma exposição severa ao tremor, enquanto outras 1,76 milhão de pessoas habitam áreas fortemente atingidas pelo evento.
De acordo com a agência de geologia do governo americano, USGS, há 32% de chances as pernas econômicas causadas pelo tremor estejam entre US$ 100 milhões e US$ 1 bilhão. Mas é similar a probabilidade de que as perdas estejam entre US$ 10 milhões e US$ 100 milhões.
De acordo com a corretora Aon Benfield, graves danos foram reportados a propriedades residenciais e comerciais em cidades como Guayaquil, San Antonio, Cadeate e Loja, e prejuízos chegaram a ser causados até na capital, Quito. Cortes de energia também foram observados, além de graves danos a estrada e outras infraestruturas.
Negócios atingidos incluem shopping centers, hospitais e hotéis, entre outros. Mas há informações de que a indústria petrolífera, que é vital para a economia do país, não foi severamente atingida. Oleodutos e usinas hidrelétricas foram fechadas temporariamente por medidas de segurança.
Especialistas afirmam que é pequena a parcela de edificações erguidas com tecnologias de prevenção a terremotos no Equador, o que intensifica a destruição de propriedades. “Por toda a região afetada na costa equatoriana, está claro que os padrões de construção são com frequência baixos”, disse Robert Muir-Wood, o chefe de pesquisas da empresa de avaliação de desastre RMS.
Seguros
O Equador possui uma penetração de seguros muito baixa, o que significa que a exposição do setor ressegurador à catástrofe não deve ser muito significativa.
Segundo Muir-Wood, a principal área de preocupação para a indústria seguradora é a cidade costeira de Esmeraldas, que possui um importante porto comercial.
Outro porto, em Manta, o maior do país com acesso ao mar, também se encontra em uma área que pode ter sofrido com os tremores, observou o especialista. Uma refinaria de petróleo e a cidade de Portoviejo, principal centro comercial da região, também, se encontram nas cercanias.
O Ministério das Finanças equatoriano informou que possui uma linha de crédito de US$ 600 milhões firmada com o Banco Interamericano de Desenvolvimento e o Banco Mundial que visa liberar recursos para enfrentar este tipo de catástrofe.
O titular da pasta, Fausto Herrera, informou que o governo já pediu a liberação de US$ 160 milhões para os trabalhos de emergência.
Japão
Já os terremotos que atingiram a ilha de Kyushu, no sul do Japão, tiveram intensidade de até maior do que 7 pontos na escala Richter, segundo a USGS, matando ao menos 47 pessoas e desabrigando mais de 117 mil.
Segundo especialistas, as rígidas regras de construção de edificações japonesas constituem um dos fatores pelos quais o número de mortos é menor do que no tremor equatoriano.
A USGS observa por exemplo que a maioria da população de Kyushu vive em estruturas preparadas para enfrentar este tipo de evento. Mais de 770 mil pessoas habitam regiões em que o impacto do tremor foi “severo”, e 194 mil, onde foi “violento”, a segunda mais grave qualificação da USGS (abaixo apenas de “extremo”).
As perdas econômicas, no entanto, devem ser consideravelmente maiores, devido ao tamanho da economia japonesa e ao valor mais elevado dos ativos físicos. A alta penetração de seguros no mercado japonês, especialmente no que diz respeito a coberturas com exposição catastrófica, indica que as perdas para o setor também serão importantes.
A USGS estima que há uma chance de 38% de que as perdas econômicas fiquem entre U$ 10 bilhões e U$ 100 bilhões, e de 36% que estejam entre US$ 1 bilhão e US$ 10 bilhões.
De acordo com agência de classificação de crédito AM Best, a região sofreu prejuízos extensos em termos de danos a propriedades e infraestruturas, além de patrimônio históricos e turísticos. O Castelo de Kumamoto, considerado um tesouro nacional japonês, foi severamente danificado, segundo informações.
O terremoto também deve causar perdas seguradas relevantes em termos de interrupção de negócios. Kyushu não é uma das principais regiões manufatureiras do país, mas ainda assim concentra 25% da produção de semicondutores. Empresas da cadeia produtiva de setores como o automobilístico, naval e siderurgia.
A corretora Peel Hunt divulgou nota afirmando acreditar que o terremoto causará perdas importantes para os subscritores do Lloyd’s londrino, especialmente em danos à propriedade e interrupção de negócios, ou lucro cessante, ainda que elas devam ficar dentro dos orçamentos do mercado.
Já os danos residenciais são cobertos basicamente pela indústria seguradora local, com menores níveis de exposição para o mercado internacional.
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