Fraudes em queda podem revelar falhas de controles internos
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- Oscar Röcker Netto
- 7 de março de 2016
- Sem categoria
Pesquisa global da PwC encontra menos empresas reportando irregularidades no Brasil, mas também indica piora dos sistemas de detecção
Uma boa notícia pode mostrar uma melhoria em determinada área, mas também pode indicar alguma situação que precisará de tempo para ser mais bem compreendida.
É o que se deduz da oitava edição da Pesquisa Global sobre Crimes Econômicos, da PwC, que acaba de ser divulgada. Um dado do levantamento é auspicioso: apenas 12% das empresas brasileiras reportaram terem sido vítimas de crimes econômicos nos últimos 24 meses — uma queda de 15 pontos porcentuais em relação ao levantamento anterior.
Esse desempenho coloca o Brasil no grupo de países onde o problema menos ocorre no planeta. A média global é de 36% (o triplo) e a dos Brics (os principais países emergentes), 39%.
A pesquisa considerou 13 tipos de fraudes, como roubo, suborno, corrupção, crime cibernético e lavagem de dinheiro, além de um 14º item (classificado como “outros”, casos menores). A sétima edição do estudo mostrava que também em 2013 já houvera uma queda nessas ocorrências, de 33% para 27%, o que levou a consultoria a concluir que o combate e fraudes estava melhorando. A média global naquele levantamento ficou em 37%, dez pontos acima da brasileira.
Jabuticaba
Estamos tão bem assim? Talvez não, numa situação que lembra a “jabuticaba” da anedota, aquelas coisas que só acontecem aqui.
“Algo estranho parece ter acontecido no Brasil recentemente em relação à incidência dos crimes econômicos”, avaliou Martin J. Whitehead, sócio da PwC Brasil, sobre os dados agora divulgados (e relativos a 2015). A estranheza da consultoria fica clara na “visão geral” exposta na apresentação do trabalho: “Fraudes despencam no Brasil: maturidade crescente, mudança temporária ou algo à espreita?”.
A interrogação levou a consultoria a apresentar uma hipótese, baseada em outro dado da pesquisa. As companhias brasileiras podem estar falhando em descobrir crimes de que são vítimas. Isso porque o levantamento mostra que a identificação de incidentes por métodos sob controle da administração caiu de 52% para 30%. Ou seja: a maioria não consegue descobrir por conta própria que é vítima de alguma fraude.
Daí sai uma relação em não saber e dizer que não sofreu fraude.
Outros levantamentos nesta área reforçam a hipótese. Mesmo tendo metodologias e universos pesquisados diferentes, servem para iluminar mais um pouco mais o tema. Em meados de fevereiro, um levantamento da mesma PwC mostrou que o número de incidentes relacionados a ataques cibernéticos no Brasil cresceu sete vezes mais que a média global. Trata-se também de um tipo de fraude.
Já uma pesquisa da Kroll apontou em 2015 que 77% das companhias ouvidas disseram que foram vítimas de algum tipo de fraude ao longo do último ano de atividade, com desvios financeiros aparecendo como principal problema (23% dos casos).
Ambos estudos apontam para a direção de que fraudes pegam pesado nas companhias.
Outro dado da Pesquisa Global de Crimes Econômicos relativiza a situação das fraudes no Brasil: a maioria das pesquisadas reconhece que não está preparada para entender os riscos cibernéticos que enfrenta — este uma das grandes preocupações mundiais do momento. Em todo o mundo, 37% dizem possuir plano para lidar com este tipo de incidente enquanto no Brasil são 27% — os 71% restantes formam o maná dos hackers.
Mil coisas
Para a PwC, a situação ora exposta pode ter sido influenciada por três fatores — ou uma mistura de três. E, mesmo que a situação não seja tão boa quanto os números apontam, indicam evolução.
“O primeiro seria uma consequência de investimentos feitos em prevenção [motivados pela Lei Anticorrupção]”, atestam na apresentação do trabalho o sócio-presidente da PwC, Fernando Alves, e Whitehead, o sócio especialista na área. “Nossa pesquisa capturou alguns dados positivos neste sentido.”
“Uma segunda explicação seria a piora nos mecanismos de detecção”, diz o relatório. “Cresceram muito também os incidentes revelados por mecanismos fora da influência da gestão, como a mídia e agentes públicos”, dizem eles. “Além disso, aumentou também a importância das delações e canais formais de denúncias, um possível sinal de intolerância da sociedade em relação a esses malfeitos.”
“A nova lei pode ter dado um impulso inicial nesse processo”, afirma Leonardo Lopes, outro sócio especialista no assunto da PwC.
Alves e Whitehead continuam: “Um terceiro fator, de caráter mais comportamental, não encontra paralelo em outras partes do mundo. Com a forte repercussão das investigações [no âmbito da Lava Jato], mesmo no exterior, e punições pesadas para os envolvidos, é natural que a atuação dos criminosos tenha sido inibida, mesmo que temporariamente”.
Danos
Seja como for, os danos causados pelas fraudes são altos. Numa situação em que 17% das empresas brasileiras afirmam nunca ter realizado avaliação de risco nessa área (e 22% no mundo), a maior parte (27%) dos prejuízos relatados em decorrência delas fica entre US$ 1 milhão e R$ 5 milhões, segundo a PwC. Outros 23% ficaram na faixa entre US$ 100 mil e US$ 1 milhão.
Na mesma linha de outras pesquisas, a PwC aponta que os agentes internos são considerados como principal fonte dos desvios, sendo responsáveis por 58% dos crimes econômicos nas empresas (no mundo, a média é de 46%). A imensa maioria dos funcionários que cometem desvios, 87%, ocupa cargo de gerência executiva ou intermediária, reporta o estudo — no mundo, fica em 51%.
Apesar de alta, a “causa interna” caiu em relação à pesquisa anterior. Em 2014, 64% dos problemas decorriam de ação de funcionários.
O estudo avalia que “esses resultados apontam para uma possível fragilidade dos controles internos, cujas medidas servem mais como exercícios burocráticos para ‘cumprir tabela’ do que processos incorporados à cultura da organização”.
A enquete Pesquisa Global sobre Crimes Econômicos é realizada a cada dois anos. Para esta oitava edição foram ouvidas 6.337 pessoas, de 115 países. As informações referem-se ao ano de 2015. O número de empresas brasileiras participantes foi de 211.
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