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Impacto do novo resseguro para grandes coberturas divide mercado

A liberalização parcial do mercado de resseguros anunciada pelo governo deve impulsionar a introdução de novas coberturas a preços mais acessíveis no setor de grandes riscos, de acordo com a associação de seguradoras estrangeiras que operam no país.

Mas outros especialistas dizem que a Resolução 322, por si só, não vai ser suficiente para dar um novo impulso ao segmento de seguros corporativos. Sob este ponto-de-vista, as seguradoras que operam no Brasil precisam aprender a usar o resseguro de uma maneira mais eficiente a fim de oferecer melhores soluções a seus clientes.

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A Resolução 322 do Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) publicada em 20 de julho no Diário Oficial da União, reverte parcialmente medidas adotadas em 2011 que restringiram o acesso de cedentes brasileiros ao mercado de resseguros internacional.

Com isso, a obrigação de oferecer 40% primeiramente a resseguradoras locais vai ser gradualmente reduzida, baixando para 30% em 2017, 25% em 2018, 20% em 2019, e 15% no ano de 2020.

Já o limite de transferência de 20% de prêmios de resseguro entre empresas do mesmo grupo segue no sentido inverso, subindo para 30% em 2017, 45% em 2018, 60% em 2019 e 75% em 2020.

Mais investimentos

Na opinião de João Francisco Borges da Costa, presidente da Associação Brasileira das Companhias de Seguro Internacionais (ABCSI) as mudanças são bem-vindas, ainda que seus efeitos sobre a oferta de coberturas de grandes riscos no Brasil não deva ser imediato.

“As medidas de 2011 foram um retrocesso”, disse Borges da Costa à Risco Seguro Brasil. “Elas criaram barreiras e obstáculos que decepcionaram as empresas que apostaram em um mercado mais aberto e competitivo, mas que então deixaram seus investimentos parados. A nova resolução é muito bem-vinda. É verdade que ela não vai trazer efeitos no curto prazo, mas já funciona como uma sinalização na direção certa.”

Na opinião dele, um dos efeitos de longo prazo deve ser a chegada de novos participantes no mercado de grandes riscos, que, apesar das restrições, já estava atraindo investimentos de grupos globais como a ACE/Chubb, AXA e a HDI, da qual Borges da Costa é presidente no Brasil.

Com isso deve aumentar a competição no mercado, resultando em condições mais vantajosas para os compradores, disse ele. Outra vantagem é que, com menos restrições, as seguradoras terão mais condições de oferecer a grandes clientes coberturas para riscos complexos que hoje são difíceis de contratar no mercado nacional.

“As companhias vão trazer mais capital para o Brasil”, afirmou Borges da Costa. “E há alguns produtos que as seguradoras só podem disponibilizar em um mercado quando têm condições de exercer a amplitude de suas retenções globais [de resseguro]. Com a redução gradativa da limitação de transferências intragrupo, as empresas vão poder fazer isso melhor.”

Ele continuou: “Dessa maneira, o setor de grandes riscos vai contar com coberturas que, no exterior, são oferecidas de forma mais automática. Quando é preciso repartir o risco com muitos outros atores, as companhias ficam um pouco mais reticentes de oferecer determinados produtos.”

Borges da Costa também vê a possibilidade de clientes brasileiros desfrutarem de melhores preços no segmento de grandes riscos.

Para respeitar as limitações de transferência intragrupos, as seguradoras precisam contratar resseguradoras locais para intermediar a transferência dos riscos a suas matrizes globais. Uma taxa de 5% a 10% é cobrada por este serviço, disse Borges da Costa. “A nova medida elimina esta intermediação.”

Melhor uso do resseguro

Mas a avaliação de Rodrigo Belloube, vice-presidente da Federação Nacional das Empresas de Resseguros, (Fenaber) é diferente. Ele não vê uma correlação necessária entre as novas medidas anunciadas pelo governo e uma oferta mais desenvolvida de seguros corporativos no Brasil.

Para acelerar o desenvolvimento do mercado, em sua opinião, é preciso que as seguradoras façam um melhor uso do resseguro a fim de otimizar sua capacidade de oferecer os produtos que seus clientes precisam.

“O que impulsiona o desenvolvimento de novos produtos e soluções não é a mudança da regulação na magnitude em questão, mas sim a competição do mercado e a ambição das empresas em conseguir materializar uma vantagem competitiva”, disse Belloube, que também é presidente da Munich Re no Brasil. A companhia alemã dispõe de status de resseguradora local no país.

Para isso, segundo ele, é preciso ver o resseguro como uma ferramenta que vai muito além da mera transferência de risco, e esta mentalidade ainda está faltando no Brasil.

“Por exemplo, ainda há pouca utilização do resseguro como veículo de otimização de capital, ou como fonte de financiamento ao liberar a necessidade de capital de risco nas seguradoras, muitas vezes a custo mais competitivo que o mercado financeiro”, afirmou Belloube. “Quando as seguradoras acordarem para isso, compreenderem a lógica em profundidade adequada e adotarem o resseguro em sua estratégia de alavancagem e financiamento, o mercado pode ganhar uma nova dimensão.”

Por esse motivo, para o executivo da Munich Re, os efeitos da Resolução 322 não serão especialmente dramáticos sobre o setor.

“Não deve haver mudança perceptível sob a ótica da facilidade de contratação”, afirmou. “A reserva de mercado tem há tempos competição em nível suficiente para que seus operadores busquem se diferenciar, incluindo a equalização entre o que é oferecido lá fora e no Brasil.”

Desvantagem competitiva

Rodrigo Protásio, CEO da JLT RE Brasil Corretora de Resseguros, também considera que as mudanças não vão melhorar a oferta de produtos de seguro no Brasil. Ele tampouco acredita que vai haver uma redução de preços com a implementação das novas regras. Segundo ele, as taxas no Brasil já são muito competitivas, com preços menores que a média no exterior.

Protásio também acredita que no longo prazo as medidas vão enfraquecer o mercado local. Segundo ele, a carga tributária para o setor no Brasil é maior que a encontrada pelas empresas no exterior, o que tira competitividade das empresas nacionais.

Para o executivo, com as novas regras, as seguradoras locais, que investiram para aproveitar a proteção, passarão a enfrentar uma concorrência maior das estrangeiras, “que vão poder acessar seus capitais no exterior e fazer alavancagem com seus programas internacionais de resseguros”.

Protásio também entende que os resseguradores genuinamente nacionais poderão intensificar o processo de internacionalização. E cita o caso do IRB, que segundo ele, caminha para se tornar um “bom player internacional”.

O executivo avalia que a maior resseguradora do país, que deve ter seu processo de oferta inicial de ações (IPO) feito ainda este ano, pode ampliar suas receitas no exterior, chegando a um patamar de 50% do total. Hoje a porcentagem é de cerca de 10%.




Após aquisição, AXA promete mais flexibilidade em contratos

Uma maior flexibilidade nos clausulados dos contratos é o diferencial que a AXA Corporate Solutions promete oferecer ao mercado brasileiro após a aquisição, em maio, da unidade de grandes riscos do Grupo Sul América.

Em entrevista exclusiva à Risco Seguro Brasil, Philippe Jouvelot, presidente e CEO da seguradora francesa no país, também afirmou que a operação vai acelerar a estratégia do grupo de crescer no Brasil pelo segmento dos seguros comerciais.

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“A aquisição é chave para a empresa porque a AXA decidiu entrar no mercado brasileiro por meio das linhas de riscos corporativos”, disse Jouvelot.  “A integração da nova unidade nos proporciona um avanço de quatro anos no plano de investimentos para o desenvolvimento da AXA CS no Brasil, que tem um prazo de 25 anos.”

Além disso, para ele, a nova dimensão do negócio serve como um atrativo para os grandes clientes brasileiros.

“As grandes corporações gostam de fazer negócios com grandes seguradoras”, afirmou Jouvelot. “Pode ser um tema mais psicológico que outra coisa, mas a verdade é que agora somos grandes seguradores corporativos também no Brasil.”

A intenção é visar não apenas as empresas brasileiras que transferem grandes riscos para o mercado, mas também multinacionais que necessitam comprar coberturas no Brasil e integrá-las a seus programas internacionais.

“Cerca de cem subscritores vão se integrar à AXA CS com a aquisição”, informou o executivo. “A expertise que os novos colaboradores nos trazem é extremamente valiosa. Tendo em vista especialmente os programas internacionais, é muito interessante ter em nossos quadros gente que conhece o mercado local a fundo. E eles também nos proporcionam de forma imediata um novo escritório brasileiro, no Rio de Janeiro, que é o segundo maior mercado de seguros do país.”

Produto sob medida

Em uma afirmação que deve soar como música aos grandes compradores de seguro no Brasil, Jouvelot prometeu que a companhia vai se diferenciar por uma maior capacidade de elaborar contratos sob medida para seus clientes corporativos.

“A AXA CS aporta um nível extra de capacidade, especialmente financeira, e muito mais flexibilidade com os clausulados”, garante. “É importante ter flexibilidade com os clausulados para refletir as necessidades reais dos clientes e para tornar possível a integração das coberturas a programas internacionais.”

A rigidez dos clausulados é uma queixa comum de gestores de risco no Brasil. Seguradoras costumam reclamar, por sua vez, que a Superintendência de Seguros Privados (Susep) lhes dá pouca margem para inovação ao exigir que os clausulados sejam aprovados pelo órgão antes de ser vendido aos clientes.

Jouvelot, no entanto, acredita que desde o fim do monopólio do resseguro, em 2008, aumentou a possibilidade para as seguradoras darem uma resposta às necessidades de seus clientes. “Durante o monopólio, todo mundo tinha os mesmos clausulados nos contratos”, disse. “Mas a Susep tem o objetivo de modernizar o setor, mesmo que ainda exista no mercado alguma resistência contra mudanças.”

Transferência diversificada

Mesmo as restrições de transferências de riscos ao resseguro não precisam ser um obstáculo para uma empresa como a AXA CS, argumenta Jouvelot. Como exemplo, ele cita o fato de que as seguradoras não podem passar mais do que a metade de seus riscos para o mercado ressegurador.

“A restrição dos 50% de transferência de prêmios não se aplica a cada contrato de seguro”, afirma o executivo. “Ela se aplica ao portfólio total de uma seguradora. Portanto, se uma empresa possui um portfólio diversificado, ela tem a possibilidade de transferir ao mercado ressegurador uma proporção mais elevada de um grande risco para um cliente em particular, no contexto do programa internacional deste cliente.”

A AXA CS entrou no mercado brasileiro em 2013 e no passado recebeu autorização para montar uma resseguradora local. Segundo Jouvelot, a estrutura do grupo no Brasil permite oferecer coberturas requeridas por clientes cada vez mais globalizados. Ele também segue acreditando no potencial do mercado brasileiro, apesar do fraco desempenho da economia.

“O desenvolvimento do mercado de seguros no Brasil está mais relacionado com a penetração do setor na economia do que com o crescimento do PIB”, avalia. “Cinco anos atrás, os seguros representavam 1,7% do PIB. Hoje, a proporção ainda é de apenas 3%. Em comparação, na França atinge quase 10%. Há, portanto, potencial de crescimento, e a CNSeg estima que o volume de prêmios vai aumentar 15% neste ano.”

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Onda de fusões e aquisições alimenta seguro transacional

A onda mundial de fusões e aquisições está incrementando a procura por coberturas de seguros transacionais, que protegem os participantes das operações de litígios surgidos após o fechamento do negócio.

De acordo com corretores internacionais, coberturas do tipo Representations & Warranties (R&I), também conhecidas como Warranties & Indemnities (W&I), se tornam aspectos cada vez mais comuns nas transações, ainda que o número de negócios cobertos por elas continue sendo minoritário.

Os especialistas também dizem que as coberturas em questão já chegaram ao Brasil. A Marsh britânica reportou ter fechado ao menos um contrato de W&I para uma operação envolvendo empresas brasileiras. Especialistas presentes no XI Seminário Internacional de Riscos e Seguros, no final de outubro em São Paulo, afirmaram que a tendência é que a procura por estes produtos aumente no país.

De acordo com a Dealogic, uma empresa de pesquisa de mercado, o volume global de fusões e aquisições em todo o mundo chegou a US$ 4,9 trilhões entre janeiro e a metade de dezembro deste ano, estabelecendo um novo recorde histórico.

No Brasil, o volume de fusões e aquisições se desacelerou em 2015 devido à crise econômica e a incertezas políticas, mas especialistas acreditam que mais negócios surgirão no futuro, na medida em que investidores internacionais sintam mais confiança para aproveitar as barganhas que existem hoje no país.

Boom

“A demanda por coberturas W&I tem disparado desde a crise financeira global, quando os participantes se tornaram mais conscientes dos riscos envolvidos”, disse Clemens Kueppers, diretor de Riscos Transacionais da corretora Willis em Londres.

“O atual boom das fusões e aquisiões, porém, está levando a um crescimento sem precedentes em termos de operações que são asseguradas e da entrada de novos atores no mercado. Nós esperamos que o crescimento continue no futuro.”

De acordo com a Marsh, até poucos anos atrás, havia apenas um par de seguradoras que ofereciam as chamadas coberturas de seguro transacionais no mercado global. Hoje já há mais de 15 apenas no mercado londrino, e players regionais estão surgindo na Europa, na Ásia e outras partes do mundo.

Como resultado, os preços destas coberturas estão caindo, e as condições se tornam mais favoráveis aos compradores das apólices. Em geral, estes são os investidores que realizam as aquisições, ainda que vendedores também possam ter interesse em adquirir o produto em determinadas situações.

“Há poucas jurisdições no mundo em que já não fechamos algum negócio”, disse Andrew Hunt, diretor de Private Equity e Fusões & Aquisições na Marsh em Londres. Transações em alguns setores, como o farmacêutico e o financeiro, podem ter maior dificuldade em obter as coberturas devido ao alto risco de litígio futuro inerente às transações.

O crescimento da demanda não é de hoje. Em 2014, a Marsh já havia registrado um aumento de 36% na venda de apólices de seguro transacional. Mas Hunt vê potencial para mais crescimento, uma vez que se estima que não mais que 10% a 15% das transações de F&A em todo o mundo são cobertas por este tipo de seguro.

Private equity e compliance

Um dos fatores por trás do aumento da demanda é a crescente participação de fundos de private equity em operações de F&A. Tais investidores são especialmente interessados em vender seus ativos sem ter que se preocupar em enfrentar problemas legais no futuro, dizem os especialistas.

Uma crescente preocupação de investidores com temas de compliance e de gestão de riscos também ajuda o segmento a se desenvolver.

Além das apólices de R&W ou W&I, como são conhecidas nos Estados Unidos e Reino Unido respectivamente, outros tipos de seguros transacionais incluem coberturas contra passivos tributários e outros temas.

Sua função é basicamente garantir que o comprador de uma empresa não tenha que arcar com os custos de um passivo trabalhista, ambiental, tributário ou outro risco que não tenha sido encontrado durante o processo de due diligence.

Em geral, os riscos cobertos são desconhecidos dos compradores. As exclusões dos contratos abrangem áreas como corrupção e compliance, riscos cibernéticos, alguns riscos tributários, guerra, terrorismo e outros riscos, de acordo com Kueppers, além dos riscos já identificados durante o processo de due diligence.

Hunt afirma, no entanto, que, em alguns casos em que é considerado de muita baixa probabilidade, é possível convencer as seguradoras a também tomar algum risco identificado previamente.




Catástrofe pode ‘derrubar máscara’ do resseguro em 2016

O mercado de resseguros ingressa 2016 em uma situação desafiadora e pode estar a uma grande catástrofe de enfrentar problemas, afirma a agência de classificação de risco AM Best.

Em nota sobre o setor, a agência expressa preocupação a respeito dos efeitos que o longo mercado brando – que já dura mais de uma década – tem sobre o balanço das resseguradoras e das estratégias usadas pelas empresas para garantir sua rentabilidade na atual situação.

A AM Best manteve como negativa a perspectiva para o setor de resseguros, que neste ano viu uma série de operações de fusões e aquisições, em uma tendência que deve continuar nos próximos meses, de acordo com a agência.

“A realidade da atual situação é que uma grande catástrofe vai acontecer em algum momento, e que a máscara das reservas redundantes será eventualmente removida para revelar as ramificações reais das condições atuais do mercado”, afirma a nota.

“Se a história serve de guia, [a realidade] pode ser mais feia do que algumas pessoas acreditam.”

Condições desfavoráveis

A AM Best afirma que as empresas de resseguro que qualifica estão bem capitalizadas, com reservas suficientes para cobrir perdas significativas em cenários de estresse.

As reservas de capital têm sido auxiliadas por um período de perdas catastróficas abaixo da média histórica, o que permite a resseguradores alavancar seus resultados por meio da liberação de reservas.

Mas as condições de mercado se encontram de outro modo desfavoráveis, uma vez que, para não perder mercado, as resseguradoras seguem baixando tarifas e ampliando as condições dos contratos.

Além disso, os rendimentos derivados das carteiras de investimentos financeiros continuam achatados pelos baixos juros praticados nos mercados desenvolvidos.

Para completar, os seguradores primários estão tirando proveito da abundância de capital para aumentar sua capacidade de retenção de riscos, o que constitui um fator de pressão adicional sobre o faturamento das resseguradoras.

A conjunção de todos estes fatores faz com os desafios no longo prazo sejam consideráveis para o setor, o que pode causar a absorção das empresas menos saudáveis por rivais mais robustas.

“É provável que várias empresas que existem hoje estejam esgrimindo o logotipo de outra marca no dia em que o mercado brando chegue ao fim”, afirma a nota.

Catástrofes em baixa

Os baixos níveis de perdas catastróficas enfrentadas pelo mercado ressegurador são ilustrados pelo relatório preliminar da Swiss Re sobre as perdas registradas em 2015 em todo o mundo.

De acordo com a resseguradora suíça, o total de perdas catastróficas causadas por eventos naturais chegou a US$ 23 bilhões neste ano, comparado com US$ 28 bilhões em 2014 e uma média anual de US$ 55 bilhões observada na última década.

Já os desastres causados por ações humanas chegaram a US$ 9 bilhões, um volume superior em US$ 2 bilhões ao total do ano anterior.

Ao todo, catástrofes naturais ou causadas pelo homem causaram perdas econômicas de US$ 85 bilhões, mas a percentagem de perdas cobertas pelo mercado é reduzida porque alguns dos principais eventos aconteceram em países de baixa penetração de seguros.

Foi o caso do Nepal, onde um forte terremoto matou cerca de 9 mil pessoas no mês de abril, causando prejuízos materiais superiores a US$ 6 bilhões, dos quais apenas US$ 160 milhões estavam cobertos por seguro.

Ao todo, cerca de 26 mil pessoas morreram em 2015 em virtude de catástrofes naturais ou causadas pelo homem.

Entre as últimas, a principal foi a explosão que matou 173 pessoas e causou perdas asseguradas de pelo menos US$ 2 bilhões no porto de Tianjin, na China.

“Foi mais um ano de muitos desastres naturais, que infelizmente resultaram em um alto número de vítimas”, disse Kurt Karl, economista-chefe da Swiss Re. “O impacto total destes eventos foi devastador para as áreas afetadas. Com frequência, essas áreas são as menos preparadas e têm um baixo nível de penetração de seguros.”




Seguradoras serão mais rigorosas com risco ambiental após Mariana

A tragédia de Mariana e outros desastres ambientais ocorridos recentemente estão aumentando o interesse das empresas por seguros de responsabilidade ambiental no Brasil, mas também devem tornar as seguradoras mais rigorosas na seleção dos riscos assumidos.

É o que disse Alexandre Jardim, diretor de Seguros Patrimoniais e Responsabilidade Civil da Aon Brasil, em entrevista à Risco Seguro Brasil.

Jardim afirmou que a oferta de coberturas para risco ambiental ainda é limitada no país, mas ainda assim há alternativas para transferir o risco em todo o seu ciclo de vida.

Mas as empresas seguem minimizando ou ignorando sua exposição, contratando limites muito baixos ou mesmo deixando de transferir um risco que ganha cada vez mais em intensidade.

“No Brasil, por questões culturais, as empresas ainda não tem o hábito de contratar esse tipo de seguro, ou se contratam, geralmente o fazem com limites bastante reduzidos, pois acreditam que não estão expostas a risco, seja por conta das suas atividades ou por desconhecimento da exposição a que estão sujeitas”, disse Jardim.

Capacidades

Segundo Jardim, há hoje três seguradoras oferecendo a linha completa de seguros ambientais, com outras cinco, aproximadamente, dedicando-se a apólices específicas para setores como os transportes.

Em geral, compradores têm pedido limites bastante reduzidos, de cerca de R$ 20 milhões, o que parece bastante insuficiente tendo em vista os danos causados por exemplo pelo rompimento das barragens de resíduos industriais da Samarco em Minas Gerais.

“Porém as seguradoras possuem capacidades bem superiores, com a capacidade somada do mercado local girando em torno de R$ 300 a R$ 400 milhões de reais, que pode ser aumentada por meio da contratação de resseguro”, afimou Jardim.

“Corretores e seguradoras sempre estão dispostos a oferecer maiores limites de cobertura, seja por meio de resseguro, com capacidades vindas do exterior, seja por cosseguro, utilizando-se da capacidade local. Basta haver interesse por parte dos contratantes.”

Segundo o executivo da AON, as apólices disponíveis oferecem coberturas amplas, que são capazes de atender a ocorrências ambientais que venham a atingir as empresas.

No caso de uma indústria, exemplificou, as coberturas podem ser contratadas desde o início da produção, passando pela manufatura, transporte e disposição final do produto e resíduos gerados no processo. Inclusive o descarte do produto pelo consumidor final pode ser coberto, em caso de corresponsabilidade do produtor por qualquer dano ambiental gerado.

“Em linhas gerais podemos dizer que o mercado oferece coberturas que amparam o segurado nas despesas incorridas quando este se encontra em uma situação de poluição”, explicou Jardim. “Dessa forma, as seguradoras arcam com os custos de limpeza e remediação dos locais atingidos, reposição do meio ambiente (fauna e flora), os custos com o monitoramento, custos de defesa em ações na Justiça, entre outros.”

Punições não

O que as apólices não cobrem, porém, são as punições aplicadas pelas autoridades a empresas poluidoras em caso de negligência ou má-fé.

“De maneira geral, os seguros são impedidos de cobrir qualquer tipo de multa ou penalizações ou até mesmo os TACs, Termos de Ajuste de Conduta, sejam elas em esfera municipal, estadual ou até mesmo federal”, disse Jardim.

Danos causados a terceiros, como as famílias das vítimas de Mariana ou atividades econômicas prejudicadas pelo desastre, são cobertas não pelo seguro ambiental, mas sim por coberturas de responsabilidade civil geral.

Jardim afirmou que o nível de contratação de seguros ambientais pelas empresas brasileiras segue baixo, mas já se nota no mercado uma movimentação de compradores em potencial para aprender mais a respeito destes produtos.

“Ainda que de maneira bastante discreta, empresas estão buscando saber o que está coberto, quais são os limites, custos envolvidos e que tipo de exigências são feitas pelas seguradoras para conceder a cobertura,” afirmou.

“O tema ambiental no Brasil ainda é um assunto em desenvolvimento”, continuou o especialista. “Cada novo evento, assim como a atuação dos órgãos governamentais de fiscalização, principalmente no Estado de São Paulo, trazem à luz situações que obrigam as seguradoras a repensarem seus produtos, tanto no que diz respeito a precificação como em termos de coberturas, limites e exclusões para cada atividade.”

Ele acredita que a tragédia de Mariana não terá grande efeito nos preços e capacidades, com exceção do setor de mineração. Porém é de se esperar que os subscritores se mostrem mais seletivos, exigindo sobretudo que potenciais compradores demonstrem sua disposição de gerenciar os riscos ambientais a que estão expostos.

“Os prêmios praticados pelo mercado para atividades não relacionadas à mineração não deve ser afetado, porém o critério de avaliação de risco como um todo fica mais rigoroso,” afirmou. “A liberação das capacidades por parte das seguradoras também exigirá das empresas contratantes garantias cada vez maiores de que possuem controle sobre suas plantas e operações.”




Resultado de resseguradoras locais cresce 232% fora do país

O movimento de internacionalização de algumas resseguradoras locais brasileiras começa a dar resultados.

O volume de resseguros aceitos do exterior pulou de R$ 124,4 milhões para R$ 412,7 milhões no acumulado do ano até setembro em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com levantamento da Terra Brasis, com base nos dados da Susep (Superintendência de Seguros Privados). Uma alta “expressiva” de 232%.

Os dados fazem parte do relatório prévio elaborado pela resseguradora. As informações mais completas devem ser divulgadas nos próximos dias.

A estratégia de internacionalização atende ao anseio de ampliar o portfólio das resseguradoras, num mercado que, apesar de promissor, ainda é considerado um tanto restrito no país.

Maior empresa do setor no Brasil, esse movimento é puxado pelo IRB Brasil, cujas receitas no exterior vêm se expandindo.

A própria Terra Brasis investiu este ano em marcar território além das fronteiras brasileiras, tendo expandido suas atividades para México, Equador, Peru e Colômbia.

A Austral, por sua vez, pretende que nos próximos três anos, as receitas vindas de fora do Brasil representem 20% do total — hoje está em 8%.

Volume

Nos resultados gerais, as seguradoras brasileiras ampliaram em 11,1% o volume de prêmios cedidos ao resseguro, atingindo R$ 7,62 bilhões nos três primeiros trimestre do ano.

O volume emitido pelo IRB foi 29% maior em relação ao mesmo período de 2014, enquanto as demais resseguradoras locais tiveram um crescimento de 22%. As resseguradoras estrangeiras apresentaram uma redução de 15%.

O lucro líquido acumulado pelo setor ficou em R$ 696 milhões, sendo que R$ 549 milhões provenientes só do IRB.

A maior resseguradora do país ampliou sua participação no total de prêmios emitidos no mercado de 49% para 51,6% este ano.

O lucro geral do mercado foi obtido graças às operações financeiras. O resultado técnico com as operações de resseguro ficaram no vermelho em R$ 77 milhões, enquanto os resultados de investimentos somaram R$ 1,1 bilhão, antes dos impostos. No IRB, o resultado técnico ficou positivo em R$ 145 milhões.

O ROE (Retorno sobre o Patimônio Líquido, na sigla em inglês), medida que avalia a performance das companhias, no entanto, aumentou no resultado geral das empresas: passando de 9,8% em 2014 para 15,3%.




Polo de resseguros do Rio aposta no exterior para sair do papel

Paulo Pereira, presidente da Fenaber
Paulo Pereira, presidente da Fenaber.

Projeto que vem sendo acalentado desde 2008, o Polo de Resseguros do Rio de Janeiro vai investir num viés que hoje não é explorado no país para tentar se viabilizar.

De acordo com Paulo Pereira, presidente da Federação Nacional das Empresas de Resseguros (Fenaber), a ideia é construir um projeto focado em atrair interessados em subscrever riscos offshore — fora do Brasil, portanto — a partir do Rio.

Segundo Pereira, dessa forma, o setor cria uma agenda positiva que será apresentada ao governo — e caso receba sinal verde seguirá em frente.

Com o foco estabelecido em reuniões capitaneadas pela Fenaber, o projeto investe numa nova linha, desenvolvendo negócios complementares ao que a estrutura de resseguro no país já faz hoje em dia.

“Nossa proposta não inclui nenhuma renúncia fiscal”, disse Pereira à Risco Seguro Brasil. “Estaríamos trazendo negócios novos, gerando impostos novos — evidentemente com alíquotas diferenciadas para ajudar na atratividade dos interessados.”

Pereira vê uma série de benefícios advindos de uma iniciativa com esse perfil, como desenvolvimento de novas tecnologias de resseguro no país, treinamento de pessoal e ampliação do campo de atividades correlatas ao setor (como inspeção de riscos, auditorias, engenharia, advocacia, entre outros). “Seria uma coisa bastante ampla.”

Fase inicial

De acordo com o presidente da federação, um grupo de trabalho se dedica a partir de agora a desenvolver um projeto executivo mais detalhado — trabalho ainda sem data para ser concluído. “Não temos prazo, mas temos pressa para tudo o que possa ajudar a desenvolver o mercado de resseguros aqui no país”, afirmou.

O objetivo é levantar todos os “fatores críticos de sucesso” para desenvolvimento efetivo do polo.

Parte do trabalho inclui aprofundar estudos de centros ao redor do mundo que são referência no setor, como os de Dubai, Cingapura, Irlanda e Bermudas.

“Vamos apresentar um projeto que gere atratividade suficiente para viabilizar esse polo”, afirmou Pereira. O trabalho vai ser levado ao Ministério da Fazenda, e “só depois da aprovação governamental é que poderemos detalhar o projeto”.

Ressalvando que o projeto se encontra numa fase “muito inicial”, Pereira vê grande potencial de estímulo ao crescimento do resseguro no país.

“O Brasil tem 47% dos prêmios de seguro da América Latina. Em termos de resseguro, esse total cai para 16%”, compara ele, lembrando que o setor movimenta cerca de US$ 3 bilhões no país e US$ 20 bilhões no subcontinente. “Temos de tentar trazer parte desse mercado, que é bastante interessante para explorarmos aqui.”

Resseguradoras

Atuam no mercado brasileiro atualmente 128 resseguradoras, divididas entre locais, admitidas e eventuais.

As locais, com atuação mais relevante no mercado somam 16 empresas, das quais cinco têm sede no Rio, dez em São Paulo e uma em Curitiba. No Rio, no entanto, fica a sede o IRB Brasil Re, maior resseguradora local, responsável por quase metade das receitas do setor.

Tanto o IRB quanto outras resseguradoras locais, como a Austral e a Terra Brasis, já vêm reportando aumento na participação de operações no exterior em seus negócios.

Há ainda 75 resseguradoras eventuais e 37 admitidas.




Pesadelo de seguradores, James Bond acumula R$ 46 bi em estragos

007 Contra Spectre
“Ups.”

Há várias décadas James Bond vem salvando o planeta dos mais variados vilões do cinema. E imagina-se que, em seu mundo, causando dor-de-cabeça para os peritos que avaliam as perdas de seguro que ele causa.

Por onde passa, o agente 007 deixa um rastro de destruição de automóveis, edifícios e helicópteros, em um verdadeiro pesadelo para os seguradores ficcionais. Para ser mais exato, no valor de € 600 milhões, ou R$ 2,44 bilhões, apenas em sua última aventura.

O cálculo foi feito pela venerável Gesamtverband der Deutschen Versicherungswirtschaft, GDV, a associação de seguradores da Alemanha, por meio de uma estimativa causada pelo agente preferido de Sua Majestade no filme 007 Contra Spectre, que foi lançado no Brasil em novembro.

No filme, Bond transforma em migalhas os mais variados bens segurados na Cidade do México, Roma, Londres, Marrocos e nos Alpes Suíços, onde inclusive destrói um avião.

Apenas em automóveis, a perda chegaria a € 32 milhões, ou R$ 130,2 milhões, graças à tendência mostrada pelo agente do MI6 em utilizar apenas modelos luxuosos da Aston Martin, Jaguar e Land Rover em suas perseguições.

Perdas em edifícios residenciais chegariam a mais € 500 milhões, ou R$ 2 bilhões, estima a GDV.

A associação não menciona em nenhum momento, porém, possíveis ações por responsabilidade e danos a terceiros, além de tratamento médico a feridos e indenizações às famílias de vilões mortos. Afinal, o mínimo que se deve exigir, em termos de gestão de risco de recursos humanos, de uma empresa sofisticada como a Spectre é que proveja seus capangas de cobertura de seguro de vida.

Bond light

Para dizer a verdade, os seguradores das aventuras de James Bond devem ter soltado um suspiro de alívio quando Daniel Craig assumiu o papel do agente de Sua Majestade.

Em suas quatro aparições no papel, o ator inglês causou perdas acumuladas de R$ 2,5 bilhões, ou R$ 625 milhões por filme, de acordo com a More Than, uma seguradora britânica que faz parte do grupo RSA.

Seu mais venerável antecessor, o escocês Sean Connery, causou perdas médias de R$ 1,25 bilhão, enquanto Pierce Brosnan chegou a R$ 2,75 bilhões por filme.

Todos palidecem, porém, em comparação com o genial Roger Moore, que deixou a indústria seguradora no chão ao gerar R$ 3,82 bilhões de perdas por filme.

Apenas no filme 007 Contra o Foguete da Morte, Moore causa prejuízos estimados em R$ 23,7 bilhões ao destruir várias espaçonaves e até mesmo uma estação espacial.

Em seus 50 anos de aventuras, os vários James Bond causaram danos estimados pela More Than em mais de R$ 46,2 bilhões.

James Bond não deixa de causar prejuízos para o mercado de seguros também no mundo real. A GDV nota, por exemplo, que cinco automóveis de alta linha foram roubados da equipe de filmagem durante rodagens na Alemanha, e eles estavam todos cobertos por apólices.

As coberturas de responsabilidade civil da produção também terão que ser atividades para arrumar danos causados pela equipe de filmagem no centro histórico da Cidade do México, de acordo com a mídia mexicana.

Podia ser pior

Os Vingadores
“No ano que vem mandamos o Hulk negociar a renovação do programa.”

Os diretores financeiros do mundo de James Bond podem se conformar porém com o fato de que a situação financeira do setor é certamente muito mais precária no universo ficcional da Marvel, onde o volume de destruição causado por heróis e vilões chega a níveis estratosféricos.

Por exemplo, em 2012 a empresa de avaliação de desastres Kinetic Analysis Corp. estimou, a pedido de The Hollywood Reporter, que os danos causados em Manhattan pela batalha entre Capitão América e seus amigos contra os Chitauris teriam chegado a US$ 160 bilhões, ou R$ 615 bilhões — o que constituiria a maior perda jamais sofrida pela indústria de seguro.

Esta sim parece ser uma perda capaz de dar um fim ao mercado brando no resseguro internacional. A batalha é descrita no filme Os Vingadores e superaria, em termos de perdas seguradas, os ataques de 9 de setembro de 2001, o furacão Katrina, de 2005, ou o tsunami e terremoto que afetaram o Japão em 2011.

A Risco Seguro Brasil sugere aos gestores de risco do mundo Marvel que considerem com bastante carinho a possibilidade de montar um par de empresas cativas e transferir os riscos de danos à propriedade e de responsabilidade civil diretamente ao mercado de resseguros.

É fogo mesmo?

"Grrrrr, preparem seus advogados!"
“Grrrrr, preparem seus advogados!”

As estimativas dos danos causados por um evento de tal magnitude não é um processo tranquilo, pois tende a gerar divergências entre seguradores e segurados e muita discussão sobre o que é coberto ou não pelas apólices.

A coisa é ainda mais complicada quando as causas são pouco usuais. Digamos, por exemplo, que sua empresa tenha uma presença física em uma cidade invadida por um lagarto de 100 metros de altura que cospe fogo pela boca.

Em 2014, o site Property Casualty 360º decidiu encarar o desafio e entrevistou especialistas para tentar estabelecer como os afetados pelos atos de Godzilla em São Francisco no filme homômino lançado naquele ano poderiam pedir as indenizações a que teriam direito.

É de se prever muitas das controvérsias resultantes teriam acabado na Justiça. O site observa por exemplo que empresas do setor de turismo poderiam pedir que suas cláusulas de interrupção de negócios fossem ativadas devido à fuga de turistas da cidade. Mas as seguradores poderiam argumentar que o fluxo de nerds fanáticos por Godzilla que infalivelmente invadiria a cidade nos meses seguintes mais do que compensaria tais perdas.

Também não está totalmente claro que tipo de apólice cobriria os danos causados aos automóveis da cidade. Em muitos casos, um expert argumenta, a melhor chance do segurado seria invocar a cláusula de danos causados por “contato com pássaro ou animal”.

Coberturas contra incêndio também poderiam dar problema. Afinal, há quem defenda que Godzilla na verdade não cospe fogo, e sim labaredas de radiação pura.

A boa notícia é que, com base na experiência cinematográfica, a menos que a empresa esteja sediada em Tóquio ou Nova York, é improvável que um gestor de risco tenha dificuldade em transferir seu risco contra ataques de lagartos pré-históricos ao mercado de seguros.

 

 




Falta fiscalização para os seguros obrigatórios no país

A lei brasileira estabelece uma série de seguros obrigatórios para as empresas, mas a falta de fiscalização faz com muitas delas simplesmente deixem de contratá-los, de acordo com o diretor de risco e seguros da DHL, Guilherme Brochmann.

“Há multa? Há. São aplicadas? A gente conta nos dedos de uma mão se algo aconteceu neste sentido nos últimos anos, porque não há fiscalização”, disse ele no III Congresso Latino Americano de Seguros de Transporte e Cascos, realizado em São Paulo em novembro.

Os seguros obrigatórios estão determinados em lei há quase 50 anos, pelo decreto 73, de 1966, que regula as operações de seguros no país.

Na área de transportes, há duas linhas de seguro obrigatório: a do embarcador (que cobre a carga) e a do transportador (que cobre as responsabilidades civis, em todos os modais).

De acordo com o especialista, muitas empresas não gerenciam adequadamente seus seguros. “Muitas não fazem nem os obrigatórios”, afirmou. Os programas de seguros, diz Brochmann, são mais bem administrados nas companhias que dispõem de uma área de gerenciamento de riscos — “normalmente, as multinacionais”.

O problema é que a maioria ainda não trabalha dessa forma — problema que a gestão de riscos enfrenta em vários setores. Ainda há muita dificuldade em estabelecer um departamento de gestão de riscos, considera o gestor.

“A implementação é complicada. Se não for uma decisão ‘top-down’ [da alta direção] já nasce morta”, disse Brochmann, que tem 33 anos de experiência no setor e lançou recentemente o livro “Gerenciamento de Riscos – 30 anos de história”, em co-autoria com Francisco Wanderley Sigali.

A DHL, por exemplo, que atua em 220 países, tem uma equipe de gestão de riscos e seguros de 260 pessoas em todo o globo. Só no Brasil são 20 pessoas. “Eu me sinto um privilegiado”, disse ele.

Cultura

Cristiane França Alves, presidente da Associação Brasileira de Gerenciamento de Riscos (ABGR), que também participou das discussões do congresso, lembrou que a setor vem vencendo resistências culturais e se firmando de maneira sólida no país.

“O mundo mudou, e o Brasil vem mudando”, disse ela. “O brasileiro está percebendo melhor a gestão de risco.”

Para Alves, a apólice é peça fundamental dessa gestão, que, no entanto, vai além de contratar seguro.

“A apólice serve para repor perdas. Isso é importante, mas precisamos também evitá-las”, disse, ressaltando que esse trabalho inclui identificar os riscos, quantificá-los, tratá-los, transferi-los e monitorá-los.

“Hoje a grande preocupação dos gestores de risco é com aquilo que não controlamos e precisamos controlar.”




AXA prevê lançar seguro paramétrico no Brasil em 2016

Tanguy Touffut, da AXA.
Tanguy Touffut, diretor da AXA.

As mudanças climáticas estão entre os principais desafios enfrentados hoje pelas empresas e pelo mercado internacional de seguros, que necessita prover aos seus clientes com soluções inovadoras para eventos causados por anomalias do clima.

É por isso que algumas empresas estão trazendo para o país o chamado seguro paramétrico, que utiliza índices ligados a fenômenos climáticos, ao invés de avaliações objetivas das perdas sofridas, para calcular o pagamento de indenizações.

Trata-se de uma metodologia crescentemente utilizada no mercado internacional para prover coberturas ligadas à agricultura. Instituições como o Banco Mundial, em parceiras com o setor privado, possuem programas para garantir a colheita de agricultores pobres em países em desenvolvimento por meio do seguro paramétrico.

Mas as seguradoras estão cada vez mais introduzindo essas técnicas também no mercado comercial e expandindo seu uso para outros setores, incluindo turismo, energia, transportes, alimentação e até mesmo a produção de roupas.

“Há anomalias climáticas que não são cobertas pelos seguros tradicionais” disse à Risco Seguro Brasil o francês Tanguy Touffut, diretor de Seguros Paramétricos da AXA Corporate Solutions.

Segundo Octavio Bromatti, vice-presidente comercial para o Brasil da AXA CS, o plano é lançar em 2016 uma oferta de seguros paramétricos ainda a ser definida, mas a princípio dirigida à agricultura, com ênfase em grandes empresas agrícolas, e ao setor de energia.

Rapidez

Touffut esteve no Brasil para explicar aos profissionais do mercado presentes no XI Seminário Internacional de Gerência de Riscos e Seguros, no final de outubro, as novidades que estão sendo implementadas em uma área que promete introduzir inovações para os compradores de seguros.

De acordo com ele, entre as principais vantagens dos produtos paramétricos está a possibilidade de oferecer coberturas mais baratas para as empresas, além de agilizar o pagamento das indenizações.

Isso porque, por sua natureza, o seguro paramétrico dispensa o deslocamento de peritos para averiguar os danos causados por um evento climático, o que é problemático especialmente em áreas agrícolas de localização remota.

“Os detalhes da indenização são claramente especificados no contrato, e isso torna muito mais fácil para processar o sinistro”, afirmou Touffut, que recebeu a reportagem na nova sede da AXA CS em São Paulo.

O que diferencia o seguro paramétrico é que se trata de uma cobertura ativada quando um determinado evento climático atinge uma certa amplitude, independentemente dos estragos causados.

No caso de chuvas ou secas, por exemplo, um dos indicadores que podem acionar o seguro é uma precipitação pluviométrica superior ou inferior, respectivamente, a um determinado índice acordado entre segurador e segurado. O valor da indenização também é fixado previamente.

O que faz com que clientes possam receber indenizações mesmo que não sofram danos significativos em um temporal onde os níveis de precipitação sejam superiores ao índice constante da apólice. Da mesma maneira, se cair menos chuva que o índice, não se paga a indenização mesmo que danos aconteçam.

A tramitação do sinistro tende a ser rápida, segundo Touffut, porque depende apenas da compilação de informações de estações meteorológicas, satélites e outras fontes.

“A tendência é receber informações satisfatórias das estações meteorológicas em sete dias”, disse o especialista.

Dados confiáveis

O desafio principal para os seguradores com esse tipo de cobertura é justamente conseguir informações confiáveis sobre os eventos climáticos.

Touffut explicou que os dados podem ser coletados de estações meteorológicas e satélites. No caso brasileiro, as informações são providas por entidades como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Inpe, e a Embrapa, além de organizações internacionais.

Ele disse que no Brasil, por ser um país muito grande, não há estações suficientes para garantir o funcionamento do seguro paramétrico. Por isso os dados são coletados também de satélites geridos pela Nasa e outas agências espaciais, e, no caso de alguns clientes, a seguradora pode instalar pequenas estações meteorológicas individuais em suas propriedades.

Os dados coletados vão desde índices pluviométricos até níveis de radiação solar, temperatura e outros fatores que podem influenciar a colheita, no caso dos seguros agrícolas.

Lançamento

A agricultura é o setor em que as coberturas baseadas em seguro paramétrico estão mais avançadas em todo o mundo, e por onde a AXA CS deve começar a trabalhar seus produtos no Brasil.

A avaliação da empresa é que a oferta de seguros agrícolas disponíveis atualmente no mercado está direcionado especialmente a produtores de menor porte, e por isso há espaço no mercado de grandes empresas agrícolas para um produto mais sofisticado.

Mas a empresa também quer lançar coberturas baseadas no seguro paramétrico para outras áreas, como o setor de energia.

Nesse caso, por exemplo, plantas de energia fotovoltaica podem se proteger contra a ausência de radiação solar, e usinas de energia eólica, contra a falta de vento.

No exterior, a metodologia já é utilizada, entre outros fins, para assegurar operadores de turismo de que o mau tempo não vai afetar demais o faturamento durante temporadas de férias.

Potencialmente, a utilização pode incluir também a proteção do faturamento de fabricantes de roupas de inverno contra uma onda de frio menos aguda do que se esperava, ou de picolés e cervejas, no caso de um verão mais ameno.