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Risco cibernético: o que está coberto pelas apólices tradicionais?

O mercado de seguros contra riscos cibernéticos ainda está em desenvolvimento. Mas especialistas apontam que muitas das perdas criadas por tais riscos já são cobertas por outras coberturas existentes o mercado.

Uma das tarefas que as empresas que pensam em transferir riscos cibernéticos devem realizar, portanto, é avaliar que perdas já são cobertas por seus atuais programas de seguros, e quais estão excluídos nas apólices.

Para ajudar nessa missão, a Associação Internacional de Subscritores de Londres (IUA, na sigla em inglês) publicou um relatório que procura identificar exatamente o que está coberto ou não, em termos de riscos cibernéticos, nas atuais apólices de seguro.

A dificuldade já começa na identificação do que é um risco cibernético. O estudo define tal risco como uma ameaça tanto direta à empresa como a terceiros, e que pode ir desde extorsões e investigações regulatórias até lesões físicas ou mesmo morte de pessoas.

Por isso a variedade de danos causados pelas ameaças cibernéticas é ampla e pode muitas vezes estar cobertas por apólices em vigor.

A terminologia utilizada pelo relatório, elaborado em conjunto com o escritório de advocacia Norton Rose Fulbright, se baseia nas apólices existentes no mercado londrino, motivo por que podem não bater literalmente com os clausulados aprovados pela Susep, que muitas vezes são bastante peculiares ao mercado brasileiro.

A comparação, no entanto, pode ser útil para empresas que estão passando pelo processo de identificação de sua exposição cibernética.

Alguns exemplos

D&O
O relatório cita o caso hipotético em que um diretor de uma empresa perde um laptop com dados de dois milhões de clientes. A empresa notifica as autoridades, que lhe mandam entrar em contato com os clientes afetados, e o caso acaba vazando para a imprensa.

Como resultado, a empresa sofre danos reputacionais e o preço da ação cai na Bolsa de Valores. O diretor é então processado por acionistas por falhar na implementação de medidas de segurança cibernética. A empresa e o próprio diretor correm o risco de serem processados por violação da privacidade de seus clientes.

A empresa procura então acionar sua apólice de D&O para cobrir os custos legais envolvidos.

De acordo com o relatório, neste caso, a seguradora avaliará se o diretor perdeu o laptop enquanto executava suas funções corporativas. Caso estivesse utilizando o equipamento para fins pessoais, a cobertura poderia ser negada.

Em geral, porém, os custos legais das ações em questão não são excluídos das apólices D&O puramente por se tratarem de riscos ligados ao mundo virtual, segundo o relatório.

Responsabilidade Civil Profissional (PI)
As apólices de responsabilidade civil profissional, muito conhecidas no mercado como PI (Professional Indemnity), protegem as empresas em caso de litígio sobre a qualidade de um serviço ou acusações de negligência por parte de clientes. Empresas que participam de licitações públicas, por exemplo, constituem um público-alvo desta linha.

O relatório afirma que, no mercado internacional, as apólices PI em geral não possuem exclusões relacionadas a riscos cibernéticos.

O estudo avalia o caso também hipotético em que uma empresa compromete a privacidade de um cliente ao enviar erroneamente, por email, informações confidenciais sobre ele para terceiros.

Como resultado, a empresa é acionada na Justiça tanto pelo cliente quanto por um órgão regulador que lida com o tema da privacidade da informação, e aciona sua apólice PI para cobrir os gastos legais.

De acordo com o IUA, a princípio, os custos legais das ações devem ser cobertas pela apólice, se o caso realmente se deu por negligência. Mas pode haver exclusões para o pagamento de penalidades, especialmente se forem impostas por um órgão regulador.

Por outro lado, caso o regulador demande a abertura de um processo de acesso aos dados do cliente afetado (conhecido na Inglaterra como Data Subject Access Request), é improvável que os custos envolvidos, que podem ser consideráveis, sejam cobertas pelo seguro de responsabilidade civil profissional.

Dados à propriedade e lucro cessante
Outro exemplo avaliado pelos autores do estudo é o caso de uma empresa industrial que possui uma cobertura de danos à propriedade e lucro cessante que, sob a sigla PDBI, é bastante comum no mercado de Londres.

Na suposição feita pelo estudo, a empresa sofre um ataque de hackers que danifica o equipamento de uma fábrica coberta pelo seguro, interrompendo a produção por 36 horas.

Líquidos corrosivos são liberados, causando estragos na fábrica, e forçando a realização de reparos que fecham a unidade por mais algumas semanas.

Além disso, os servidores da fábrica são destruídos, eliminando informação de pesquisa e desenvolvimento altamente importante para a empresa.

A empresa aciona então sua apólice PDBI para cobrir tantos os danos físicos quanto os prejuízos causados pela interrupção de suas operações nos dois eventos.

Segundo os autores, caso a fábrica se localize, por exemplo, no Reino Unido, é improvável que a apólice cubra o lucro cessante no primeiro episódio, já que não houve destruição de propriedade, que é uma condição necessária para ativar a apólice PDBI em alguns países.

Além disso, essas apólices com frequência incluem exclusões a danos causados por alteração, destruição, perda, dano, eliminação e comprometimento de informações digitais.

Para piorar a situação, apólices PDBI também costumam ter exclusões ambientais, por exemplo relacionadas a danos causados por produtos químicos.

Este é um caso, portanto, em que poderia ter valido a pena haver contratado uma cobertura dedicada ao riscos cibernéticos.

Um outro exemplo é o caso de ataques terroristas realizados por meios cibernéticos. As apólices de terrorismo em geral incluem exclusões a este tipo de perda, observa o documento da IAU.

Para conhecer mais comparações, clique aqui para baixar o relatório completo, em inglês.




Oferta de seguro cibernético evolui no mercado global

Os riscos cibernéticos estão cada vez mais presentes no dia a dia das empresas, e o mercado de seguros começa a oferecer mais soluções para ajudar os gestores de riscos a enfrentar esta ameaça – ao menos fora do Brasil.

Durante muito tempo, as empresas se queixaram de que as apólices de seguro cibernético disponíveis no mercado internacional eram muito caras e não contemplavam todas as suas necessidades, especialmente em termos de capacidade e da cobertura de perdas intangíveis, como a interrupção de negócios sem a ocorrência de dano físico.

Nos últimos meses, porém, compradores de seguro na Europa e nos Estados Unidos têm relatado uma evolução nos produtos oferecidos em seus respectivos mercados. As coberturas são mais amplas e mais claras, e os preços vêm caindo significativamente.

Como observou Brigitte Bouquot, a presidente da Amrae, a associação francesa de gestão de risco, os seguradores e resseguradores vêm mostrando apetite pelo risco, e a abundância de capital disponível no mercado faz com que o lançamento de novos produtos em uma área em pleno crescimento seja cada vez mais atrativa.

O que falta, agora, disse ela, é chegar a uma maior compreensão do risco, não só por parte dos subscritores, mas dos próprios compradores de seguros, a fim que seja possível estimar com segurança as exposições de cada cliente.

A profusão de novos produtos de seguro cibernético nos países desenvolvidos faz pensar que soluções mais acessíveis e completas também cheguem, eventualmente, ao mercado brasileiro.

Lançamentos

Na França, por exemplo, várias empresas aproveitaram a reunião anual da Amrae, no começo de fevereiro em Lille, para apresentar seus novos lançamentos na área.

Foi o caso da Swiss Re Corporate Solutions, que está levando para a França uma cobertura para médias e grandes empresas elaborada em conjunto com a gigante de informática IBM. Ela inclui interrupção de negócios — o que deve atrair a atenção de muitos clientes corporativos, considera a empresa.

Já a australiana QBE está introduzindo na França uma cobertura de riscos cibernéticos, apoiada por serviços de avaliação de riscos e assistência técnica, direcionada para pequenas e médias empresas, um setor ainda pouco visado pelo mercado de seguros para este tipo de produto.

De acordo com Rénaud de Préssigny, presidente da unidade francesa da QBE, trata-se da primeira experiência da empresa em oferecer soluções de risco cibernético para este nicho do mercado. Vale lembrar que a QBE está apostando na expansão de suas atividades na área de risco corporativo no Brasil.

Apesar dos avanços, no entanto, compradores seguem um tanto receosos na hora de comprar coberturas de risco cibernético, de acordo com corretores presentes à conferência de Lille.

Um dos principais problemas, segundo Robert Leblanc, o presidente da AON na França, é que os limites continuam reduzidos, especialmente no que concerne às exposições das grandes empresas multinacionais.

A nova solução da Swiss Re CS, por exemplo, oferece capacidade de até €25 milhões para cada cliente, ainda que haja alguma margem de negociação. Bruno Mostermans, diretor da empresa na França, afirmou que clientes que desejem maiores níveis de cobertura podem arranjar limites com mais de um subscritor.

Lacunas

Enquanto isso, o mercado busca maneiras de fechar lacunas ainda existentes no segmento.

A corretora Marsh, por exemplo, lançou uma ferramenta financeira, chamada Cyber Echo, que visa oferecer estabilidade no mercado de excedentes de cobertura no mercado de riscos cibernéticos. O produto, subscrito no mercado do Lloyd’s em Londres, oferece até US$ 50 milhões de cobertura excedente para companhias globais.

De acordo com a Marsh, ao contrário das coberturas primárias, para as quais há abundância de capital, a oferta de coberturas excedentes de risco cibernético é bem menos estável no mercado internacional.

Já a Chubb acrescentou à sua própria oferta de seguros cibernéticos um serviço técnico e de resposta a emergências providenciado pela empresa de gestão de sinistros Crawford & Company.

A Zurich, por sua vez, criou uma cobertura adicional a suas apólices de risco cibernético por meio da qual gestores de riscos podem ter acesso a serviços especializados em áreas como TI, direito e relações públicas durante uma emergência causada por um evento cibernético.

Empresas de modelagem de sinistros também estão procurando adicionar seu grão de sal ao setor. A Air Worldwide acaba de criar uma série de standards para a modelização de dados sobre eventos cibernéticos. Iniciativa similar foi apresentada no mês passado pela Risk Management Solutions (RMS).

O objetivo é ajudar as seguradoras a melhor coletar e analisar os milhares de eventos relacionados a ataques cibernéticos que vêm acontecendo todos os anos. Com mais informações confiáveis a mão, argumenta-se, será possível oferecer coberturas mais acessíveis e adequadas às necessidades dos clientes.




Fusões e aquisições no seguro devem continuar, mostra pesquisa

A onda de fusões e aquisições no mercado segurador deve continuar nos próximos anos na medida em que um crescente número de empresas afirma estar interessadas em fazer novos negócios, afirma pesquisa da Willis Towers Watson.

De acordo com levantamento feito com 750 executivos de alto escalão em empresas de seguro de todo o mundo, os principais impulsos para as transações são a busca de novas fontes de receita e a consolidação geográfica de operações já existentes. A expansão para novos países já não é mais um dos principais motivadores, segundo o levantamento.

Os dois motivos apontados parecem refletir a tendência vista no mercado de seguro corporativo brasileiro, onde multinacionais já presentes no país, como a AXA e a Chubb (antiga ACE), realizaram aquisições nos últimos anos.

Quem foge desta tendência, porém, são os grupos asiáticos, que cada vez mais buscam aumentar sua presença em novos mercados. É o caso de seguradoras japonesas, que realizaram uma série de compras de ativos nos Estados Unidos e outros países nos últimos anos.

Mais de um terço dos executivos entrevistados disseram que esperam ver uma onda de F&A na América do Norte nos próximos anos, enquanto 32% escolheram a Ásia emergente. A América Latina aparece como a terceira região mais cotada para possíveis transações, com 15% das respostas.

A região também aparece como aquela onde as empresas mais precisam vencer a competição de companhias de outros países a fim de fechar uma aquisição. Em 72% das transações na região, as compradoras afirmam que investidores estrangeiros estavam interessados no mesmo ativo.

Recorde

Em 2015, o mercado de fusões e aquisições no mercado global de seguros atingiu um patamar jamais visto ao movimentar US$ 143,5 bilhões, de acordo com o estudo. O número foi três vezes superior ao total de 2014.

A onda não deve parar por aí. Mais de 80% dos executivos entrevistados afirmaram que esperam fechar uma aquisição nos próximos três anos. A proporção chega a mais de 90% na América Latina, onde 56% também afirmaram que devem firmar algum tipo de joint venture no período.

A onda de transações ocorre em um ambiente macroeconômico caracterizado pela abundância de dinheiro vivo no caixa das empresas e de dinheiro barato nos mercados financeiros, resultante das baixas taxas de juros praticadas nos países desenvolvidos.

Mas a pesquisa aponta que alguns fatores específicos ao mercado de seguros também estão dando um impulso às fusões e aquisições.

O principal motivador das transações tem sido a busca de novas fontes de receita, especialmente pela adição do portfólio de clientes da empresa adquirida. Isso faz com que uma das principais prioridades das empresas compradoras seja a retenção e satisfação da clientela trazida pela nova unidade.

Esta é uma maneira de aumentar o negócio em um setor onde uma competição acirrada em quase todos os segmentos tem tornando o crescimento orgânico uma tarefa bastante complicada, aponta o estudo.

Outro fator de atração para os compradores é o controle de redes de distribuição inovadoras, com as plataformas digitais recebendo cada vez mais atenção.

Na América Latina, a existência de uma rede de distribuição própria é um dos fatores mais importantes para motivar uma aquisição. O mesmo vale para a América do Norte e os países emergentes da Ásia, mas na Europa Ocidental e no Oriente Médio são os canais digitais que exercem maior influência.

Empresas que possuem bom domínio de técnicas analíticas são alvo privilegiado para aquisição nas Américas, afirma o estudo, especialmente na área de não-vida.

Ásia em alta

Em alguns mercados, como os Estados Unidos, há uma tendência à consolidação de mercado, por exemplo na área de seguro saúde. Mas a concorrência pelas empresas que podem ser alvos de aquisições é elevada, o que têm acarretado a alta dos preços dos ativos e o fechamento de várias megatransações no último ano.

Foi o caso da compra da americana Chubb pela suíça ACE por US$ 28 bilhões e da aquisição da Humana pela Aetna, ambas seguradoras de saúde americanas, por US$ 37 bilhões.

A região que desperta maior interesse em termos de fusões e aquisições é a Ásia. Operações em que a empresa adquirida fica em um país asiático aumentaram 500% em 2015, chegando a US$ 21,2 bilhões, segundo o estudo.

Já as transações em que os compradores são seguradoras, resseguradoras ou investidores de capital de risco asiáticos aumentaram 600% para atingir US$ 48,1 bilhões.

Muitas vezes, estas empresas adquirem rivais europeias, por exemplo, com o objetivo de adquirir novas tecnologias, e não necessariamente têm foco na carteira de clientes.




Mercado abre 2016 com dúvidas sobre preços e resultados

Na medida em que divulgam seus resultados anuais, algumas seguradoras e resseguradoras globais têm deixado saber que há sinais de que o longo mercado brando pode estar finalmente chegando ao fim. Mas é possível também que os preços estejam se estabilizando porque os subscritores já não têm mais capacidade financeira de seguir reduzindo as tarifas.

Empresas como a Hannover Re, a Munich RE e a Scor, três das principais resseguradoras do mundo, anuciaram que as quedas de preço foram mais moderadas nas renovações de janeiro do que em períodos anteriores.

Durante a conferência anual dos gestores de riscos franceses, entre os dias 3 e 5 de fevereiro em Lille, players no mercado de grandes riscos como a Zurich avisaram que vão ter de atualizar suas políticas de subscrição, resultando em uma “revisão” de preços ou no abandono de contratos por meio de uma seleção dos melhores clientes.

No mesmo evento, a corretora AON avisou que não está mais aceitando participar, na França, de licitações realizadas por grandes clientes que visam achatar cada vez mais preços e comissões.

As esperanças de endurecimento do mercado global, porém, enfrentam um sério obstáculo, que é a manutenção das condições do mercado financeiro que inundaram o mercado de seguros de liquidez nos últimos anos.

A recente redução das taxas de juros do Banco do Japão para patamares negativos ilustra a dimensão do problema. Com a economia mundial entrando em um período que parece ser de crise generalizada, é bem pouco provável que as taxas de juros aumentem nos países desenvolvidos.

Mesmo a esperada elevação gradual dos juros pelo Fed americano poderia estar em risco, já que a economia do país parece menos pujante do que se esperava. As turbulências nos mercados de ações desde o começo do ano constituem um fator a mais a afugentar investimentos.

Com ativos de risco pouco atraentes, e instrumentos de renda fixa pagando uma miséria, investidores europeus, americanos e asiáticos devem continuar vendo o mercado de seguros e produtos de transferência de risco alternativos como uma opção menos pior para fazer seu dinheiro trabalhar.

Como resultado, os mercados de seguros podem continuar recebendo grandes quantidades de capital, mantendo níveis abundantes de capacidade para a maioria das linhas de seguro corporativo.

Pressão sobre resultados

O fator que está motivando as grandes seguradoras e resseguradoras globais a conter as baixas de preço parece ser, portanto, o impacto que as sucessivas quedas estão tendo em seus resultados.

De acordo com a Amrae, associação francesa de gestão de riscos, o mercado brando já dura doze anos. Neste período, as baixas ininterruptas vêm colocando pressão sobre o resultado técnico das empresas.

Baixos níveis de sinistralidade catastrófica em 2014 e 2015 ajudaram o setor a minimizar o impacto. Mas há evidências de que, mesmo neste entorno benéfico do ponto de vista das grandes perdas, os resultados financeiros das empesas estão se deteriorando cada vez mais.

A Argo, por exemplo, divulgou que seu lucro líquido caiu 31% no quarto trimestre de 2015, comparado com o mesmo período do ano anterior. Isso apesar de a empresa ter registrado um aumento de 5% no volume de prêmios.

Em todo o ano, o lucro líquido da Argo caiu 11%, apesar de o volume de prêmios ter aumentado 5,6%. A empresa afirmou que os preços apresentaram uma “modesta queda” no período.

Já a Zurich anunciou que espera uma perda operacional de aproximadamente US$ 100 milhões no quarto trimestre de 2015, quando a empresa sofreu um significativo impacto das enchentes no Reino Unido. A Zurich também anunciou a troca de seu CEO. Mario Greco, ex-Generali, vai assumir a empresa em março. Problemas financeiros já haviam levado a companhia a suspender a aquisição da RSA no decorrer de 2015.

Por sua vez, a Hannover Re comemorou o fato de que os preços caíram uma média de “um modesto 1,5%” nas renovações de janeiro. A Munich Re e a Scor anunciaram que os preços caíram 1% nas últimas renovações. Como em anos recentes as quedas comumemente superavam mais de 10%, tais números podem ser interpretados como sinais de estabilidade no mercado.

Há poucos indícios, porém, de que os subscritores estejam em condições de impor aumentos efetivos de preços a seus clientes. Por isso, o temor de analistas é que os resultados se deteriorem cada vez mais devido à contínua, ainda que mais moderada, queda de preços.

Maquiagem

Em uma conversa reservada com Risco Seguro Brasil, o CEO de um dos maiores corretores da Alemanha expressou sua preocupação de que muitas seguradoras e resseguradoras vêm maquiando seus resultado por meio de estratagemas como a liberação de reservas de capital que servem para vitaminar os dividendos e manter seus acionistas felizes.

Na opinião dele, no entanto, o acúmulo de vários anos de maus resultados técnicos, agravados pelo baixo rendimento dos investimentos financeiros em renda fixa resultantes das minúsculas taxas de juros vigentes nos Estados Unidos e na Europa, estão tornando cada vez mais difícil manter o que este executivo considera ser uma imagem algo enganadora da saúde do setor.

O caso da Zurich seria um exemplo do que pode estar acontecendo com outras empresas do setor. A pressão por melhor lucratividade também está entre os motivos de uma campanha de investidores ativistas pelo desmembramento da americana AIG.

Gerentes de riscos de grandes multinacionais também têm expressado preocupação com a situação. Alguns veem com desconfiança o fato de que, devido ao aumento do número de subscritores e dos preços cada vez mais baixos, muitas vezes terem de fechar programas de grande valor com sindicatos formados por dezenas de seguradores e resseguradores.

Esses grupos frequentemente incluem empresas recém-chegadas ao mercado, que têm pouco renome entre os compradores e, por isso, geram incerteza a respeito da robustez dos programas de seguros.

A dúvida é o que pode acontecer caso uma grande catástrofe afete o setor e empresas que estão trabalhando no osso necessitem pagar altos volumes de indenização.

Mais consolidação

Outro sintoma da possível fragilidade financeira de algumas seguradoras e resseguradoras é que analistas continuam apostando em mais fusões e aquisições no setor neste ano.

Em parte o processo é movido pela abundância de capital no mercado e a falta de melhores oportunidades de investir o dinheiro do caixa das empresas, de acordo com uma pesquisa feita pela Willis Tower Watson.

Mas a busca de oportunidades geradas por empresas em aperto financeiro, especialmente entre seguradoras e resseguradoras de menor porte, especializadas em nichos de mercado, também está contribuindo para o alto volume de operações.

Em 2015, as operações de fusão e aquisição no mercado de seguros e resseguros somaram US$ 143,5 bilhões, segundo a Willis Towers Waston. Trata-se do maior valor já registrado e equivale ao triplo de 2014.




Nevasca é uma das mais ‘caras’ já registradas nos Estados Unidos

A nevasca que atingiu a Costa Leste dos Estados Unidos nesta semana deve causar prejuízos de vários bilhões de dólares, sendo uma das mais custosas catástrofes naturais do tipo já registradas.

A corretora de resseguros AON Benfield comparou os danos materiais causados pela Jonas, que matou mais de 40 pessoas, com os que foram causados por uma tempestade de neve similar que atingiu o país em 1996, causando perdas de US$ 4,8 bilhões (quase R$ 20 bilhões), das quais US$ 920 milhões estavam asseguradas.

“Dados os danos físicos causados a habitações, negócios e outras estruturas e automóveis, mais os altos custos gerados pela interrupção de negócios, espera-se que isto terminará tendo um custo econômico multi-bilionário”, disse a AON Benfield em uma nota.

A resseguradora estima que Jonas se tornará uma das 15 nevascas mais custosas a atingir a Costa Leste americana.

Já a Moody’s Analytics colocou o provável custo da nevasca em um patamar entre US$2,5 bilhões e US$3 bilhões, de acordo com a revista Forbes.

A nevasca atingiu Nova York, Washington e várias outras cidades em 14 estados americanos. Em alguns lugares, a acumulação de neve chegou a mais de um metro de altura.

De acordo com o site da rede de TV Weather Channel, não havia registro anterior de acúmulo de neve tão grande nos aeroportos JFK e La Guardia, em Nova York, com mais de 77 cm e a quase 72 cm, respectivamente.

Em cidades como Nova York e Washington, a tempestade causou severos distúrbios nos transportes e forçou o fechamento de várias empresas. Até a manhã de quarta-feira, 26 de janeiro, 46 mortes haviam sido associadas à tempestade, segundo o Weather Channel.

Catástrofes naturais

Caso as estimativas de prejuízos sejam confirmadas, a nevasca indica a possibilidade de que 2016 não seja um ano relativamente tranquilo em termos de perdas econômicas causadas por catástrofes, como foi o caso de 2015.

De acordo com a AON Benfield, as perdas econômicas derivadas de catástrofes naturais atingiram US$ 123 bilhões (mais de R$ 500 bilhões) no ano, um número 30% menor do que a média dos últimos 15 anos, que chega a US$ 175 bilhões.

As perdas asseguradas chegaram a US$ 35 bilhões, ou 31% menos do que a média desde o ano 2000.

Por outro lado, o número de eventos catastróficos observados no ano, 300, foi superior à média anual de 269, o que mostra que o menor impacto econômico está menos relacionado à severidade e freqüência dos eventos catastróficos do que com a casualidade de eles se haverem concentrado em regiões de baixo desenvolvimento econômico.

Indonésia e Nepal

Os maiores danos foram causados por incêndios florestais que ocorreram durante todo o ano na Indonésia, causados por exploração agrícola. As perdas chegaram a US$ 16,1 bilhões, de acordo com o Banco Mundial, e 19 pessoas perderam a vida.

Entre os eventos não-climáticos, destacaram-se os terremoto do Nepal, cujos custos de reconstrução devem se elevar a US$ 8 bilhões. A tragédia nepalense causou 9.120 fatalidades e foi o evento mais mortal do ano, seguida de ondas de calor na Índia e no Paquistão, que mataram 2.500 e 1.233 pessoas, respectivamente.

Mas as perdas asseguradas na Indonésia e Nepal chegaram a apenas US$ 250 milhões e US$ 200 milhões, respectivamente, refletindo a baixa penetração da indústria seguradora nos dois países.

As maiores perdas asseguradas causadas por um único evento ocorreram nos Estados Unidos, onde tempestades de inverno custaram US$ 2,1 bilhões a seguradoras oficiais e privadas no mês de fevereiro.

No acumulado de 2015, as enchentes custaram US$ 27 bilhões em todo o mundo, seguidas pelos eventos climáticos severos, com US$ 26 bilhões, os incêndios florestais, com US$ 19 bilhões, ciclones tropicais, com US$ 15 bilhões, e as secas, com US$ 14 bilhões.

Top 10 desastres de 2015

1. Incêndios florestais na Indonésia (Todo o ano)
Perdas econômicas: US$ 16,1 bilhões
Perdas asseguradas: US$ 250 milhões
Mortes: 19

2. Terremotos no Nepal (Abril e maio)
Perdas econômicas: US$ 8 bilhões
Perdas asseguradas: US$ 200 milhões
Mortes: 9.120

3. Enchentes nos EUA (Outubro)
Perdas econômicas: US$ 5 bilhões
Perdas asseguradas: US$ 700 milhões
Mortes: 21

4. Ciclone tropical na China e nas Filipinas (Outubro)
Perdas econômicas: US$ 4,2 bilhões
Perdas asseguradas: US$ 100 milhões
Mortes: 22

5. Enchentes na Índia e Sri Lanka (Novembro e dezembro)
Perdas econômicas: US$ 4 bilhões
Perdas asseguradas: US$ 650 milhões
Mortes: 386

6. Distúrbios climáticos nos EUA (Maio)
Perdas econômicas: US$ 3.8 bilhões
Perdas asseguradas: US$ 1.4 blihão
Mortes: 32

7. Onda de frio nos EUA (Fevereiro)
Perdas econômicas: US$ 3,3 bilhões
Perdas asseguradas: US$ 2,1 bilhões
Mortes: 30

8. Ciclone Tropical na China e Taiwan (Agosto)
Perdas econômicas: US$ 3,2 bilhões
Perdas asseguradas: US$ 100 milhões
Mortes: 34

9. Distúrbios climáticos nos EUA (Dezembro)
Perdas econômicas: US$ 3 bilhões
Perdas asseguradas: US$ 1,4 bilhão
Mortes: 46

10. Enchentes no Reino Unido
Perdas econômicas: US$ 2,5 bilhões
Perdas asseguradas: US$ 1,3 bilhão
Mortes: Não disponível

Fonte: Aon Benfield




Resseguradoras locais dobram participação do exterior

Rodrigo Botti, diretor-geral da Terra Brasis
Rodrigo Botti, diretor-geral da Terra Brasis.

Alegria de um lado e preocupação de outro. O Relatório do Mercado Brasileiro de Resseguros elaborado pela Terra Brasis chegou a conclusões consideradas  “impressionantes” pelos autores do trabalho com relação ao desempenho fora do Brasil das empresas locais e “preocupantes” com o nível de sinistralidade no mercado interno — ainda que o lucro das empresas do setor tenha aumentado 80,3%.

Nos três primeiros trimestres do ano passado, o  segmento de “Riscos no Exterior” se transformou no segundo maior para o conjunto das 16 resseguradoras locais que operam no Brasil, ficando atrás apenas do “Riscos Patrimoniais”.

As resseguradoras locais angariaram entre janeiro e setembro no exterior R$ 911 milhões em Resseguro Bruto de Comissão — ou R$ 797 milhões líquidos. Esse valor representa 18% do resseguro cedido às locais por seguradoras brasileiros. É o dobro dos 9% no mesmo período de 2014.

O ramo patrimonial somou R$ 1,479 bilhão em resseguro líquido.

Polo regional

Rodrigo Botti, diretor geral da Terra Brasis, acredita que o desempenho demonstra que o Brasil está se transformando num polo regional no setor. “O resultado é no mínimo impressionante”, escreve ele no relatório. “Trazer divisas ao país é inquestionavelmente muito positivo, principalmente num momento de grande necessidade de investimentos.”

Botti acredita esse desenvolvimento “tem boas chances” de continuar e afirma que “todas as indicações” nesta área são promissoras. “É algo para se olhar com otimismo neste ano que começa.”

Cinco das 16 resseguradoras locais estão com forte atividade fora do Brasil, traz o relatório. O IRB é a principal delas, acompanhado de AIG, Austral, Scor e da própria Terra Brasis. Outras três aparecem no relatório com números marginais.

“O processo de internacionalização das companhias de resseguros sediadas no Brasil segue em passo acelerado”, destaca o trabalho, que faz a ressalva de que a coleta dos números externos demandou um levantamento especial. “O atual plano de contas do setor não parece estar ainda inteiramente adaptado à nova realidade na qual as resseguradoras locais aceitam riscos no exterior.”

Daí que o levantamento teve adaptação de metodologia, complemento com entrevistas a outras resseguradoras e aplicou algumas premissas internas para chegar aos resultados. “Temos uma visão próxima da realidade do processo de internacionalização das empresas de resseguros brasileiras.”

Trabalho interno

Já os números no mercado interno de resseguros os resultados são preocupantes, ainda que os resultados devam continuar positivos e superiores aos registrados no ano anterior, avalia Botti

De acordo com o diretor, a sinistralidade nas locais está em 80% até setembro, contra 75% do mesmo período do ano anterior. E a expectativa é que cresça no quarto trimestre, quando deverão ser contabilizadas perdas decorrentes do desastre da Samarco em Mariana (MG).

Nos 12 meses finalizados em setembro/15 o volume bruto de resseguros somou R$ 9,87 bilhões, um crescimento de 6,8% em relação ao período anterior. O lucro das resseguradoras locais deu um salto expressivo nos três primeiros trimestres do ano, atingindo R$ 696 milhões, 80,3% acima dos R$ 396 milhões registrados no mesmo período anterior.

O IRB Brasil Re é responsável por 79% do valor (ou R$ 549 milhões) registrado até setembro de 2015.

O volume de resseguros provenientes de cedentes brasileiras aumentou 21,5% no acumulado de 12 meses até setembro — foram R$ 7 bilhões contra R$ 5,8 bilhões no período anterior. Já o volume de cedentes offshore cresceu 82,4%, para 984 milhões. As offshores já representam 14% do volume de resseguro cedido pelas brasileiras.

O mercado local deteve 70,8% do volume de prêmios cedidos por cedentes brasileiras, 8,5 pontos acima do registrado nos 12 meses anteriores.




Baixa no resseguro persiste e se espalha para novas áreas

As renovações de contrato de resseguro em janeiro mostram que os preços continuam caindo no setor — contrariando as esperanças de parte do mercado de que o longo mercado brando poderia estar finalmente chegando ao fim.

Relatórios elaborados pelos corretores internacionais Willis Re e Guy Carpenter afirmam que ainda não foi desta vez que os resseguradores conseguiram mudar a dinâmica do mercado, e os compradores com frequência têm encontrado condições e preços ainda mais vantajosas do que as do ano passado.

Segundo as Willis, a tendência de quedas de preços tem até mesmo se disseminado nas linhas de responsabilidades, onde em outros anos haviam sido menos comuns do que nas de bens e propriedades.

Mas a Guy Carpenter afirma que há sinais de que a oferta de capital no mercado ressegurador esteja se estabilizando pela primeira em vários anos, e isso já está se refletindo em uma suavização do ritmo de redução de preços.

Contratos longos

Com isso, segundo a corretora, muitos compradores têm priorizado a negociação de contratos multianuais a fim de garantir que os baixos preços atuais se mantenham por um longo período de tempo.

Esta demanda está sendo atendida por subscritores que seguem bem capitalizados, já que se beneficiaram das baixas taxas de sinistralidade do ano passado.

Além disso, muitos compradores de resseguro estão se aproveitando das condições favoráveis para pedir um aumento dos limites de seus contratos.

A Guy Carpenter observou que os preços do resseguro estão caindo de forma mais moderada, mas seguem com uma tendência de baixa.

As tarifas de apólices de bens e propriedades nos Estados Unidos, por exemplo, caíram entre 5 e 8% nas renovações de janeiro, contra uma variação negativa de 7 a 14% no mesmo período de 2015.

Resultados favoráveis

No setor dos títulos ligados ao mercado de seguro, conhecidos como ILS, que são bastante usados no mercado americano para transferir riscos catastróficos, a estabilização de preços já se tornou mais clara, afirma a Guy Carpenter.

A corretora observa que os subscritores de produtos alternativos de transferência de riscos, como os ILS, possuem menor capacidade de adaptar as tarifas à demanda do que os resseguradores tradicionais.

De acordo com a Willis Re, o mercado brando também segue firme em linhas specialty como energia e aviação, apesar de grandes perdas terem ocorrido nestes setores.

Fluxo de capital se desacelera

Em linhas de responsabilidades, os maus resultados de alguns segmentos tampouco foram capazes de reverter a tendência de queda de preços, diz a Willis Re no relatório.

Em geral, porém, os baixos níveis de perdas catastróficas devem permitir às resseguradores globais que divulguem resultados satisfatórios para o ano de 2015, apesar de uma esperada queda em seus níveis de rentabilidade.

De acordo com a Munich Re, as perdas catastróficas cobertas pelo mercado em 2015 foram as mais baixas desde 2009, atingindo US$ 27 bilhões.

Por sua vez, a agência de avalização de crédito AM Best identificou uma redução no ritmo de entrada de capital no mercado ressegurador, o que pode colocar um pouco menos de pressão sobre os preços.

Ainda assim, a agência argumenta que o setor continua enfrentando um excesso de capacidade, e o ambiente competitivo seguirá trazendo desafios para o setor, até porque os grandes cedentes estão retendo uma parcela cada vez maior dos seus riscos.




Aquisição da VIS dá sequência a expansão no país

Empresa investiu R$ 5 mi em 2015
Empresa investiu R$ 5 mi em 3 anos

Em meados de dezembro, a Lockton Brasil adquiriu a corretora VIS, uma empresa especializada em seguros corporativos que se posicionava no mercado como uma butique de seguros, com atendimento sob medida para clientes.

“O nosso foco não é simplesmente fazer venda de seguro, mas entender como o cliente pode transferir ou não os riscos dele”, afirma Nicholas Weiser, CEO da VIS e atual diretor de varejo da Lockton.

O valor do negócio não foi revelado, no entanto contempla a estratégia para o país da corretora norte-americana, que é trabalhar com prestação de serviços que considera diferenciados. Ajuda também no objetivo de obter crescimento orgânico no Brasil — só o incremento da VIS fez a companhia crescer cerca de 15%.

Em 2015, mesmo com a crise econômica, o volume de prêmios angariados pela corretora deve ter fechado o ano de 2015 com uma alta de 20 e 30%, diz o vice-presidente Guilherme Perondi. Para 2016, ele prevê alta de 10%, seguindo uma média geral estimada para o setor segurador. Para isso, aposta no reforço de linhas especiais de seguros.

Segundo Perondi, o volume de prêmios captados no mercado brasileiro pela Lockton fechará o ano fiscal que termina em abril de 2016 na casa dos R$ 450 milhões, sendo que a VIS deverá agregar mais R$ 70 milhões a esse valor.

Investimento

Nos últimos três anos, a Lockton investiu R$ 5 milhões para reforçar sua posição no Brasil, segundo Perondi.

O valor não inclui a compra da VIS. A maior parte dos recursos foi destinada a uma nova sede em São Paulo (R$ 2,5 milhões). O restante foi para tecnologia e contratações, com reforço da equipe do qual o próprio Perondi é exemplo — vindo da Allianz, ele está Lockton há cerca de três meses.

Com a aquisição da VIS, os cerca de 500 clientes corporativos da Lockton subiram para 600, e as 3.000 pessoas físicas passaram para 4.000.

O time de 27 funcionários da corretora foi totalmente incorporado à Lockton, incluindo os nove sócios da corretora, que passam a ter cargos estratégicos na nova companhia, diz Weiser. A marca VIS deixará de existir.

Segundo ele, nos quatro anos de existência da VIS houve várias sondagens para aquisição da empresa, todas recusadas. Ele viu, no entanto, na oferta da Lockton, “uma proposta de valor muito grande”.

“O portfólio de clientes da VIS é muito interessante”, diz Perondi. “A equipe é de profissionais absolutamente reconhecidos pelo mercado e a empresa tem um perfil inovador, parecido com o nosso, que é de levar serviços diferenciados para o cliente corporativo.”




Em ano de crise, Lockton visa nichos pouco explorados

Guilherme Perondi, vice-presidente da Lockton. (Foto: Divulgação)
Guilherme Perondi, VP da Lockton. (Foto: Divulgação)

A Lockton terminou 2015 estruturando duas operações envolvendo seguro contra risco político no Brasil. Foram as primeiras do gênero durante o ano na corretora e servem para antecipar uma movimentação que deve ocorrer de maneira mais acentuada em 2016, segundo o vice-presidente da empresa, Guilherme Perondi.

As operações são de empresas estrangeiras que farão negócios aqui. As apólices cobrem o risco de calote do governo brasileiro com a dívida soberana.

Trata-se de uma possibilidade bastante remota. Mas, com a perda do grau de investimento do país em duas agências de classificação de riscos, o seguro passou a ser uma exigência do negócio.

Nicholas Weiser, diretor da Lockton. (Foto: Divulgação)
Nicholas Weiser, diretor da Lockton. (Foto: Divulgação)

“É o preço que se paga pela ausência do grau de investimento. É uma oportunidade de negócio [para o setor de seguros]”, diz Perondi. “A boa notícia é que ainda existe apetite para assumir risco no Brasil.”

O aumento da procura no risco político ocorre principalmente por parte de bancos multinacionais que estão  estruturando algum tipo de financiamento no país.

É um exemplo de como a crise econômica e política vai afetar o setor de seguros em 2016.

Inovação

De acordo com Perondi, o mercado segurador deve buscar ampliar a participação de linhas de produtos pouco utilizadas no Brasil atualmente. O objetivo é compensar eventuais quedas nas linhas tradicionais. Os clientes da carteira de transportes da corretora, por exemplo, registraram quedas de até 50% na movimentação de cargas.

O novo movimento no risco político deverá ser acompanhado por outras linhas de seguro.  “O mercado precisa mudar um pouquinho”, disse Perondi em entrevista à Risco Seguro Brasil.

“Nas linhas tradicionais, o mercado não está conseguindo absorver alguns riscos, existe um mercado soft com queda de taxas e tanto as corretoras como as seguradoras estão tentando inovar.”

De acordo com Nicholas Weiser, novo diretor da área de varejo da empresa, a inovação deve passar pela valorização de linhas novas ou muito pouco utilizadas no país, como seguros na área de fusões e aquisições (F&A), seguros ambientais, novas operações estruturadas com seguro garantia, garantia judicial e seguro de sequestro, por exemplo.

“Há muitos produtos novos entrando no mercado”, afirma ele, que assumiu o posto após a Lockton adquirir a VIS, corretora da qual era CEO.

Reclamação trabalhista

Um produto que a Lockton acredita que terá mais demanda com a crise é o chamado  EPL (Employment Pratices Liability), pouco utilizado hoje pelas empresas.

Com o desemprego em alta, a tendência é de aumento no número de ações trabalhistas, sendo que muitas delas tendem a incluir as questões cobertas pelo EPL.

Trata-se de um seguro que protege contra reclamações por danos morais e assédio, com apólices que podem ser individuais ou coletivas. “É um seguro pouco conhecido no mercado brasileiro, mas que tem gerado demanda em função do momento atual”, afirma Perondi.

A base ainda é pequena, mas número de apólices negociadas na corretora pulou de cinco para nove em questão de dias no fim do ano.

“Sem dúvida que a demanda [por essa linha] vai ser muito forte”, afirmou Perondi. “A crise vai ajudar a impulsionar esse mercado.”

A corretora diz que também irá reforçar o trabalho nas linhas mais clássicas.

“A estratégia para 2016 é buscar novos mercados e expandir para novos clientes”, disse Márcio de Araújo, gerente técnico de transportes da Lockton. “Estamos com uma equipe muito focada nas vendas.”




Corrupção em alta deixa seguro D&O mais caro e rigoroso

O estouro dos casos de empresas envolvidas com corrupção, dos quais a operação Lava Jato é o mais emblemático e atual, fez aumentar a sinistralidade do seguro D&O (Directors and Officers) e alterou o perfil do produto, voltado para proteção dos executivos das empresas.

Segundo especialistas reunidos em painel sobre o seguro e a aplicabilidade da Lei Anticorrupção no XI Seminário Internacional de Gestão de Riscos e Seguros, em São Paulo, o seguro ficou mais caro para algumas empresas, a subscrição está mais rigorosa e mudaram os limites das coberturas.

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Além disso, as seguradoras começaram a aplicar mais exclusões e franquias mais elevadas, aumentou o foco sobre o compliance dos tomadores, e estão surgindo algumas novidades na gestão do produto.

O maior impacto para os compradores do seguro recai sobre empresas estatais e aquelas que têm relações com estatais, além das empresas com histórico de sinistros.

Nesse processo, o subscritor de D&O ganhou mais preponderância e responsabilidade, e as seguradoras estão cobrando muito mais informações do tomador do seguro.

“Estão perguntando mais e precificando de forma diferente”, disse Celso Soares Júnior, responsável pelas linhas financeiras da seguradora Zurich.

Medidas de proteção

Soares diz que se busca conhecer de maneira detalhada como está estruturado o programa na empresa, como funciona o canal de denúncias, se há política anticorrupção, se há treinamento nessa área para os funcionários, entre outras coisas. “Percebemos que muitas empresas falham nesses itens”, disse ele.

“Acredito quer a subscrição vai ficar muito mais personalizada”, completou Álvaro Igrejas, diretor de grandes riscos da corretora Willis.

De acordo com Igrejas, a expectativa é que a fase atual do D&O irá desembocar num maior envolvimento da alta direção das empresas nos assuntos de compliance e gestão de riscos. Além disso, a tendência é que os procedimentos internos passem a ser melhores, com análise periódica e avaliação de riscos, canais de denúncias e controles internos.

A advogada Márcia Cicarelli, do escritório Demarest, lembrou que o D&O é uma importante ferramenta de proteção dos executivos, mas não é a única. “O seguro é complementar”, afirmou.

De acordo com ela, outras formas de proteger a empresa e o board, evitando práticas nebulosas, é limitar o poder dos executivos, produzir atas claras do conselho de administração e utilizar as confort letters (mecanismo pelo qual a empresa assume responsabilidade de seus executivos, desde que eles ajam de acordo com a legislação e as regras da companhia).

Ela lembrou que programas efetivos de compliance têm potencial de reduzir em até 50% os casos de corrupção numa companhia. E deu números para o tamanho do problema no Brasil.

Citando como fonte reportagem do Valor Econômico, lembrou que a corrupção consome 2,3% (ou cerca de R$ 95 bilhões) do PIB brasileiro e que 15% dos executivos do país se disseram dispostos a pagar propina para viabilizar algum negócio.

Sinistros

A sinistralidade no seguro D&O passou de 32,30% em 2013 para 53,50% em 2014, com prêmios na ordem de R$ 230 milhões e R$ 227 milhões. Este ano,  caiu (até outubro), para 36%, mesmo com os vários casos decorrentes das ações do Ministério Público.

O motivo, no entanto, é técnico.  Igrejas explica que os sinistros foram retirados das reservas das seguradoras porque nos processos que ainda estão em andamento.

As seguradoras também estão trabalhando com versões diferentes para as cláusulas de exclusão, disse Soares.

Entraram no circuito itens como exclusão absoluta, pagamento de custos com defesa só depois de a ação judicial ter sido finalizada, além de sublimites para cobertura dos custos. “A inversão de pagamento está supercomum hoje”, disse Soares.

Novidades

Também surgiram algumas novidades no mercado, como a possibilidade real de o Brasil vir a ter a chamada delação remunerada.

Trata-se de um instrumento comum nos Estados Unidos, pelo qual quem denúncia uma irregularidade pode receber 2% do que a empresas deixou de ter de prejuízo.

“Acho que logo vai ter no Brasil”, disse Álvaro Igrejas, diretor de riscos corporativos da corretora Willis.

Outra novidade são estudos especiais para empresas que passam por recuperação judicial, desdobramento da Lava Jato.