Resseguro cresce, mas rentabilidade ainda é desafio
- 1105 Visualizações
- Oscar Röcker Netto
- 25 de maio de 2015
- Sem categoria
Setor teve forte crescimento após abertura, apesar de restrições implementadas em 2010
Passados sete anos do fim do monopólio do resseguro, o Brasil tem um mercado mais dinâmico, fruto de um acentuado aumento no número de empresas e uma mão-de-obra altamente qualificada. Mas ainda há diferenças bastante acentuadas em termos de rentabilidade das empresas parti-cipantes no mercado.
Essas são algumas das conclusões de um estudo elaborado pela Rating de Seguros a pedido da resseguradora Terra Brasis. A base do levantamento são os dados publicados pela Susep (Superintendência de Seguros Privados), até 2014.
“Analisando historicamente e de maneira bem objetiva, o resultado (da abertura) é bem positivo”, disse à Risco Seguro Brasil o consultor Francisco Galiza, responsável pelo estudo. Ele lembrou que o fim do monopólio ocorreu num momento, em 2008, em que a economia mundial estava em crise. “Teve esse percalço e mesmo assim o setor conseguiu triunfar.”
Para os próximos anos, Galiza acredita na continuidade do crescimento, que será influenciado pelo desempenho geral da economia e especialmente das empresas de seguro. Outro ponto destacado pelo consultor diz respeito à estabilidade do que o mercado chama de “arcabouço regulatório” — em outras palavras, as leis do setor.
Segundo ele, regras estáveis são um fator importante para o desenvolvimento do mercado de res-seguros. “Mas isso não vale só para o seguro”, disse Galiza. “Estabilidade é sempre estimulante para novas empresas.”
Desenvolvimento
O estudo lembra que os principais objetivos da quebra do monopólio foram o aumento da capacidade do mercado ressegurador brasileiro e a dinamização do setor, com novos produtos, a aplicação de práticas internacionais, mais qualificação profissional e mais empregos.
Houve evolução nesses itens, segundo o levantamento. O número de resseguradoras que operam no Brasil, por exemplo, mais que triplicou, passando de 40 em 2008 para 123 em 2014, entre locais, admitidas e eventuais.
O ano de 2010 representou um divisor de águas neste curto espaço de tempo pós-abertura. Apesar das polêmicas causadas por medidas do governo que restringiram a liberalização do mercado, a partir daquele ano os números do resseguro deram um salto.
Os prêmios emitidos aumentaram de R$ 4,5 bilhões para R$ 9,2 bilhões, chegando a 10,2% dos prêmios de seguro emitidos no país. Em ambos os casos, o crescimento a partir de 2010 foi contínuo.
Naquele ano, resoluções do Conselho Nacional de Seguros Privados passaram a exigir que pelo menos 40% do contrato fosse oferecido primeiramente a uma resseguradora local. Também foram criadas restrições ao repasse de contratos de resseguro para empresas de um mesmo grupo.
As medidas causaram alvoroço. Críticos disseram que elas limitavam o mercado, enquanto seus defensores elogiaram a preservação das empresas nacionais.
Posteriormente, o governo concedeu que 20% dos prêmios possam ser repassado a empresas de um mesmo grupo sediadas no exterior.
Mais produtos
As resoluções foram aplicadas logo após uma acentuada queda na participação das resseguradoras locais no faturamento geral do setor. Elas saíram de um patamar próximo a 90% do faturamento total em 2009 para menos de 50% em 2010. Após as medidas, as locais recuperaram algo do terreno perdido, ficando atualmente com uma parcela de cerca de 70%.
A receita obtida pelos diferentes ramos mostra que as resseguradoras conseguiram nos últimos anos uma certa diversificação e aumentaram sua penetração em alguns setores da economia.
O estudo da Terra Brasis mostra que o ramo patrimonial representa a maior fatia dos resseguros, com 34% dos prêmios em 2014 (contra 38% em 2012). O seguro agrícola teve um salto, passando de 7% para 12%. Já o ramo de riscos financeiros saiu de 10% para 11%, o de responsabilidades passou de 5% para 6%, enquanto o de transportes manteve seus 9% de participação.
Rentabilidade variável
O IRB Brasil RE, a empresa agora privatizada que até 2008 detinha o monopólio estatal do setor, é de longe a principal resseguradora do Brasil. Com quase a metade (49%) das receitas obtidas por todas as resseguradoras locais, a empresa é responsável por entre 80% e 90% do lucro no setor, graças a margens de rentabilidade significativamente maiores do que as da concorrência, aponta o levantamento.
A rentabilidade média entre todas as resseguradoras locais varia de 5% a 15% ao ano. Mas, se o IRB Brasil for excluído dessa conta, a média fica entre -5% e 5%.
O IRB Brasil garante sua rentabilidade pelos resultados de sua carteira de seguros e também gra-ças a ganhos tributários obtidos em anos recentes.
Seus concorrentes, porém, têm apresentado mais dificuldades para obter lucros. Dados da Susep compilados pela Terra Brasis mostram que, em 2013, um período de sinistralidade desfavorável para o setor, 9 de 14 resseguradoras locais fecharam o ano no vermelho. No ano passado, o número caiu para 5 entre 16 companhias.
Mão-de-obra
O nível de escolaridade do pessoal que trabalha com resseguro no Brasil surpreendeu o consultor. Um total de 90% dos profissionais que trabalham nas resseguradoras locais têm nível superior, e 49% completaram cursos de pós-graduação.
As 24 resseguradoras locais e admitidas que responderam ao questionário da Rating de Seguros somam 699 funcionários. O IRB Brasil é o maior empregador, com 371 colaboradores. Fora ele, pode-se dizer que uma resseguradora local típica tem de 20 a no máximo 30 funcionários; uma admitida tem entre três e cinco funcionários — sendo que 27% deles ocupam cargo de direção.
- Brasil 97
- Compliance 66
- Gestão de Risco 200
- Legislação 17
- Mercado 247
- Mundo 102
- Opinião 25
- Resseguro 105
- Riscos emergentes 10
- Seguro 198