Internacionalização exige gestão de riscos integrada
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- Rodrigo Amaral
- 25 de maio de 2015
- Sem categoria
Para Andrea Almeida, diretora da Vale, área enfrenta novas demandas, mas vive oportunidade de expansão

A gestão de riscos teve um desenvolvimento acelerado na última década no Brasil graças ao processo de internacionalização das empresas brasileiras e pode ganhar um novo impulso com casos de corrupção como o escândalo da Petrobras.
Essa é a visão de Andrea Almeida, diretora de Gestão de Risco Corporativo da Vale, terceira maior mineradora do mundo. Para ela, o perfil de risco das empresas brasileiras está mudando na medida em que elas se integram cada vez mais na economia global.
“A gerência de riscos tem se desenvolvido muito entre as grandes empresas brasileiras nos últimos anos”, diz Almeida em entrevista exclusiva à Risco Seguro Brasil. “Várias companhias que são listadas [em bolsa] lá fora tiveram o incentivo de se adaptar a normativas internacionais, como a lei Sarbanes-Oxley nos Estados Unidos, que exigem que a gerência de riscos seja implementada de uma forma mais efetiva.”
A Vale é um exemplo ilustrativo deste processo. As atividades internacionais da empresa cresceram de forma acelerada nas últimas duas décadas. Uma das consequências dessa evolução foi a constatação de que é preciso integrar as atividades de gerência de riscos para reduzir as exposições enfrentadas pela companhia em seus vários mercados.
Por um lado, há risco de caráter legal, já que regras dos mercados de capitais em diversos países têm posto cada vez mais ênfase na gestão de riscos e na responsabilização dos dirigentes em caso de problemas causados por atividades empresariais.
Mas as empresas brasileiras globalizadas também enfrentam no exterior uma série de riscos que não são parte de seu dia-a-dia no mercado local. Um caso típico é o dos terremotos e furacões que frequentemente atingem partes da América Latina e os Estados Unidos. Outro exemplo é o terrorismo.
“Na medida em que as empresas se expandem no exterior, elas enfrentam uma série de novos desafios que fazem com que a gestão integrada de riscos tenha muito sentido”, afirma Almeida.
Histórico
A área de gestão de riscos da Vale está integrada em uma unidade independente desde 2004, ano em que Almeida assumiu a diretoria, que se reporta diretamente ao CFO (Chief Financial Officer) da empresa. Outros grupos que tiveram seu processo de globalização acelerado nos anos 2000 vivem um fenômeno semelhante, e, segundo ela, empresas de menor porte também começam a prestar mais atenção ao tema.
O progresso da gerência de riscos às vezes é resultado de acidentes sofridos pelas empresas. Algumas perdas de grande porte incentivaram empresas a levar o tema mais a sério. Foi o caso do uso de derivativos para fins especulativos em 2008, que rendeu ações de responsabilidade contra dirigentes de grandes empresas brasileiras. E um novo impulso deve ser dado pelo escândalo da Petrobras, que está ressaltando a importância da gestão de riscos e de compliance no setor produtivo.
“A Lei Anticorrupção e a perspectiva de que empresas podem perder bilhões de reais devido a casos de corrupção podem motivar a implementação de sistemas de gerência de riscos mais parrudas”, diz Almeida. “Mas para evitar eventos como o que a Petrobras está sofrendo é necessário também ter um canal de denúncias eficiente, além de uma estrutura por trás deste canal que funcione de forma eficiente.”
Muitas empresas enfrentam falta de capacidade para desenvolver uma área de gestão de riscos digna do nome. Mas, segundo Almeida, hoje já é possível encontrar no Brasil tecnologia e conhecimento para implementar um programa com as características corretas. Dez anos atrás, os mercados internacionais eram virtualmente a única fonte de informação para os profissionais do setor. No caso da Vale, a experiência na Austrália foi muito produtiva. Forte em mineração, o país já tinha uma gestão de risco bastante avançada quando a empresa chegou por lá.
Desafios
Almeida ressalta porém que o setor continua enfrentando uma série de desafios no Brasil. Um deles é a conscientização dos conselhos de direção, que, assim como em outras partes do mundo, nem sempre colocam a gestão dos riscos corporativos entre as suas prioridades — situação que aos poucos está mudando no país.
“Cada vez mais os conselheiros estão entendendo que eles têm uma responsabilidade pelo que acontece de negativo dentro da empresa. E isso tem aumentado o interesse pela gestão de riscos”, afirma ela. “O desafio é definir como o gestor de riscos deve apresentar o seu caso ao conselho de administração. Entidades como o IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) estão procurando orientar os conselheiros a compreender melhor o tema e até a fazer as perguntas certas ao gerente de risco. Mas é complicado explicar de forma resumida os resultados das análises que o gerente de risco faz.”
Outro desafio comum com o de mercados avançados, ainda que mais evidente no Brasil, é a dificuldade de encontrar as pessoas certas para trabalhar em uma área extremamente abrangente e que exige conhecimentos técnicos em várias disciplinas.
“É difícil encontrar profissionais adequados para as necessidades de cada empresa. Por isso nós treinamos os nossos gestores de riscos in house,” conta Almeida. “Nós buscamos, por exemplo, profissionais com doutorado que possuem uma forte base técnica a partir da qual é possível desenvolver as habilidades de que a empresa necessita. É uma estratégia que tem tido muito sucesso.”
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