Para IBGC, criação do CRO é boa prática de governança
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- Rodrigo Amaral
- 11 de dezembro de 2015
- Sem categoria
Gestor de riscos com alto nível hierárquico já é comum nos Estados Unidos; pesquisa mostra que função pode impulsionar ERM nas empresas
A adoção do Chief Risk Officer, CRO, constitui uma boa prática de governança das empresas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa.
Figura já comum nos Estados Unidos, onde vem se proliferando com rapidez desde o início da crise financeira de 2008, a presença do CRO significa, no mínimo, a consolidação da gestão de riscos como um das prioridades da organização.
“É uma boa prática, com certeza. É uma forma de dizer que a gestão de riscos está no topo”, disse Eliane Lustosa, vice-presidente do Conselho de Administração do IBGC, em entrevista à Risco Seguro Brasil.
Mais importante que o título, a relevância do CRO está em sua posição hierárquica dentro da empresa. Como membro da diretoria, ele frequentemente se reporta diretamente ao CEO ou presidente, ajudando a manter a gestão de riscos na ordem do dia.
“Ao trazer à diretoria esta função, a empresa mostra a sua preocupação com o tema”, disse Lustosa.
“É importante que a alta administração tenha esta cultura, que ela seja transmitida para toda a empresa. A empresa precisa ver que a diretoria está identificada com a gestão de riscos, e que os processos necessário estão no lugar adequado. É a conjunção destes dois fatores que garantem o bom andamento da gestão de riscos.”
Estados Unidos
A adoção do CRO como um propulsor de política de gestão de risco empresarial (ERM, na sigla em inglês) vem se tornando cada vez mais comum nos Estados Unidos, mercado onde a gestão de riscos está mais avançada no mundo.
De acordo com a RIMS, a associação americana de gestores de risco, ainda que nem todos seus membros disponham deste título, vários outros possuem cargo de diretoria com uma posição hierárquica e atributos similares aos do CRO.
Pesquisa feita pela consultoria Accenture em 2013 com 446 empresas americanas concluiu que 96% delas possuíam um CRO ou um diretor com cargo equivalente, comparado com 78% em 2011.
O resultado pode parecer mais significativo do que é na realidade, porém, já que quase metade das companhias pesquisadas atuavam no setor financeiro, onde a função, por motivos regulatórios, é mais comum.
O CRO começou a aparecer nos grupos empresariais americanos na década de 1990. De acordo com a The Economist Intelligence Unit, o primeiro profissional com este título foi James Lam, da GE Capital, em 1993.
Fora dos Estados Unidos, a função é menos disseminada, ainda que gestores estejam gradualmente galgando posições na hierarquia das corporações em países como Reino Unido, Alemanha e França.
Em editorial publicado nesta semana, a Risco Seguro Brasil defendeu a adoção do CRO pelas empresas brasileiras para sinalizar seu comprometimento com a gestão de riscos, com o objetivo de reverter o descrédito enfrentado pelas políticas de compliance e de prevenção de acidentes atualmente no país.
Há fortes indícios de que a medida funciona. Em estudo publicado no International Business & Economics Research Journal, pesquisadores de universidades da Malásia concluíram que a indicação de CROs tem um efeito poderoso sobre a implementação de programas de ERM em empresas cotadas na bolsa do país.
Função difusa
Diferentemente de outros diretores cujas responsabilidades são bastante padronizadas, como o Chief Financial Officer (CFO) ou o Chief Legal Officer (CLO), o CRO tem uma função bastante difusa, o que é característico da gestão de riscos.
O principal objetivo das empresas que dispõem de tal executivo é expandir a gama de riscos geridos de forma eficiente, promovendo a utilização de ferramentas como a matriz de riscos para identificar as principais ameaças que enfrenta.
Além disso, a centralização da função ajudar a ver que alguns riscos atingem vários departamentos, mas sua transcendência permanece ignorada porque cada setor da empresa os trata individualmente.
Como a função vem se desenvolvendo, porém, mais do que um sujeito responsável pela implementação de processos de identificação, mitigação e transferência de riscos, o CRO tem se consoliado como um coordenador ou facilitador que procura disseminar a cultura da gestão de riscos por toda a organização.
Em um paper publicado pela Harvard Business School, Anette Mikes, professora da Universidade de Lausanne, na Suíça, argumenta que, mais do que empurrar métodos e manuais goela abaixo dos gerentes e empregados, o CRO deve se dedicar a tornar a gestão de riscos um tema das conversas diárias dos variados departamentos da empresa.
Ao estudar o trabalho dos CROs de uma empresa canadense e uma americana, Mikes concluiu que o principal talento demonstrado pelos profissionais da área pode muito bem ser a capacidade de criar redes de relacionamento informais com outros executivos e chefes de departamento no interior da empresa. Assim é possível introduzir as discussões sobre gestão de riscos dia-a-dia da empresa.
Governança
O que parece inadiável, de qualquer maneira, é que as empresas brasileiras passem a dar uma importância cada vez maior à gestão de riscos, especialmente após casos que revelaram deficiências graves na área, como a tragédia de Mariana (MG) e a Operação Lava Jato.
Isso requer profissionais com conhecimentos e dedicados à área não apenas na diretoria, mas também no conselho das empresas.
Na recém-lançada 5ª edição do Código de Melhores Práticas, o IBGC inclui entre as reponsabilidades dos conselheiros “assegurar que a gestão identifique, mitigue e monitore os riscos da organização, bem como a integridade do sistema de controles internos”.
Por esse motivo, entre as dez características e competências exigidas dos conselheiros se encontram os “conhecimentos sobre o gerenciamento de riscos”.
“O conselheiro deve poder fazer as perguntas que lhe ajudem a entender se os processos existem, e se há um processo para a gestão de uma situação de risco”, afirmou Lustosa.
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