No Brasil e no mundo, mineradoras compram pouco seguro
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- Rodrigo Amaral
- 4 de abril de 2016
- Sem categoria
Relatório da Marsh aponta que coberturas baixas, como no caso da Samarco, são comuns no setor, apesar de sobrar capacidade
Empresas de mineração continuam comprando baixos níveis de cobertura e usando pouco a capacidade de seguro no setor, apesar de estarem expostas a perdas de enorme valor, como mostrado pelo caso Samarco no Brasil.
Esta é uma das conclusões de um relatório sobre as coberturas de seguro no setor elaborado pela corretora Marsh.
A empresa afirma que o setor continua dispondo de elevados níveis de capacidade, e que os preços das coberturas estão caindo de maneira global. As quedas de tarifa chegaram a uma média 14% no ano passado.
No Brasil, porém, devido à crise econômica e a uma alta na sinistralidade, cujo ápice foi a tragédia de Mariana, os compradores têm enfrentado um endurecimento das condições e tarifas mais altas, especialmente no que diz respeitos às barragens de contenção de resíduos.
“O setor está passando por um ajuste na subscrição dos riscos de mineração, onde já tínhamos um mercado com poucas alternativas quanto a seguradoras e resseguradores”, disse Wellington Zanardi, o líder da prática de Mineração da Marsh Brasil.
“Os processos estão sendo analisados caso a caso e estamos tendo sucesso nas negociações, apesar de haver uma alteração com relação a disponibilização de sublimites como quebra de máquinas e barragens, bem como o ajuste para cima de algumas franquias.”
Maior cautela
Uma das tendências observadas no mercado brasileiro é que as seguradoras estão mais rigorosas com respeito aos riscos que estão tomando.
“Temos identificado que os mercados estão mais cautelosos e exigentes com relação a subscrição, não somente por conta do ocorrido com a Samarco, mas também por alguns sinistros anteriores e a revisão local de política de aceitação de riscos de algumas seguradoras que mantinham forte presença no setor”, disse Zanardi.
Segundo ele, os subscritores não chegam a rejeitar os riscos de forma antecipada, mas tendem a realizar análises mais cuidadosas, especialmente daqueles que são vistos como de maior potencial de perdas.
“Não identificamos a restrição generalizada, porém temos encontrado dificuldades de renovação dos limites para cobertura de barragens e a revisão de franquias relativas às coberturas com exposição de severidade”, afirmou.
Um segmento em particular em que o setor segurador está pensando duas vezes antes de atender as empresas de mineração é o da responsabilidade ambiental, segundo Zanardi.
“Existe a disponibilidade deste produto para o setor, mas o Brasil ainda caminha devagar na ampliação do mesmo onde poucas seguradoras oferecem o produto, e fica ainda mais limitado quando falamos em mineração”, afirmou. “Os limites atuais praticados pelas seguradoras locais em seus contratos também são muito limitados quando comparamos a eventos catastróficos.”
Pouco seguro
Uma das conclusões a que se pôde chegar na tragédia de Mariana era que a Samarco havia contratado coberturas de seguro que nem de longe cobriam os riscos relacionados com a barragem do Fundão, em Minas Gerais, cujo rompimento em novembro matou 19 pessoas, além de causar extensa destruição de propriedades e danos ecológicos.
De acordo com a Marsh, porém, a subcontratação não é uma característica restrita à Samarco, ou mesmo às mineradoras brasileiras.
A corretora fez um levantamento junto a clientes de todo o mundo que trabalham no setor de mineração e chegou a resultados considerados “desencorajadores” pela companhia.
Segundo a corretora, 89% dos clientes compram limites de indenização de até US$ 200 milhões para danos de responsabilidade em suas operações, apesar de haver capacidade no mercado para chegar facilmente a US$ 1 bilhão.
A tragédia de Mariana mostrou o quanto esses números são insuficientes, uma vez que as indenizações a serem pagas pela Samarco e suas acionista (Vale e BHP Billiton) devem atingir vários bilhões de dólares.
Mercado brando
A Marsh afirma que o caso Samarco foi significativo no mercado, mas não o suficiente para alterar as tendências globais do seguro para mineradoras.
O setor conta com abundância de capacidade, e as seguradoras estão fazendo um esforço para manter seus clientes em uma conjuntura de queda de preços das commodities e lucros declinantes.
Isso vale especialmente para riscos patrimoniais, em que os preços caíram em média 14% no ano passado, enquanto que a capacidade oferecida aos clientes aumentou 11%.
Já os riscos de responsabilidade apresentaram uma oferta de capacidade estável, com os preços apresentando reduções modestas em âmbito global.
Em algumas regiões de alto risco, como os Estados Unidos, as tarifas de seguros de responsabilidades contratadas pelas mineradoras até apresentaram algum aumento.
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