Informação sobre terrorismo é vital para funcionário expatriado
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- Rodrigo Amaral
- 26 de janeiro de 2016
- Sem categoria
Empresas com trabalhadores no exterior precisam estar preparadas para auxiliar e serem transparentes sobre o risco, que é cada vez mais difuso
O terrorismo jamais foi uma preocupação corrente para as empresas brasileiras. Mas, na medida em que suas atividades se globalizam, é preciso estar preparado para ter de lidar com este problema na hora de enviar funcionários para o exterior.
De fato, nos últimos anos, os ataques terroristas deixaram de se concentrar apenas em países marcados por conflitos civis e religiosos, como a Síria, o Líbano e o Iraque. Os dois ataques em Paris em 2015 reforçaram a percepção de que o terror pode agir em qualquer lugar, obrigando as empresas a lidar com seus efeitos .
Isso vale mesmo que a sede física da companhia não seja afetada por bombas ou tiros, já que as consequências do terrorismo sobre os trabalhadores podem ser tanto diretas quanto indiretas.
Nos últimos anos, psicólogos identificaram uma maior incidência de transtornos de estresse pós-traumático e depressão em cidades que foram alvo de explosões, como Londres e Madri, mesmo entre em pessoas que não presenciaram nem foram vítimas dos ataques. O problema é especialmente sentido logo após a ocorrência do evento.
Em Israel, pesquisadores associaram o temor de ataques terroristas ao burnout profissional, agravado especialmente pela insônia.
Portanto, ao enviar funcionários ao exterior, uma empresa deve estar preparada para prestar auxílio material e psicológico para seus funcionários caso o pior venha a acontecer.
Dinheiro não resolve
O tema é estudado por Benjamin Bader, um pesquisador alemão especializado na expatriação de trabalhadores para regiões com elevado risco de terrorismo. Em suas pesquisas, ele e seus colegas chegaram a pelo menos duas conclusões.
Uma, a de que não adianta tentar comprar a valentia dos funcionários com dinheiro. “Salários mais elevados não ajudam as pessoas a vencer este tipo de sentimento”, disse o professor da Leuphana University à Risco Seguro Brasil.
Outra conclusão é que tentar dourar a pílula minimizando os riscos envolvidos tende a trazer resultados muito piores no médio e longo prazo.
“As pessoas dizem que querem uma avaliação honesta, por parte de suas empresas, dos riscos a que elas estarão expostas”, afirmou.
Bader desenvolve suas pesquisas em regiões onde o risco de terrorismo é bastante evidente, como o Iraque e o Afeganistão.
Ele afirma que o cuidado das empresas com a saúde mental de seus funcionários começa já na seleção dos candidatos a expatriação para locais de alto risco.
“Algumas pessoas reagem melhor do que as outras a uma maior exposição ao terrorismo”, disse Bader. Há até quem chegue a racionalizar a situação para enfrentar melhor a situação.
“Alguns anos atrás, entrevistando funcionários de multinacionais no Iraque, conversei com alguns que argumentaram que o risco de morrer lá em um acidente de automóvel era maior do que ser vítima de um ataque a bomba”, relatou o especialista.
Cortina de fumaça
Ele também disse que empresas algumas vezes afirmam que, se abrirem demais o jogo sobre os riscos de terrorismo inerentes a um país, não conseguem convencer ninguém a se mudar para lá.
O argumento, na opinião do especialista, não é válido, e a empresa precisa oferecer a informação mais completa e a maior segurança possível para um expatriado. Se o risco é alto demais para mencionar, a empresa não deve ir para tal país.
Bader também trabalha com expatriados que são enviados a lugares onde o risco de terrorismo é real, mas menos presente no noticiário, como a Mauritânia e a fronteira da Índia com o Paquistão.
Segundo ele, o que é visto de longe, mas não é óbvio, logo se torna uma realidade incômoda para o trabalhador que é enviado para o lugar sem a devida informação.
“Parece que é uma prática comum por parte das empresas enviar trabalhadores a esse tipo de lugar sem prepará-los para o perigo”, afirmou.
“Mas as pessoas não são estúpidas. Elas não levam muito tempo para entender o que está passando, e então se sentem traídas pela companhia.”
Longe de casa
Claro que ninguém está argumentando que enviar trabalhadores para Paris, Boston ou Istambul, para citar cidade que foram alvos de ataques recentes, seja tão perigoso quanto manter um escritório em Cabul ou Bagdá.
Mas os especialistas na área notam que uma das estratégias de grupos como o Estado Islâmico tem sido o de tornar o terrorismo uma ameaça difusa, que faz com que as pessoas se sintam menos seguras quando não estão próximas de casa.
Para vencer esta insegurança, uma das recomendações de Bader é de prover os funcionários expatriados com oportunidades frequentes de pegar um vôo de volta para o país de origem e passar um período de tempo com a família, a fim de reforçar seu sentido de segurança.
Ele também notou, entre os trabalhadores que estuda, que as redes sociais possuem um efeito muito mais reconfortador para os estrangeiros que vivem em lugares de alto risco do que em cidades onde há uma maior percepção de segurança.
Isso porque, por meio das redes, as pessoas conseguem trocar informações a respeito dos riscos envolvidos e aprender de outros expatriados macetes para evitar as situações de perigo. Mais um sinal de que o acesso à informação é uma importante ferramenta para os trabalhadores expatriados conseguirem lidar com o risco de terrorismo.
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