Gestão de risco rodoviário revela 'mapa do inferno' no Brasil
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- Oscar Röcker Netto, em São Paulo
- 26 de novembro de 2015
- Sem categoria
Problemas incluem roubos de cargas pelo crime organizado, excesso de acidentes com caminhões e mau estado das estradas, dizem especialistas
O Brasil tem uma matriz de transporte de cargas majoritariamente rodoviária, alto volume de acidentes com caminhões, infraestrutura precária na maior parte das estradas e um dos piores índices de roubo de cargas do planeta, fomentados por quadrilhas altamente especializadas — quadro que torna o gerenciamento de riscos no setor um desafio, no mínimo, robusto.
“O mais difícil para o gestor de risco é levantar o mapa do inferno que a gente vive”, disse Salvatore Lombardi Jr, diretor de Transportes da Argo Seguros, em painel do III Congresso Latino Americano de Seguros de Transportes e Cascos, realizado em novembro em São Paulo.
“A desgraça está instalada, mas há uma luz no fim do túnel”, avaliou Guilherme Brochmann, diretor de riscos e seguros no Brasil e América do Sul de uma das maiores empresas de logística mundiais, a DHL.
Luz que pode ser observada pelos resultados obtidos pela Samsung no Brasil. Uma das maiores movimentadoras de carga do país, a empresa conseguiu reduzir de maneira expressiva o problema com roubo, como mostrou Paulo Seoane, gestor de riscos da empresa.
Do alto desses resultados e da experiência internacional da empresa, ele diz: “O Brasil é um dos países mais difíceis do mundo para transportar carga”. (Clique aqui e leia mais)
O trabalho das empresas é mais do que necessário, principalmente levando-se em conta o histórico subinvestimento feito pelo governo para melhoria da infraestrutura viária do país, conforme apontaram os especialistas no painel.
Meio complicado
Segundo cálculo de Brochmann, com base nos dados oficiais, todos os meses os roubos e assaltos de carga nas estradas causam um prejuízo médio de R$ 100 milhões. Num mapa global, elaborado pela Freight Watch International, o país tem um “nível severo” (o mais alto) do problema, ao lado de Síria, África do Sul e México.
São Paulo e Rio de Janeiro concentram a maioria dos casos, com 80% das ocorrências registradas, de acordo com o especialista.
A ação das quadrilhas segue a lógica da oferta e procura: no final do ano, a atividade cresce para abastecer o mercado paralelo, que terá mais demanda para o Natal.
Ao longo do ano, normalmente o crime aumenta no fim dos meses. “O crime é, literalmente, organizado”, afirmou Alfredo Zattar, diretor da Open Tech, empresa catarinense de segurança de transporte. “A distribuição dos produtos roubados funciona tão bem quanto a das empresas formais.”
De acordo com ele, só 15% da frota de caminhões possui dispositivos de rastreamento no país — o que, além de diminuir a proteção, significa um mercado amplo a ser explorado por companhias como a dele.
O rastreamento, no entanto, pode, em alguns casos não ser útil, principalmente se a carga for roubada no Rio de Janeiro. “É um pedaço a parte do país”, afirma Brochmann.
Há casos em que localizadores mostram onde está a carga roubada, mas, como se trata de região controlada por traficantes, a polícia simplesmente não vai até lá para recuperá-la.
Nessas regiões, mesmo as entregas regulares — de encomendas — precisam de autorização dos bandidos. “Se não paga, não entra. E ainda corre o risco de ter o veículo queimado”, diz o diretor da DHL.
A atuação dos bandidos ocorre na maioria das vezes mais perto das cidades. Segundo Brochmann, 80% dos roubos ou assaltos são feitos nas áreas urbanas, enquanto 20% são realizados nas estradas.
Crash-test
Além dos crimes, o setor convive com outra situação grave: os acidentes com caminhões.
Com base nos números oficiais, Brochmann relata que eles causam prejuízos 15 vezes superiores aos roubos — ou cerca de R$ 1,5 bilhão por mês.
A situação das estradas não é a única causa, mas contribui para os acidentes. “Temos a segunda maior malha das Américas e a pior em estrutura”, disse Brochmann.
O país tem 1,7 milhão de quilômetros de estradas, dos quais 200 mil são pavimentados. Desses, cerca de 110 mil estão em bom estado, detalha o especialista. “Ou seja, só 6% das estradas estão em bom estado.”
Essa situação destoa do peso que o modal rodoviário tem no país, sendo responsável por 66% do transporte de cargas
A circulação dos cerca de 2,5 milhões de caminhões no Brasil resulta em aproximadamente 250 mil acidentes por ano, o que dá uma média diária de quase 685 acidentes todos os dias.
“Os números não são bons”, diz Zattar. “O mercado vai colapsar se não tomarmos cuidado.”
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