Estados Unidos são desafio para programas globais de seguros
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- Rodrigo Amaral, em Madri
- 18 de dezembro de 2015
- Sem categoria
Experiência de empresas espanholas mostra que regularização de sinistros pode ser difícil em países anglo-saxões
As empresas brasileiras estão se globalizando e, consequentemente, començam a desenvolver seus programas globais de seguros.
Esses programas reúnem sob um mesmo guarda-chuva as coberturas de seguro válidas para vários países. Prática comum nos Estados Unidos ou na Europa, apenas desde 2010 o mercado começou a oferecer programas cuja apólice principal pode ser gerida a partir do Brasil.
Mas a gestão internacional é uma tarefa complexa e que, além de ganhos de eficiência, pode trazer dores de cabeça para as empresas. Por isso é importante aprender com quem já passou pelas dificuldades envolvidas no processo.
Em novembro, um animado debate em Madri tratou com detalhes de um desses problemas: as complicações envolvidas no processo de sinistros que acontecem em países estrangeiros cobertos por um programa internacional.
Gestores de riscos, corretores, seguradores e peritos espanhóis focaram a discussão nos países anglo-saxões durante um encontro da Igrea, a associação de gestão de riscos da Espanha. Segundo eles, coberturas locais contratadas nos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália, entre outros, podem originar severos atrasos no pagamento de sinistros, acionar cláusulas indevidas ou resultar em outros tipos de problemas que uma empresa não quer ter de enfrentar quando sofre uma grande perda.
“A maneira espanhola de organizar um programa internacional funciona aceitavelmente bem em todo o mundo, exceto nos mercados anglo-saxões”, disse José Caraballo, o CEO do grupo de peritagem RTS na Espanha.
Estados Unidos
Considerando que o mercado de seguros global é em grande medida regido pelas regras criadas a partir de Londres, e que os Estados Unidos abrigam a indústria de seguros corporativos mais desenvolvidas do planeta, pode soar como uma surpresa que tais países gerem problemas para programas globais.
As empresas espanholas, no entanto, que aceleraram seu processo de internacionalização nos anos 2000, aprenderam na prática que isso é justamente o que pode acontecer.
Um dos mercados mais visados por elas é o dos Estados Unidos, onde a expertise espanhola em áreas como a construção, a energia e as concessões públicas vem encontrando um vasto ramo de aplicação.
Mas elas também descobriram que as regras de seguros nos Estados Unidos são bastante complexas, e que é uma péssima ideia ter de resolver um litígio nos tribunais.
Para começar, a legislação americana de seguros é definida em nível estadual, o que significa que há 50 conjuntos de regras diferentes para trabalhar no país. Os especialistas afirmaram que estados importantes para as empresas estrangeiras, como o Texas e a Califórina, estão entre os que têm legislações mais complicadas para os programas internacionais.
Além disso, peritos e seguradores locais, mesmo fora dos grandes centros econômicos, detêm grande autonomia nos processos de regularização de sinistros. Daniel San Milán, presidente da Igrea e gestor de risco da construtora Ferrovial, relatou um caso em que um perito local decidiu que o programa mundial da empresa, por meio da apólice americana, deveria cobrir uma perda que a própria companhia acreditava que não estava coberta pelo seguro.
“Se você não estiver em cima do sinistro, ele pode ser engolido localmente, e o seu programa internacional não terá nenhuma influência no processo”, disse ele.
O pagamento de uma indenização que a proprietária do programa global não esperava é um problema na medida que pode complicar no futuro a renovação do programa ou a organização das coberturas de resseguro, explicaram os participantes do debate.
Ênfase nos contratos
Para evitar problemas, os especialistas disseram que é preciso colocar muita atenção e gastar o tempo necessário para firmar contratos bem feitos e compreensíveis, com uma definição muito clara dos papéis de cada parte envolvida na regularização do sinistro.
Isso significa que, na medida possível, deve-se tentar estabelecer onde começa e termina a responsabilidade de corretores, seguradores, resseguradores e peritos no âmbito das apólices locais integradas ao programa internacional.
Ignacio Almazán, CEO da seguradora RSA na Espanha, lembrou que as seguradoras responsáveis pelas coberturas locais americanas estão proibidas por lei de receber orientações do exterior durante o processamento de um sinistro.
Outro fator importante é que não há legislação nos Estados Unidos que defina o passo-a-passo da regularização de sinistros, apenas códigos de boas práticas que se espera que as seguradoras obedeçam.
Almazán também disse que a comunicação é vital para evitar que surjam controvérsias entre as partes que podem acabar sendo definidas nos tribunais.
“Em termos de litígios judiciais, os Estados Unidos são provavelmente a pior jurisdição”, disse Almazán.
Os Estados Unidos, por seu peso econômico, foram o principal foco dos debates em Madri. Mas os participantes deixaram claro que também há dificuldades na gestão de sinistros cobertos por apólices locais em países como o Reino Unido, a Irlanda e, crescentemente, a Austrália.
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