Alta de juros do Fed ameaça empresas com dívida em dólar
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- Rodrigo Amaral
- 17 de dezembro de 2015
- Sem categoria
Seguradora de crédito prevê aumento de falências e comprometimento da cadeia de suprimentos; Brasil está entre os mais ameaçados
O aumento das taxas de juros nos Estados Unidos deve agravar os riscos para as economias emergentes em 2016, ainda que não de forma a gerar uma crise em larga escala.
A opinião é da Crédito y Caución, seguradora de crédito espanhola, segundo a qual a mudança de rumo na política monetária do Fed representa um desafio especialmente preocupante para empresas endividadas em moeda estrangeira – caso de muitos grupos brasileiros.
O Fed, como é conhecido o banco central americano, anunciou nesta quarta-feira (16/12) que está aumentando sua taxa básica em 0,25 ponto percentual – o primeiro movimento de alta de juros americanos nos últimos sete anos.
Para analistas, a medida não deve trazer grandes conseqüências imediatas para a economia americana, já que a taxa de juros continua próxima a zero, mas sinaliza que o banco central presidido por Janet Yellen está confiante na recuperação da economia americana e que novos aumentos podem acontecer no futuro.
No caso das economias emergentes, o aumento, que já era esperado há mais de dois anos, já está em grande parte precificado nos preços dos ativos financeiros e na desvalorização de moedas como o real.
Ainda assim, os analistas da Crédito y Caución acreditam que a mudança de rumo pode ser suficiente para levar mais investidores a retirar seu dinheiro de economias emergentes, que enfrentam seus próprios problemas econômicos. Mas não deve acontecer nada parecido com os efeitos de outros endurecimentos da política americana, especialmente nos anos 1980 e 1990, quando foram seguidos de graves crises em economias emergentes.
De acordo com a seguradora, o Brasil faz parte do grupo de economias que preocupam devido ao seu alto estoque de investimento externo em ações e títulos da dívida, combinado com uma falta de confiança nas políticas monetárias do governo. Indonésia, Turquia e África do Sul se encontram no mesmo grupo.
Onde está o pepino
O que mais preocupa, de acordo com a seguradora, é a capacidade de pagamento de empresas sediadas em países como o Brasil que assumiram grandes dívida em dólar e outras moedas estrangeiras nos últimos anos.
“A preocupação com a capacidade de pagamento das empresas em países emergentes é um tema em ascenção, especialmente porque elas se endividiram de forma pesada na última década”, afirma a empresa espanhola em seu relatório. “É de se esperar portanto um número crescente de falências de empresas.”
A perspectiva é preocupante não só para investidores, mas também para empresas saudáveis que podem ver suas cadeias de suprimento afetadas por falências, ou ter cada vez mais dificuldades em receber seus pagamentos de clientes claudicantes.
“Empresas que emprestaram dinheiro no exterior e em divisas estrangeiras sem realizar suficiente hedging, e cujo faturamento está sob pressão devido a uma economia que encolhe e/ou devido aos baixos preços das commodities, como no Brasil e na Rússia, estão muito vulneráveis”, afirma a Crédito y Caución em seu relatório.
Muitos fatores
No Brasil, o número de falências e calotes já vem aumentando, uma vez que a situação gerada pelo aumento dos juros americanos é agravada pela crise doméstica e pela forte desvalorização do real contra o dólar, que é a moeda em que muitas dívidas foram feitas nos últimos anos.
Um caso em foco é a Petrobras, cuja dívida cresceu mais de R$ 100 bilhões entre junho e setembro, bombada pela desvalorização do real.
Além disso, o rebaixamento da nota soberana brasileira complica ainda mais a saúde financeira de empresas que se tornaram dependentes de captações de dinheiro no exterior. Nesta semana, a Fitch se tornou a segunda agência de classificação de risco a retirar o grau de investimento da dívida brasileira.
“Financiamentos por meio da emissão de títulos da dívida são especialmente sensíveis [ao aumento da taxa de juros americana], já que os títulos são negociáveis, ao contrário de empréstimos bancários,” afirma a Crédito y Caución.
“Empresas no Brasil e no México, em particular, usaram cada vez mais este tipo de financiamento. Nestes países, o nível de endividamento externo corporativo comparado com o faturamento das exportações também é relativamente alto.”
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