Especialistas cobram normas para continuidade de negócios
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- Oscar Röcker Netto, em São Paulo
- 14 de setembro de 2015
- Sem categoria
Falta de referência freia desenvolvimento da área, dizem gestores de grandes bancos; atraso é maior em outros setores da economia
A falta de normas sobre continuidade de negócios prejudica a gestão da área, segundo especialistas do setor bancário reunidos no Global Risk Meeting 2015, evento realizado em São Paulo nos dias 11 e 12 de setembro.
Para eles, é preciso detalhar as particularidades do setor, coisa que as normas existentes hoje não fazem. Algumas arranham o tema, dizem eles, como é o caso da BSI (British Standards Institution) 22301, da ISO 31000 e a Resolução 3380 do Banco Central. Mas eles consideram que isso é muito pouco.
A Resolução 3380, por exemplo, tem literalmente uma linha sobre continuidade de negócios, conta Alaor Oliveira, gerente de Continuidade de Negócios do HSBC Brasil, banco recém-adquirido pelo Bradesco.
Para os experts, seria necessário formatar normas técnicas específicas na Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) sobre continuidade de negócios.
O modelo a ser seguido é o já aplicado nos Estados Unidos, Europa e Japão, as referências na área. Os gestores, no entanto, alertam que é importante não simplesmente importar normas. É preciso respeitar as características do país.
“Seria uma coisa para beneficiar todo mundo, desde a panificadora até a grande empresa”, disse Oliveira.
Os especialistas acreditam que a normatização ajudaria a diminuir as resistências ao desenvolvimento da área encontradas entre as empresas brasileiras. “A falta de normas dificulta até para justificar os investimentos necessários para a administração”, disse Fabiano Santos, gerente de Continuidade de Negócios do Banco do Brasil.
“[Sem normatização] não há um padrão a seguir quando os problemas acontecem”, complementou Oliveira.
Regra importada
Algumas instituições internacionais adotam as normas de seu país de origem. É o caso do Citibank, explicou Karin Panes, da área de Continuidade de Negócios do banco norte-americano. “Nós seguimos a regulamentação dos Estados Unidos e isso ajuda muito”, afirmou.
Segundo ela, a regulamentação contribui até mesmo para aumentar o engajamento da equipe aos processos de continuidade de negócios — um item importante, consideram os gestores da área, principalmente levando em conta que interrupção dos negócios pode afetar a empresa toda, mas nem todos os departamentos abraçam a causa de forma integral.
“Continuidade de negócios não é um processo a mais para o gestor de uma área específica”, afirmou Santos, do Banco do Brasil. “Ela tem de fazer parte do processo em si.” Ele conta que conseguiu o envolvimento de um setor do banco tornando claro para o gestor que um problema no projeto que estava sendo tocado por ele estava exposto a riscos que poderiam causam prejuízos de R$ 500 milhões. “A partir daí, o processo de proteção desses riscos e de continuidade fluiu muito bem.”
Trata-se, portanto, de mudar a cultura, dizem os gestores, o que implica também um trabalho com a alta direção, que muitas vezes ainda considera a aplicação de recursos em sistemas de continuidade de negócio como gasto, não como investimento.
Trabalho constante
Este tipo de trabalho precisa ser constante, destacou o gerente de Continuidade de Negócios do Itaú Unibanco, Gerson Di Mambro. “É preciso cada vez mais priorizar os processos de risco e reavaliá-los permanentemente, frente às mudanças que sempre ocorrem no cenário”, afirmou.
Apesar das dificuldades, o setor bancário é o mais avançado do país em sistemas de controle e continuidade de negócios, afirmou Jeferson D’Addario, sócio-diretor da Daryus, empresa que organiza o Global Risk Meeting .
“(Os bancos) estão muito à frente de seus clientes”, disse ele, que criticou setores ainda pouco preocupados com a implementação de sistemas que garantam que as atividades de uma empresa não serão interrompidas mesmo que eventos imprevistos aconteçam.
“Não entendo como ainda tem gente que não entende que o patrimônio e o legado de uma empresa podem acabar ou ser prejudicados por causa de um acidente”, disse D’Addario.
Lista de riscos
De acordo com Alexandre Guindani, gerente de Continuidade de Negócios da Caixa, o principal risco à de interrupção da atividade a que os bancos estão expostos hoje está relacionado às tecnologias da informação. Mas a lista de riscos é longa e inclui desde a crise hídrica até a ocorrência de greves.
“Os prejuízos variam de banco a banco e de evento a evento”, disse Guindani. “Mas qualquer interrupção de negócios no setor pode gerar milhões em prejuízo.”
Lembrando que não existe nenhum grande banco sem um departamento muito forte de informática, ele disse que a manutenção desta área demanda um trabalho intenso. “Ela sustenta o nosso negócio. Se parar por meia hora que seja, gera um transtorno muito grande”, afirmou. “Pode-se perder negócios ou clientes.”
Por conta disso, o setor é bastante atento aos problemas que podem decorrer de alguma interrupção. “Antigamente, as pessoas colocavam dinheiro no cofrinho, hoje está no celular,” exemplificou Guindani.
A segunda maior preocupação da área recai sobre os fornecedores de atividades como telecomunicações e vigilância das agências, que são fundamentais para funcionamento dos bancos. A queda de um link, por exemplo, pode parar uma mesa de operações do banco. E a lei proíbe a abertura de uma agência se seus vigilantes estiverem em greve.
Falta d’água
A crise hídrica, que atinge principalmente São Paulo, rendeu um trabalho de três meses para a comissão de continuidade dos negócios da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), contou Guindani.
A comissão traçou estratégias de funcionamento das agências caso venha a ocorrer racionamento de água.
“Como atender a população, se não tenho água na agência? Provavelmente, o pessoal do sindicato [dos bancários] não vai deixar abrir”, afirmou.
“Nossa preocupação é essa: como eu fico 3 ou 4 dias sem água? Que agências manter abertas, quais fechar? Começamos a traçar cenários e planos de como lidar com isso.”
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