'Escândalo da semana’ não muda nível do risco político, diz Aon
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- Oscar Röcker Netto
- 30 de novembro de 2016
- Sem categoria
Turbulência gerada pelo caso Geddel e iminente acordo da Odebrecht ainda não abalam a estabilidade institucional do país, avalia Keith Martin.

O escândalo que desembocou na saída Geddel Vieira Lima, um dos homens fortes no Palácio do Planalto, pode ter gerado uma das mais graves crises políticas do governo efetivo de Michel Temer até agora, mas não foi suficiente para piorar o risco político no Brasil.
Tampouco o iminente acordo de leniência envolvendo cerca de 80 pessoas da Odebrecht e que pode atingir 25% dos deputados da Câmara Federal tem esse poder.
A avaliação é de Keith Martin, consultor de comércio e investimentos internacionais da corretora Aon. Segundo ele, os investidores externos estão mais preocupados com a estabilidade institucional do país — e esta continua firme e forte, embora haja alguns fatores que podem vir a abalá-la.
“Os investidores internacionais não estão preocupados com o ‘escândalo do dia’, na medida em que tudo está acontecendo dentro dos ritos institucionais”, disse Martin à Risco Seguro Brasil. “A estabilidade institucional é o que mais conta.”
A turbulência da política cotidiana atrapalha de fato o andamento de muita coisa, pode influenciar o dólar e a bolsa de valores e aumenta o sentimento de descrença nos políticos a cada novo escândalo revelado. Risco político, no entanto, é um conceito amplo, no qual não se encaixam todas os intempéries promovidas pelas figuras que estampam as cabines eleitorais a cada eleição.
Ele é medido por questões mais de fundo, como respeito aos contratos por parte de governos e medidas que venham afetar a estratégia e o desempenho das empresas.
Neste escopo, o risco aumenta se, por exemplo, a aprovação das reformas previstas pelo atual governo travar de vez.
Para Martin, a primeira da fila — a conclusão da aprovação do teto de gastos do governo — parece não correr riscos. “Mas na medida em que a crise possa freiar as reformas, o empresário pode ficar mais preocupado.”
Esse é um dos pontos que dependendo da evolução podem agravar o quadro de risco político, segundo Martin. Ao lado dele, figuram eventuais manifestações violentas ou novos escândalos que possam vir a paralisar o governo — ele ressalta, entretanto, que “por enquanto” são situações hipotéticas, mas que estão sendo monitoradas pela Aon.
“No caso do impeachment de Dilma Rousseff o que agravou o risco foi a falta clara de uma saída”, compara o consultor. “No momento em que um governo fica paralisado, aumenta o risco.”
Outro fator a colocar mais pressão no cenário político é o desempenho claudicante da economia, cujos resultados e expectativas têm ficado aquém do esperado desde a troca de presidente.
É até bom
Já no caso do acordo de leniência da Odebrecht, potencialmente explosivo pelo que promete revelar dos poderes Legislativo e Executivo, o consultor avalia que tudo segue dentro das regras estabelecidas e que é preciso aguardar a evolução das informações e processos que deverão advir. “Vamos ver o que sai dessa história. É uma Caixa de Pandora, a gente não sabe o que está dentro”, diz.
Apesar disso, Martin relata que empresas com as quais tem conversado estão demonstrando até mesmo otimismo com os acordos fechados no âmbito da Lava Jato. Acreditam que eles podem contribuir na mudança de comportamento no ambiente competitivo no Brasil. “Estão animadas porque as denúncias podem abrir espaço para negócios mais transparentes”, afirma.
Martin avalia que o movimentado cenário atual prosseguirá ao longo de 2017. “Tudo indica que teremos uma certa turbulência, mas tudo dentro das regras do jogo.”
Violência, não
Embora não esteja diretamente ligada a risco político, a segurança pública é um tema que atrai muita atenção dos investidores estrangeiros, diz Martin. Episódios de violência que ganham o mundo, como a recente queda de um helicóptero da polícia no Rio de Janeiro, criam dificuldades extras.
O desastre chegou a ser atribuído a tiros disparados por bandidos, o que não foi confirmado.
“O investidor sério leva segurança em consideração”, diz. “E isso tem impacto na percepção do Brasil lá fora; gera dificuldades para decisão de investimento em alguns setores, como a hotelaria.”
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