Desaceleração do comércio global deve continuar, alertam seguradoras
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- Rodrigo Amaral
- 1 de dezembro de 2016
- Sem categoria
Eleição de Trump reflete aumento da rejeição à globalização em um momento em que transações entre países já perdem força
O processo de desaceleração do comércio internacional deve continuar em 2017, criando mais um obstáculo à recuperação da economia global, alertam seguradoras de crédito.
Em relatório divulgado nesta semana, a espanhola Crédito y Caución observou que a redução do ritmo de crescimento do comércio internacional se deve sobretudo à desaceleração da economia chinesa e à modesta performance dos Estados Unidos.
Mas a situação tende se agravar devido a desdobramentos políticos, especialmente após a eleição de Donald Trump como presidente americano.
Trump adotou um discurso contrário à globalização e ao livre comércio, prometendo durante sua campanha renegociar os acordos comerciais com países que, em sua opinião, tiram vantagem dos Estados Unidos – um grupo que, para ele, inclui o Brasil.
Mas a rejeição à ideia de que o livre comércio é bom para todo mundo não é uma exclusividade do magnata americano, já que a oposição a acordos internacionais como o TPP (Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica) e o TTIP (Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento) se torna cada vez mais acirrada ao redor do planeta.
Grupos que se opõem ao livre comércio, tanto de esquerda como de direita, também obtiveram ganhos eleitorais no Reino Unido e na Espanha, e em 2017 podem avançar em eleições a serem realizadas outros países importantes para o comércio global, como a Alemanha, a França e a Holanda.
“O que está claro é que, com toda esta incerteza, está mais difícil fazer previsões a respeito do comércio,” afirma a Crédito y Caución.
Mais fraco
A incerteza preocupa economistas e investidores. “É algo preocupante que estejamos dispostos a jogar fora 300 anos de filosofia econômica segundo a qual o comércio é uma coisa boa”, afirma David Lafferty, estrategista-chefe da Natixis Global Asset Management, em Boston.
“É certo dizer que a ameaça do protecionismo está em alta, e isso é preocupante”, disse Léon Cornelissen, economista-chefe da Robeco, em Roterdã.
A oposição ideológica ao livre comércio ganha força em um momento em que as transações comerciais entre países já se encontram em queda.
Um recente estudo da Euler Hermes, outra seguradora de crédito, afirma que o crescimento do volume de bens negociados entre os países deve se limitar a 2,1% neste ano e chegar a meros 3,1% no ano que vem. Trata-se de um ritmo bem inferior ao do que havia antes da Grande Recessão iniciada em 2009, quando a média anual chegava a 7%.
Mais grave é que, segundo a empresa, tudo indica que no futuro o crescimento do comércio deve ficar a taxas inferiores a 4% anuais no futuro.
Em termos de valores movidos pelo comércio internacional, a queda de ritmo é ainda mais evidente. No ano passado, o comércio gerou 10,5% menos em movimentações de dinheiro do que no ano anterior. Neste ano, a sangria se estancou um pouco, mas deve chegar a 2,9%.
A Euler Hermes estima que isso significa que, nos últimos dois anos, a perda econômica ligada à desaceleração do comércio chega a US$ 3,12 trilhões – um número quase equivalente ao PIB da Alemanha.
Isso tudo constitui uma má notícia para as organizações que apostam no setor externo para crescer, observa a Euler Hermes. “As empresas terão que encontrar novas alterativas para expandir seus negócios”, alerta a seguradora.
Os motivos
A Euler Hermes quatro fatores que estão detrás da atual tendência de desaceleração do comércio global.
A primeira é uma demanda reprimida ligada à desaceleração da economia a nível global, especialmente nos países emergentes. “A China especialmente tem controlado sua conta de importação”, afirma o relatório.
Outro fator é a queda acentuada dos preços das matérias-primas, e um terceiro, a chamada “guerra cambial”, na qual vários países tentam ganhar espaço no comércio mundial desvalorizando suas divisas na comparação com o dólar.
A estratégia tende a não funcionar quando todo mundo está tentando fazer a mesma coisa, e a empresa observa que desvalorizações tiveram parcos resultados recentemente para países como o Brasil, a Colômbia, o Chile, o Peru, a Indonésia e a Rússia.
O quarto fator é o processo que a empresa chama de “domesticalização”. Isso se reflete no aumento do consumo de artigos que não podem ser comprados de outros países, como o lazer e o ócio, os investimentos imobiliários os produtos financeiros.
Já a Crédito y Caución adiciona o tema da falta de financiamentos ao comércio como outro elemento reprimindo o crescimento. A empresa estima que, em 2015, houve um déficit global de US$ 1,5 trilhão em recursos para financiar as atividades comerciais internacionais.
Trata-se de um volume de dinheiro US$ 200 bilhões superior ao observado em 2014, e em grande medida pode ser atribuído ao endurecimento da regulamentação da atividade dos bancos em países como os Estados Unidos e a Europa.
Estes dados ilustram uma realidade mais ampla em que o processo de globalização, do qual o comércio internacional é uma das facetas mais visíveis, pode estar se revertendo.
“O novo consenso parece ser que a desglobalização vai continuar”, afirmou Daniel Morris, estrategista sênior de investimentos do BNP Paribas Investment Managers.
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