Dívida corporativa em países emergentes dispara e preocupa
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- Rodrigo Amaral
- 27 de maio de 2016
- Sem categoria
Empresas de países como a Turquia, Indonésia e Rússia aumentam volume de endividamento em moeda estrangeira
O Brasil não é o único país emergente em que o risco de crédito está em alta porque a dívida das empresas disparou nos últimos. Segundo a seguradora espanhola Crédito y Caución, o fenômeno do alto endividamento em dólar aflige grupos empresariais em economias importantes para os investidores como a Índia, Indonésia, Rússia, África do Sul e Turquia.
As dívidas em dólar das empresas de países emergentes passaram de US$ 15 trilhões em 2008 para mais de US$ 24 trilhões no terceiro trimestre de 2015, alcançando mais do que 100% do PIB combinado dos países onde estão sediadas.
O maior volume bruto de endividamento das empresas ocorreu na China e em Hong Kong. Retirando os dois do grupo, a proporção dívida corporativa e PIB cai para 53%. Mas, devido a características dos dois mercados e ao perfil da dívida de suas empresas, a situação lá não é tão preocupante quanto em outras economias.
O mais curioso é que aparentemente poucas lições foram aprendidas depois que a economia global quase veio abaixo no final da década passada em grande parte devido aos altos índices de endividamento em vários países desenvolvidos.
Segundo a CyC, no final de 2015, o conjunto das dívidas acumuladas por famílias, empresas não-financeiras e governos em todo o mundo chegou a 233% do PIB global. Em 2008, ano que marca o início da crise financeira, a proporção era de 212%.
Em sua maior parte, segundo a seguradora, isso se deve ao incremento do volume de empréstimos nos países emergentes.
Onde está o risco
A CyC não acredita que exista um risco sistêmico de calote generalizado das empresas nas economias emergentes, já que a capacidade destes países de absorver choques é hoje maior do que em crises anteriores.
Mas alerta que o risco pode ser muito alto em países e setores determinados.
Veja abaixo a situação onde o risco de crédito é mais severo:
Turquia
Trata-se do país emergente em que as dívidas das empresas mais preocupam a CyC.
Mais de um terço da dívida é financiada no exterior, e outro tanto se constitui de empréstimos bancários feitos na própria Turquia, mas em dólar. Como resultado, a saúde financeira das empresas está muito sujeita a flutuações cambiais.
Além disso, ao contrário, por exemplo, do Brasil, as reservas cambiais turcas não são elevadas, o que reduz a capacidade do país de reagir a um eventual choque externo.
Energia, materiais de construção, aço, transportes aéreos e química são os setores mais vulneráveis.
Indonésia
Depois de Turquia e Brasil, é a economia emergente onde o risco é maior, segundo a CyC. Neste caso, porque 75% das dívidas das empresas são em dólar.
Os níveis de hedging cambial são considerados baixos, e a queda dos preços das matérias primas afetou a lucratividade das empresas do país.
Os casos de calotes de empresas indonésias a pagamentos de títulos da dívida começam a pipocar e podem acelerar nos próximos meses na medida em que as operações de refinanciamento no exterior se acumulam, segundo a CyC.
Os setores mais vulneráveis são a infraestrutura e a metalurgia.
Índia
A maior parte das dívidas das empresas está denominada em dólar, e apenas 45% conta com algum tipo de hedge cambial, estima a CyC.
Mas o governo indiano mantém um alto nível de reservas em moeda estrangeira, o que reduz o risco de um choque sistêmico devido à volatilidade cambial.
Um problema é a alta concentração da dívida corporativa. Um porcento das empresas indianas retém metade da dívida de todas as companhias do país.
Algo similar acontece com dois setores da economia, a infraestrutura e a metalurgia, que não apenas concentram a maior parte dos financiamentos, mas também são os setores mais vulneráveis a problemas com suas dívidas na avaliação da seguradora.
Rússia
Assim como o Brasil, o principal problema na Rússia é o desempenho pífio da economia, aliado à desvalorização do rublo, o que agrava a situação das empresas com dívidas em moeda estrangeira.
Mais de 60% da dívida corporativa russa precisa ser refinanciada no exterior. Desta parcela, porém, cerca de três quartos se referem a dívidas feitas com matrizes ou sucursais de empresas sediadas fora do país. Isso reduz o risco de calote por desvalorização cambial. (Mais uma vez, é uma situação parecida com a do Brasil.)
As empresas russas também enfrentam o agravante de que o país é alvo de sanções internacionais, o que reduz seus ingressos em moeda estrangeira e dificulta as negociações para renegociar dívidas no exterior.
Construção, mercado imobiliário, transportes aéreos e automóveis são os setores que mais tiram o sono dos credores. Carvão, siderurgia e mineração podem se unir à lista caso a queda dos preços das matérias primas continue.
África do Sul
A rápida desvalorização do rand complica a situação de empresas que aumentaram o nível de dívidas corporativas em dólar até chegar a 59% do PIB.
Além disso, o país possui escassas reservas cambiais. Os setores que mais preocupam são a mineração, a eletricidade e o fornecimento de gás e água.
China
Apesar de as dívidas de empresas não financeiras terem chegado a 166% do PIB no país após quadruplicar desde 2008, 95% delas são financiadas localmente, o que reduz o risco de calote quando o humor dos mercados globais azeda.
Além disso, boa parte das empresas mais endividadas pertencem ao Estado, o que facilita seu acesso a fontes de refinanciamento garantidas pelo governo.
Para a CyC, o alto endividamento das empresas chinesas constitui um risco sobretudo para a aceleração da atividade econômica do país, atingindo assim indiretamente outras partes do mundo.
Os setores mais vulneráveis são a siderurgia, carvão e construção. Construção naval, energia solar e têxteis também preocupam.
Clique aqui para ler o estudo em inglês.
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