Seguradoras alertam clientes sobre alto risco de calote no Brasil
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- Rodrigo Amaral
- 27 de maio de 2016
- Sem categoria
Crédito y Caución, Coface e Euler Hermes preveem que empresas seguirão tendo dificuldades para pagar dívidas mesmo após troca de governo
Na medida em que a crise se prolonga no Brasil, seguradoras de crédito internacionais estão alertando seus clientes sobre o aumento do risco de calote por parte de seus parceiros comerciais localizados no país.
Nesta semana, em um relatório sobre a dívida corporativa nas economias emergentes, a espanhola Crédito y Caución listou as empresas brasileiras entre as mais ameaçadas pelo aumento do endividamento em moeda estrangeira. Elas também se destacam no estudo pela alta alavancagem de seus balaços por meio de dívidas.
A francesa Coface alertou que os principais setores da economia brasileira apresentam um alto nível de risco de não-pagamento de dívidas. Em alguns deles, como a construção, o automotivo e o siderúrgico, o risco é visto como “muito alto”.
Já a também francesa Euler Hermes previu um aumento de 22% das falências no país, com o setor privado sendo afetado pela baixa do consumo e as difíceis condições de financiamento.
“Uma reversão da tendência atual não é esperada no curto prazo,” afirmou a economista Patricia Krause, da Coface, em estudo divulgado pela empresa.
Acumulação de dívidas
A Crédito y Caución observa que as empresas brasileiras têm acumulado dívidas nos últimos anos em um ritmo superior ao crescimento da economia.
Desde 2008, a proporção de dívidas de empresas não-financeiras com relação ao PIB passou de 31% para 50%. O volume de dívidas feitas no exterior triplicou no mesmo período.
A seguradora alerta que a capacidade das empresas de manter o serviço de suas dívidas vem se enfraquecendo devido à contração de seus lucros, o aumento dos juros cobrados pelos credores e os baixos preços das matérias primas, que são importantes fontes de receita para muitas grandes empresas no país.
“O balanço [das empresas brasileiras] é relativamente fraco se comparado com as de outras economias emergentes”, afirma o estudo. “O Brasil abriga algumas das corporações mais endividadas dos mercados emergentes.”
A seguradora segmenta as empresas de cada país em grupos de 25% por nível de endividamento. A relação dívida/capital do quarto mais endividado entre os grupos brasileiros é de uma média de 160%, pelos cálculos da Crédito y Caución, o que é considerado alto.
Por outro lado, a seguradora nota que, do ponto de vista do equilíbrio da economia, a estrutura das dívidas das empresas nacionais é favorável, já que, apesar do aumento dos empréstimos fora do Brasil, 80% da dívida ainda é financiada domesticamente. A CyC também nota que dois terços das empresas que têm dívidas no exterior parecem ter adotado estratégias de hedging cambial adequadas.
Os setores em que o risco de calote é mais elevado, para a CyC, são os transportes, infraestrutura, maquinaria pesada e bens de consumos não duráveis.
Empresas médias e pequenas são as mais vulneráveis, e, no caso delas, os problemas se encontram sobretudo nos setores de consumo durável e eletrônicos, agroquímico (especialmente produtores de fertilizantes), metais e aço e petróleo e gás.
Alta incerteza
Outros relatórios divulgados por seguradoras de crédito após o afastamento da presidente Dilma Rousseff afirmam que, apesar de que um certo otimismo pode aparecer na economia brasileira sob o presidente interino Michel Temer, as empresas continuarão enfrentando tempos difíceis – e, consequentemente, o risco de calote seguirá alto.
A Coface afirma em seu mais recente relatório sobre o Brasil que a economia não vai reverter sua atual tendência em 2016 e mantém sua previsão de contração de 3% do PIB.
Após listar os inúmeros problemas enfrentados pela economia, que se agravaram em 2015 e seguem afetando as empresas em 2016, a empresa afirma que a troca de governo tampouco resultará automaticamente em uma reversão do cenário.
“A população definitivamente não está disposta a consumir, já que o mercado de trabalho está se deteriorando e os empresários não estão investindo devido ao ambiente de alta incerteza”, avalia Krause.
Ela nota que os juros cobrados das empresas pelos bancos passaram de 24,32% para 31,91% ao ano de outubro de 2014 a fevereiro de 2016, o que causa severos problemas para organizações altamente endividadas e tem ajudado a aumentar a quantidade de calotes ou pagamentos em atraso.
Pelos números da Coface, os pedidos de recuperação judicial aumentaram 55% em 2015, chegando a 1.287 empresas. Em 2016, a situação segue piorando, já que 404 empresas entraram com pedidos no primeiro trimestre, um aumento de 114% na comparação interanual.
De acordo com a Alvarez & Marsal, o total de dívidas de empresas em recuperação judicial no Brasil já chega a R$ 120 bilhões, boa parte dos quais não devem ser recuperadas pelos credores.
Para a empresa, o risco de insolvência está espalhado por toda a economia, e não concentrado em uns poucos setores. Mas em alguns, como o automotivo, a construção e o siderúrgico, o perigo é especialmente elevado.
Terapia de choque
A Euler Hermes, por sua vez, vê um preocupante aumento no volume de insolvências entre grandes empresas brasileiras.
De acordo com a seguradora, no ano até março de 2016, o número de grandes empresas que jogaram a toalha aumentou 92% comparado com os doze meses anteriores.
A Euler Hermes expressa esperança, porém, de que o governo interino adote uma “terapia de choque” para reverter o quadro da economia antes das eleições de 2018.
Clique aqui para ler o relatório da Crédito y Caución, aqui para acessar o da Coface, e aqui para baixar o da Euler Hermes, todos em inglês.
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