1

Governança e meio ambiente já influenciam a subscrição de riscos

Considerações sobre governança, meio ambiente e temas sociais exercem uma crescente influência sobre as estratégias de negócios das seguradoras e resseguradoras. Dessa forma, determinando cada vez mais suas políticas de investimento e até mesmo de subscrição.

É o que mostra uma pesquisa feita pela agência de avaliação de crédito Moody’s com grandes grupos (re)seguradores europeus.

A pesquisa mostra como a preocupação com a economia sustentável chegou aos conselhos das empresa do setor. Assim está tendo um efeito crescente sobre suas decisões.

A avaliação dos chamados temas ESG (Environment, Social and Governance, ou meio ambientais, sociais e de governança) já vem sendo sentida há tempos nas políticas de investimentos de subscritores. Muitos dos quais têm procurado evitar setores intensivos em emissões de carbono,. Assim como produtores de armas e fabricantes de bebidas alcoólicas, entre outros, em seus portfólios.

Porém, agora, os fatores ESG também estão influenciando as decisões de vendas de coberturas tomadas pelas empresas.

Um exemplo aconteceu em maio, quando a alemã Allianz anunciou que já não venderia apólices de seguros a produtoras de carvão.

Anteriormente, em fevereiro, a americana Chubb anunciou o cancelamento de um programa de subscrição de seguros para os associados da NRA, a associação nacional das armas de fogo americana. Isso aconteceu após polêmica gerada pela matança de estudantes em uma escola secundária na Flórida.

Na pesquisa da Moody’s, 53% dos participantes disseram que os fatores ESG são estratégicos para a empresa. Da mesma forma, outros 41% afirmaram que são importantes. Ainda que não estratégicos.

Da mesma maneira, 86% disseram que a adoção de critérios ESG é parte importante ou muito importante na construção do brand da companhia.

Em expansão

A pesquisa foi realizada na Europa. Porém, muitas das empresas participantes possuem subsidiárias no Brasil, com participação importante no mercado de seguros comerciais.

Executivos de unidades brasileiras, em realidade, vêm sofrendo pressões de suas casas matrizes para levar temas ESG em consideração na definição. Por exemplo, das políticas de investimento.

Isso cria desafios. Principalmente porque há no Brasil uma escassez de ativos que respondem a restritos critérios ESG.

Contudo, a tendência não deve ser revertida. Segundo a Moody’s, 73% das (re)seguradoras entrevistas já aplicam mais de três quartos de seus portfólios. Isso de acordo com critérios ou benchmarks ligados a temas ESG.

A mesma parcela respondeu que já parou de investir em setores que emitem muito dióxido de carbono. Como as empresas petroleiras, além de outros segmentos específicos.

Por outro lado, nenhuma disse que esta sempre foi uma estratégia da empresa. O que indica que as decisões são relativamente recentes e estão se disseminando.

Subscrição

Ainda mais recente, porém, é a influência de fatores de governança, meio ambiente e temas sociais nas políticas de subscrição de riscos.

Dos entrevistados, 46% disseram que temas ESG terão um impacto moderado sobre seu risco de subscrição, e 31%, que o impacto será elevado.

As mudanças climáticas são o principal fator temido pela indústria, que vê a possibilidade de que tendências de longo prazo, como uma maior incidência de secas, incêndios florestais e ciclones tropicais, afetem seus portfólios de riscos.

Outro tema importante é o envelhecimento da população, particularmente no que diz respeito às empresas de seguro de vida e saúde.

Mas as seguradoras também estão cada vez mais prestando atenção no efeito que seus potenciais clientes têm sobre tais fatores. Um terço das entrevistadas disse à Moody’s que está considerando adotar políticas que proíbem a venda de coberturas a determinados tipos de riscos ou projetos que não se encaixam com os critérios ESG.

Um número ainda maior, 42%, afirmou já ter implementado políticas neste sentido.

LEIA TAMBÉM

Contratos inteligentes vão automatizar o seguro




IRB Brasil prevê que logo será número 1 na América Latina

O presidente do IRB Brasil, José Carlos Cardoso. (Foto: Divulgação)
O presidente do IRB Brasil, José Carlos Cardoso. (Foto: Divulgação)

Líder disparado no mercado de resseguros doméstico, o IRB Brasil Re espera logo se tornar também a maior resseguradora da América Latina.

É o que prevê o presidente da empresa, José Carlos Cardoso. Em entrevista a RSB, ele comemorou os bons resultados colhidos pelo IRB Brasil desde a operação de abertura de capital, IPO, realizada no final de julho.

Em 2017, o IRB Brasil apresentou aumento de 8,8% no lucro líquido. Isso apesar do impacto da dramática queda da taxas juros sobre os investimentos financeiros da empresa.

Neste ano, a empresa também está tendo um bom desempenho. Uma vez que a performance no primeiro trimestre foi 18% superior à do mesmo período de 2017. Isso egundo resultados apresentados no começo de maio.

“Hoje nós somos a oitava maior resseguradora do mundo em termos de valor de mercado,” Cardoso disse à RSB. “Somos a número dois da América Latina, mas em pouco tempo acredito que seremos a número um.”

O resultado consolida a posição do IRB Brasil como a resseguradora listada em bolsa mais rentável do planeta. Uma vez que o retorno sobre o patrimônio líquido atingiu 27,2% no ano passado, comparado com uma média de mercado de 3,4%, conforme cálculo da Wills Re. (Clique aqui para saber mais.)

Operações no exterior

O IRB Brasil conseguiu bons resultados em 2017. Igualmente, graças ao forte aumento de sua presença em operações de resseguro e de retrocessão no mercado internacional.

No ano passado, o volume de prêmios captados no exterior aumentou 73%. O resultado chegou a R$ 2,073 bilhões. No primeiro trimestre, o aumento foi de 17,6%. Assim comparado com o mesmo período de 2017, com os prêmios representando 39% do total emitido pela empresa.

A boa performance compensou o fraco desempenho do mercado doméstico. Da mesma forma que a indústria de seguros se arrastou por mais um ano, afetando as cessões de resseguro. Assim, os prêmios de resseguro emitidos localmente pelo IRB Brasil caíram 0,6% em 2017 e 3,1% no primeiro trimestre.

“Nenhuma resseguradora pode viver só de um único mercado,” disse Cardoso.

Segundo ele, a estratégia internacional da empresa passa por focar em setores que conhece bem. Como os seguros de vida, rurais e aeronáuticos. Ao mesmo tempo que evita áreas em que possui menos experiência, como os riscos catastróficos.

Além disso, o IRB privilegia sua participação em contratos de retrocessão. Todavia,  essa realidade limita sua exposição a perdas.

Conforme explicou, a empresa possui alguma exposição catastrófica nos Estados Unidos. Porém, sempre como participante nas camadas mais elevadas dos programas. Dessa forma, reduz a exposição a perdas.

Dessa maneira, a empresa observou perdas limitadas em 2017, um ano em que o setor em geral sofreu pesadamente com uma série de eventos catastróficos devido aos furacões e incêndios florestais que atingiram os Estados Unidos e o Caribe, além de terremotos, enchentes e outras desgraças. A sinistralidade reportada pelo IRB Brasil em 2017 foi de 59%.

Novos parceiros

Outro aspecto da estratégia da empresa é buscar parceiros que têm interesse em compartilhar negócios com o IRB.

Por exemplo, Cardoso destacou operações realizadas com a francesa La Reunion Aerienne, especializada em resseguros aeronáuticos e espaciais, que desejava uma maior exposição ao mercado brasileiro de riscos aeronáuticos, em que o IRB possui uma posição de liderança.

Ex-executivo da também francesa Scor, Cardoso utilizou seus contatos internacionais para negociar um acordo com a empresa, repassando parte de seu portfólio de riscos aeronáuticos, focado no mercado brasileiro, em troca de uma exposição aos riscos da La Reunion Aerienne, localizados em outras partes do mundo. A transação foi feita através de contratos de retrocessão.

Tradicionalmente, a saída para diversificar este risco seria ir ao mercado londrino, mas a solução francesa pareceu uma melhor alternativa para a empresa pelo seu caráter de reciprocidade.

“Em vez de fazer um contrato de retrocessão com uma companhia do Lloyd’s que não me trazia nada de benefício, a gente fez uma troca dentro dos nossos portfólios,” disse Cardoso. “Desta maneira, estamos acessando o mercado internacional e diversificando o risco, sem correr o risco de aceitar um negócio que não conhecemos.”

Mercado doméstico

O IRB deve seguir sua estratégia de expansão internacional com foco em mercados latino-americanos como a Argentina, onde já possui uma unidade local, a Colômbia e o México, além da participação como membro do painel de resseguradoras em contratos que incluam outras partes do mundo, como Ásia e Europa.

Além disso, pretende continuar trabalhando com grupos internacionais que querem lançar novos produtos no Brasil, valendo-se da expertise no mercado nacional acumulado nos 79 anos de experiência da empresa, na maior parte dos quais funcionou como um monopólio.

“Nós somos procurados por grandes players que querem se associar com determinados produtos e serviços porque sabem que nós somos o canal de entrada na região,” afirmou o CEO.

Cardoso também espera que o mercado brasileiro volte a apresentar boas oportunidades, uma vez que a recuperação da economia se consolide e os investimentos em infra-estrutura voltem a se acelerar.

O presidente do IRB considera ainda que a experiência da empresa em lidar com as peculiaridades do mercado brasileiro lhe dá uma posição de vantagem na hora de competir com rivais que fazem parte de grupos internacionais pela proximidade das esferas de decisão com o cliente.

E a empresa acredita que sua postura tem sido avalizada pelo mercado, uma vez que, desde o IPO até o começo de maio, a ação do IRB Brasil havia valorizado 80%, comparado com 28% do Ibovespa no mesmo período, segundo dados cosntantes da mais recente apresentação de resultados.




IRB Brasil lidera ranking global de rentabilidade no resseguro

O IRB Brasil Re fechou o ano de 2017 como a resseguradora listada em Bolsa mais rentável do mundo, em um ranking elaborado pela corretora Willis Re.

Com significativo aumento no volume de prêmios e baixa exposição a perdas catastróficas, a resseguradora brasileira fechou 2017 com níveis de rentabilidade oito vezes superior à média do mercado.

De acordo com a Willis Re, o IRB Brasil teve um índice de retorno sobre o patrimônio líquido (RoE na sigla em inglês) de 27,2%. O RoE das 33 resseguradoras analisadas pela Willis Re ficaram, em média, em 3,4%.

O desempenho da brasileira foi muito superior à da secunda colocada, RGA Re, com 22,7%, e da terceira, Fairfax, com 15,5%.

Em geral, o ano foi duro para o mercado ressegurador, com as perdas catastróficas recordes, modestas taxas de performance de investimento e uma acirrada resistência do mercado a permitir quaisquer aumentos de preços.

Com isso, grandes empresas do setor reportaram níveis de rentabilidade abaixo da média. Foi o caso da Munich Re (1,3%) e Swiss Re (0,9%).

A perda de rentabilidade também pode dar pistas a respeito de empresas que podem ser alvo de operações de fusão e aquisição nos próximos meses.

Companhias que foram recentemente adquiridas por rivais de maior porte desempenho negativo no ano passado, como a Validus (RoE de -1,2%), que foi comprada pela AIG, e a XL Catlin (-5,3%), que foi adquirida pela Axa.

Rumores que correm no mercado sobre futuras operações do tipo envolvem companhias que também tiveram performances complicadas em 2017, como a Aspen Re (RoE de -7,9%).

Perdas catastróficas

Ao todo, as resseguradoras listadas pela Willis Re tiveram um lucro líquido de US$ 12 bilhões em 2017. Trata-se de uma queda de quase 55% na comparação com os US$ 26,6 bilhões registrados em 2016.

A situação teria sido ainda mais precária caso a resseguradora Fairfax não houve registrado um ganho excepcional de US$ 2,6 bilhões graças à venda de duas subsidiárias, entre outros fatores não repetíveis.

Um fator a limitar a performance das resseguradoras foi o fraco desempenho de seus portfólios de investimento, que renderam parcos 2,9% em 2017.

O volume de prêmios emitidos pelo grupo de resseguradoras aumentou 11,3%, batendo em US$ 285 bilhões, mas o crescimento foi solapado pelo aumento ainda mais expressivo da sinistralidade.

De acordo com a Willis Re, o índice combinado das resseguradoras pesquisadas fechou o ano em 107,4%. As perdas totais cobertas pelas empresas foram de US$ 144 bilhões, dos quais US$ 138 bilhões corresponderam a catástrofes naturais.

Em 2016, as perdas catastróficas se resumiram a US$ 48 bilhões, levando a um índice combinado de 92,9%

O IRB Brasil foi a resseguradora do grupo com menor índice combinado, de 80%. No lado oposto do ranking veio a Rennaissance Re, com 137,9%.

Fluxo incessante

A Willis Re também nota que, apesar das fortes catastróficas do ano passado, o capital segue ingressando no mercado de resseguros.

Entre as 33 empresas pesquisadas, o patrimônio combinado detido pelos acionistas chegou a US$ 371 bilhões, o que corresponde a um incremento de 7,8% no período de um ano.

Com preços em baixa e capital na mão, as resseguradoras devem continuar buscando diversificar suas fontes de crescimento, estima a Willis Re.

Isso significa mais incursões no mercado primário e também em linhas de seguro com potencial de crescimento como riscos cibernéticos, seguros de vida e de saúde e seguros de hipoteca.




Após ano catastrófico, mercado volta à calmaria

Mercado de seguros: depois da tempestade, a calmaria. O batido dito popular parece descrever com perfeição a situação do mercado de seguro e resseguro globais. Isso após um ano marcado por perdas catastróficas.

Relatório divulgado em abril pela Swiss Re confirmou que o ano 2017 foi o pior já registrado em termos de perdas asseguradas, para o setor.

Os furacões que atingiram os Estados Unidos e o Caribe no segundo semestre, somados a terremotos, incêndios florestais na Califórnia e enchentes na Europa e na Ásia, custaram ao setor US$ 144 bilhões em 2017.

As perdas econômicas foram ainda mais devastadoras. Assim chegando a US$ 337 bilhões. E revelando uma lacuna de coberturas de seguro de US$ 193 bilhões em um só ano. É o que observa a Swiss Re.

Mesmo assim, os investidores continuaram a trazer capital fresco para o setor. Dessa forma, levando a corretora Aon Benfield a prever uma nova série de renovações competitivas. Mesmo em linhas que sofreram perdas recentemente.

Em sua análise do mercado ressegurador no primeiro trimestre, a Aon Benfield observa que, enquanto as perdas catastróficas de 2017 foram muito elevadas, 2018 começou de forma bem mais amena.

A corretora calcula que as perdas observadas no primeiro trimestre somaram apenas US$ 7 bilhões. O que é inferior à média para o período registrada nos últimos anos.

Em 2017, ainda antes da série de catástrofes que marcaram o ano, o total de perdas seguradas foi de US$ 13 bilhões de janeiro a março.

Capital de sobra

O que parece, claro, é que os investidores hoje em dia têm mais medo de investir. Principalmente em ativos que pagam uma mixaria do que de sofrer perdas nos mercados de seguro.

A Aon Benfield estima que, apesar das catástrofes do ano passado, o volume de capital disponível no mercado de resseguros subiu pelo terceiro ano consecutivo.

Isso graças a um aumento de 2% na comparação com 2016. Assim, no final do ano passado havia US$ 605 bilhões de capacidade de resseguro disponível, o mais alto valor já registrado.

O aumento mais significativo ocorreu na capacidade dedicada a mecanismos de resseguro alternativo. Como os títulos catastróficos, sidecars e colaterais de resseguro, que passaram de US$ 81 bilhões para US$ 89 bilhões no espaço de um ano.

Já a capacidade de resseguro tradicional se expandiu em US$ 2 bilhões, para 516 bilhões.

Mercado de seguros X juros baixos

De acordo com a corretora, alguns fatores ajudam a explicar porque as perdas catastróficas de 2017 não espantaram os investidores do mercado de seguros.

Por exemplo, de US$ 136 bilhões em perdas asseguradas. Devido a catástrofes naturais no ano passado analisados pela Aon Benfield, cerca de US$ 20 bilhões foram, na realidade, absorvidas por agências do governo americano.

Além disso, há altos níveis de retenção praticados por seguradoras primárias. Por exemplo, um efeito do longo mercado brando. Isso reduziu as perdas sofridas pelas resseguradoras.

Da mesma forma,  também ajuda o fato de que as taxas de juros seguem no subsolo nos países desenvolvidos. Assim reduzindo as alternativas de que dispõem os investidores institucionais dos países desenvolvidos para fazer trabalhar os seus portfólios de investimento.

A corretora observou ainda que, apesar dos problemas, “o setor tradicional de resseguros como um todo continuou ganhando dinheiro em 2017”.

LEIA TAMBÉM

Contratos inteligentes vão automatizar o seguro




Mercado segue brando e força mudanças no resseguro

Ainda não foi desta vez que os aumentos de preços se espalharam pelo resseguro internacional. Apesar da deterioração dos resultados do setor no último ano.

Sem poder aumentar os preços de forma mais consistente, as empresas do setor estão buscando, portanto, otimizar seus portfólios. Assim também abandonando de linhas que dão prejuízos e buscando expandir-se em nichos de maior potencial de crescimento.

Isso também se reflete entre as seguradoras primárias do setor não-vida, que estão voltando a atuar com maior vigor no resseguro.

Um dos resultados dessas tendências é a onda de fusões e aquisições vistas nos últimos meses. Como a compra da XL Catlin pela Axa e da Validus pela AIG.

Essas são algumas das conclusões de uma análise das renovações de primeiro de abril, publicada pela corretora Willis Re.

Para os compradores de seguros, a boa notícia contida no relatório é que qualquer esperança que o mercado tinha de poder realizar uma ampla gama de aumentos de tarifas. Por exemplo, como resultado das fortes perdas catastróficas de 2017, foi rechaçada até o momento.

Mais provável, segundo a empresa, é que ocorra um processo de alta gradual e lenta. Especialmente se os resultados das resseguradoras continuarem piorando.

Tempos difíceis

À primeira vista, a Willis Re observou que os resultados anuais das resseguradoras globais que foram divulgados no primeiro trimestre refletem um significativo impacto das catástrofes naturais do ano passado em seus lucros.

Porém, mais preocupante é o fato de que houve uma deterioração dos resultados. Assim também nas linhas não afetadas por furacões, enchentes, terremotos e incêndios florestais.

“Embora prevista já há bastante tempo, o impacto desta deterioração está agora impelindo praticamente todos os executivos (de resseguradoras) a tomar ações decisivas”, afirma o relatório.

“Isso é evidente em vários resseguradores e subscritores de linhas ‘specialty’. Eles estão incrementando os esforços para remodelar seus portfólios. Saindo de linhas de negócios que não dão lucro e implementando programas para cortar custos.”

De acordo com a Willis Re, a manifestação mais dramática deste processo é a volta de seguradoras primárias ao mercado de resseguro.  Muitas abandonaram o mercado nas décadas de 1990 e 2000.

Dessa forma, a corretora nota que muitas empresas que dependem dos mercados de pequenas e médias empresas estão vendo seus modelos serem afetados por novos canais de comercialização. Além de outras mudanças trazidas pela tecnologia ao setor.

Além disso, lucros menores fazem com que fique mais difícil para as resseguradoras diferenciarem suas ações de outros ativos disponíveis para os investidores nos mercados de capitais.

“Neste contexto, a compra de grandes empresas de resseguro que são bem geridas e transparentes, com sinergias em áreas que já fazem parte de seu portfólio, se torna atrativo (para as empresas do setor)”, diz o documento.

Variações de preços

No setor de danos à propriedade, as variações de preços mais significativas no primeiro trimestre ocorreram no Caribe. Região em que as taxas subiram até 35% em áreas com risco catastrófico.

Mas nos Estados Unidos, que também foram fortemente afetados por desastres naturais em 2017, os aumentos não passaram de 10%. Assim mesmo nas áreas de maior risco.

Segundo a Willis Re, as seguradoras tentaram emplacar reajustes bem mais altos do que isso para riscos catastróficos nos EUA. Porém, em geral, acabaram tendo que aceitar patamares inferiores a 10%.

As catástrofes tampouco afetaram a elevada capacidade disponível no mercado americano, que exerce forte influência sobre as tendências globais.

A incapacidade do mercado de fazer os preços subirem se refletem também em outras coberturas que tiveram perdas no ano passado, como os riscos cibernéticos. As tarifas para as coberturas cyber baixaram entre 5% e 10% nas renovações de abril.

LEIA TAMBÉM

Contratos inteligentes vão automatizar o seguro




Negócio internacional alavanca resseguro local

O aumento do negócio internacional foi chave para os resultados apresentados pelas resseguradoras locais em 2017. Isso de acordo com relatório da Terra Brasis.

Segundo cálculos da empresa, com base em dados da Susep, o volume de prêmios captados no exterior pelas resseguradoras locais cresceu 57% no ano passado. Dessa forma chegando a R$ 2,26 bilhões.

O crescimento foi bem mais forte do que o registrado pelo volume total de prêmios cedidos às resseguradoras locais por clientes baseados no Brasil. Dessa forma, aumentou 7,9% para atingir R$ 7,97 bilhões.

Como um todo, o mercado de resseguros apresentou um incremento de 8,72%. Assim, somando R$ 11,06 bilhões em prêmios de resseguros. As cessões feitas diretamente por cedentes brasileiras ao mercado global chegaram a R$ 3,08 bilhões. Um incremento de quase 11%.

Retenção local

Os dados também indicam que a gradual reabertura do mercado de resseguros, com a redução da parcela de cessão local obrigatória, está tendo pouco efeito, até o momento, nos níveis de retenção local.

Se em 2016 as resseguradoras locais tinham 72,7% dos prêmios de resseguros cedidos por cedentes brasileiras, no fim do ano passado o número era de 72,1%, ou quase R$ 8 bilhões.

O estudo mostra que, no segundo semestre de 2016, a retenção local era de 80%. Porém, os níveis estão longe dos patamares atingidos em 2010. Foi quando caiu para pouco mais de 40% e convenceu o governo a adotar novas medidas restritivas. Por exemplo, como o direito de primeira recusa por parte das resseguradoras locais sobre 40% dos prêmios cedidos.

Considerando os prêmios captados no Brasil e no exterior, as resseguradoras locais fecharam o ano com R$ 10,231 bilhões. Volume dos quais R$ 3,955 bilhões, ou 38,7%, foram repassados para o mercado global por meio de contratos de retrocessão.

Já os prêmios cedidos em cosseguro caíram para R$ 2,2 bilhões no final de 2017. Ou seja,  2,9% menos do que no ano anterior.

Os dados analisados pela Terra Brasis mostram uma redução significativa da participação dos cosseguros no mercado de seguros gerais. Portanto, se em 2008 eles representam mais de 6% do mercado, no final do ano passado a proporção havia caído para 2,3%.

Lucros

Como em anos anteriores, a performance do mercado foi fortemente condicionada pelo IRB Brasil Re. A empresa fechou o ano com 33% dos prêmios de resseguro, e 45% do que foi captado pela resseguradoras locais.

Em contrapartida, as outras resseguradoras locais atuantes no país chegaram a uma participação de 40% no mercado. Enquanto 28% dos prêmios foram cedidos diretamente ao resseguro internacional.

O setor fechou o ano com um lucro agregado de R$ 1,3 bilhões, um valor 15% maior do que em 2016. Deste total, o IRB Brasil foi responsável por mais de 70%.

Um dos fatores que auxiliaram o mercado a melhorar seus resultados foi a queda da sinistralidade, que fechou o ano em 59%, contra 66% em 2016.

O IRB Brasil puxou a rentabilidade do setor com um índice de R0E, que mede a lucratividade de uma empresa, de 27,2%, consolidando sua posição como uma das resseguradoras mais rentáveis do mundo.

Mas, em comentário incluído no estudo, o diretor geral da Terra Brasis, Rodrigo Botti, observa que, em 2017 pela primeira vez as ressegudoras locais que entraram no mercado após o fim do monopólio do IRB, em 2008, conseguiram uma rentabilidade superior à do CDI.

Para Botti, isso reflete o amadurecimento das operações das resseguradoras locais, já que o negócio, por sua natureza, exige tempo para gerar lucros.

As empresas que entraram no mercado em 2008, por exemplo, tiveram um ROE de 11%, comparado com 9,8% em 2016.

Já as que começaram em 2014 ainda apresentaram um ROE negativo, de -1,2%, mas muito melhor do que os -13,8% do ano anterior. No total, a rentabilidade do setor não-IRB Brasil do mercado foi de 10,6%.

Por linhas

Em termos de linhas de negócio, a que mais que cresceu em 2017 foi a de seguros para pessoas, cujo volume de cessões pelas seguradoras brasileiras aumentou em 40%.

Outras linhas que tiveram bom desempenho foram riscos financeiros (aumento de 25%), automóveis (18%) e rural (12%).

Mas os efeitos do fraco desempenho da economia também foram sentidos pelo setor.

Linhas dependentes da atividade econômica, como os seguros aeronáuticos e de riscos especiais, mostraram significativas quedas nos volumes de cessão, com -20% e -22%, respectivamente.

LEIA TAMBÉM

Contratos inteligentes vão automatizar o seguro




Gestão de sinistro evolui e ganha espaço no mercado

Alexander Mack, da AGCS
Alexander Mack, da AGCS

A gestão de sinistro está ganhando espaço no mercado segurador. Isso de acordo com executivos de seguradoras internacionais.

Isso significa, por exemplo, que os profissionais da área de gestão de sinistro, outrora relegados a entrar em ação somente quando o cliente sofria uma perda,  estão mudando. Agora estão cada vez mais envolvidos com o processo de subscrição da apólice. Bem como prevenção de riscos e prestação de serviços às empresas.

A mudança reflete o reconhecimento por parte do mercado. Dessa forma, salienta que a gestão de sinistros é a verdadeira vitrine de seus negócios. Uma vez que é a forma como se gere uma perda que define a percepção, por parte dos clientes, do real valor de uma apólice.

E também mostra que os subscritores estão preocupados em endereçar queixas comumente. Assim expressadas por clientes corporativos. Este,  muitas vezes sofrem para retomar seus negócios após sofrer uma perda complexa.

As conclusões se baseiam em uma série de entrevistas feitas no último ano. São entrevistas feitas  com os diretores de gestão de sinistro de algumas das principais seguradoras e resseguradoras do mundo. Igualmente, o tema das entrevistas foi a busca de maior eficiência para um processo. Historicamente, esse processo tendia a ser considerado secundário pelo mercado.

Este artigo trata do novo status que os departamentos de gestão de sinistros estão desfrutando. Principalmente nas empresas de seguro e resseguro. Na próxima semana, trataremos das inovações tecnológicas. São as inovações que buscam aumentar a eficiência desta importante função.

Não mais back office

Corinne Southarewsky, da Axa CS
Corinne Southarewsky, da Axa CS

“A gestão de sinistros passou por uma transformação nos últimos anos”. Isso segundo Alexander Mack, o diretor de Gestão de Sinistros da Allianz Global Corporate & Specialty, AGCS. “No passado, a gestão de sinistros era a principal tarefa dos departamentos de ‘Claims’. Agora isso mudou. A gestão de sinistros deixou de ser uma função de ‘back office’ para uma se tornar uma função estratégica, de contato com o cliente.”

Essa nova realidade implica que os profissionais da área já não devem mais ser chamados apenas no momento que ocorre uma perda. Pelo contrário. Seu engajamento deve começar já na hora em que os subscritores estão tentando convencer uma empresa a se tornar um cliente ou continuar trabalhando com a seguradora.

Eles devem preparar simulações de perdas. Assim também explicar para o cliente como, exatamente, um sinistro será administrado, caso venha a ocorrer. Além disso, devemcriar canais de comunicação para que o cliente não tenha dificuldades para contatar as pessoas corretas em uma emergência.

Segundo Mack, “A gestão de sinistros tem um grande impacto na decisão de um cliente corporativo que está escolhendo seu segurador”. Contudo, ele ressalta: “Os clientes que tiveram uma boa experiência de sinistros com a gente são cinco vezes mais inclinados a nos recomendar como subscritores que aqueles que não tiveram tal experiência.”

“Os clientes querem saber como seus sinistros serão geridos e pagos”, observou Stuart Willoughby, o diretor global de Gestão de Sinistros na resseguradora Scor. “A apresentação das nossas capacidades de gerar sinistros é parte da proposta que fazemos para os clientes.”

Relacionamento

Hannah Purves, da Markel International
Hannah Purves, da Markel International

Na visão de Corinne Southarewsky, a diretora global de Gestão de Sinistro da Axa Corporate Solutions, a construção de um bom relacionamento entre o cliente e os professionais que vão gerir eventuais sinistros, antes mesmo que uma perda aconteça, é fundamental para as seguradoras.

“Quando se lida com sinistros, as relações que se têm são muito importantes”, disse a executiva. “Você tem que lidar com seus clientes. E é necessário agir como um gestor de projetos para encontrar soluções para situações complicadas.”

Por esse motivo, em seu departamento, além do conhecimento técnico, a Axa CS valoriza, na hora de recrutar novos profissionais, habilidades como a facilidade de se relacionar com as pessoas. Bem como a capacidade de comunicação e outros talentos antes ignorados pela área.

“É muito importante que nossos experts na área de sinistros tenham a mente aberta para lidar com culturas diferentes”, exemplificou Southarewsky.

Isso porque a empresa lida com perdas que acontecem ao redor de todo o mundo. Por exemplo,  lidando com 150.000 sinistros anuais.

Novas expectativas

Por sua vez, Sharon Long, diretora de Gestão de Sinistro na seguradora londrina Neon, acredita que uma nova forma de lidar com o tema se impõe. Principalmente, devido à evolução das expectativas dos clientes.

Com um número crescente de empresas promovendo executivos que cresceram utilizando a internet e as redes sociais, antigas e vetustas práticas do mercado segurador precisam se adaptar à maneira como eles fazem negócios.

Fatores como a experiência que se têm ao lidar com a seguradora. Assim como honestidade, transparência e integridade ganham peso. Assim, se somam ao pagamento de uma perda como elementos que definem se um cliente seguirá ou não trabalhando com suas seguradoras, afirmou a executiva.

Esse é um dos motivos porque, na Neon, a busca de novos profissionais de gestão de sinistros se ampliou para além do tradicional grupo de especialistas na área. Da mesma forma, a empresa está fazendo um esforço para atrair gente com trajetórias que, em outros tempos, nem seriam consideradas pelo mercado.

“Outras seguradoras tendem a contratar as mesmas pessoas que têm estado no mercado ano após ano”, disse Long. “Nós estamos olhando mais adiante. E  isso exige trazer novas ideias, uma orientação para os nossos serviços. Meu mandado é de construir uma equipe de profissionais para dar serviço na área de sinistros que atua de maneira diferente à dos nossos competidores.”

Da mesma forma, a contratação e retenção de talento é, em realidade, um dos desafios enfrentados pelo setor. Porém, executivos dizem que várias seguradoras estão aproximando os níveis salariais de gestores de sinistros com os de subscriptores. O que torna a função mais atraente para jovens profissionais.

O poder de dizer sim

Outra prioridade para várias empresas do setor é combater a ideia de que as seguradoras estão mais preocupadas em não pagar um sinistro. Mais do que em cumprir com os compromissos expostos na apólice.

Por exemplo, na Markel International,  os profissionais da área de gestão de sinistro possuem mais autonomia para decidir que um evento está coberto pela apólice do que para negar o seu pagamento. Isso de acordo com Hannah Purves, diretora de Gestão de Sinistros da empresa.

“Enquanto todos membros da nossa equipe têm o poder de pagar um sinistro, apenas um de cada três pode decidir por declinar o pagamento”, afirmou.

Outra preocupação da empresa é assegurar que uma decisão sobre o pagamento de um sinistro seja tomada o mais rapidamente possível.

“Na Markel, nós vemos a gestão de sinistros como uma vitrine para a subscrição”, disse a executiva.

LEIA TAMBÉM




Axa cria líder global, mas mercado reage mal

A onda de fusões e aquisições no mercado de seguros teve um desdobramento dramático com a anúncio de que a francesa Axa decidiu comprar a XL, baseada em Bermuda.

O presidente da Axa, Thomas Buberl, descreveu a transação como uma “oportunidade estratégica única”. Isso para mudar o perfil da empresa. Assim aumentando sua exposição ao mercado de seguros comerciais, em detrimento das linhas de vida.

A Axa afirma que o novo grupo será a maior seguradora especializada em linhas para empresas de todo o mundo.

Para tanto, aceitou pagar US$ 15,3 bilhões, ou R$ 50 bilhões, pelo grupo XL, uma tradicional seguradora e resseguradora global com forte presença nos Estados Unidos e no mercado de Londres. No Brasil, a combinação das duas companhias criará a sexta maior seguradora de empresas do mercado, de acordo com ranking elaborado por RSB.

Comunicado

A Axa afirmou em um comunicado que seu plano é reduzir sua exposição a linhas de seguros. Os resultados técnicos dessas linhas são mais sensíveis aos humores dos mercados financeiros. O plano agora é focar em áreas como os seguros para empresas. Dessa forma, cuja performance está mais ligada à qualidade da subscrição de riscos.

A estratégia deve ser complementada nos próximos anos com a IPO da unidade de seguros de vida e gestão de ativos da Axa nos Estados Unidos.

A empresa considera que a forte presença da XL no mercado corporativo dos Estados Unidos e em Londres, bem como sua relevância no segmento de grandes riscos, complementa a própria atividade de linhas comercais da Axa. A gigante tem uma presença importante no continente europeu e em linhas dedicadas a pequenas e médias empresas.

“A Axa do futuro verá seu perfil ser rebalanceado. Da mesma forma com foco em riscos do mercado de seguro e distanciando-se dos riscos financeiros”, disse Buberl em um comunicado. “O grupo XL tem a presença geográfica correta. Assim como equipes de primeiro nível com expertise reconhecida e reputação por criar soluções inovadoras para os clientes.”

Onda

Todavia, a aquisição segue uma série de transações similares em um mercado que parece ter retomado o apetite pelas grandes operações de consolidação. Principalmente após um par de anos mais sossegados.

Segundo a consultoria Conning, em 2016 e 2017, a ênfase do setor esteve em operações de menor porte . Elas visaram recalibrar os negócios das empresas com vistas a um futuro incerto.

Porém, as grandes transações que têm o objetivo de incrementar a presença de empresas em mercados com potencial de crescimento parecem estar de volta em 2018.

Por exemplo, em janeiro, a americana AIG já havia comprado o grupo Validus, baseado em Bermuda, por US$ 5,56 bilhões.

No final de fevereiro, foi a vez da Zurich anunciar uma aquisição. A empresa pagou US$ 409 milhões pelas operações na Américas Latina da australiana QBE.

Igualmente, o mercado parece estar disposto a adotar uma estratégia de crescer por meio de aquisições. Uma vez que tanto os resultados técnicos quanto os financeiros estão difíceis de decolar no atual cenário global.

Analistas consideram que outros subscritores baseados em Bermuda, que sofreram bastante com o longo período de preços baixos no mercado não-vida, constituem alvos suculentos para grandes grupos em busca de aquisições.

Reação negativa

Ainda assim, a reação de investidores à compra da XL pela Axa foi negativa. Isso, com a ação da empresa francesa despencando quase 10% logo após o anúncio.

Analistas expressaram dúvidas com respeito ao preço pago pela seguradora francesa, ademais de incertezas sobre as sinergias que serão criadas.

A gestora de ativos Macquarie qualificou o raciocínio por trás da operação como “pouco convincente”. Dessa forma, expressando dúvidas sobre a capacidade da XL de obter os resultados esperados pela Axa nas atuais condições de mercado.

Para chegar aos US$ 1 bilhão de lucros projetados, os analistas da empresa calculam que o índice combinado da XL teria que fechar o ano em 95%.

Mas em 2017, um ano difícil devido ao elevado número de catástrofes naturais, a empresa registrou 106,8%, notou a Macquirie. Mesmo em 2016, mais favorável em termos de perdas catastróficas, o índice combinado foi de 96,9%.

Já a agência de avaliação de crédito S&P observou que a Axa planeja financiar boa parte da aquisição. Isso com recursos levantados pela listagem em bolsa de sua unidade de seguros de vida americana.

Risco de perda

Contudo, caso esta operação seja menos bem-sucedida que o esperado, alertou a agência, os níveis de capital da seguradora francesa poderiam ser significativamente fragilizados.

A S&P também observou que há risco de perda de clientes por parte da XL após a operação. Especialmente no setor de resseguros. Uma vez que seguradoras que são rivais da Axa no mercado primário podem pensar duas vezes antes de continuar trabalhando com a empresa.

Mas a S&P concorda com a visão de que a aquisição tem valor estratégico para a Axa. Isso devido à presença da XL no mercado de grandes riscos. Da mesma forma levando em conta a complementaridade e potencial de ganhos de sinergia entre as duas empresas no mercado seguros comerciais não-vida.

A empresa francesa vai fundir sua unidade de seguros comerciais, Axa CS, à XL. Assim, formando uma operação com mais de US$ 15 bilhões em prêmios, dos quais um terço é formado por prêmios de resseguros.




Blockchain chega à indústria do seguro sem o drama do bitcoin

A tecnologia blockchain está chegando também ao mercado segurador. Ainda que sua aplicação na indústria deva ser bem menos dramática do que o fenômeno do bitcoin e outras criptomoedas.

Projetos em desenvolvimento por consórcios de seguradoras e resseguradoras, além de parceiros tecnológicos e consultorias, buscam a melhor forma de traduzir ao setor o potencial da tecnologia. Assim. permite adotar maneiras seguras de compartilhar informações. Bem como tornar mais eficiente a interação entre participantes de um contrato.

“Blockchain possibilita que muitas fontes de dados sejam agregadas, compartidas e compatibilizadas. Ao mesmo tempo em que se garante que a informação é segura”, afirmou Shawn Crawford, líder global da área de Seguros da consultoria EY.

A descrição soa menos emocionante do que a criação de valor monetário via “mineração de dados” em diversos computadores que caracteriza as criptomoedas.

Mas, em realidade, as características da blockchain, ou tecnologias de registro contábil descentralizado, como alguns especialistas preferem chamar, tornam esta inovação especialmente útil para o setor segurador.

Novos contratos

Isso porque elas criam a possibilidade de implementar contratos entre vários participantes. Eles são, ao mesmo tempo, constantemente adaptáveis e seguros. Ou seja, podem variar de acordo com a evolução do risco. Simultaneamente em que se reduz o risco de fraude.

Isso acontece porque, ao participar de um contrato baseado na tecnologia do blockchain, compradores, subscritores e corretores entram em uma “corrente” comum em que cada elo (ou bloco) necessita ser aprovado por todos os participantes antes de ser integrado ao contrato.

Cada vez que uma modificação no contrato é feita, por menor que seja, um novo bloco é adicionado (após aprovação dos participantes). Dessa forma  implica na criação de um novo registro que pode ser rastreado e checado.

O mais importante, possivelmente, é que ninguém tem o controle do processo. Isso já que todos os participantes têm o mesmo poder. Assim, na visão dos defensores da tecnologia, reduz o risco de fraudes ou de comportamento monopolístico que se encontra em sistemas centralizados de compartilhamento de informações. Por exemplo, como os bancos centrais ou as bolsas de valores.

Exemplo

O potencial da tecnologia pode ser ilustrado por um exemplo citado por Ryan Rugg, a chefe da área de seguros da R3, um consórcio internacional de instituições financeiras que desenvolve sistemas baseados em blockchain para o setor.

O exemplo envolve uma protegida por uma apólice de danos materiais que, durante a vigência da cobertura, recebe a instalação de sprinklers. Além de outros sistemas de contenção e prevenção de incêndios.

Em um contrato firma via blockchain, o proprietário do imóvel pode acrescentar a informação ao sistema. Assim, uma vez que todos os outros participantes aprovem, ela é acrescida ao contrato.

Uma vez feito isso, o sistema pode adaptar automaticamente o valor do prêmio cobrado. Bem como utras condições vigentes no contrato.

“A apólice jamais será inserida no registro. A menos que todas as partes concordem com os novos termos”, explicou Rugg. “Todos os diferentes campos e subcampos são então codificados em um contrato inteligente.”

A R3 desenvolveu um sistema operacional, chamado CORDA. O sistema tem o objetivo de ser usado pelas instituições participantes do projeto em seus próprios sistemas para implementar a tecnologia blockchain.

Segundo Rugg, a ideia é que o CORDA funcione como o sistema operacional iOS, da Apple. Provendo, assim, uma base tecnológica para que cada usuário desenvolva ou instale suas próprias apps baseadas em blockchain.

Assim, ela acredita que, uma vez que a tecnologia esteja difundida, auxiliará os seguradores a reduzir custos operacionais de forma significativa. Sob o mesmo ponto de vista, ajudando o setor a aumentar seus níveis de rentabilidade.

Experiência

Uma das primeiras experiências que estão chegando ao mercado segurador envolve o setor de seguros marítimos. Na opinião de Crawford, o setor apresenta um potencial todo especial para a tecnologia.

“Empresas de navegação marítima têm a capacidade de coletar enormes quantidades de informação de seus navios”, observou Crawford. “O grande problema é que, hoje em dia, os dados disponíveis não são compartilhados com as seguradoras que assumem os riscos de operação dos navios.”

Em sua opinião, a tecnologia blockchain pode ajudar a mudar esta situação. Por exemplo, o registro compartilhado pode ser automaticamente alimentado com dados como o percurso percorrido pelo navio segurado. Da mesma forma, adaptando o valor do prêmio aos riscos envolvidos.

Por exemplo, se o capitão decide passar por uma região com risco de pirataria ou de guerra para chegar mais rápido ao seu destino. Durante este período o armador teria que pagar um prêmio adicional ao subscritor.

Projeto piloto

O projeto-piloto do qual a EY participa visa testar exatamente este tipo de possibilidade. A empresa se aliou à tecnológica Guardtime para desenvolver um sistema blockchain. O sistema interliga a Maersk, maior armadora do mundo, com seus corretores. Também com seus subscritores e outros participantes das apólices.

Segundo Crawford, o sistema fará com que a Maersk disponibilize uma grande quantidade de dados a seus corretores. Eles então compartilharão estas informações, de forma segura, com os seguradores. Willis Towers Watson, MS Amlin e XL Catlin também participam do projeto.

Além da possibilidade de precificar o risco de maneira mais satisfatória para todas as partes, existem outras vantagens. Segundo Crawford, encontram-se melhoras na área de compliance de todos os envolvidos.

Isso porque os reguladores terão maior facilidade de conferir o cumprimento das normas de cada setor envolvido, já que os contratos serão totalmente rastreáveis.

“Todas as transações com todos os participantes serão rastreáveis em qualquer momento, e cada pedaço de informação pode ser armazenada de forma segura”, afirmou Crawford. “Isso possibilita uma negociação mais rápida das coberturas, a precificação inteligente dos ativos segurados e a automatização do processo.”

Além disso, no caso de um sinistro, todos os participantes podem ter acesso imediato a informações que podem ajudar na sua gestão, como vídeos e fotos feitos imediatamente pela companhia que opera os navios.

Novas coberturas

Michael Mainelli, CEO da Z/Yen, uma empresa que desenvolve sistemas de blockchain, considera que a tecnologia também oferece possibilidades interessantes para a criação de novas coberturas, por exemplo na área de seguros paramétricos.

Ele mencionou o caso dos seguros cibernéticos, em que uma empresa um dia pode lançar uma cobertura que seja acionada automaticamente se um determinado número de computadores ligados a uma corrente blockchain deixe de funcionar por um determinado número de horas.

Por exemplo, na apólice poderia constar que o sinistro está coberto se 25% dos computadores cobertos pela seguradora em São Paulo ficarem fora de operação durante quatro horas, um evento que o registro detectaria automaticamente.

Por outro lado, Mainelli alertou que, quem estiver pensando em surfar a onda do bitcoin para usar blockchain em sistemas de pagamento vai dar com os burros n’água.

“Em áreas como as criptomoedas, as pessoas estão começando a entender algo que já estamos dizendo faz anos, ou seja, que o custo dos pagamentos é alto demais”, afirmou. Ele estima que pagamentos em bitcoin têm um custo de US$35 a US$40 por transação.

LEIA TAMBÉM

Internet das coisas: o impacto no mercado de seguros




2017 acaba com R$ 1 trilhão em perdas catastróficas

Sim, são perdas catastróficas. Os prejuízos causados por catástrofes, naturais ou humanas, chegaram a US$ 306 bilhões. Ou R$ 1,01 trilhão, em 2017. Isso de acordo com a resseguradora Swiss Re.

Relatório preliminar sobre os eventos catastróficos do ano que acaba também afirma que as perdas seguradas atingiram US$ 188 bilhões (R$ 621 bilhões). Trata-se do terceiro valor mais alto já registrado.

O elevado volume de perdas catastróficas contrasta com a performance dos últimos últimos dez anos. Da mesma forma em que a média das perdas econômicas atingiram US$ 190 bilhões.

A disparidade é ainda maior no que diz respeito às perdas cobertas pelo mercado de seguros. Contudo, o número de 2017 é 134% superior à média da última década. O valor foi de US$ 58 bilhões.

O valor final do ano pode ser na verdade ainda maior. Uma vez que os incêndios florestais no estado americano da Califórnia continuam em pleno vigor.

Furacões

As principais causas das fortes perdas registradas neste ano foram os furacões que atingiram os Estados Unidos e o Caribe no terceiro trimestre.

A Swiss Re estima que Harvey, Irma e Maria, agora referidos em conjunto no mercado como HIM, causaram quase US$ 93 bilhões em destruição coberta pelo mercado de seguros.

O valor é o segundo mais alto já registrado. Perde apenas para 2005, quando as causadas pelos furacões Katrina, Rita e Wilma se aproximaram de US$ 120 bilhões.

Em contrapartida, no período intermediário entre essas duas temporadas, os Estados Unidos, país mais afetado por elas, viveu uma época de relativa calma em termos de furacões. É observa Kurt Karl, o economista-chefe da Swiss Re.

“Houve um significativo aumento no número de pessoas que vivem em novas casas em comunidades costeiras desde o Katrina”, afirmou Karl.

“Portanto, agora, quando um furacão acontece, o potencial de perdas em alguns lugares é muito maior do que era anteriormente.”

Mais desastres

Os Estados Unidos, maior mercado segurador do mundo, também foi alvo em 2017 de cinco grandes tempestades que causaram perdas superiores a US$ 1 bilhão cada.

Uma delas, no estado do Colorado, durou quatro dias e causou perdas agregadas de US$ 2,8 bilhões. A princípio, US$ 2,5 bilhões desse montante estavam seguradas.

Os incêndios florestais também deixaram sua marca. Com vários grandes eventos ocorrendo na Califórnia e causando perdas de ao menos US$ 7,3 bilhões. Valor que segue em alta na medida em que algumas conflagrações ainda não foram totalmente encerradas.

A Europa também viu grandes incêndios florestais, especialmente em Portugal e na Espanha. Embora as perdas seguradas sejam menos significativas nesses casos.

No México, dois fortes terremotos nos estados de Tehuantepec e Puebla deixaram mais de US$ 2 bilhões em perdas para o mercado de seguros.

Da mesma forma, iInundações na Austrália e no sul da Ásia também colaboraram para o malfadado recorde de 2017.

A Swiss Re também estima que cerca de 11 mil pessoas morreram em decorrência de eventos catastróficos no ano que termina.

LEIA TAMBÉM