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Blockchain chega à indústria do seguro sem o drama do bitcoin

A tecnologia blockchain está chegando também ao mercado segurador. Ainda que sua aplicação na indústria deva ser bem menos dramática do que o fenômeno do bitcoin e outras criptomoedas.

Projetos em desenvolvimento por consórcios de seguradoras e resseguradoras, além de parceiros tecnológicos e consultorias, buscam a melhor forma de traduzir ao setor o potencial da tecnologia. Assim. permite adotar maneiras seguras de compartilhar informações. Bem como tornar mais eficiente a interação entre participantes de um contrato.

“Blockchain possibilita que muitas fontes de dados sejam agregadas, compartidas e compatibilizadas. Ao mesmo tempo em que se garante que a informação é segura”, afirmou Shawn Crawford, líder global da área de Seguros da consultoria EY.

A descrição soa menos emocionante do que a criação de valor monetário via “mineração de dados” em diversos computadores que caracteriza as criptomoedas.

Mas, em realidade, as características da blockchain, ou tecnologias de registro contábil descentralizado, como alguns especialistas preferem chamar, tornam esta inovação especialmente útil para o setor segurador.

Novos contratos

Isso porque elas criam a possibilidade de implementar contratos entre vários participantes. Eles são, ao mesmo tempo, constantemente adaptáveis e seguros. Ou seja, podem variar de acordo com a evolução do risco. Simultaneamente em que se reduz o risco de fraude.

Isso acontece porque, ao participar de um contrato baseado na tecnologia do blockchain, compradores, subscritores e corretores entram em uma “corrente” comum em que cada elo (ou bloco) necessita ser aprovado por todos os participantes antes de ser integrado ao contrato.

Cada vez que uma modificação no contrato é feita, por menor que seja, um novo bloco é adicionado (após aprovação dos participantes). Dessa forma  implica na criação de um novo registro que pode ser rastreado e checado.

O mais importante, possivelmente, é que ninguém tem o controle do processo. Isso já que todos os participantes têm o mesmo poder. Assim, na visão dos defensores da tecnologia, reduz o risco de fraudes ou de comportamento monopolístico que se encontra em sistemas centralizados de compartilhamento de informações. Por exemplo, como os bancos centrais ou as bolsas de valores.

Exemplo

O potencial da tecnologia pode ser ilustrado por um exemplo citado por Ryan Rugg, a chefe da área de seguros da R3, um consórcio internacional de instituições financeiras que desenvolve sistemas baseados em blockchain para o setor.

O exemplo envolve uma protegida por uma apólice de danos materiais que, durante a vigência da cobertura, recebe a instalação de sprinklers. Além de outros sistemas de contenção e prevenção de incêndios.

Em um contrato firma via blockchain, o proprietário do imóvel pode acrescentar a informação ao sistema. Assim, uma vez que todos os outros participantes aprovem, ela é acrescida ao contrato.

Uma vez feito isso, o sistema pode adaptar automaticamente o valor do prêmio cobrado. Bem como utras condições vigentes no contrato.

“A apólice jamais será inserida no registro. A menos que todas as partes concordem com os novos termos”, explicou Rugg. “Todos os diferentes campos e subcampos são então codificados em um contrato inteligente.”

A R3 desenvolveu um sistema operacional, chamado CORDA. O sistema tem o objetivo de ser usado pelas instituições participantes do projeto em seus próprios sistemas para implementar a tecnologia blockchain.

Segundo Rugg, a ideia é que o CORDA funcione como o sistema operacional iOS, da Apple. Provendo, assim, uma base tecnológica para que cada usuário desenvolva ou instale suas próprias apps baseadas em blockchain.

Assim, ela acredita que, uma vez que a tecnologia esteja difundida, auxiliará os seguradores a reduzir custos operacionais de forma significativa. Sob o mesmo ponto de vista, ajudando o setor a aumentar seus níveis de rentabilidade.

Experiência

Uma das primeiras experiências que estão chegando ao mercado segurador envolve o setor de seguros marítimos. Na opinião de Crawford, o setor apresenta um potencial todo especial para a tecnologia.

“Empresas de navegação marítima têm a capacidade de coletar enormes quantidades de informação de seus navios”, observou Crawford. “O grande problema é que, hoje em dia, os dados disponíveis não são compartilhados com as seguradoras que assumem os riscos de operação dos navios.”

Em sua opinião, a tecnologia blockchain pode ajudar a mudar esta situação. Por exemplo, o registro compartilhado pode ser automaticamente alimentado com dados como o percurso percorrido pelo navio segurado. Da mesma forma, adaptando o valor do prêmio aos riscos envolvidos.

Por exemplo, se o capitão decide passar por uma região com risco de pirataria ou de guerra para chegar mais rápido ao seu destino. Durante este período o armador teria que pagar um prêmio adicional ao subscritor.

Projeto piloto

O projeto-piloto do qual a EY participa visa testar exatamente este tipo de possibilidade. A empresa se aliou à tecnológica Guardtime para desenvolver um sistema blockchain. O sistema interliga a Maersk, maior armadora do mundo, com seus corretores. Também com seus subscritores e outros participantes das apólices.

Segundo Crawford, o sistema fará com que a Maersk disponibilize uma grande quantidade de dados a seus corretores. Eles então compartilharão estas informações, de forma segura, com os seguradores. Willis Towers Watson, MS Amlin e XL Catlin também participam do projeto.

Além da possibilidade de precificar o risco de maneira mais satisfatória para todas as partes, existem outras vantagens. Segundo Crawford, encontram-se melhoras na área de compliance de todos os envolvidos.

Isso porque os reguladores terão maior facilidade de conferir o cumprimento das normas de cada setor envolvido, já que os contratos serão totalmente rastreáveis.

“Todas as transações com todos os participantes serão rastreáveis em qualquer momento, e cada pedaço de informação pode ser armazenada de forma segura”, afirmou Crawford. “Isso possibilita uma negociação mais rápida das coberturas, a precificação inteligente dos ativos segurados e a automatização do processo.”

Além disso, no caso de um sinistro, todos os participantes podem ter acesso imediato a informações que podem ajudar na sua gestão, como vídeos e fotos feitos imediatamente pela companhia que opera os navios.

Novas coberturas

Michael Mainelli, CEO da Z/Yen, uma empresa que desenvolve sistemas de blockchain, considera que a tecnologia também oferece possibilidades interessantes para a criação de novas coberturas, por exemplo na área de seguros paramétricos.

Ele mencionou o caso dos seguros cibernéticos, em que uma empresa um dia pode lançar uma cobertura que seja acionada automaticamente se um determinado número de computadores ligados a uma corrente blockchain deixe de funcionar por um determinado número de horas.

Por exemplo, na apólice poderia constar que o sinistro está coberto se 25% dos computadores cobertos pela seguradora em São Paulo ficarem fora de operação durante quatro horas, um evento que o registro detectaria automaticamente.

Por outro lado, Mainelli alertou que, quem estiver pensando em surfar a onda do bitcoin para usar blockchain em sistemas de pagamento vai dar com os burros n’água.

“Em áreas como as criptomoedas, as pessoas estão começando a entender algo que já estamos dizendo faz anos, ou seja, que o custo dos pagamentos é alto demais”, afirmou. Ele estima que pagamentos em bitcoin têm um custo de US$35 a US$40 por transação.

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Seguro ficou para trás e sabe disso, diz pesquisa

A indústria de seguro ficou para atrás de outros setores na adoção de novas tecnologias. E seus executivos sabem disso. É o que afirma um relatório da agência de qualificação AM Best.

Para conseguir tirar o atraso há algumas práticas. Por exemplo,  é necessário que os próprios CEOs e outros chefes das empresas de seguro tomem a iniciativa de aprender sobre as novas tecnologias. Bem como acompanhar seu desenvolvimento e implementação. Sob o mesmo ponto de vista, mandar os departamentos de informática darem um jeito no problema já não é o suficiente. Isso de acordo com a firmação da agência.

Consequentemente porque a indústria do seguro também está vivendo a chegada de novos atores. E estes ameaçam mudar totalmente a maneira como o setor atua.

Contudo, a boa notícia é que alguns subscritores já estão trabalhando no tema. Por exemplo, utilizando novas tecnologias. São elas, tecnologias de predição do comportamento dos clientes e inteligência artificial. Dessa forma, pode agilizar o processo de subscrição. Bem como precificar melhor suas coberturas e implementar sistemas de gestão de sinistros mais eficientes.

“As seguradoras simplesmente necessitam continuar a investir em novas tecnologias. Assim esperamos que os subscritores calquem uma porção material de suas despesas a melhorias tecnológicas e atualizações de seus sistemas”, afirma a AM Best no relatório.

Prioridades

Todavia, as áreas em que as empresas acreditam haver mais necessidade de atualizar suas tecnologias incluem a coleta e utilização de dados (“data mining”). Também a melhoria da interação com os clientes e distribuição de produtos.

Dessa forma, o “data mining” foi apontado por 27% dos entrevistados como a parte do seu modelo negócio que mais necessita adotar novas tecnologias. Simultaneamente, a AM Best nota que, pela própria natureza de seu negócio, as seguradoras coletam quantidades enormes de informações. Dessa forma, sua utilização pode trazer grandes avanços em termos de precificação e seleção dos riscos que elas tomam de seus clientes.

Por outro lado, é corrente no mercado a visão de que a qualidade dos dados coletados nem sempre é a melhor possível. Dessa forma acarreta riscos. De qualquer maneira, afirma o documento, tanto seguradoras como insurtechs estão investindo em ferramentas analíticas para digerir os dados coletados pelo setor.

É seguro dar atenção aos clientes

Contudo, o segundo item mais citado pelos executivos das empresas entrevistadas é a melhoria da atenção aos clientes. Afinal, o dado foi mencionado por 26,5% do total. A tendência, neste quesito, é que cada vez menos contato com os clientes se faça pessoalmente e com um uso de papelada, com um volume crescente de interações se realizando digitalmente, com uso de chatbots e outras tecnologias.

A distribuição de produtos veio em terceiro lugar. Representa 18,5% das escolhas. Uma vez que as redes sociais estão criando oportunidades para que as seguradoras distribuam seus produtos ao consumidor final sem necessitar de intermediários.

A criação de novos produtos que acompanhem os modos de consumo sempre mutantes das pessoas e empresas recebeu 18% das menções. Enquanto que os processos de subscrição ficaram com 10%.

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Clubes europeus compram seguro contra zebra

Quando se fala em clubes europeus e nos mercados desenvolvidos, hoje é possível comprar seguro contra quase tudo. Até mesmo contra zebras.

E não estamos falando aqui de uma proteção que o Pantera Negra poderia adquirir contra uma revolta entre os usualmente pacíficos equídeos africanos. Trata-se, isso sim, da famosa zebra esportiva. A situação em que um azarão contradiz todas as expectativas e acaba conquistando glórias inesperadas.

Essa é uma das funções do seguro conhecido no mercado internacional como Prize Indemnity. Em determinadas situações, ele funciona como uma garantia que um clube de futebol, por exemplo, pode ter contra seu próprio sucesso.

A lógica por trás da cobertura, que também é utilizada em promoções de marketing ligadas a esportes ou a loterias, é que mesmo as façanhas mais improváveis podem acabar acontecendo. Dessa forma, causando prejuízos financeiros às empresas envolvidas.

Tome-se o caso do futebol. Em vários países europeus, os clubes são empresas constituídas. Da mesma forma são detidas por acionistas. Também fiscalizadas por autoridades tributárias que exigem que, no final do ano, as contas fechem de uma maneira razoável.

Ao mesmo tempo, para ser minimamente competitivos, clubes de pequeno e médio porte necessitam atrair talento. Isso sem poder pagar os salários exorbitantes oferecidos pelo PSG, Manchester City ou Barcelona.

Dessa forma, para compensar os salários modestos, muitos clubes europeus oferecem bônus por desempenho. Igualmente os bônus são cada vez maiores de acordo com a improbabilidade de uma conquista. Por exemplo, quando ligados à conquista de um título ou à qualificação a Liga dos Campeões da Europa.

Assim, a expectativa é que estes bônus não sejam acionados. Mas às vezes acontece. Por exemplo, quando o Leicester City surpreendeu todo o mundo e ganhou a Premier League inglesa em 2016. Ou em 2012, quando um muito modesto time do Montpellier levantou a Liga Francesa.

São glórias indescritíveis para os torcedores de tais equipes. Porém, são um tremendo baque financeiro imediato para os clubes. Dessa forma, eles se verão forçados a pagar grandes prêmios aos jogadores que realmente não esperavam ter que bancar.

Zebra cara

As quantias podem ser consideráveis para os padrões de clubes mais modestos. Por exemplo, segundo Florent Crossuard, um subscritor da Hannover Re na França, em uma temporada recente o Olympique de Marselha ofereceu 300.000 euros para cada jogador. Isso caso conseguissem ganhar a Liga Francesa.

Ou seja, a possibilidade, ainda que improvável, de conquistar o título criou uma exposição de 9 milhões de euros para o clube em um só ano.

Segundo Creossuard, as coberturas de Prize Indemnity são bastante comuns nas ligas inglesa e alemã. É onde a competição por talento é extremamente acirrada, com bônus suculentos sendo comumemte oferecidos aos atletas.

Da mesma forma, há casos famosos de perdas sofridas pelo mercado quando os azarões decidem ir contra a lógica e levantar o caneco. Por exemplo, a primeira observada na França ocorreu em 1997. Foi quando um jovem time do Mônaco inesperadamente venceu o campeonato francês.

Na época, a equipe contava com adolescentes como Thierry Henry, David Trézeguet e Ludovic Giuly. Eles eram ntão desconhecidos, mas viriam a se tornar astros de estatura mundial.

Um tremendo risco de sucesso para seus empregadores.

A união faz o risco de subscrição

Segundo Crossuard contou, durante apresentação sobre o tema no 26o Rencontres de l’AMRAE, a conferência anual de gestores de riscos franceses, em Marselha, o processo de subscrição do risco possui algumas peculiaridades.

Por exemplo, uma das principais fontes de consulta usadas pelos subscritores são os jornais e revistas esportivos. São edições que trazem informações sobre o dia-a-dia dos clubes.

Afinal, pistas sobre o risco que a seguradora pode assumir também são observadas nas próprias partidas de futebol.

Quando há um gol e os jogadores celebram com doses extras de entusiasmo, por exemplo, os alarmes podem tocar na seguradora. Isso porque um clima de camaradagem extrema em um vestiário unido até a morte podem levar a resultados inesperados.

“Às vezes, a gente fica dividida entre o que sente como torcedor e como subscritor”, brincou Crossuard durante a exposição.

Clubes europeus e outros esportes

Mas não é só o futebol que se vale das coberturas oferecidas pelas apólices de Prize Indemnity. Elas são subscritas por meia dúzia de seguradoras europeias, mas principalmente pelo mercado de Londres.

Em 2011, a equipe de ciclismo do australiano Cadel Evans buscou uma apólice para se proteger da possibilidade de que ele ganhasse a Volta da França.

Como Evans tinha 34 anos, e havia pouquíssimos casos de corredores de tal idade vencendo a mais dura prova do ciclismo mundial, o risco foi aceito pelo mercado. Evans, porém, contra todos os prognósticos, acabou a prova vestindo a camisa amarela do vencedor, e a cobertura, estimada em 3 milhões de euros, foi acionada.

Empresas que realizam promoções ligadas aos esportes também costumam comprar a cobertura para se proteger contra façanhas inesperadas.

Por exemplo, no circuito de golfe, que move muita grana, patrocinadores oferecem prêmios como automóveis de luxo para os jogadores que conseguirem acertar um hole in one, ou seja, emburacar a pelota logo no primeiro golpe.

A chance de que isso ocorra é muito pequena, cerca de 1 em 2.500 entre jogadores profissionais, e de 1 em 12.500 entre os jogadores normais.

Mas às vezes alguém consegue acertar o golpe, e há casos em que a façanha se repete em curtos períodos de tempo. Então os patrocinadores compram a apólice de Prize Indemnity para transferir os custos financeiros de tão improvável evento.

O mesmo acontece com aquelas promoções em que se prometem automóveis ou outros prêmios a quem conseguir fazer uma cesta do meio da quadra ou acertar o travessão dando um chute desde o círculo central de um campo de futebol.

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2017 acaba com R$ 1 trilhão em perdas catastróficas

Sim, são perdas catastróficas. Os prejuízos causados por catástrofes, naturais ou humanas, chegaram a US$ 306 bilhões. Ou R$ 1,01 trilhão, em 2017. Isso de acordo com a resseguradora Swiss Re.

Relatório preliminar sobre os eventos catastróficos do ano que acaba também afirma que as perdas seguradas atingiram US$ 188 bilhões (R$ 621 bilhões). Trata-se do terceiro valor mais alto já registrado.

O elevado volume de perdas catastróficas contrasta com a performance dos últimos últimos dez anos. Da mesma forma em que a média das perdas econômicas atingiram US$ 190 bilhões.

A disparidade é ainda maior no que diz respeito às perdas cobertas pelo mercado de seguros. Contudo, o número de 2017 é 134% superior à média da última década. O valor foi de US$ 58 bilhões.

O valor final do ano pode ser na verdade ainda maior. Uma vez que os incêndios florestais no estado americano da Califórnia continuam em pleno vigor.

Furacões

As principais causas das fortes perdas registradas neste ano foram os furacões que atingiram os Estados Unidos e o Caribe no terceiro trimestre.

A Swiss Re estima que Harvey, Irma e Maria, agora referidos em conjunto no mercado como HIM, causaram quase US$ 93 bilhões em destruição coberta pelo mercado de seguros.

O valor é o segundo mais alto já registrado. Perde apenas para 2005, quando as causadas pelos furacões Katrina, Rita e Wilma se aproximaram de US$ 120 bilhões.

Em contrapartida, no período intermediário entre essas duas temporadas, os Estados Unidos, país mais afetado por elas, viveu uma época de relativa calma em termos de furacões. É observa Kurt Karl, o economista-chefe da Swiss Re.

“Houve um significativo aumento no número de pessoas que vivem em novas casas em comunidades costeiras desde o Katrina”, afirmou Karl.

“Portanto, agora, quando um furacão acontece, o potencial de perdas em alguns lugares é muito maior do que era anteriormente.”

Mais desastres

Os Estados Unidos, maior mercado segurador do mundo, também foi alvo em 2017 de cinco grandes tempestades que causaram perdas superiores a US$ 1 bilhão cada.

Uma delas, no estado do Colorado, durou quatro dias e causou perdas agregadas de US$ 2,8 bilhões. A princípio, US$ 2,5 bilhões desse montante estavam seguradas.

Os incêndios florestais também deixaram sua marca. Com vários grandes eventos ocorrendo na Califórnia e causando perdas de ao menos US$ 7,3 bilhões. Valor que segue em alta na medida em que algumas conflagrações ainda não foram totalmente encerradas.

A Europa também viu grandes incêndios florestais, especialmente em Portugal e na Espanha. Embora as perdas seguradas sejam menos significativas nesses casos.

No México, dois fortes terremotos nos estados de Tehuantepec e Puebla deixaram mais de US$ 2 bilhões em perdas para o mercado de seguros.

Da mesma forma, iInundações na Austrália e no sul da Ásia também colaboraram para o malfadado recorde de 2017.

A Swiss Re também estima que cerca de 11 mil pessoas morreram em decorrência de eventos catastróficos no ano que termina.

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Aumentos devem chegar a mercados não-catastróficos como o Brasil

Bruno Freire, CEO da Austral Re.
Bruno Freire, CEO da Austral Re.

Após a inusitada série de catástrofes naturais que causou severas perdas à indústria de seguros, a expectativa do mercado é que os preços aumentem. Isso deve ocorrer pela primeira vez em vários anos, nas renovações de janeiro de 2018.

Mas será que o Brasil vai seguir esta mesma tendência? Afinal de contas, as perdas ocorreram principalmente nos Estados Unidos, México e Caribe. O Brasil, que está fora do circuito de furacões e terremotos, não sofreu grandes perdas catastróficas no ano.

Mesmo assim, devido ao caráter global da indústria, os compradores de seguro corporativo podem muito bem topar com aumentos das cotações nas próximas renovações. Isso porque o caráter global da indústria produz um “efeito mariposa”. Através do qual as perdas sofridas em uma parte do mundo acabam se refletindo em outros países também.

Prova disso foi que, de acordo com participantes, o principal tema da reunião bianual da Fides, a federação de seguradoras latino-americanas, em El Salvador foi o possível aumento de tarifas no mercado da região.

E isso vale mesmo para as grandes economias poupadas pelas catástrofes naturais,. Como o Brasil, a Argentina e o Chile.

“Não acredito que os preços voltem aos patamares de 2011″, disse Bruno Freire, CEO da Austral re, que compareceu ao evento em San Salvador. “Mas eles devem parar de cair, e algum tipo de aumento deve acontecer.”

Aumentos generalizados

Aumentos devem ocorrer. Freire vê as perdas catastróficas repercutindo nos preços dos seguros em todo o mundo. E de maneira similar ao efeito da forte disponibilidade de capital no mercado ressegurador, que em sua maior parte se origina nos países desenvolvidos.

“Assim como os preços caíram em praticamente todos os segmentos, não é correto argumentar que as linhas catastróficas devem subir. Mas as não-catastróficas, não”, afirmou. “Na verdade, o lucro das linhas catastróficas vinha segurando as margens de vários resseguradoras. Ainda que elas fossem estreitas, já que as tarifas em outras linhas haviam caído bastante.”

Além disso, os aumentos de preço acabam chegando aos países não expostos a catástrofes por meio dos contratos de retrocessão. Através dos quais as resseguradoras atuantes em cada mercado acabam diluindo seus riscos no resseguro internacional.

Como resultado, os países com significativa exposição catastróficas, como a Colômbia e o Peru, devem ver seus preços mais diretamente afetados pelas perdas de 2017.

Porém, os compradores brasileiros devem também preparar-se para uma reversão do mercado brando.

Explicações

Com isso, os corretores já estão afiando o discurso para explicar a seus clientes por que a conta do seguro pode acabar sendo mais cara em 2018.

“Ainda não está 100% claro qual será a conta final das recentes catástrofes naturais. Mas há um sentimento unânime de que as tarifas vão subir nas próximas renovações”, disse José Astorqui, CEO da unidade latino-americana da corretora londrina BMS.

“Subscritores nos disseram que, para os riscos muito bons, as renovações serão estáveis. Mas novas quedas de preço não devem ocorrer.”

Com as economias latino-americanas saindo de momentos difíceis. Assim como os orçamentos das empresas sob pressão, Astorqui espera que muitos clientes reduzam suas coberturas. Ou então aceitem franquias mais elevadas, caso os preços de fato aumentem.

Da mesma forma, muitos devem expressar descontentamento ao ver suas apólices subirem por causa de eventos que não tiveram nada que ver. Nem com sua gestão de risco nem com as condições do mercado local.

“Compradores em mercados como Brasil, Argentina e Chile estão perguntando por que eles devem ser afetados por preços mais altos. Já que não sofreram com nenhuma catástrofe”, afirmou. “É um momento complicado para os corretores. E teremos que explicar por que os preços vão subir também naqueles mercados.”

Superação

Apesar das dificuldades dos últimos anos, a América Latina continua atraindo o interesse de subscritores de outras partes do planeta. Isso ficou claro no caso da conferência da Fides.

E esse grupo está cada vez mais composto de companhias que vão além dos tradicionais mercados resseguradores. A saber os Estados Unidos, Europa e Bermuda.

Como resultado, participantes notaram a participação ativa de resseguradoras asiáticas como a coreana Korean Re e a indiana GIC no evento. A Korean Re já havia anunciado, em fevereiro, uma parceria com o IRB Brasil Re.

A Rússia marcou presença com a Russian Re, Russian National Reinsurance Company, a Selecta Insurance and Reinsurance e a Transsib re. A Sava re, da Eslovênia, também esteve entre os participantes.

“É interessante e útil ter um maior número de resseguradoras de fora da América Latina fazendo negócio na região”, disse David Battman, chefe da área Internacional da BMS.

A próxima edição da Fides ocorrerá em 2019, em Santa Cruz, na Bolívia.




Insurtechs querem resgatar gestão de sinistros ‘falida’ com transparência

Miles Tinsley, da Claimable (Foto: Divulgação)
Miles Tinsley, da Claimable (Foto: Divulgação)Como as insurtechs interferem no mercado de seguro?

Como as insurtechs estão influenciando o mercado de seguro?

“A gestão de sinistros está falida. É um grande problema de imagem na indústria.”

Foi a partir desse diagnóstico que o britânico Miles Tinsley criou uma das insurtechs que estão sacudindo a indústria de seguros. Vale lembrar que insurtech é a junção dos termos insurance (seguro) e technology (tecnologia).

Tinsley, um web designer por formação, é o CEO da Claimable, uma empresa baseada em Londres que foca na parte da gestão de sinistros que o cliente não vê, mas que tem influência direta no nível de satisfação com o serviço recebido.

A Claimable desenvolveu um software, baseado na nuvem. O software permite às empresas de seguros ou corretores centralizar e compartilhar as informações relacionadas a um sinistro.

Com isso, os envolvidos podem ter acesso imediato aos dados assim que eles são inseridos no sistema. Dessa forma, celerando o processo e eliminando a impressão que muitos clientes têm de que as seguradoras são verdadeiras “caixas-pretas” quando chega a hora de pagar um sinistro.

A RSB publicou recentemente um artigo explicando como empresas recém-chegadas estão usando a tecnologia dos drones e a economia compartilhada. Isso para agilizar as inspeções de campo das seguradoras.

Este artigo mostra o que se está fazendo para acelerar o próximo passo do processo. A mastigação, avaliação, divulgação e análise das informações sobre um sinistro.

Insurtechs

Tinsley começou a trabalhar com a gestão de sinistros quando prestava serviços de consultoria na criação de websites para empresas seguradoras.

Uma vez, um cliente lhe encomendou um sistema para agilizar a coleta e otimização de dados relacionados a sinistros. Logo,  vários outros gostaram da ideia e pediram para repetir o serviço, disse ele à RSB.

Em sua opinião, a vantagem de ter vindo de fora da indústria de seguros é que a Claimable começou vendo os problemas relacionados aos sinistros do ponto-de-vista dos clientes, e não dos subscritores.

“Nosso pressuposto é que a gestão do sinistro, e não a apólice, é o produto de verdade”, afirmou. “Para muitas seguradoras, não passa de um tema secundário.”

Para Tinsley, a coisa vai mal. Principalmente se o cliente precisa correr atrás da seguradora para saber como está evoluindo o seu sinistro.

Por isso a Claimable criou um sistema através do qual, uma vez que o cliente dá entrada a um sinistro, a seguradora ou corretor cria um espaço virtual específico sobre o seu caso. Assim compartilhando um número único e uma senha de acesso para os atores envolvidos.

A cada passo do processo, o cliente recebe uma notificação através de email, SMS ou outra forma que lhe seja conveniente.

Em tempo real

Jack Diner, da Elafris (Foto: Divulgação)
Jack Diner, da Elafris (Foto: Divulgação)

A necessidade de aumentar a transparência e agilidade do processo também é ressaltada por Jack Diner, CEO da americana Elafris.

“Os consumidores querem ser capazes de acompanhar o progresso de um sinistro utilizando Alexa”, disse Diner. Ele se refere a assistente eletrônica desenvolvida pela Amazon.

A Elafris desenvolve sistemas que incluem a utilização de chatbots e inteligência artificial. Isso para que um sinistro seja recebido e analisado sem necessitar o envolvimento de humanos no processo.

Pelo sistema da empresa, uma vez que os dados de um sinistro são recebidos e comparados com uma base de dados de danos similares, uma proposta de indenização ou de reparos pode ser enviada quase que imediatamente ao cliente.

Um sistema de geolocalização incutido na app descarregada no telefone celular do usuário também pode permitir à seguradora propor um prestador de serviço nas proximidades . Dessa forma. pode já realizar eventuais reparos. Por exemplo, no caso de um carro pifado, a proposta de solução já pode trazer informações sobre as oficinas mais próximas.

O sistema é indicado hoje para sinistros menos complexos, e especialmente na área de seguros individuais, mas Diner espera que logo chegue também aos seguros de empresas.

Ele também acha que este tipo de novidade, por definição, precisa ser fornecido por empresas de fora da indústria de seguros.

“Quando ouço dizer que as seguradoras querem inovar internamente, quase me dá um negócio”, afirmou. “Isso simplesmente não vai acontecer.”

Resistência

Foi justamente a resistência nas seguradoras em que trabalhava que levou o coreano LeX Tan a montar sua própria insurtech. Chamada MotionsCloud, ela é dedicada aos sinistros. Foi criada dois anos atrás.

“A princípio, pensei que era um problema de específico daquela seguradora. Então tentei levar minhas ideias para outras companhias”, disse Tan à RSB. “Enfim me dei conta de que todas as estruturas de gestão de sinistros das seguradoras são assim.”

A MotionsCloud desenvolve sistemas de automação da gestão de sinistros. Dessa forma, utiliza tecnologias de imagem e vídeo e a inteligência artificial para simplificar os vários passos do processo.

O sistema é focado nos sinistros reportados por telefone. Uma vez que o cliente faz uma chamada, recebe imediatamente, por SMS ou email, um link para uma página na internet. Da mesma maneira pode enviar documentos. Como também fotos e vídeos, utilizando um canal seguro, a respeito do incidente.

O segundo passo é comparar as informações enviado com o banco de dados sobre sinistros da seguradora. Processo que se faz com ferramentas de inteligência artificial.

Tan garante que, caso todas as informações estejam disponíveis, as decisões sobre um sinistro podem ser tomadas em questão de segundos.

A empresa foi formada em 2016. Três seguradoras nos Estados Unidos, duas na Alemanha e uma na Europa Central já utilizam as soluções da MotionsCloud, afirmou.




Setor crescerá 3% em 2018 e 2019, prevê Swiss Re

O mercado global de seguros não-vida deve crescer 3% por ano em 2018 e 2019. Porém,  o ritmo deve acelerar. Isso caso se concretizem os aumentos de tarifas esperados a partir de janeiro do ano que vem.

É o que afirma a seguradora Swiss Re em relatório sobre as perspectivas para o setor de seguros. O relatório foi divulgado nesta semana em Zurique.

De fato, a empresa acredita que os aumentos de preços de seguros e resseguros serão inevitáveis para o que o mercado recupere seu rentabilidade. Isso após o forte impacto das catástrofes naturais em 2017.

“Aumentos de preços nos segmentos mais afetados já estão acontecendo e podem ser substanciais”, disse Kurt Karl, economista-chefe da Swiss Re.

“O volume total de perdas ainda não é conhecido. Porém, parece que vai ser elevado suficiente para causar aumentos (de preços) para além dos setores afetados. Isso também está acontecendo porque os preços caíram a patamares tão baixos nos últimos anos.”

Da mesma forma, a corretora Marsh estima que os preços globais de seguros comerciais vêm caindo de forma ininterrupta já há 18 trimestres. (Clique aqui para saber mais.)

Mercados emergentes

No setor de seguros de vida, a Swiss Re espera que o volume de prêmios cresça 4% no ano que vem. Em ambos os segmentos, serão as economias emergentes que devem funcionar como principais motores do crescimento global.

A Swiss Re estima que os prêmios não-vida vão se expandir de 6% a 7% anualmente no próximo biênio nos países emergentes. Todavia com a Ásia puxando o carro com maior vigor.

A resseguradora suíça prevê que o mercado latino-americano deve seguir se recuperando. Isso pós ter encolhido 1,8% em 2016.

Mas a taxa de crescimento de 1% no volume de prêmios, esperada para 2017, está longe de impressionar. Especialmente comparada com os 10% registrados nos mercados emergentes da Ásia.

Uma das locomotivas da recuperação do seguro não-vida na região deve ser o mercado de seguros comerciais no Brasil, em que a empresa espera uma forte demanda.

Lucros em queda

A perspectiva de ajuste nos preços se reforça pela deterioração dos resultados das seguradoras não-vida.

De acordo com a Swiss Re, a taxa de rentabilidade líquida (ROE) das seguradoras não-vida globais caiu para 3% neste ano, contra 6% em 2016.

Além das elevadas perdas catastróficas, as persistentes quedas de preço e os baixos rendimentos das carteiras de investimento nos mercados desenvolvidos colaboram para esta pior performance.

Caso a subida de preços se confirme. Assim como as taxas de juros subam nos Estados Unidos e Europa,  o cenário pode mudar. A empresa espera que a rentabilidade se recupere. Ainda que não passe do patamar de 7% a 8% no ano que vem.

No mercado de  resseguros, a expectativa é que o aumento de prêmio se restrinja a 1%. Neste caso, o destaque deve ser as cessões de seguro de vida na Ásia emergente. Afinal, eles podem se expandir em 10%.

Clique aqui para ler o relatório em inglês.




Preços caem de novo, mas mercado já espera aumentos em janeiro

Os preços globais de seguros caíram pelo 18º trimestre consecutivo, de acordo com a corretora Marsh.

Mas os sinais de que uma mudança de ciclo está à volta da esquina estão se tornando cada vez mais evidentes. Especialmente na medida em que os subscritores assimilam as elevadas perdas catastróficas do terceiro trimestre.

Segundo a Marsh, os preços caíram 1.6% entre julho e agosto. A princípio é uma tendência observada em todas as linhas de negócio e regiões do planeta. Com exceção da Austrália.

Os preços dos seguros de bens e propriedades registraram queda de 1,7%. Da mesma forma, o ritmo foi observado entre as coberturas de responsabilidade civil.

Já nas linhas financeiras e profissionais, a variação foi de -1,4%. Mesmo os seguros cibernéticos seguem com preço em queda. Isso pós apresentarem uma redução de 1,1% nos Estados Unidos. Os EUA servem como referência mundial por ser disparado o maior mercado desta cobertura.

Na América Latina, as tarifas apresentaram queda global de 0,9%, puxadas pelos seguros de bens e propriedades, que ficaram em média 3,9% mais baratos no trimestre.

As outras duas grandes famílias de produtos, porém, tiveram aumento na região. Os seguros de responsabilidade encareceram 5,1%, e as linhas financeiras, 1,1%.

Aumentos à vista

De acordo com o levantamento da Marsh, os preços globais de seguros estão em queda desde março de 2013.

Mas o ritmo de queda de preços já vinha se desacelerando mesmo antes das catástrofes do terceiro trimestre. As reduções chegaram ao ápice no fim de 2015, com -5%, e desde então vêm se moderando.

Neste ano, as variações já haviam sido de -2,3% no primeiro trimestre e -2,2% no segundo.

Na América Latina, os preços têm sido mais voláteis, mas a tendência de desaceleração também é evidente.

Na mais recente temporada de divulgação de resultados, vários subscritores internacionais anunciaram que terão que buscar aumentos de preços nas renovações de janeiro para enfrentar as perdas sofridas durante os furacões, terremotos e incêndios florestais que atingiram os Estados Unidos, Caribe, México e outras partes do mundo entre julho e outubro.

As perdas acumuladas devem passar de US$ 100 bilhões, com alguns analistas prevendo que serão as maiores jamais sofridas pela indústria em um só ano.

Nesta semana, o economista-chefe da Swiss Re, Kurt Karl, alertou que as seguradoras e resseguradoras terão que implementar aumentos significativos para voltar a ter lucro no futuro próximo. (Clique aqui para ler a matéria.)

Fontes também disseram à RSB que o principal tema de discussões no recente encontro da Fides, a federação de seguros latino-americana, em El Salvador, foi até que ponto a esperada mudança de ciclo global vai atingir os mercados da região.

Estados Unidos

O principal obstáculo para os aumentos de preços, porém, é a abundante capacidade que continua disponível no mercado.

Segundo a Marsh, no final do segundo trimestre, havia US$ 746 bilhões de capacidade no mercado dos Estados Unidos, o maior do mundo. No começo de 2012, este número era de US$ 583 bilhões.

Por sua vez, a agência de avaliação de riscos AM Best calculou que as perdas catastróficas no mercado americano de bens e propriedades chegaram a US$ 38,4 bilhões nos nove primeiros meses do ano, um aumento de 89,1% na comparação com o mesmo período de 2016.

Com isso, o índice combinado do setor se detereriorou em quatro pontos percentuais, chegando a 104%.

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Mercado emite mais sinais de que preços devem subir

Na medida em que seguradoras e resseguradoras internacionais noticiam resultados cada vez mais pressionados pela sequência de catástrofes naturais dos últimos meses, se consolida no mercado a ideia de que o longo ciclo de queda de preços pode ter chegado ao fim.

Relatório divulgado pelo banco de investimento Morgan Stanley afirma que os executivos das empresas de seguros têm esperança de poder negociar aumentos de tarifas nas renovações de janeiro. Algo que não puderam fazer na maior parte das linhas de seguro comercial nos últimos 17 trimestres.

Os autores do relatório do mercado citam o caso da seguradora Travelers. Ao anunciar seu último balanço trimestral, o documento afirmou que as condições estão mais propícias para um aumento de preços.

Ainda assim, durante a apresentação de resultados do trimestre, em 19 de outubro, o CEO da Travelers, Alan Schnitzler, disse que a empresa está “mais confiante”. Isso em sua capacidade de obter aumentos de preços nas próximas renovações.

Portanto, a questão seria muito bem-vindo para o setor. Principalmente porque, nos cálculos do Morgan Stanley, um aumento médio entre 1% e 5% nos preços seria capaz de dar um gás. O volume esperado ficaria entre 6% e 29% para as empresas cujas ações são pesquisadas pelos seus analistas.

Com isso, os investidores de renda variável poderiam mostrar um maior interesse pelas empresas do setor.  Dessa forma, incluiria as corretoras especializadas nesse segmento do mercado. Isso  de acordo com o relatório, que foi divulgado pela Intelligent Insurer.

Mercado X Catástrofes

A perspectiva de mudança de ciclo nos preços dos seguros comerciais vem sendo reforçada pela inusitada sequência de catástrofes naturais registrada desde agosto.

Nos últimos três meses,  os furacões Harvey, Irma e Maria causaram grandes perdas nos Estados Unidos e Caribe. O México sofreu dois terremotos. Gigantescos incêndios florestais causaram devastação na Califórnia, Portugal e Espanha. E a Irlanda foi atingida por uma tempestade tropical.

Até o Brasil sofreu com um desastre natural. Ainda que o enorme incêndio no Parque da Chapada dos Veadeiros ocorre em uma região de escassa penetração de seguros.

Contudo, o impacto acumulado de tantas catástrofes sobre o mercado de seguros e resseguros deve configurar 2017 como um dos anos com maiores perdas para o setor.

Por exemplo, a Swiss Re, divulgou nesta semana estimativa de que apenas os furacões Irma, Harvey e Maria e os terremotos mexicanos devem gerar perdas seguradas de US$ 95 bilhões.

Resultados

As perdas sofridas na temporada de catástrofes seguem causando danos aos resultados dos grandes grupos.

A Swiss Re, por exemplo, disse que os furacões e terremotos lhe custarão US$ 3,6 bilhões.

Por outro lado, uma de suas principais rivais, a Munich Re,  disse que sua exposição aos furacões chega a €2,7 bilhões. E as perdas totais no terceiro trimestre, a €3,2 bilhões.

Com isso, a empresa teve um prejuízo de € 1,4 bilhão entre julho e setembro. A empresa alertou seus acionistas que as pesadas perdas catastróficas podem fazer com as metas de lucros não sejam atingidas neste ano.

Em contrapartida, outra das maiores resseguradoras do mundo, a francesa SCOR, perdeu € 430 milhões com os furacões e terremotos. Assim resultando em um prejuízo líquido de € 267 milhões no trimestre.

Já a XL teve US$ 1,4 bilhão em perdas com catástrofes naturais no terceiro trimestre. Assim comparado com US$ 97,4 milhões no mesmo período de 2016. Com isso, o grupo fechou o balanço trimestral com um prejuízo líquido de US$ 1,04 bilhão.

Por sua vez, a Mapfre divulgou ter tido um lucro líquido de US$ 444,6 milhões  nos primeiros nove meses do ano, um resultado 22,3% inferior ao do mesmo período do ano passado. A empresa estima que suas perdas catastróficas no terceiro trimestre vão oscilar entre € 150 milhões e € 200 milhões.

A americana Travelers teve uma queda de lucros de mais de US$ 400 milhões no trimestre, na comparação com o mesmo período de 2016. O grupo fechou o período com um lucro de US$ 293 milhões, após ter um baque estimado em US$ 700 milhões de perdas catastróficas.

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Crise impõe apoio especializado para ajudar empresas a enfrentar percalços

Javier Duran, diretor da Marsh.
Javier Duran, diretor da Marsh.

A crise que empurrou a economia para trás, derrubou balanços das companhias e engrossou as estatísticas de desemprego fez também com que as empresas passassem a renegociar seus contratos de seguro. Isso em busca de enxugamento de custos. Dessa forma, exigindo dos corretores uma mediação mais próxima e atenta num período de dificuldades gerais.

No lugar de reuniões para ampliar os portfólios dos clientes, entrou a negociação para manter contratos. De mesma maneira, na área de seguros corporativos, ajudar a não deixar o gerenciamento de riscos das companhias naufragar junto com a crise.

Numa fase em que muitas empresas estão com seus olhos mais atentos ao valor da conta, o trabalho envolve desde promover reavaliações técnicas do portfólio até alertas claros sobre potenciais riscos da falta de proteção adequada.

Parte desse esforço, no entanto, ajudou a manter indústria do seguro como força mais resistente às intempéries do que a média do setor produtivo. Isso na medida em que o setor conseguiu apresentar resultados mesmo com o país em recessão.

Crescimento

No primeiro semestre deste ano houve crescimento de 3,5% dos seguros em geral. Enquanto o PIB ficou no zero a zero em relação ao mesmo período de 2016. Empate com gostinho de vitória. Pois, enfim, o país começa a dar sinais de alguma retomada econômica. (Os dados são da CNSeg e do IBGE.)

A área de seguros para empresas teve um desempenho melhor do que a média do setor. Isso com os prêmios crescendo 6,4% no primeiro semestre. A informação integra o levantamento de Risco Seguro Brasil com base em dados da Susep (Superintendência de Seguros Privados).

Bruna Timbó, diretora da LTSeg.
Bruna Timbó, diretora da LTSeg.

Convém lembrar que o mercado corporativo exige, mesmo nos períodos de vacas gordas, uma expertise especial dos corretores. Sendo comum que no dia a dia eles tenham de se equilibrar entre demandas bastante específicas dos clientes. Da mesa forma, com dificuldades em remodelar produtos nas seguradoras, que por sua vez tentam (quase nunca de maneira fácil) aprovar novos clausulados na Susep.

Trata-se de um setor com demanda permanente de soluções técnicas. E que fujam do padrão dos chamados “produtos de prateleira”, negociadas por gestores de risco cada vez mais especializados. Também por isso mesmo pedem uma assistência próxima, ativa e personalizada.

Portanto, as demandas da crise colocaram uns ingredientes a mais no apimentado e ativo cotidiano desses corretores.

Movimento natural

Segundo Javier Duran, diretor de prática de Grandes Clientes da Marsh Brasil, momentos de crise geram uma desaceleração natural no volume de negócios. Com queda de faturamento, redução de quadros e postergação de investimentos.

“[Crise] é um momento em que as empresas são mais conservadoras. Mantendo suas apólices, mas realizando também uma revisão de seus programas de seguros. Isso para certificarem-se de que se o que eles têm hoje é o que realmente precisam. Otimizando assim seu desenho”, afirmou ele a Risco Seguro Brasil.

No entanto, o enxugamento dos portfólios, fez com que, em muitos casos, a manutenção do seguro tenha deixado de ser um item de proteção patrimonial. Da mesma forma para “virar simplesmente uma despesa como outra qualquer”, conforme relata Bruna Timbó, diretora da corretora LTSeg.

Segundo ela, o aperto foi amplo. “Inclusive empresas com obrigação contratual de ter [seguro] têm reduzido o nível de cobertura para apenas aquelas obrigatórias. Ainda que essas não protejam a integralidade dos seus riscos”, diz.

De acordo com a corretora, um problema que pode agravar essa situação é que muitas companhias que optam por cortar o seguro não fazem nenhum outro tipo de gerenciamento compensatório dos riscos. “Isso me deixa alarmada, já que a gente conhece os riscos dos clientes”, afirma. “A situação é realmente muito complicada.”

Foco e zelo

Frente a clientes aflitos para cortar custos, cabe aos corretores zelar para que no fim do processo os riscos para as empresas não tenha aumentado muito.

De acordo com Duran, a revisão dos portfólios, por exemplo, passa por um due diligence do clausulado. Também “revisita” às coberturas e análise do Custo Total do Risco (TCOR, na sigla em inglês). O objetivo é saber se a equação entre prêmios, expectativas de perdas e investimentos em proteção está bem calibrada. “Como reação ao período instável, as empresas buscam manter seus programas de maneira mais eficiente e buscando sinergias”, explica ele.

Este cenário, contudo, também contribui para estimular alguns tipos de seguro que são alternativas a modelos mais antigos, no que é um desenvolvimento positivo do mercado securitário.

Segundo Duran, empresas passaram, por exemplo, a usar o seguro garantia em substituição à fiança bancária e também a contratar mais seguro de crédito, como opções mais em conta para suas proteções. “É o foco em redução de custos”, diz o diretor.

Em seu modelo judicial, por exemplo, o seguro garantia é uma alternativa cada vez mais utilizada para depósitos e fianças bancárias exigidos pela Justiça em ações e vem conquistando espaço no mercado.

A corroborar o movimento citado por Duran, o desempenho de prêmios de toda família do seguro garantia nos oito primeiros meses deste ano foi 54% melhor (para R$ 1,8 bilhão) do registrado no mesmo período de 2016, conforme dados da Susep, sendo que boa parte deste resultado se deve ao garantia judicial. Já os prêmios do seguro de crédito cresceram 18%, para R$ 566,3 milhões este ano.

Veja bem

Em situações como essa, os corretores podem manejar alternativas dentro do próprio arcabouço de produtos de seguros. Bruna Timbó, entretanto, alerta para casos em que reavaliações de coberturas possam embutir ameaças sérias ao segurado, caso deixem de lado coberturas importantes para o negócio.

De acordo com ela, uma inciativa que muitas empresas buscam durante a crise é cortar as coberturas mais caras, mesmo que elas sejam as mais relevantes para sua proteção específica. “O cliente opta por ‘fechar os olhos’ e acreditar que está protegido, mesmo que o seguro seja vazio”, diz ela. “Sentido-se ‘protegido’ pelo pagamento do prêmio, independentemente das coberturas, ele segue sua operação apostando que não terá um sinistro. Isso pode ser devastador.”

Ajuda

A fim de oferecer as alternativas mais apropriadas a cada cliente, Javier Duran destaca também a necessidade de acompanhar as evoluções e tendências dos diversos tipos de indústria.

Segundo ele, o apoio de novas tecnologias é necessário para transformar dados em informações e auxiliar os clientes na quantificação do equilíbrio financeiro entre investimentos realizados em prevenção, estimativa de perdas e custos de transferência e financiamento de riscos.

No caso da Marsh, a corretora dispõe de uma plataforma específica de análises que, de acordo com o executivo, contém uma grande base de dados com históricos de frequência de sinistros e perdas por tipo de indústria. “Assim fundamentamos as decisões estratégicas de seguros e gestão de risco dos clientes”, conta.

Risco para todo lado

Esse tipo de ajuda especializada por parte do corretor é um trabalho cada vez mais complexo. Estudo recente publicado pela KPMG sobre gerenciamento de riscos, englobando empresas de capital aberto no Brasil, aponta a existência de 5.280 diferentes riscos relatados pelas 236 companhias pesquisadas.

Os dados são de 2017, e quanto desse bolo vai virar apólice de um dos 153 ramos de seguro listados pela Susep, cabe aos corretores e às seguradoras explorarem.

“Temos assistido a transformações radicais no contexto em que as empresas operam”, pondera a consultoria na introdução do trabalho.

Novas oportunidades

Além de exigir que os corretores auxiliassem mais os clientes a atravessar as instabilidades, a crise fez as corretoras se mexerem para preservarem o desenvolvimento de seus próprios negócios.

Especializada em operações estruturadas em projetos de infraestrutura — um setor fortemente abalado pela crise atual — a LTSeg, por exemplo, ampliou seu portfólio e foi buscar novas soluções nas insurtechs (as startups ligadas a seguros). Segundo Timbó, algumas medidas implementadas surtiram bom efeito. A intermediação de seguros de Responsabilidade Civil para advogados, por exemplo, cresceu 300%.

Outra área que começou a ser explorada pela corretora e que teve um “aumento considerável” foram os programas de worksite (que oferecem benefícios de seguros para funcionários de empresas sem gerar custos para o empregador).

“A infraestrutura brasileira praticamente parou nos últimos três anos”, pondera a diretora. “Não deixamos de trabalhar nosso nicho de negócios, mas foi necessário ampliar o foco de atuação. Consideramos soluções que num momento normal de mercado talvez jamais entrassem no radar”, resume ela.