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Política, economia e dívidas rebaixam avaliação de risco do Brasil

A seguradora de risco de crédito Coface rebaixou pela segunda vez em menos de um ano a avaliação do Brasil, ressaltando a instabilidade política e econômica do país, mas também o alto nível de endividamento das empresas nacionais.

De acordo com a seguradora francesa, apenas na China e na Turquia houve um maior ritmo de endividamento das empresas do que no Brasil.

A nota do Brasil passou de B para C, o que significa um risco “elevado” de não pagamento de dívidas das empresas. Trata-se do segunda qualificação mais baixa atribuída pela Coface.

Estão no mesmo patamar de risco do Brasil países como a Argentina, a Rússia, o Egito e a Grécia. Na América Latina, apenas a Venezuela, Guiana e Cuba merecem qualificações piores.

Outras economias emergentes que tiveram suas notas rebaixadas pela Coface são a África do Sul, Argélia, Zâmbia, Tanzânia, Gabão, Namíbia, Madagáscar, Bahrein e Casaquistão.

O banco ICBC Standard Bank, por sua vez, diz que o Brasil é hoje o país emergente menos atraente para investidores globais em renda fixa, o que indica que não deverá ser nada fácil para as empresas captarem dinheiro neste ano nos mercados de títulos de dívida internacionais.

Conjuntura ruim

O rebaixamento ocorre em um momento em que cresce entre os investidores a preocupação a respeito da possibilidade de calote em países emergentes.

Uma conjuntura global negativa alimentada pela desaceleração da China, a queda dos preços das commodities, a lentidão das economias desenvolvidas e a valorização do dólar faz com que dívidas contraídas na moeda americana se tornem cada vez mais difíceis de pagar por parte de empresas de economias emergentes.

O Brasil, porém, tem sua situação agravada por instabilidade política e erros de política econômica, de acordo com a empresa.

Em nota de pesquisa, o banco chinês ICBC Standard Bank estima que, neste ano, as empresas e governos de países emergentes darão calote em dívidas equivalentes a US$ 27 bilhões, comparados com US$ 18 bilhões em 2015.

Com isso, a taxa de calotes global nos países emergentes subirá de 2,39% para 4%. Os dados não incluem a Venezuela, onde há um risco iminente de calote soberano e da petroleira PDVSA, o que elevaria a percentagem a 9%.

Rolagem

De acordo com a Coface, o país onde a relação da dívida das empresas com o PIB cresceu mais nos últimos sete anos foi a China, onde passou de 100% a 160%.

Em seguida vêm a Turquia, onde a dívida corporativa aumentou 30 pontos percentuais até cerca de 60% do PIB, e o Brasil, onde subiu 17 pontos para se aproximar da metade da riqueza produzida no país em um ano.

Mas, enquanto a maior parte da dívida chinesa se concentra na moeda local, um volume crescente de empréstimos e títulos corporativos na Turquia e no Brasil foram feitos em moeda estrangeira.

Por esse motivo, as fortes desvalorizações da lira turca e do real fazem com que o percepção de risco de calote nestes dois países seja mais intensa. Pelos mesmos motivos, as empresas russas também preocupam.

Grupos baseados no México e na Indonésia possuem níveis mais altos de endividamento em dólar, mas a proporção de dívida corporativa com relação ao PIB é bem inferior aos dos três países acima.

O lado positivo do atual cenário, segundo o ICIC Standard Bank, é que, em um momento de abundante liquidez local, as condições para que as empresas e governos refinanciem suas dívidas ou acertem acordos de rolagem são bem mais benéficas do que em crises anteriores.

Por esse motivo, o banco não espera que a situação se deteriore como em 2002 ou 2009, quando os níveis de inadimplência em títulos da dívida de países emergentes chegaram a 33% e 13,75%, respectivamente.

Mesmo este lado positivo da conjuntura pode não ajudar as empresas brasileiras, porém, já que os títulos da dívida do país parecem estar firmemente instalados na lista negra dos investidores globais.

Em 2015, o total de investimentos em renda fixa por investidores estrangeiros no Brasil caiu US$ 38,8 bilhões, segundo o banco, superando a fuga de capitais da Rússia (US$ 34,1 bilhões) e da Turquia (US$ 16,6 bilhões).

Mas não vale dizer que o sentimento é generalizado na América Latina, já que México, Chile, República Dominicana e Uruguai estiveram entre os dez países mais populares entre os investidores estrangeiros, postando US$ 6 bilhões, US$ 4,3 bilhões, US$ 3 bilhões e US$ 2,3 bilhões, respectivamente, em fluxos positivos.

Na verdade, não fosse por Brasil e Venezuela, o fluxo de investimentos em renda fixa na América Latina haveria sido positivo no ano passado.

A China foi o destino favorito dos investidores de renda fixa emergente em 2015, com US$ 60 bilhões positivos.




Informação sobre terrorismo é vital para funcionário expatriado

O terrorismo jamais foi uma preocupação corrente para as empresas brasileiras. Mas, na medida em que suas atividades se globalizam, é preciso estar preparado para ter de lidar com este problema na hora de enviar funcionários para o exterior.

De fato, nos últimos anos, os ataques terroristas deixaram de se concentrar apenas em países marcados por conflitos civis e religiosos, como a Síria, o Líbano e o Iraque. Os dois ataques em Paris em 2015 reforçaram a percepção de que o terror pode agir em qualquer lugar, obrigando as empresas a lidar com seus efeitos .

Isso vale mesmo que a sede física da companhia não seja afetada por bombas ou tiros, já que as consequências do terrorismo sobre os trabalhadores podem ser tanto diretas quanto indiretas.

Nos últimos anos, psicólogos identificaram uma maior incidência de transtornos de estresse pós-traumático e depressão em cidades que foram alvo de explosões, como Londres e Madri, mesmo entre em pessoas que não presenciaram nem foram vítimas dos ataques. O problema é especialmente sentido logo após a ocorrência do evento.

Em Israel,  pesquisadores associaram o temor de ataques terroristas ao burnout profissional, agravado especialmente pela insônia.

Portanto, ao enviar funcionários ao exterior, uma empresa deve estar preparada para prestar auxílio material e psicológico para seus funcionários caso o pior venha a acontecer.

Dinheiro não resolve

O tema é estudado por Benjamin Bader, um pesquisador alemão especializado na expatriação de trabalhadores para regiões com elevado risco de terrorismo. Em suas pesquisas, ele e seus colegas chegaram a pelo menos duas conclusões.

Uma, a de que não adianta tentar comprar a valentia dos funcionários com dinheiro. “Salários mais elevados não ajudam as pessoas a vencer este tipo de sentimento”, disse o professor da Leuphana University à Risco Seguro Brasil.

Outra conclusão é que tentar dourar a pílula minimizando os riscos envolvidos tende a trazer resultados muito piores no médio e longo prazo.

“As pessoas dizem que querem uma avaliação honesta, por parte de suas empresas, dos riscos a que elas estarão expostas”, afirmou.

Bader desenvolve suas pesquisas em regiões onde o risco de terrorismo é bastante evidente, como o Iraque e o Afeganistão.

Ele afirma que o cuidado das empresas com a saúde mental de seus funcionários começa já na seleção dos candidatos a expatriação para locais de alto risco.

“Algumas pessoas reagem melhor do que as outras a uma maior exposição ao terrorismo”, disse Bader. Há até quem chegue a racionalizar a situação para enfrentar melhor a situação.

“Alguns anos atrás, entrevistando funcionários de multinacionais no Iraque, conversei com alguns que argumentaram que o risco de morrer lá em um acidente de automóvel era maior do que ser vítima de um ataque a bomba”, relatou o especialista.

Cortina de fumaça

Ele também disse que empresas algumas vezes afirmam que, se abrirem demais o jogo sobre os riscos de terrorismo inerentes a um país, não conseguem convencer ninguém a se mudar para lá.

O argumento, na opinião do especialista, não é válido, e a empresa precisa oferecer a informação mais completa e a maior segurança possível para um expatriado. Se o risco é alto demais para mencionar, a empresa não deve ir para tal país.

Bader também trabalha com expatriados que são enviados a lugares onde o risco de terrorismo é real, mas menos presente no noticiário, como a Mauritânia e a fronteira da Índia com o Paquistão.

Segundo ele, o que é visto de longe, mas não é óbvio, logo se torna uma realidade incômoda para o trabalhador que é enviado para o lugar sem a devida informação.

“Parece que é uma prática comum por parte das empresas enviar trabalhadores a esse tipo de lugar sem prepará-los para o perigo”, afirmou.

“Mas as pessoas não são estúpidas. Elas não levam muito tempo para entender o que está passando, e então se sentem traídas pela companhia.”

Longe de casa

Claro que ninguém está argumentando que enviar trabalhadores para Paris, Boston ou Istambul, para citar cidade que foram alvos de ataques recentes, seja tão perigoso quanto manter um escritório em Cabul ou Bagdá.

Mas os especialistas na área notam que uma das estratégias de grupos como o Estado Islâmico tem sido o de tornar o terrorismo uma ameaça difusa, que faz com que as pessoas se sintam menos seguras quando não estão próximas de casa.

Para vencer esta insegurança, uma das recomendações de Bader é de prover os funcionários expatriados com oportunidades frequentes de pegar um vôo de volta para o país de origem e passar um período de tempo com a família, a fim de reforçar seu sentido de segurança.

Ele também notou, entre os trabalhadores que estuda, que as redes sociais possuem um efeito muito mais reconfortador para os estrangeiros que vivem em lugares de alto risco do que em cidades onde há uma maior percepção de segurança.

Isso porque, por meio das redes, as pessoas conseguem trocar informações a respeito dos riscos envolvidos e aprender de outros expatriados macetes para evitar as situações de perigo. Mais um sinal de que o acesso à informação é uma importante ferramenta para os trabalhadores expatriados conseguirem lidar com o risco de terrorismo.




Aumenta número de ciberataques a estruturas críticas nos Estados Unidos

O órgão do governo americano responsável pela defesa virtual de infraestrutura críticas reportou um aumento do número de ataques cibernéticos em 2015.

A Equipe de Respostas de Emergência Cibernéticas para Sistemas de Controles Industriais, ICS-CERT na sigla em inglês, foi solicitada a atuar em 295 ataques contra entidades consideradas de importância crítica para a segurança nacional americana, contra 245 em 2014.

Os dados se referem ao ano fiscal que vai de setembro de 2014 ao mesmo mês do ano passado. O ICS-CERT está vinculado ao Departamento de Segurança Interna do governo americano.

As entidades consideradas de importância crítica à infraestrutura norte-americana não são obrigadas a acionar o ICS-CERT em caso de ataque cibernético.

Porém, uma vez que o órgão é chamado a atuar, a identidade da empresa atacada é mantida em sigilo, e ela pode se valer da expertise dos técnicos que trabalham para a agência.

Os dados do ICS-CERT ajudam a explicar por que o tema dos riscos cibernéticos está em alta nos Estados Unidos. De acordo com o mais recente relatório de riscos do Fórum Econômico Mundial, os ataques cibernéticos já constituem a preocupação mais importante dos líderes empresariais norte-americanos.

Setores

O maior número de ataques em que o ICS-CERT atuou em 2015 visaram o setor classificado como “manufaturas críticas”, que inclui indústrias como o aço, ferro e alumínio, além da produção de maquinaria para o setor energético e cadeia produtiva aeronáutica e aeroespacial, entre outros.

Este setor respondeu por um terço dos ataques a infraestruturas críticas em 2015, o equivalente a 97 ocorrências, comparado com 27% no ano anterior.

Em segundo veio o setor de energia, com 16% dos ataques, ou um total de 46. As empresas energéticas haviam liderado o ranking em 2014 com 32% do total.

Os setores de fornecimento de água e sistemas de transporte registraram 25 e 23 ataques, respectivamente.

Em 38% dos casos, o ICS-CERT não foi capaz de identificar a natureza dos instrumentos utilizados para afetar os sistemas cibernéticos das entidades visadas. Das técnicas que puderam ser identificadas, o chamado spear phishing, ou ataque de phishing, foi a mais comumente utilizada, em 37% das ocorrências.

Em 9% dos ataques, os hackers realizaram a sondagem ou escaneamento das redes informáticas das empresas. Casos de autenticação frágil responderam por 6% dos ataques.

Em seu relatório de 2014, o ICS-CERTS havia alertado que ao menos duas campanhas muito sofisticadas de ataques via mailware havam sido lançadas contra sistemas de empresas de infraestrutura crítica nos Estados Unidos.

Ataques simples

De acordo com o ICS-CERT, em boa parte das ocorrências, os ataques visaram sistemas cujas arquiteturas de segurança não haviam sido suficientemente reforçadas.

Tratam-se de ataques relativamente simples, de acordo com o órgão. Em 2014, os ataques de phishing constituíram apenas 17% das ocorrências.

O ICS-CERT não sabe dizer porém se isso revela uma nova estratégia utilizadas pelos hackers de privilegiar ataques mais simples em detrimento da utilização de ferramentas sofisticadas.

Mas o órgão alerta que os dados mostram que muitas empresas ainda precisam prestar mais atenção aos aspectos fundamentais de seus sistemas de defesa cibernética.

O lado positivo é que 69% dos ataques falharam ou foram rechaçados com sucesso em 2015, comparado com 49% 2014, o que pode se dever ao caráter rudimentar de boa parte das ocorrências registradas no ano passado.

Em apenas 12% dos casos em que o ICS-CERTS foi acionado, os hackers conseguiram chegar às redes comerciais de seus alvos, e em outros 12%, a seus sistemas de controle operacionais. Não houve nenhum caso em que os sistemas mais críticos para os negócios foram afetados.




Acidente de trabalho: risco de US$ 1 bi por semana dói no corpo e no caixa

Responda rápido: qual é o risco que custa mais de US$ 1 bilhão por semana para as empresas americanas?

A tentação é de responder que estamos falando de algum dos riscos que costumam tomar conta das manchetes do noticiário: ataques cibernéticos, terrorismo, catástrofes naturais ou coisas do gênero.

A resposta, porém, é muito mais prosaica: trata-se do mau e velho acidente de trabalho. E os custos em questão não incluem acidentes que resultam na morte do trabalhador, os quais envolvem as indenizações mais vultuosas.

Segundo a seguradora Liberty Mutual, os acidentes não fatais nas empresas americanas geram custos anuais de quase US$ 62 bilhões. Os dez acidentes mais comuns custam, só eles, cerca de US$ 51 bilhões.

Os números são baseados em dados oficiais relativos ao ano de 2013. Eles se referem às indenizações pagas aos acidentados, incluem apenas casos em que os trabalhadores tenham perdido um mínimo de seis dias laborais e não contabilizam os custos de substituição de funcionários e outros gastos relacionados a um acidente.

Eles evidenciam a importância da gestão de risco nesta área, seja nos Estados Unidos ou em outros países. Trata-se de um investimento bastante com alto retorno para as empresas e para a saúde dos funcionários.

Esforço exagerado

A principal causa de acidentes de trabalho nos Estados Unidos, de acordo com a seguradora, é o excesso de esforço do funcionário quando está lidando com algum tipo de objeto ou equipamento.

É uma categoria que inclui levantar, carregar, empurrar, puxar, carregar, atirar objetos ou outras funções do gênero.

Acidentes causados por este tipo de esforço exagerado custam mais de US$ 15 bilhões por ano nos Estados Unidos. Dinheiro que mais que justifica o investimento no treinamento dos funcionários para não tentar fazer mais do que sua forma física permite.

Quedas sofridas em uma superfície sem variação de altura, ou seja, no chão puro e simples, constituem a segunda maior causa de acidentes, custando às empresas US$ 10,17 bilhões por ano. Quedas para uma superfície inferior vêm em terceiro, com US$ 5,4 bilhões.

Há casos também em que o funcionário resvala, perde o equilíbrio, não cai, mas ainda assim se machuca. Menos graves, mas ainda assim custando US$ 2,35 bilhões por ano.

As contusões sofridas quando um trabalhador é atingido por um objeto custam US$ 5,31 bilhões anuais. Mais rara é a situação em que o funcionário se choca contra um objeto estático, mas ainda assim os custos chegam a US$ 1,85 bilhão.

As 10 maiores causas de acidentes de trabalho nos EUA, por custo

US$ 15,08 bi – Esforço exagerado envolvendo uma causa externa

US$ 10,17 bi – Quedas em uma superfície sem variação de nível

US$ 5,4 bi – Quedas em uma superfície de nível inferior

US$ 5,31 bi – Ser atingido por um objeto ou equipamento

US$ 4,15 bi – Outros esforços ou reações corporais

US$ 2,96 bi – Acidentes de trânsito envolvendo veículos motorizados terrestres

US$ 2,35 bi – Tropeço ou resbalo sem queda

US$ 1,97 bi – Ser preso ou comprimido por equipamentos ou objetos

US$ 1,85 bi – Chocar-se com um objeto ou equipamento

US$ 1,82 bi – Movimentos repetitivos envolvendo micro tarefas




Interrupção de negócios tira o sono das empresas globais, mostra estudo

A interrupção dos negócios devido a fatores externos constitui a principal preocupação das empresas no mundo em 2016, de acordo com a seguradora Allianz Global Corporate and Specialty, AGCS.

A empresa acaba de divulgar seu barômetro anual de riscos empresariais, elaborado por meio de entrevistas com mais de 820 profissionais do setor em mais de 44 países.

Trata-se da quinta edição da pesquisa, e a quarta oportunidade em que a interrupção de negócios lidera o ranking de riscos.

Em segundo lugar aparecem os desdobramentos de mercado, como o aumento da competição e a volatilidade de preços, seguidos dos riscos cibernéticos.

Nas Américas, surge com destaque o risco de roubos, fraudes e corrupção, em terceiro lugar no levantamento, atrás apenas de interrupção de negócios e ataques cibernéticos.

Em outro ranking de riscos globais para os negócios, divulgado pelo Fórum Econômico Mundial, temas ligados à governança, que incluem a corrupção, foram apontados a maior preocupação das empresas na América Latina. (Link para a matéria da semana passada)

Evolução das ameaças

O ranking reflete a evolução das preocupações empresariais e também a interconectividade entre vários dos riscos que ameaçam as empresas globais, de acordo com a AGCS.

Após um ano de alguns altos e muitos baixos na economia mundial, a volatilidade dos mercados, que não aparecia no levantamento de 2015, foi catapultada à segunda posição neste ano. Os riscos macroeconômicos, que também não figuraram em 2015, entraram diretamente na sexta posição.

Já os riscos cibernéticos passaram do quinto lugar para o terceiro, ilustrando a crescente preocupação das empresas com o tema. Por outro lado, após um ano relativamente tranquilo em termos de catástrofes naturais, elas passaram da segunda para a quarta colocação no ranking.

Uma das conclusões do levantamento é que as empresas estão cada vez mais preocupadas com o impacto que a instabilidade política pode ter em seus negócios, e especialmente sobre suas cadeias de suprimento.

O Brasil, com 7% das referências, é um dos países que mais preocupam as corporações neste sentido, empatado com a Ucrânia, e atrás da Rússia (25%) e China (18%).

Sem parar

A ênfase em riscos geopolíticos mostra o quanto os riscos empresariais estão conectados entre si, de acordo com a AGCS.

Quase 60% das empresas participantes na pesquisa são grandes corporações, e com freqüência elas espalharam suas cadeias de suprimento por diversos países em busca de ganhos de escala e de produtividade.

Outros dos 20 principais riscos encontrados pela pesquisa, como os ataques cibernéticos, as catástrofes naturais, os incêndios e explosões, e até as mudanças regulatórias e a corrupção, também podem ter um impacto profundo sobre a continuidade dos negócios de uma grande empresa ao afetar seus provedores e clientes.

De acordo com outro estudo feito pela empresa, a média das perdas por interrupção de negócio pagas pelo mercado segurador entre 2010 e 2014 chegou a US$ 2,38 milhões (ou cerca R$ 9,57 milhões), comparado com US$ 1,76 milhão entre os sinistros de bens e propriedades tradicionais. (Clique aqui para acessar o relatório de perdas globais da Alianz em inglês.)

E a situação tende a se tornar mais complexa na medida em que um crescente número de fatores podem fazer um negócio parar.

“As empresas precisam se preparar para enfrentar um leque mais amplo de forças que podem interromper seus negócios em 2016 e além”, disse Axel Theis, membro do Conselho Administrativo da Allinaz, em comentário ao estudo.

Entre as ameaças emergentes estão a popularização de novas tecnologias, como a nanotecnologia e a internet das coisas, que pulou da 19ª para a 11ª posição no ranking.

O ranking

Veja abaixo o ranking da AGCS sobre os principais riscos para as empresas globais em 2016 (em parênteses, a colocação em 2015):

1 (1). Interrupção de negócio (incluindo corte da cadeia de suprimentos)
2 (Novo). Desenvolvimentos do mercado (incluindo volatilidade e aumento da competição)
3 (5). Incidentes cibernéticos
4 (2). Catástrofes naturais
5 (4). Mudanças regulatórias
6 (Novo). Desenvolvimentos macroeconômicos (programas de austeridade, queda de preços de commodities, inflação/deflação etc.)
7 (6). Dano à reputação ou perda de valor da marca
8 (3). Incêndio e explosão
9 (9). Riscos políticos (guerra, terrorismo, tumultos)
10 (10). Roubo, fraude e corrupção
11 (19). Novas tecnologias
12 (Novo). Erro humano
13 (13). Escassez de talento, envelhecimento da força de trabalho
14 (11). Problemas de qualidade de produtos, defeitos de produção em série
15 (18). Riscos ambientais
16 (15). Mudanças climáticas
17 (22). Apagões energéticos
18 (25). Desintegração da zona do euro
19 (23). Riscos de saúde (como pandemias)
20 (Novo). Quebra de maquinaria




Má governança nacional é risco global nº 1 para empresas no Brasil

Quais sãos os riscos que mais preocupam os líderes empresariais de todo o mundo? A resposta desta ampla pergunta depende em grande medida do lugar onde tais líderes se encontram.

Na Europa assuntos como a crise migratória e o desemprego ocupam o topo das preocupações empresariais. Nos Estados Unidos e Japão, são os riscos cibernéticos que tiram o sono dos executivos de empresas.

Já no Brasil, e em boa parte da América Latina, a principal pedra no sapato empresarial é a velha incapacidade das instituições de governo de fazer as coisas direito.

Essa é a conclusão que se tira do relatório anual de riscos lançado esta semana pelo Fórum Econômico Mundial, a entidade que organiza o Fórum de Davos, evento que reúne líderes empresariais e governamentais no final deste mês na Suíça.

O documento mostra que, em termos globais, temas que estão nas manchetes dos jornais, como a migração involuntária, o possível colapso de países como a Síria, as guerras e o desemprego alimentam as preocupações das empresas no curto prazo.

Com uma perspectiva mais longa, o ranking inclui o aquecimento global, as catástrofes climáticas, crises alimentícia a instabilidade social.

Mas é a possibilidade de crises de acesso à água o risco que, na visão dos líderes empresariais, pode causar os próximos problemas na próxima. E o Brasil é apontado como exemplo de país onde a má gestão dos recursos hídricos causa todo tipo de problema.

Regras turvas

“A governança se encontra no coração da gestão da água”, afirma o documento, baseado em entrevistas com 13 mil líderes empresariais de 140 países. “O Brasil exemplifica os desafios de administrar a água mesmo nos limites de um único país.”

O fórum global observa que, apesar de o Brasil contar com cerca de 12% das reservas mundiais de água doce, boa parte desta riqueza hídrica não chega aos centros urbanos espalhados pelo país.

“São Paulo, que contribui com um terço do PIB brasileiro, tem uma disponibilidade de água por habitante inferior até mesmo à do Nordeste, que é historicamente exposto a secas.”

O documento continua: “Com a energia hidrelétrica constituindo 64% do da produção de eletricidade, há conflitos causados por regras que não são claras a respeito da governança da água nos níveis federal, estadual e local.”

Com exemplos como este, não é de espantar que o tema da incapacidade das instituições de governo seja a principal preocupação das empresas que operam no Brasil, a exemplo de outros países como o Paraguai, Bolívia, Moçambique e Mauritânia.

Problema latino

E não só no Brasil. Os problemas causados pelas instituições de governo ocupam o topo do ranking das preocupações das empresas latino-americanas, segundo o Fórum Econômico Mundial.

Isso é verdade especialmente na América do Sul, “onde a corrupção e a desconfiança sobre o funcionamento das instituições estão agravando cada vez mais as dificuldades de se levar um negócio”, diz o texto.

O fórum, no entanto, também alerta que a má governança de um país não é só culpa dos políticos. “Governança é um fenômeno multifacetado em que as empresas, a sociedade civil e o público geral também têm um papel a desempenhar.”

Para as empresas, diz o texto, a má governança de um país resulta em custos e riscos adicionais que, no longo prazo, podem tornar suas atividades insustentáveis.

Nada menos do que 91% dos entrevistados na região citaram a má governança nacional como um dos principais riscos enfretados pelas empresas. Um choque de preços energéticos (82%), o desemprego ou subemprego (64%), profunda instabilidade social (59%) e as crises fiscais (45%) completam a lista dos cinco maiores riscos.

Outro tema mencionado pelo relatório é a falência de infraestruturas críticas, um problema agravado pelas frouxas perspectivas econômicas dos países latino-americanos.

“Um aumento do investimento em infraestrutura estimularia a economia assim como reforçaria sua resistência aos riscos globais”, pontifica o fórum global.

A nível global, a má governança nacional é citada como o principal risco para os negócios em 14 países, ficando atrás do desemprego, que lidera o ranking em 41 países, e um possível choque energético, dor-de-cabeça número 1 em outros 29.

Clique aqui e veja o relatório completo.




Argentina reduz risco econômico, mas tensão social preocupa

O novo governo argentino reduziu o risco econômico para as empresas estrangeiras no país, mas investidores agora precisam estar atentos a um possível aumento do risco político e social, de acordo com a consultoria britânica Verisk Maplecroft.

Após uma surpreendente vitória eleitoral no final do ano passado, Mauricio Macri assumiu o governo da Argentina em dezembro e logo anunciou uma série de medidas para liberalizar a economia que foram recebidas com alívio pelos mercados.

“No primeiro mês do governo nós vimos uma série de sinais importantes em termos de transparência, comunicação, um compromisso com o respeito aos contratos e mudanças na maneira como o estado vai alocar os seus recursos”, disse Jimena Blanco, chefe da divisão das Américas da Verisk Maplecroft.

Ela destaca como positivos anúncios feitos por Macri como a revisão da distribuição de subsídios aos gastos das famílias, de modo a focar nas populações mais necessitadas, e a uma maior liberalização da taxa de câmbio, cujo valor havia sido alvo de várias restrições durante a gestão de Cristina Fernández de Kirchner.

“E não aconteceu até o momento a catástrofe econômica que o governo anterior havia previsto”, observou Blanco. “As empresas podem importar e exportar com maior liberdade, o governo se comprometeu a remover as limitações a exportações nos próximos três anos, então tudo isso tem sido bastante positivo.”

Sindicatos

A dúvida agora é se o rompimento com  a linha de governo kirchnerista não vai redundar em aumento dos protestos, greves e outras fontes de instabilidade, de acordo com a analista.

“Os riscos agora não vêm tanto do lado econômico como do lado político e social,” afirmou Blanco. “Pode haver instabilidade nas relações com os sindicatos, por exemplo. O governo quer cortar o número de empregados do setor estatal, que inchou muito na última década, mas se tratam de trabalhadores que tendem a estar sindicalizados.”

“Também podemos esperar negociações salariais muito tensas entre o governo, o setor privado e os sindicatos no mês de março”, afirma a especialista. “A inflação segue alta e pode se acelerar neste ano, e consequentemente os sindicatos devem pedir fortes aumentos salariais, na ordem de 30% a 40%.”

Como o governo argentino deve insistir em taxas bem inferiores a essas, a probabilidade de greves neste ano na Argentina é bastante alta, de acordo com Blanco, até porque o setor sindical é tradicionalmente ligado ao partido peronista, agora na oposição.

Venezuela

Do ponto de vista dos investidores, as eleições do ano passado na Argentina criam a expectativa de uma mudança de rumo na economia do país, que havia se afastado dos mercados internacionais. Na Venezuela, outro importante mercado para as empresas brasileiras, as perspectivas são bem mais incertas.

Para Blanco, a eleição em dezembro de uma supermaioria parlamentar da oposição ao governo de Nicolás Maduro pode acarretar um endurecimento ainda maior da política chavista.

“O controle que o governo possui sobre outras instituições está sendo usado para reduzir o poder da Assembleia Nacional em promover mudanças no país”, disse a analista.

Um exemplo foi a recente decisão, por parte da Suprema Corte, de proibir que três deputados oposicionistas assumissem suas cadeiras, afirmando também que qualquer decisão tomada pela Assembleia na presença dos deputados seria inválida.

“Temos que nos últimos 17 anos o chavismo se espalhou muito rapidamente por todas as instituições do estado”, disse Blanco. “Será extremamente difícil para a oposição promover reformas de verdade na economia e outros setores controlando apenas a Assembleia Nacional.”

Ela acredita que a possível convocação de um referendo pela Assembleia Nacional sobre a continuidade de Maduro no poder pode aumentar os níveis de tensão social no país, que já estão bastante elevados. O mesmo pode ocorrer se o governo agir de forma intensa contra a Assembleia.

“Os militares já se manifestaram a favor de Maduro, que disse que não aceitará ser removido do poder. Se um referendo resulta no número de votos necessários para afastar o presidente, é de se perguntar como é que o chavismo vai reagir”, disse a consultora.

Para ela, mesmo que a oposição chegue eventualmente ao poder, as perspectivas de mudança na economia serão bastante reduzidas, já que o regime chavista está bastante integrado na estrutura do estado venezuelano.




Instabilidade política e corrupção intimidam investidores

A instabilidade política alimentada pela reação da sociedade contra a corrupção constitui o principal risco para investidores no Brasil em 2016, segundo a consultoria britânica Verisk Maplecroft.

Em seu mais recente relatório sobre os cenários de risco global, a empresa britânica afirma ver poucas possibilidades de que a presidente Dilma Rousseff seja afastada em um processo de impeachment, mas também indica que o governo encontrará dificuldades para aprovar medidas no Congresso durante o ano.

O tema da corrupção preocupa não só no Brasil, mas também em outros países latino-americanos como a Venezuela, Argentina, o México e até mesmo o Chile, economia frequentemente apontado como a mais bem gerida da região.

“De nenhuma maneira a corrupção é um novo tema na América Latina”, disse Jimena Blanco, chefe da divisão Américas da consultoria, em entrevista à Risco Seguro Brasil. “Mas se trata de um tema que agora preocupa a sociedade em toda a região. Na medida em que os países enfrentam mais dificuldades para gerar renda, as pessoas ficam preocupadas com a eficiência dos gastos públicos e os efeitos da corrupção sobre a qualidade de vida.”

É neste caso que se encontra o Brasil, na opinião da analista, segundo quem a instabilidade política, intensificada pelas investigações da Operação Lava Jato, preocupa os investidores, que estão adotando uma postura de precaução com relação ao rumo que o país vai tomar.

“Quando há um alto nível de instabilidade política, os investidores se preocupam com possíveis regras do jogo, e como elas podem afetar os seus investimentos”, afirmou Blanco. “Portanto, muita gente vai preferir esperar para ver o que vai acontecer no Brasil nos próximos 12 meses.”

Fusões e aquisições

Assim como outros países da região, o Brasil ainda enfrenta os efeitos da queda dos preços das commodities, que deve continuar neste ano, de acordo com a Verisk Maplecroft.

Ao mesmo tempo, no entanto, a desaceleração da economia brasileira, aliada à queda do real e ao alto endividamento das empresas, pode criar oportunidades de fusão e aquisição para investidores estrangeiros. Em 2015, houve maior volume de aquisições feitas por estrangeiros do que por brasileiros no país.

Devido à incerteza política e econômica, porém, muitos investidores podem se sentir intimidados a colocar dinheiro no país, especialmente pensando em negócios de curto prazo, segundo Blanco.

“Depende do setor de atividade da empresa e do horizonte do investidor”, disse a analista. “Para quem está vendo o curto prazo, até o final do governo Dilma Rousseff, por exemplo, o cenário não é animador. O governo não tem o capital político necessário para aprovar no Congresso as reformas que precisa realizar.”

A análise pode dificultar, por exemplo, a entrada de fundos de private equity, que têm se destacado no mercado de fusões e aquisições nos últimos anos, mas que muitas vezes buscam retorno rápido ao reestruturar empresas com problemas.

Maior é a chance de que investidores com uma visão de longo prazo se interessem por ativos brasileiros, especialmente no caso de investimentos estratégicos que visam a expansão futura de seus negócios na região. Setores como a agricultura, a indústria e energia renovável podem se tornar alvo do interesse de empresas estrangeiras.

“O Brasil vai continuar a ser o mercado-chave para empresas com planos de crescer na América Latina”, disse Blanco. “Mas isso depende do setor de atividade. Ativos em áreas como o petróleo e a mineração, por exemplo, podem não parecem muito atrativos devido a episódios recentes como a Operação Lava Jato e o acidente de Mariana.”

Reputação

Outra preocupação é o dano reputacional que pode ser causada pelo envolvimento do nome de uma empresa em um caso de corrupção.

“Estamos vendo algumas companhias que tiveram seus nomes publicados em veículos de comunicação internacionais com relação a escândalos de corrupção”, disse Blanco. “É lógico que isso não vai trazer nenhum ganho para as marcas em seus mercados natais.”

Por esse motivo, consultorias como a Verisk Maplecroft estão recomendando a seus clientes que sejam especialmente cuidadosos em implantar controles internos eficientes quando estiverem operando no Brasil e outras economias emergentes onde o risco de corrupção é elevado.

“É preciso implementar sistemas que vão garantir que a empresa não se envolva ou seja relacionada com práticas ilegais”, observou Blanco.




Aperto regulatório deve se somar a riscos enfrentados pelas mineradoras

As empresas de mineração devem sofrer uma crescente pressão regulatória em 2016, o que vem se somar a uma longa lista de desafios enfrentados pelo setor, de acordo com a consultoria Deloitte.

A empresa lançou recentemente um relatório em que ressalta os temas mais importantes para o setor em termos globais. O momento é difícil devido à queda dos preços das commodities no mercado internacional.

No Brasil, porém, os desafios são incrementados pela reação à tragédia de Mariana, que deve resultar em uma regulamentação mais rígida para o setor, e uma difícil conjuntura econômica doméstica.

“Toda vez que há um grande acidente, isso acarreta uma atualização regulatória”, disse Karla Costa, gerente da área de Sustentabilidade da Deloitte no Rio de Janeiro, à Risco Seguro Brasil. “A gente espera é que isso agora aconteça com a mineração.”

As mineradoras podem esperar, entre outros apertos regulatórios, novas exigências em termos de gestão de risco ambiental e de segurança operacional, além de requisitos de licenciamento de exploração mais estritos.

“É necessário que indústria aprenda com o que aconteceu e invista na prevenção,” disse Costa.

Condições pouco propícias

Devido às atuais condições do mercado, porém, é pouco provável que as empresas do setor tomem demasiadas iniciativas para melhorar seus processos de gestão de riscos, a não ser que se vejam obrigadas a isso.

“As empresas de mineração terão que tomar ações após o ocorrido, mas acredito que será muito mais através de pressão regulatória do que por iniciativa própria”, afirmou Costa.

Em seu relatório, a Deloitte lista uma série de fatores que estão complicando o desempenho das empresas de mineração.

Além da queda acentuada dos preços das commodities, agravada pelo desaquecimento da economia chinesa, o setor enfrenta as expectativas dos acionistas por dividendos sempre crescentes e uma carência de financiamentos para realizar novos investimentos.

Ao mesmo tempo, precisa atualizar seus procedimentos operacionais, adaptar-se a regulamentações sempre em mutação não só no Brasil, lidar com a sanha fiscal de governos ávidos por arrecadar mais impostos e investir na prevenção de riscos cada vez mais intensos em áreas como a segurança física de seus funcionários e os ataques cibernéticos.

Fusões e aquisições

Com todos estes fatores pressionando os resultados das mineradoras, a Deloitte afirma que que algumas terão dificuldade em manter sua independência e poderiam se tornar alvo de operações de fusão e aquisição.

De fato, algumas empresas que sofrem maior pressão por resultados estão vendendo ativos para poder aumentar os dividendos pagos a acionistas. A Anglo American, por exemplo, anunciou recentemente que vai vender 60% de seus ativos e fechar 85 mil postos de trabalho para se adaptar ao novo ambiente de negócios.

Mas há obstáculos para uma nova onda de transações no setor, incluindo a escassez de financiamento e uma acentuada aversão a riscos.

Este fator é especialmente importante no Brasil, onde os riscos que podem ser adquiridos junto com uma empresa se tornaram mais evidentes do que nunca no caso da Samarco.

A incerteza política e econômica e a pressão regulatória que vem por aí tornam ainda mais difícil que empresas em dificuldades encontrem um “cavaleiro branco” que lhes resgatem das complicações atuais, ainda que os preços dos ativos pareçam atraentes.

“Apesar de o momento ser ideal para fusões e aquisições, existe o outro lado da moeda, que é o risco que vem junto”, afirmou Costa.




Estados Unidos são desafio para programas globais de seguros

As empresas brasileiras estão se globalizando e, consequentemente, començam a desenvolver seus programas globais de seguros.

Esses programas reúnem sob um mesmo guarda-chuva as coberturas de seguro válidas para vários países. Prática comum nos Estados Unidos ou na Europa, apenas desde 2010 o mercado começou a oferecer programas cuja apólice principal pode ser gerida a partir do Brasil.

Mas a gestão internacional é uma tarefa complexa e que, além de ganhos de eficiência, pode trazer dores de cabeça para as empresas. Por isso é importante aprender com quem já passou pelas dificuldades envolvidas no processo.

Em novembro, um animado debate em Madri tratou com detalhes de um desses problemas: as complicações envolvidas no processo de sinistros que acontecem em países estrangeiros cobertos por um programa internacional.

Gestores de riscos, corretores, seguradores e peritos espanhóis focaram a discussão nos países anglo-saxões durante um encontro da Igrea, a associação de gestão de riscos da Espanha. Segundo eles, coberturas locais contratadas nos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália, entre outros, podem originar severos atrasos no pagamento de sinistros, acionar cláusulas indevidas ou resultar em outros tipos de problemas que uma empresa não quer ter de enfrentar quando sofre uma grande perda.

“A maneira espanhola de organizar um programa internacional funciona aceitavelmente bem em todo o mundo, exceto nos mercados anglo-saxões”, disse José Caraballo, o CEO do grupo de peritagem RTS na Espanha.

Estados Unidos

Considerando que o mercado de seguros global é em grande medida regido pelas regras criadas a partir de Londres, e que os Estados Unidos abrigam a indústria de seguros corporativos mais desenvolvidas do planeta, pode soar como uma surpresa que tais países gerem problemas para programas globais.

As empresas espanholas, no entanto, que aceleraram seu processo de internacionalização nos anos 2000, aprenderam na prática que isso é justamente o que pode acontecer.

Um dos mercados mais visados por elas é o dos Estados Unidos, onde a expertise espanhola em áreas como a construção, a energia e as concessões públicas vem encontrando um vasto ramo de aplicação.

Mas elas também descobriram que as regras de seguros nos Estados Unidos são bastante complexas, e que é uma péssima ideia ter de resolver um litígio nos tribunais.

Para começar, a legislação americana de seguros é definida em nível estadual, o que significa que há 50 conjuntos de regras diferentes para trabalhar no país. Os especialistas afirmaram que estados importantes para as empresas estrangeiras, como o Texas e a Califórina, estão entre os que têm legislações mais complicadas para os programas internacionais.

Além disso, peritos e seguradores locais, mesmo fora dos grandes centros econômicos, detêm grande autonomia nos processos de regularização de sinistros. Daniel San Milán, presidente da Igrea e gestor de risco da construtora Ferrovial, relatou um caso em que um perito local decidiu que o programa mundial da empresa, por meio da apólice americana, deveria cobrir uma perda que a própria companhia acreditava que não estava coberta pelo seguro.

“Se você não estiver em cima do sinistro, ele pode ser engolido localmente, e o seu programa internacional não terá nenhuma influência no processo”, disse ele.

O pagamento de uma indenização que a proprietária do programa global não esperava é um problema na medida que pode complicar no futuro a renovação do programa ou a organização das coberturas de resseguro, explicaram os participantes do debate.

Ênfase nos contratos

Para evitar problemas, os especialistas disseram que é preciso colocar muita atenção e gastar o tempo necessário para firmar contratos bem feitos e compreensíveis, com uma definição muito clara dos papéis de cada parte envolvida na regularização do sinistro.

Isso significa que, na medida possível, deve-se tentar estabelecer onde começa e termina a responsabilidade de corretores, seguradores, resseguradores e peritos no âmbito das apólices locais integradas ao programa internacional.

Ignacio Almazán, CEO da seguradora RSA na Espanha, lembrou que as seguradoras responsáveis pelas coberturas locais americanas estão proibidas por lei de receber orientações do exterior durante o processamento de um sinistro.

Outro fator importante é que não há legislação nos Estados Unidos que defina o passo-a-passo da regularização de sinistros, apenas códigos de boas práticas que se espera que as seguradoras obedeçam.

Almazán também disse que a comunicação é vital para evitar que surjam controvérsias entre as partes que podem acabar sendo definidas nos tribunais.

“Em termos de litígios judiciais, os Estados Unidos são provavelmente a pior jurisdição”, disse Almazán.

Os Estados Unidos, por seu peso econômico, foram o principal foco dos debates em Madri. Mas os participantes deixaram claro que também há dificuldades na gestão de sinistros cobertos por apólices locais em países como o Reino Unido, a Irlanda e, crescentemente, a Austrália.