Terrorismo pede gestão de risco a empresa globalizada
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- Rodrigo Amaral
- 4 de agosto de 2015
- Sem categoria
Apesar de o Brasil não ser “alvo preferencial”, empresas podem sofrer danos diretos e indiretos. Olimpíada exige atenção, diz consultor da Aon.
A crescente internacionalização das empresas brasileiras faz com que muitas tenham que lidar com riscos que não existem no Brasil, obrigando-as a buscar formas de gerir novas exposições de seu negócio.
O terrorismo é um desses casos. Trata-se de um fator muito mais presente nos noticiários do que no dia-a-dia das empresas nacionais. Mas o envolvimento de grupos brasileiros em regiões como a África e o Oriente Médio, ou mesmo os Estados Unidos e a Europa, tornam o tema um foco de preocupação de diversos gestores de riscos do país.
Em entrevista à Risco Seguro Brasil, Keith Martin, consultor em riscos de terrorismo da corretora Aon baseado na África do Sul, explica por que o terrorismo deve ser em levado consideração pelas empresas, não só devido à sua presença no exterior, mas também pelo perfil cada vez mais global do Brasil. (A Aon publica um mapa do risco de terrorismo que pode ser acessado clicando aqui.)
Martin diz que empresas brasileiras não são alvos de grupos fundamentalistas, mas alerta que podem sofrer tanto direta quanto indiretamente com os efeitos de um ataque terrorista. Ele observa também que a ausência de ataques terroristas durante a Copa do Mundo de 2014 não significa que os Jogos Olímpicos de 2016 não venham a ser visados por grupos radicais.
Leia abaixo a entrevista:
Risco Seguro Brasil — Há um aumento global no risco de ataques terroristas contra empresas? As empresas brasileiras devem se preocupar com este risco?
Keith Martin — A Aon avalia que há um aumento no risco de ataques terroristas em certas regiões do mundo. Esses ataques quase sempre afetam também empresas – mesmo que elas raramente sejam alvos em si. A exceção são companhias que são símbolos de certos países, como marcas de restaurantes fast-food e hotéis norte-americanos – essas podem, sim, serem alvos diretos.
Em geral, as empresas brasileiras não são alvo, mas têm que ter cuidado em certas regiões, como o Oriente Médio, devido ao risco de efeitos colaterais de ataques contra outros alvos.
RSB — Que áreas estão mais expostas a este risco? Há alguma região do planeta onde as empresas brasileiras estão presentes e onde há risco de terrorismo mais acentuado?
Martin — As áreas atualmente mais expostas são os países com grandes populações de muçulmanos, sejam eles majoritários ou minoritários, no Oriente Médio, na Ásia e na África, além dos Estados Unidos e da Europa Ocidental. Obviamente, as empresas brasileiras são presentes em alguns desses países, e precisam ter cautela.
De modo geral, não há grande presença de empresas brasileiras via investimento etc. no Oriente Médio, mas na África, as empreiteiras brasileiras, cada vez mais espalhadas pela região, precisam ficar de olho na expansão do terrorismo por lá, inclusive em países como o Quênia.
Na Europa e nos Estados Unidos, as empresas brasileiras devem analisar cautelosamente o seu perfil de risco, em termos também das empresas implantadas na vizinhança delas.
Destacamos também que eventos globais aumentam o risco de terrorismo de forma aguda. Mesmo que a Copa 2014 tenha sido tranquila deste ponto de vista, as Olimpíadas no Rio 2016 também podem ser alvo de terrorismo, particularmente considerando que os Jogos já foram alvo de ataques diretamente pelo menos duas vezes (Munique 1972 e Atlanta 1996) e indiretamente (Beijing 2008).
A presença de atletas de países como Israel, Estados Unidos, Afeganistão, Iraque, Irã etc. e o status de “palco global” dos Jogos fazem deles, infelizmente, um alvo de alto valor para os terroristas. Neste sentido, é importante que tanto o país como a cidade do Rio de Janeiro, além das empresas lá presentes, estejam preparados.
RSB — Como se define o risco de terrorismo? Que tipos de atividades estão cobertas? Por exemplo, as ações das Farc na Colômbia estão incluídas nestas coberturas? E ações como os ataques em série do PCC contra forças de segurança no Brasil também estariam cobertas?
Martin — É importante mencionar que o mercado oferece três coberturas, desde a mais “estreita” (que inclui somente terrorismo e sabotagem) até a mais ampla (todo tipo de violência política, incluindo guerra e guerra civil).
Normalmente, para evitar discussões com as seguradoras sobre a natureza do possível sinistro, recomendamos, pelo menos, a cobertura intermediária, que inclui terrorismo, sabotagem, comoção civil, motins e danos maliciosos.
Ações das Farc estão incluídas em qualquer uma das três coberturas, incluindo a mais restritiva. O mercado já pagou vários sinistros (tanto para danos materiais como para lucros cessantes) causados pelos Farc e outros grupos na Colômbia.
É importante que o grupo que cometa os atos de violência seja reconhecido como grupo com motivos políticos, ou que pelo menos os atos específicos eram de natureza política, religiosa ou étnica. Quando se trata de um grupo visto mais como um grupo criminoso, e não político, como o PCC ou os grupos de narcotráfico no México, fica mais difícil argumentar que seja terrorismo ou outro tipo de violência política.
Note-se também que o fato que um governo considera os seus opositores como “terroristas” não necessariamente significa que as seguradoras vão reconhecê-los como tal. Por exemplo: na Síria, o governo considera todos os grupos armados da oposição como terroristas, mesmo os mais moderados, que países ocidentais estão apoiando. Neste caso, pode ser que a seguradora considere danos causados por conflitos entre esses rebeldes e o exército sírio como guerra civil e não como terrorismo.
RSB — Que tipos de danos são cobertos pelas apólices de seguro contra o terrorismo? Além dos danos materiais à propriedade, é possível, por exemplo, incluir a remoção de membros do staff e seus familiares de áreas onde o risco se torna mais crítico?
Martin — Além dos danos materiais, as apólices podem incluir perdas por causa de lucros cessantes, algo muito importante porque muitas vezes, particularmente para empresas, os danos devidos à interrupção de negócios são muito maiores do que os danos físicos.
As apólices geralmente não cobrem remoção de membros do staff etc. Para isso, há outros serviços – inclusive seguro de viagem ou serviços de apoio para expatriados (que inclui terrorismo junto com sequestro, remoção por causa de terremotos, tsunamis, problemas médicos etc.). A Aon oferece esse serviço, inclusive para empresas brasileiras.
RSB — Quais são as tendências de preços e condições de coberturas de seguros contra o terrorismo? Há áreas ou setores onde não é possível obter cobertura no mercado atual?
Martin — Globalmente, não houve aumento de preço porque o mercado de seguros, de modo geral, está muito soft atualmente. Há muita capacidade no mercado, e particularmente nos specialty lines como risco político, onde o retorno é considerado maior do que nas coberturas mais comuns.
Obviamente para certos países, não há cobertura, ou somente muito limitada. Isso inclui países como Iraque, Líbia e Síria. Existem alguns outros em que os prazos são mais curtos e as taxas mais altas, como na Nigéria, por exemplo.
Os ataques recentes na França e nos Estados Unidos não devem (ainda) influenciar muito o preço, já que foram ataques isolados com poucos danos materiais. Obviamente, quaisquer ataques de maior escala (como no 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, ou os ataques de 2004 em Madrid e de 2005 em Londres) podem mudar o quadro.
RSB — Qual é a melhor forma para uma empresa brasileira organizar seu programa de seguros contra riscos de terrorismo? É possível organizar uma cobertura global, e, em caso positivo, que mercados fornecem essas coberturas? São necessárias apólices locais em alguns países?
Martin — Recomendamos uma análise aprofundada, junto com o corretor, que deve ter experiência no assunto, da exposição da empresa ao risco e particularmente a definição de uma possível cobertura para o risco.
Sim, é possível e até comum, organizar uma cobertura global, e os principais mercados são Londres (Lloyd’s) e os Estados Unidos (AIG, Ace, XL, Zurich…), com participação de resseguradoras como Swiss Re e Munich Re. E sim, em alguns países é necessário emitir a apólice localmente.
RSB — É uma boa ideia transferir este risco com o auxílio de uma empresa cativa?
Martin — Se for só para esse risco, a resposta para a grande maioria das empresas brasileiras é não. Somente seria rentável para empresas com grande presença, ou com uma presença particularmente forte no Oriente Médio. Se já existe uma cativa, ela pode, sim, auxiliar – mas sugerimos o apoio de um corretor especializado, por se tratar de um risco muito complexo e fora do padrão.
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