Perdas e juros baixos incentivam fusões e aquisições
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- Rodrigo Amaral
- 23 de julho de 2015
- Sem categoria
Catástrofes naturais matam 16 mil no 1º semestre, mas custo para o setor é baixo; juros nos países desenvolvidos barateiam capital para compras.
O mercado de seguros e resseguros tende a continuar favorável aos compradores como resultado do contínuo fluxo de capital no setor, aliado a um cenário de perdas bastante benéfico.
Para a agência de qualificação de risco AM Best, a combinação desses e outros fatores deve seguir dando fôlego à atual onda de fusões e aquisições na indústria.
“As atividades de fusões e aquisições devem continuar nos próximos meses na medida em que (res)seguradoras cada vez mais procuram formas de dispor capital e gerar ganhos de escala”, afirmou a agência em uma nota publicada na sexta-feira, 17 de julho.
Dois fatores em especial estão alimentando este cenário. Um deles é o baixíssimo nível das taxas de juros nos países desenvolvidos.
Ao mesmo tempo em que achatam o rendimento financeiro das seguradoras e resseguradoras, os juros microscópicos tornam mais barata a captação de capital por parte de empresas financeiramente mais saudáveis que querem fazer aquisições.
Além disso, os juros baixos também fazem do mercado segurador um destino privilegiado para investidores que estão desesperados para obter qualquer tipo de retorno.
Apesar de trabalhar com margens cada vez mais reduzidas devido a uma competição acirrada e a pressão por prêmios sempre menores, a indústria vem conseguindo reportar bons resultados nos últimos anos, pagando dividendos atrativos a seus acionistas e atraindo capital.
Nos Estados Unidos, por exemplo, os seguradores P&C (de bens e responsabilidades) reportaram no primeiro trimestre deste ano um lucro acumulado de US$ 18,2 bilhões, em comparação com US$ 13,9 bilhões no mesmo período de 2014, segundo relatório da Verisk Analytic e da PCI, a associação de seguradoras P&C americanas.
Catástrofes mortais, mas pouco custosas
Um segundo fator é o nível modesto de perdas catastróficas observadas no planeta na primeira metade do ano.
Catástrofes naturais mataram 16 mil pessoas em todo o mundo no primeiro semestre de 2015, cinco vezes mais do que o registrado no mesmo período do ano passado.
O número, porém, é inferior à média de morte causadas por catástrofes naturais nas últimas três décadas, que chega a 27 mil fatalidades nos seis primeiros meses.
As estatísticas foram compiladas pela resseguradora Munich Re em seu levantamento semestral sobre o mercado global de catástrofes naturais.
O impacto econômico dos desastres, e seu reflexo no mercado de seguros e resseguros, também foi inferior à média do período nos últimos 30 anos.
Enquanto a média semestral de perdas econômicas chega a US$ 64 bilhões, nos primeiros seis meses de 2015 o valor se restringiu a US$ 35 bilhões. As perdas cobertas pelo mercado segurador se limitaram a US$ 12 bilhões, contra a média histórica de US$ 15 bilhões.
Isso porque a maior parte dos desastres ocorreu em áreas de pouco desenvolvimento econômico e escassa penetração do mercado de seguros.
O maior evento catastrófico do primeiro semestre foi o terremoto de 7,8 pontos na escala Richter que devastou o Nepal, e em especial a capital Katmandu, no mês de abril, e que foi seguido por outro tremor, de 7,3 pontos, duas semanas depois.
Mais de 9 mil pessoas morreram na tragédia, mas as perdas asseguradas se limitaram a US$ 140 milhões, de um total de US$ 4,5 bilhões em prejuízos sofridos pelo país.
Em comparação, uma série de tempestades de inverno que atingiram o Nordeste dos Estados Unidos e o Canadá em fevereiro geraram perdas asseguradas de US$ 1,8 bilhão, de um total de US$ 2,4 bilhões em prejuízos.
Empresas mais fortes
De acordo com a AM Best, os juros baixos e as poucas perdas catastróficas estão ajudando as empresas mais fortes a visar concorrentes menores ou menos especializadas para fins de aquisição.
Companhias especializadas em segmentos específicos também estão juntando forças a fim de aumentar sua capacidade e obter sinergias em termos de expertise.
Mas a agência também afirmou que um número crescente de operações envolvendo grupos de grande porte também está ocorrendo no mercado e poderiam mudar significativamente o cenário na indústria de seguros e resseguros.
Do ponto de vista dos compradores de seguros, as fusões terão um efeito ainda a ser determinando, de acordo com a AM Best.
“O comprador de seguros, em teoria, vai ter menos oferta de provedor de seguros, mas ao mesmo tempo pode se beneficiar de maior segurança por meio da compra de coberturas de uma entidade financeiramente mais sólida, com uma habilidade de subscrição altamente refinada e maior oferta de produtos”, diz a agência em sua análise.
Mercado brasileiro
A AM Best também publicou nesta semana uma nota sobre o efeito da crise econômica brasileira sobre o mercado de seguros e resseguros local.
A agência diz no texto que um possível rebaixamento da dívida soberana brasileira e outros problemas econômicos poderia ter um impacto sobre a saúde financeira do setor, já que as empresas possuem uma elevada parcela de seus investimentos em dívida do governo ou de empresas brasileiras.
Por esse motivo, a AM Best realizou uma série de testes de estresse no setor, simulando não só os efeitos de um rebaixamento da nota soberana brasileira, mas também o impacto de outros fatores negativos da economia como um todo.
O resultado foi que os ratings das seguradoras e resseguradoras brasileiras avaliadas pela agência ainda não foram afetados pelas condições econômicas adversas vigentes no país.
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