Compliance tem baixa maturidade em quase metade das empresas
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- Oscar Röcker Netto
- 20 de outubro de 2015
- Sem categoria
Pesquisa da KPMG mostra também que 40% delas não têm programa anticorrupção e que um em cada cinco líderes não reforça cultura na área
As empresas em geral possuem um baixo nível de maturidade em gestão de riscos de compliance no Brasil, o que faz com que ainda tenham uma série de desafios a superar. Apesar disso, elas já começam a implementar e fortalecer a governança para melhorar a situação.
O diagnóstico e a conclusão fazem parte de estudo recém divulgado pela consultoria KPMG intitulado “Maturidade do Compliance no Brasil”, para o qual a consultoria ouviu cerca de 200 empresas de 19 setores produtivos.
Segundo o levantamento, 46% das companhias pesquisadas ficam nos dois menores níveis de governança considerados na pesquisa — 36% têm Infraesturura mínima e 12% não têm nada. No total, são cinco, do melhor para o pior: Alta performance, Função de integração, Função de monitoramento, Infraestrutura mínima e Sem infraestrutura (veja mais abaixo).
As de Alta Performance somam 12%. Empresas nesse nível têm um compliance que leva “a benefícios comerciais tangíveis e estratégicos”, no conceito adotado pela consultoria para a pesquisa.
“As empresas terão de investir na estruturação de compliance no curto e médio prazos”, conclui o estudo, “para alavancar governança e cultura, criar e revisar políticas, processos e procedimentos, capacitar profissionais e desenvolver mecanismos de monitoramento dos principais riscos”.
Reforçando a questão de baixa maturidade, 32% das pesquisadas reportaram que a estrutura e função de compliance foram implementadas há no máximo três anos, sendo que 19% do total não tem estrutura adequada, “aumentando a exposição a perdas financeiras, à imagem e à reputação”.
O levantamento registrou fragilidade ou inexistência de programas. Segundo a KPMG, ter um Código de Ética e/ou atualizá-lo em relação à Lei Anticorrupção, é “um fator de alta relevância e extremamente crítico para o sucesso do negócio”.
Mas 17% dos respondentes afirmaram não tê-lo implementado ou atualizado. “É mais crítico perceber que 40% das empresas não possuem política anticorrupção”, avalia a consultoria. Além disso, “43% não possuem política nem programa de ética e compliance.”
Radar ligado
A falta desses programas convive com preocupações que estão bem presentes para os gestores.
A pesquisa mostra que uma maioria de 61% das empresas considera de “alta prioridade” fazer treinamento anticorrupção de seus funcionários.
Para 57%, é preciso investir em “‘ética e conduta para os profissionais” e em capacitação contra “lavagem de dinheiro”, o que é tido como prioritário para 32% dos respondentes.
O monitoramento das políticas e programas desenvolvidos deixa a desejar em um número significativo das empresas ouvidas pela KPMG.
Uma maioria de 57% delas disse não saber quanto pagou de multa por problemas ligados a riscos de compliance, sendo que 5% delas disseram que não monitoram esse dado. Por outro lado, 9% das empresas reportaram multas de R$ 1 milhão ou mais por ano, sendo que dessas 5% pagaram mais de R$ 5 milhões.
Enquanto 82% das respondentes dizem que possuem um canal de comunicação (de linha ética ou canal de denúncias), 18% delas não têm esse mecanismo.
Para a KPMG, “ainda mais surpreendente é o posicionamento de 29% das empresas, as quais confirmaram não ter conhecimento do volume de informações, eventos e denúncias capturado por este mecanismos.
Discurso e prática
No processo de desenvolvimento do setor vai ser necessário um envolvimento maior dos executivos sêniores das companhias, de acordo com os dados apresentados na pesquisa.
Isso porque, segundo o levantamento, um em cada cinco desses executivos não reforça periodicamente a importância do compliance para o sucesso da companhia e/ou têm um baixo envolvimento nos processos da área.
Além da participação mais ativa, é necessário padronizar o discurso. Em outros 21% das empresas o conceito de compliance não é uniforme, o que representa uma fragilidade para implantação da cultura de gestão de riscos da área, diz a KPMG.
Importância
A introdução do estudo lembra que o compliance vem ganhando bastante projeção no Brasil nos últimos anos, com projeção significativa nos meios de comunicação, principalmente depois da publicação da Lei Anticorrupção, em 2013.
Com isso, as exigências dos agentes reguladores foram fortalecidas. O volume de multas pagas e as sanções às empresas aumentou, bem como o potencial de impacto no valor das ações de empresas negociadas em Bolsa, na reputação, na imagem e na perda de vantagem competitiva.
“O gerenciamento de riscos de compliance no Brasil vem passando por um processo de aprimoramento e de aumento de exigências em decorrência da dinâmica e da complexidade nos negócios, atrelado à frequente atualização e/ou emissão de novas leis e regulamentações”, avalia o estudo da KPMG.
Segundo a KPMG, o compliance tem sido pauta cada vez mais frequente para a administração da empresa, uma vez que crescem as cobranças de acionistas e stakeholders por uma governança mais clara e transparente.
Os motivos disso, levantou a consultoria, são variados e relevantes: rápidas mudanças na economia e no ambiente regulatório, redução da confiança dos consumidores, pressão por margem de rentabilidade, elevação dos custos com regulamentação, pressão governamental por ambiente interno que evite escândalos.
“Os riscos de compliance desafiam as empresas a criar um modelo inovador para atingir novo patamar de governança corporativa, permitindo enfrentar riscos complexos”, afirma o estudo, que aponta ainda que a eficácia da estrutura de compliance vai resultar em “vantagem competitiva sustentável.”
Metodologia
A pesquisa da KPMG foi concluída no final de setembro deste ano.
Foram ouvidas cerca de 200 empresas de 19 setores produtivos, sendo que 53% delas com receita operacional bruta acima de R$ 1 bilhão, e 48%, com mais de três mil funcionários.
Trinta e cinco por cento dos respondentes são presidentes, superintendentes ou diretores das companhias, enquanto 44% ocupam cargo de gerência.
Níveis de maturidade
Veja abaixo quais são e o que significam os níveis de maturidade em compliance estabelecidos pela KPMG:
Alta performance: Líder reconhecido nas capacidades, nas atividades e na cultura de compliance levando a benefícios comerciais tangíveis e estratégicos.
Função de integração: Função de compliance integrada com jurídico, assuntos regulatórios, riscos e outros grupos que suportam investigação, consultoria, treinamento e desenvolvimento de uma cultura de compliance.
Função de monitoramento: Programa de Ética e Compliance monitorado por um grupo independente e suportado por uma liderança sênior.
Infraestrutura mínima: Programa de Ética e Compliance enfatizado no Código de Ética e Conduta e imposto por meio de políticas, processos e procedimentos.
Sem infraestrutura: Programa de Ética e Compliance não está enfatizado, tampouco implementado.
Clique aqui para acessar o estudo completo.
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