Negócio de US$ 7,5 bi da Tokio Marine reforça tendência no seguro global
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- Rodrigo Amaral
- 11 de junho de 2015
- Sem categoria
Busca por taxas de crescimento difíceis de obter em mercados maduros põe países como o Brasil no radar das multinacionais
Mais uma semana, mais uma grande transação na indústria global de seguros. A compra da americana HCC pela multinacional japonesa Tokio Marine por US$ 7,5 bilhões, anunciada no dia 10 de junho, reforça a tese de que as condições atuais do mercado são favoráveis a este tipo de operação.
O caso da Tokio Marine ilustra bem várias das tendências em jogo. Já há alguns anos, a maior seguradora do Japão decidiu aumentar sua presença no exterior para buscar taxas de crescimento difíceis de obter no mercado doméstico. A empresa recentemente comprou a resseguradora Kiln, baseada no Reino Unido, e as também americanas Delphi e Philadelphia Insurance Companies.
Com a aquisição da HCC, estima-se que os negócios internacionais passarão a responder por 46% dos lucros do grupo Tokio Marine. Um número expressivo considerando que as seguradoras japonesas por muito tempo se mostraram relutantes em se aventurar no exterior.
Mas para os grandes grupos multinacionais baseados em economias desenvolvidas, a expansão para mercados mais dinâmicos aparece como a melhor alternativa para que o negócio siga crescendo.
Os níveis de penetração de seguros em mercados como o do Japão, da França ou da Alemanha já são bastante elevados. Isso significa que para conseguir novas contas é preciso tomar clientes dos rivais. Essa disputa implica oferecer preços mais baixos ou condições mais vantajosas, especialmente no setor corporativo, onde os clientes detêm um forte poder de negociação.
Além disso, o longo ciclo de preços baixos que prevalece no mercado de resseguros possibilita que os atores mais agressivos no seguro direto joguem os preços cada vez mais para baixo, o que afeta as margens das seguradoras.
Política relaxada
Para complicar, as políticas monetárias ultra relaxadas dos Estados Unidos, União Europeia e Japão colocam mais pressão sobre os balanços das empresas. Apesar do longo mercado soft, os lucros obtidos pelo setor ressegurador hoje superam muito o que é oferecido por outras alternativas de investimento de baixo risco, como títulos da dívida pública e corporativa.
Como resultado, há capital de sobra para as resseguradoras captarem e oferecerem a seus clientes, ou mesmo para a criação de novos atores no mercado. Mais competição tende a baixar ainda mais os preços.
As baixíssimas taxas de juros também dificultam compensar os apertados resultados técnicos por meio do rendimento dos portfólios de investimentos das seguradoras.
Nova regras prudenciais de solvência, como a diretriz europeia Solvência 2, por sua vez, estão pipocando pelo mundo, tornando mais rígidas as exigências de capital para as seguradoras, que veem suas margens de lucro ainda mais apertadas devido à regulamentação.
Estes fatores combinados fazem com que não seja nada fácil para as empresas do ramo entregar os dividendos esperados pelos acionistas.
Por outro lado, a sobrevivência de seguradoras de menor porte também fica ameaçada, especialmente as especializadas em nichos de mercado que grandes grupos por vezes têm dificuldade em explorar. Essas companhias tendem a cada vez mais se tornar alvo do apetite comprador de grandes grupos globais que buscam diversificação geográfica e de mercados.
Brasil na onda
O resultado é que há cada vez mais ânimo por operações de fusão e aquisição. No começo do ano, por exemplo, a americana XL pagou US$ 4,2 bilhões pela Catlin, um dos principais sindicatos do mercado do Lloyd’s. As resseguradoras Axis Capital e Partner Re, ambas de Bermuda, estão tentando completar sua fusão, apesar dos esforços contrários da italiana Exor, maior acionista da Partner.
Neste jogo global, o Brasil é uma peça importante para muitas companhias. Com uma economia de grande escala e baixos níveis de penetração de seguro, o país oferece, ao menos em teoria, oportunidades de crescimento difíceis de igualar em outras partes do mundo. A CNSeg estima, por exemplo, que o volume de prêmios de seguro vai crescer 15% no Brasil neste ano – nada mal para uma economia que está estagnada.
Outros fatores que influenciam o processo no exterior também estão em ação no mercado brasileiro. Por exemplo, a questão das regras de solvência. A Susep está implementando no Brasil normas de requerimento de capital similares às que vão valer na União Europeia com a implementação de Solvência 2 a partir do ano que vem.
Por esse e outros motivos de caráter comercial, algumas seguradoras brasileiras estão decidindo se concentrar no setor de seguros de massa, em detrimento de seus negócios de seguro corporativo, que demandam maior conhecimento técnico e reservas de capital.
Operações como a aquisição no passado das áreas de grandes riscos da Itaú Unibanco pela ACE e a da Sul América pela AXA CS são resultado deste processo. Como elas, várias empresas identificam no mercado corporativo brasileiro um grande potencial a ser explorado e estão investindo no país.
A própria Tokio Marine Brasil, em um comunicado sobre a compra da HCC, fala em um plano de expansão “agressivo” no país, onde é comandada por José Adalberto Ferrara. Segundo a empresa, sua carteira de grandes riscos cresceu 34% nos cinco primeiros meses de 2015, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Um número de fazer salivar qualquer seguradora global.
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