Exposição do mercado à Rio 2016 inclui terrorismo, catástrofes e zika
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- Rodrigo Amaral
- 6 de abril de 2016
- Sem categoria
Apólices que cobrem cancelamento dos jogos chegam a centenas de milhões de dólares; resseguradora teme desistência de atletas por medo ao vírus
Um eventual cancelamento da Rio 2016 custaria centenas de milhões de dólares para a indústria seguradora e resseguradora, de acordo com experts.
As circunstâncias necessárias para justificar tal medida são extremas, mas reais, motivo por que o mercado possui coberturas específicas para cobrir o possível cancelamento de megaeventos.
Por esse motivo, o seguro que mais brilha nos Jogos Olímpicos é a apólice de cancelamento e abandono, que cobre as perdas financeiras que podem ser causadas por uma eventual necessidade de cancelar o evento, transferir sua sede ou outras mudanças de força maior.
Tais coberturas podem ser acionadas em casos de ataques terroristas em grande escala ou catástrofes naturais como terremotos ou furacões. Mas experts acreditam que mesmo o vírus zika poderia fazer com que clientes acionem a apólice.
Há precedentes para os tipos de eventos que podem motivar o cancelamento dos jogos. Por exemplo, nove atletas israelenses foram massacrados nos Jogos de Munique, em 1972, durante um ataque terrorista. No atual clima geopolítico, um evento deste tipo no Rio de Janeiro poderia muito bem levar ao cancelamento dos jogos.
Vale lembrar que em novembro, partidas de futebol entre seleções europeias foram canceladas pelo alto risco de terrorismo após os mais recentes ataques a Paris.
No campo das catástrofes naturais, a Copa do Mundo de futebol de 1986, atribuída à Colômbia teve de ser transferida para o México depois que o país andino foi devastado por um terremoto.
Especialistas notam que outros possíveis detonadores das apólices são o não-comparecimento de competidores, como já se viu com os boicotes americanos e russos nos anos 1980, o colapso de infraestrutura e pandemias.
Zika
Este último tema, em particular, ganhou ênfase no Brasil com a epidemia do vírus zika que se acelerou nos últimos meses, levando algumas equipes nacionais, como a norte-americana, a delegar aos próprios atletas a decisão de participar ou não da Rio 2016.
De fato, a reportagem apurou que uma grande resseguradora europeia tem, por exemplo, uma exposição de € 200 milhões a uma apólice de cancelamento e abandono contratada pela NBC, a rede de televisão aberta que transmite os jogos nos Estados Unidos.
A apólice tem o objetivo de ressarcir a rede por perdas financeiras causadas pela queda de audiência resultante da não-participação da equipe americana na Rio 2016, uma consequência lógica do eventual cancelamento dos jogos.
Mas fontes dizem que a NBC também está pressionando suas seguradoras e resseguradoras no sentido de que a cobertura pode ser acionada caso a audiência sofra uma queda porque alguns dos principais astros americanos não compareçam ao evento – por exemplo, por temor ao zika.
Apólice do COI
O Comitê Olímpico Internacional dispõe de uma apólice renovável de cancelamento e abandono dos jogos com limites estimados em várias centenas de milhões de dólares – quem sabe até mais de US$ 1 bilhão.
O comitê confirmou que esta cobertura foi renovada e está correntemente em vigor, ainda que não tenha comentado os limites, e fontes do mercado confirmam que ela é colocada no mercado de Londres.
Devido ao tamanho do risco, um consórcio de resseguradoras participa deste tipo de cobertura. A Munich Re, por exemplo, afirma ter uma exposição de US$ 200 milhões ao cancelamento da Rio 2016. A exposição da Swiss Re “a uma das principais apólices em vigor para a Rio 2016” chega a “três dígitos de milhões de dólares”, afirmou Sonja Kaufmann, subscritora sênior de Riscos Especiais.
“Há várias coberturas de cancelamento de eventos para vários tomadores,” disse Kaufmann. “Em grandes eventos como as Olimpíadas e as Copas do Mundo, os compradores típicos são as federações esportivas internacionais, os comitês organizadores locais, as redes de televisão, empresas que produzem e vendem merchandising e qualquer outra parte que tenha um interesse financeiro no evento.”
De acordo com o COI, a apólice está sendo renovada desde os Jogos de Atenas, em 1996, e cobre tanto os jogos de verão quanto os de inverno.
Os limites não variaram desde as Olimpíadas de Londres, quatro anos atrás, segundo um porta-voz do comitê.
Comitê local
O comitê local dos jogos também contrata uma série de cobertura de seguros cujos detalhes, porém, são pouco especificados pelos atuais organizadores. A Bradesco Seguros, uma das patrocinadoras dos jogos, afirmou em nota que provê uma série de produtos tanto ao Comitê Olímpico Brasileiro quanto à equipe olímpica do Brasil.
“As coberturas incluem desde assistência médica e odontológica, até seguros para veículos, responsabilidade civil e outros seguros especiais,” afirma a nota.
Nas demonstrações contábeis de 2014 da Rio 2016 aparecem informações sobre quatro tipos de coberturas compradas pelo comitê organizador. Os riscos operacionais, no final de 2014, eram cobertos até R$ 75,8 milhões.
A cobertura para riscos de responsabilidade civil chegavam a R$ 2 milhões, e de D&O, a R$ 20 milhões. Também havia uma cobertura para riscos diversos de equipamentos, com limites de R$ 389 mil.
Com base nestes números, e como, ao contrário do Reino Unido com o Pool Re, o Brasil não possui um regime de seguros catastróficos que poderia ser acionado em um caso excepcional, a tendência é que eventuais perdas econômicas de grande escala teriam de ser assumidas pelos cofres públicos.
A assessoria de imprensa da Rio 2016 não soube confirmar se os valores reportados no final de 2014 foram mantidos nas renovações de 2015 e 2016, ou se a Bradesco Seguros é a única fornecedora das coberturas.
Equipes nacionais
Fora as coberturas do COI e do comitê organizador, as equipes olímpicas nacionais também podem ter seus próprios fornecedores de programas de seguro de saúde, responsabilidade civil e outras coberturas.
A equipe dos Estados Unidos, por exemplo, trabalha com a Liberty Mutual, que anunciou estar cobrindo até mesmo as medalhas ganhadas pelos atletas americanos durante os jogos.
Por sua vez, a seguradora especializada britânica Sportscover fornece programas a uma série de delegações nacionais, incluindo Holanda, Dinamarca, Noruega e Nova Zelândia.
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