COP21 cria 'trilhões' de oportunidades e também riscos para empresas
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- Rodrigo Amaral
- 2 de fevereiro de 2016
- Sem categoria
Acordo histórico em Paris deve impulsionar investimentos, mas companhias serão pressionadas a adotar práticas de negócio sustentáveis
Os compromissos assumidos pelos países signatários do acordo sobre o clima na 21ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, COP21, em dezembro vão criar oportunidades para as empresas, mas também uma série de riscos e desafios.
Segundo especialistas ouvidos por Risco Seguro Brasil, o histórico documento assinado em Paris deve possibilitar a liberação de centenas de bilhões de dólares, talvez até trilhões, todos os anos para o desenvolvimento de tecnologias limpas.
As empresas, no entanto, também deverão sofrer maior pressão por parte de governos, investidores e parceiros comerciais para adotar práticas de negócios que respeitem o meio ambiente.
O chamado Acordo de Paris foi assinado por 195 países e prevê que o aumento da temperatura média do planeta será limitado a 2,7 graus centígrados. Caso nada fosse feito, cientistas acreditam que o aquecimento da Terra chegaria a 4,8 graus até o final do século.
“Toda uma economia global foi criada neste espaço entre 2,7 e 4,8 graus”, disse Edward Cameron, o diretor executivo da ONG Business for Social Responsability, BSR, em Nova York. “Isto representa trilhões de dólares em investimentos, em práticas de licitação que precisam mudar. Também representa um ambiente regulatório muito diferente para as empresas em todo o mundo.”
Investidores
Do ponto-de-vista das oportunidades, vale ressaltar o compromisso assumido pelos países signatários em levantar ao menos US$ 100 bilhões de dólares por ano para financiar o desenvolvimento e adoção de tecnologias limpas, especialmente nos países em desenvolvimento.
Para Cameron, porém, este dinheiro, ainda que considerável, é só o princípio. Ele vê os US$ 100 bilhões atuando como um catalizador de esforços por parte de governos e outros atores, como investidores institucionais, o que pode alavancar os recursos para até trilhões de dólares ao ano.
“O dinheiro comprometido em Paris representa um capital-semente para a economia global”, disse Cameron. “Ele vai ajudar que mais investimentos, especialmente por parte do setor financeiro, sigam na direção contrária a atividades com alto consumo de carbono.”
Alguns investidores institucionais, por exemplo, já começaram a reagir ao acordo. Recentemente, o fundo soberano da Noruega, um dos maiores do mundo, anunciou que estava privilegiando cada vez mais investimentos em empresas que adotam tecnologias que reduzam a poluição.
Mais diretamente, um grupo de investidores liderados pelos fundos de pensão do Estado de Nova York (EUA) e da Igreja Anglicana fizeram um ultimato para a Exxon Mobil, uma gigante do petróleo americana, para que torne claro seu compromisso na mesma direção.
“O acordo sem precedentes de Paris para controlar o aquecimento global afeta as operações da Exxon de maneira significativa”, disse Thomas P. DiNapoli, o controlador geral do Estado de Nova York. “Como acionistas, nós queremos ter certeza de que a Exxon está fazendo o que é necessário para se preparar para um futuro com menos emissões de carbono. O futuro sucesso da empresa, e de seus investidores, exige que a Exxon avalie como vai ser seu desempenho na medida em que o mundo se transforma.”
Especialistas esperam que cada vez mais investidores adotem este tipo de postura, não somente para garantir o futuro de seus investimentos, mas também devido a pressões da opinião pública.
Cadeias longas
Riscos também foram criados pela COP21. De acordo com Cameron, os efeitos do acordo serão muito sentidos, por exemplo, por empresas que fazem parte das cadeias de suprimento de grandes corporações globais.
“O novo ambiente regulatório tende a ser muito complicado para empresas que possuem cadeias de suprimento extensas e diversificadas”, afirmou.
Sob pressão de governos e investidores, as grandes multinacionais vão ter razões cada vez mais urgentes para exigir que seus parceiros comerciais adotem práticas que sejam respeitosas com o meio-ambiente.
Por esse motivo, temas de sustentabilidade ambiental devem se tornar fatores mais decisivos em processos de licitação feitos por empresas multinacionais. Como as cadeias de suprimento são cada vez mais globais, os efeitos de tais medidas podem se espalhar mesmo por países onde a adesão aos compromissos da COP21 seja mais na conversa do que na realidade.
Ao mesmo tempo, como os governos assumiram fortes compromisso para a redução de emissões de carbono, a licitação de produtos e serviços sustentáveis também deve ganhar força mos planos de ações nacionais implementados por muitos países.
O efeito em cascata de tais posturas não deve ser ignorado, especialmente em economias onde o governo possui um peso bastante elevado, afirmou Cameron. Segundo ele, em lugares como a China ou a União Europeia, quase um quinto do PIB é composto por produtos ou serviços comprados pelos governos.
Desvantagem competitiva
O temor de muitas empresas é que a adoção dos compromissos da COP21 seja desigual, com alguns países implementando as medidas necessárias de forma rígida, enquanto outros permitam que suas próprias empresas continuem economizando dinheiro com o uso de tecnologias nada ecológicas.
Associações setoriais em países como a Alemanha, por exemplo, já andaram murmurando que algo deste tipo aconteceu após a assinatura do Protocolo de Kioto, que foi pouco respeitado fora da União Europeia. Com isso, as empresas europeias se queixam de que muitas vezes ficaram em desvantagem competitiva por ter de operar com custos maiores do que rivais de outros países.
Mas Cameron nota que o Protocolo de Kioto teve uma adoção muito menor do que o Acordo de Paris. Os Estados Unidos não ratificaram o Protocolo de Kioto, enquanto que grandes países emergentes como o Brasil, a Rússia e a China adotaram versões bastante amenas dos compromissos assumidos.
Agora, não só todas as grandes potências econômicas estão engajadas, mas o processo que levou à assinatura do acordo parisiense também contou com extensa participação de atores privados, observa Cameron.
Para Brigitte Bouquot, a presidente da AMRAE, a associação de gerentes de riscos da França, a gênese do presente acordo indica que a participação das empresas na luta contra o aquecimento global será diferente e mais importante do que no passado.
“Eu não acredito que a chave para ter cumprir os compromissos da COP21 será uma maior regulamentação impulsionada por políticas dos Estados”, disse Bouquot. “Se vamos ter sucesso na transição energética, será graças à sociedade civil e a inovações introduzidas pelas empresas.”
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