Argentina reduz risco econômico, mas tensão social preocupa
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- Rodrigo Amaral
- 13 de janeiro de 2016
- Sem categoria
Para consultoria britânica, negociações salariais de março serão difíceis; na Venezuela, cenário é mais incerto com Assembleia oposicionista
O novo governo argentino reduziu o risco econômico para as empresas estrangeiras no país, mas investidores agora precisam estar atentos a um possível aumento do risco político e social, de acordo com a consultoria britânica Verisk Maplecroft.
Após uma surpreendente vitória eleitoral no final do ano passado, Mauricio Macri assumiu o governo da Argentina em dezembro e logo anunciou uma série de medidas para liberalizar a economia que foram recebidas com alívio pelos mercados.
“No primeiro mês do governo nós vimos uma série de sinais importantes em termos de transparência, comunicação, um compromisso com o respeito aos contratos e mudanças na maneira como o estado vai alocar os seus recursos”, disse Jimena Blanco, chefe da divisão das Américas da Verisk Maplecroft.
Ela destaca como positivos anúncios feitos por Macri como a revisão da distribuição de subsídios aos gastos das famílias, de modo a focar nas populações mais necessitadas, e a uma maior liberalização da taxa de câmbio, cujo valor havia sido alvo de várias restrições durante a gestão de Cristina Fernández de Kirchner.
“E não aconteceu até o momento a catástrofe econômica que o governo anterior havia previsto”, observou Blanco. “As empresas podem importar e exportar com maior liberdade, o governo se comprometeu a remover as limitações a exportações nos próximos três anos, então tudo isso tem sido bastante positivo.”
Sindicatos
A dúvida agora é se o rompimento com a linha de governo kirchnerista não vai redundar em aumento dos protestos, greves e outras fontes de instabilidade, de acordo com a analista.
“Os riscos agora não vêm tanto do lado econômico como do lado político e social,” afirmou Blanco. “Pode haver instabilidade nas relações com os sindicatos, por exemplo. O governo quer cortar o número de empregados do setor estatal, que inchou muito na última década, mas se tratam de trabalhadores que tendem a estar sindicalizados.”
“Também podemos esperar negociações salariais muito tensas entre o governo, o setor privado e os sindicatos no mês de março”, afirma a especialista. “A inflação segue alta e pode se acelerar neste ano, e consequentemente os sindicatos devem pedir fortes aumentos salariais, na ordem de 30% a 40%.”
Como o governo argentino deve insistir em taxas bem inferiores a essas, a probabilidade de greves neste ano na Argentina é bastante alta, de acordo com Blanco, até porque o setor sindical é tradicionalmente ligado ao partido peronista, agora na oposição.
Venezuela
Do ponto de vista dos investidores, as eleições do ano passado na Argentina criam a expectativa de uma mudança de rumo na economia do país, que havia se afastado dos mercados internacionais. Na Venezuela, outro importante mercado para as empresas brasileiras, as perspectivas são bem mais incertas.
Para Blanco, a eleição em dezembro de uma supermaioria parlamentar da oposição ao governo de Nicolás Maduro pode acarretar um endurecimento ainda maior da política chavista.
“O controle que o governo possui sobre outras instituições está sendo usado para reduzir o poder da Assembleia Nacional em promover mudanças no país”, disse a analista.
Um exemplo foi a recente decisão, por parte da Suprema Corte, de proibir que três deputados oposicionistas assumissem suas cadeiras, afirmando também que qualquer decisão tomada pela Assembleia na presença dos deputados seria inválida.
“Temos que nos últimos 17 anos o chavismo se espalhou muito rapidamente por todas as instituições do estado”, disse Blanco. “Será extremamente difícil para a oposição promover reformas de verdade na economia e outros setores controlando apenas a Assembleia Nacional.”
Ela acredita que a possível convocação de um referendo pela Assembleia Nacional sobre a continuidade de Maduro no poder pode aumentar os níveis de tensão social no país, que já estão bastante elevados. O mesmo pode ocorrer se o governo agir de forma intensa contra a Assembleia.
“Os militares já se manifestaram a favor de Maduro, que disse que não aceitará ser removido do poder. Se um referendo resulta no número de votos necessários para afastar o presidente, é de se perguntar como é que o chavismo vai reagir”, disse a consultora.
Para ela, mesmo que a oposição chegue eventualmente ao poder, as perspectivas de mudança na economia serão bastante reduzidas, já que o regime chavista está bastante integrado na estrutura do estado venezuelano.
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