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Seguro cyber cresce 31% nos EUA; Chubb dispara e lidera setor

O mercado de seguro cyber continua crescendo com força. Porém, está havendo uma reversão na tendência de compra de apólices específicas para o risco.

É o que mostra relatório da agência de qualificação de riscos AM Best focada no mercado americano. Trata-se, de longe, do maior relatório do mundo para seguro cyber..

A agência também observa que o mercado segurador americano viu um aumento expressivo no número de sinistros que acionaram as coberturas de seguro cibernético.  Em 2016, o total de sinistros foi de 5.955. Enquanto que em 2017 chegou a 9.017.

O ano foi marcado por ataques de grande porte. Como os vírus WannaCry e NonPetya. Eles causaram severas perdas a empresas em vários países.

Segundo o relatório, quase dois terços dos sinistros se relacionaram a perdas sofridas diretamente pelos compradores das apólices, e não por terceiros.

Exclusiva ou empacotada?

Todavia, no ano passado, o mercado de seguro cyber cresceu 32% nos Estados Unidos. Isso segundo análise da AM Best. Como resultado, chegou a US$ 1,779 bilhão (R$ 6,5 bilhões) em prêmios diretos.

Por sua vez, o número de apólices em vigor, aumentou 24%,. Assim chegando a 2.584. Isso indica que o valor médio das apólices também está em alta.

Contudo, uma mudança importante observada no ano passado foi a reversão da tendência de 2016. Sob o mesmo ponto de visa, as apólices “standalone” ganharam força em detrimento às coberturas contra riscos cibernéticos que são incluídas em pacotes de seguros de responsabilidades.

O número de apólices exclusivas caiu 32% em 2017. Dessa forma, aixando para um total de 100 mil contratos. Enquanto isso as “empacotadas” aumentaram 28,2%. Isso significa que coberturas cibernéticas foram incluídas em 2,5 milhões de outras apólices de responsabilidades.

De acordo com a AM Best, isso indica que muitas empresas estão abandonando as coberturas exclusivas. Dessa forma, optando pelas empacotadas por serem mais baratas.

Seguro cyber: estratégias das empresas

O relatório também ajuda a dar uma ideia sobre como algumas das principais seguradoras globais estão abordando o mercado de seguros cibernéticos. Eles oferecem ao mesmo tempo grande potencial de lucros e significativos riscos para os subscritores.

A maior player do mercado americano no momento é a Chubb. Com um total de US$ 284,4 milhões em prêmios diretos no ano passado. Trata-se dp equivalente a 16% do total. A empresa assumiu a liderança após registrar um aumento de 112,9% em seus prêmios no período de um ano.

Em segundo lugar, ficou a AIG, líder em 2016. Apresentou resultado de US$ 227,6 milhões e uma parcela de 12,8% do mercado. O volume de prêmios da AIG praticamente não variou no ano passado.

O pódio é completado pela XL Catlin. Recém-adquirida pela Axa, com US$ 117,9 milhões de prêmios diretos (10,6% do total), após uma variação de 10,6% em 2017.

Porém, elas não chegaram ao topo utilizando a mesma estratégia de vendas. Na Chubb, 94,2 % dos prêmios de seguros cibernéticos foram vendidos como coberturas em pacotes mais amplos em apólices de responsabilidades.

Apólices standalone

Já a AIG e a XL Catlin trabalham exclusivamente com apólices standalone. Contudo, as duas empresas seguintes do ranking, Travelers e Beazley, também privilegiam as apólices exclusivas. Elas respondem por 74,8% e 90,1% dos prêmios, respectivamente.

Mas a CNA (6ª colocada) segue o padrão da líder. Desa forma, tem mais de dois terços de seus prêmios colocados em apólices gerais. Assim, ao todo, 55,9% dos prêmios de seguros cibernéticos ao final de 2017 se relacionavam a apólices standalone.

Igualmente, outro dado interessante diz respeito ao nível de exposição das empresas ao risco cibernético. Em todo o mercado de seguros não-vida, os prêmios do segmento representam meros 0,3% do total. Porém, em algumas empresas o peso do risco na carteira é bastante mais significativo.

No caso da operação americana da Beazley, os riscos cibernéticos chegam a 33,3% do total do portfólio de riscos. No da BCS, sétima maior do segmento, a proporção é de 20,4%.

A AM Best observa que várias seguradoras estão de olho no mercado de pequenas e médias empresas. Isso onde as taxas de penetração de seguros cibernéticos seguem baixas, mas devem crescer consideravelmente no futuro.




Ransomware chega a 1 de cada 4 sinistros cibernéticos, diz AIG

Clique na imagem para acessar o estudo.
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Análise da empresa sobre os sinistros de seguros cibernéticos registrados na Europa mostram que o ransomware foi a técnica utilizada em 26% das notificações feitas por clientes europeus da seguradora no ano passado.

Entre 2013 e 2016, a proporção foi de 16%.

Outra conclusão da AIG é que, em 2017, detentores de apólices de seguros cibernético reportaram o mesmo número de sinistros que nos quatro anos anteriores somados.

Isso mostra que risco está se intensificando. Por exemplo, como foi ilustrado por grandes eventos internacionais observados no ano passado.Como os ataques WannaCry e NotPetya.

Os setores mais visados, segundo a AIG, são os serviços profissionais. Assim como o setor financeiro e o comércio varejista. Mas a empresa alerta que os ataques estão se espalhando por outros setores da economia. E nenhum deve acreditar estar imune a eles.

“A combinação de ferramentas que foram vazadas da NSA (NR: agência de espionagem americana) e atividades patrocinadas por estados desencadearam um evento sistêmico,” disse Mark Camillo, diretor de seguros cibernéticos na Europa e Oriente Médio da AIG, referindo-se a WannaCry.

Interrupção de negócios

Um dos principais impactos dos ataques de ransomware são as perdas de lucro cessante. Isso já que os negócios das empresas atingidas muitas vezes são interrompidos como resultado.

Por exemplo, a empresa de transportes marítimos AP Moller-Maersk estimou ter sofrido perdas entre US$ 200 milhões e US$ 300 milhões como resultado do NotPetya.

Já a francesa Saint Gobain estimou que o mesmo ataque fez com que deixasse de faturar € 220 milhões. Como resultado,  seu lucro operacional caiu  €65 milhões.

A AIG afirma que os ataques de ransomware se tornaram uma commodity. Um negócio em que os criadores dos programas contaminados firmam acordos de divisão de lucros com outros hackers que se dispõem a utilizar seus produtos.

Por outro lado, a sofisticação vista em outros anos, em que até linhas de suporte telefônicos eram fornecidas pelos hackers para empresas que queriam pagar os resgates para liberar seus sistemas, já virou coisa do passado.

Outra tendência é a utilização de programas contaminados para usar computadores alheios. Isso para fins de mineração de criptomoedas.

Por setores

Depois do ransomware, o tipo de ataque mais comum registrado pela AIG foi o vazamento de dados por parte hackers. O que representa 12% dos sinistros.

Por outro lado, a AIG espera um aumento significativo na quantidade de sinistros ligados ao vazamento de dados como resultado da entrada em vigor do nova diretriz europeia sobre o tema, o GDPR, no final de maio.

Os setores mais visados por hackers em 2017 foram os serviços profissionais e serviços financeiros, com 18% dos sinistros cada.

Em seguida vem o comércio varejista e atacadista, com 12%, e os serviços para empresas, com 10%, mesmo patamar das indústrias manufatureiras.




Seguro de países emergentes deve chegar a 40% do total mundial

No que diz respeito ao mercado de seguro, as economias emergentes devem responder por 40% do volume global de prêmios no final da próxima década. Em contrapartida, dez anos atrás, a proporção não chegava a 10%.

A previsão é da seguradora alemã Allianz. A empresa publicou um estudo sobre o mercado segurador global. No estudo também vaticina que a América Latina será segunda região com mais forte crescimento. Dessa forma, perdendo apenas para a China.

A Allianz estima que o setor de seguros latino-americano crescerá uma média anual de 9,9% entre 2018 e 2020. Já na China a expansão será de 12,9% anuais.  Todavia na Ásia, excluindo os mercados chinês e japonês, de 8,8%.

Dessa maneira, a China deve passar os Estados Unidos, tornando-se o maior mercado de seguros no mundo por volta de 2028.

Ano passado

A Allianz calcula que o mercado global de seguros, incluindo os segmentos de vida e não-vida, mas excluindo os seguros de saúde, totalizou 3,66 bilhões de euros (R$ 15,4 bilhões) em prêmios no final do ano passado.

Cerca de 130 bilhões de euros (R$ 547,5 bilhões) em prêmios foram adicionados ao setor, com os países emergentes contribuindo com 80% desse número. A China, sozinha, foi responsável por dois terços do crescimento observado nas economias emergentes.

O volume de prêmios na América Latina cresceu 6,6%, um ritmo superior à media global, de 3,7%, mas menor do que na China (19,6%), Leste Europeu (9,5%), e Ásia sem China e Japão (7%).

Os mercados desenvolvidos, por sua vez, funcionaram como um lastro para o crescimento do mercado segurador. Os prêmios caíram 8,7% no Japão e cresceram minguados 0,5% na Europa Ocidental. Na América do Norte, a variação foi de 3,9%.

Como um todo, foi o mercado de seguros não-vida que puxou o ritmo de crescimento, ao fechar 2017 com uma expansão de 5%, quase o dobro da registrada entre os seguros de vida (2,8%).

O grosso da expansão das linhas de seguro não-vida ocorreu nas economias emergentes, onde os prêmios cresceram 11,6%. Nas economias mais ricas, foi de apenas 3,5%.

Tendências

A Allianz destaca em seu relatório que o desenvolvimento do mercado de seguros em 2017 foi superior ao do ano anterior, quando os prêmios aumentaram 2,9%.

Mas o setor ficou para trás da economia como um todo, que se expandiu 5,9%. Com isso, a penetração dos seguros acabou caindo.

A relação dos prêmios de seguros com o PIB global fechou o ano em 5,5%, o menor número em 30 anos, de acordo com a seguradora alemã.

A Allianz atribui boa parte da culpa por esta regressão à Europa Ocidental, onde a penetração de seguros de vida passou de 5,6% em 2007, quando começou a crise financeira global, para 4,4% no ano passado.

Aliás, foram os seguros de vida que apresentaram os piores desempenhos nos países desenvolvidos em 2017. Na Austrália, o volume de prêmios caiu 18,2%, e no Japão, 11,3%. No conjunto de economias industrializadas, os prêmios do segmento aumentaram pífios 0,5%.

Já nas economias emergentes houve um crescimento de 17,2% nos prêmos de seguros de vida, graças sobretudo ao mercado chinês.

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Após crescer 4,2%, mercado torce por recuperação

Como está o mercado de seguros?

Após vários anos desalentadores, as empresas estão torcendo para que o crescimento da economia se consolide. E que os negócios voltem a frutificar com vigor.

O mercado de seguros não é diferente. Relatório da corretora JLT mostra que 2017 foi mais um ano duro para o setor. Com expansão de prêmios para lá de moderada e várias linhas de negócios apresentando resultados bastante fracos.

Porém, outras, se valem de idiossincrasias da economia brasileira para se desenvolver. É o caso do seguro garantia, uma das estrelas do setor de seguros não-vida em 2017.

Análise da JLT, com base nos números da Susep, mostrou que o mercado de seguros como um todo, incluindo linhas individuais e comerciais, cresceu parcos 4,2% em 2017. Assim, atingindo R$ 100,72 bilhões em volumes de prêmios.

Ainda que modesta, a performance foi superior à de 2016, quando a expansão foi de 1,2%. Por outro lado,  a persistente lentidão da economia ajudou o setor a ver uma redução a sinistralidade. O número baixou para R$ 44,23 bilhões, comparada com R$ 45,11 bilhões em 2016 e R$ 45,8 bilhões em 2015.

Ainda assim, o lucro líquido do setor baixou 5,6% em 2017, batendo em R$ 16,8 bilhões. Segundo a JLT, isso se deve ao impacto do aumento das despesas com atividades comerciais e os menores resultados financeiros, que sofreram devido à dramática queda das taxas de juros.

Por linhas

Contudo, o panorama do setor varia de acordo com as linhas analisadas pela corretora.

Muito ligados à atividade econômica, os seguros de engenharia estiveram os que mais sofreram em 2017. Eles epresentam queda de 41,1% nos resultados. As empresas atuantes no segmento tiveram um lucro acumulado de R$ 186,8 milhões no ano.

Tanto o volume de prêmios, que variou -36,3%, quanto os níveis de sinistralidade, com -54,6%, despencaram no decorrer do ano. No caso da sinistralidade, a queda também está ligada ao aumento que havia ocorrido em 2016 devido à tragédia de Mariana.

Os seguros de óleo e gás também passaram por momentos difíceis. Assim, os prêmios caíram 24,9% em 2017 e agora são menos da metade do que eram em 2014.

Outro setor que sofreu com a crise foi o aeronáutico. Dessa forma, os seguros ligados à atividade apresentaram uma queda de 21,5% no volume de prêmios no ano passado. O resultado foi de R$ 316,2 milhões.

A sinistralidade, por sua vez, aumentou 2,8%, atingindo R$ 420,3 milhões. Ainda assim, o segmento fechou o ano com lucro de R$ 64 milhões, graças, segundo a JLT, à recuperação de sinistros de resseguro, que aumentaram mais de 60% no ano até chegar a R$ 389,6 milhões.

No grupo de responsabilidade civil, os prêmios de RC Ambiental cresceram 27,2%, impulsados pela catástrofe da Samarco. Mas outras linhas tiveram um desempenho bem inferior, e o volume de prêmios de RC como um todo se contraiu em 0,7%. O lucro nessas linhas também caiu, sendo 36,6% inferior ao de 2016.

Garantia

Bom desempenho teve o seguro garantia, com expansão de 26,8% e totalizando R$ 3 bilhões em prêmios.

A sinistralidade, afetada pela Operação Lava Jato, pulou 34,6%, gerando perdas de R$ 680,46 milhões para o setor. Ainda assim, as linhas de garantia, beneficiadas pela generalização da cobertura judicial, postou lucro acumulado de R$ 1,1 bilhão, o que foi 13,4% maior que em 2016.

Outro setor que se beneficiou de ineficiências da sociedade brasileira foi o de seguro de transportes, em que os prêmios chegaram a R$ 2,75 bilhões após crescer 6,2%. Os transportes de carga se expandiram 17%, em grande medida devido ao aumento da criminalidade no setor, afirma a JLT.

Os lucros aumentaram em 80,2%, fechando o ano em R$ 268,1 milhões.

Já os transportes de valores são incluídos na família dos riscos diversos, que teve um aumento de 15,2% no volume de prêmios (R$ 2,5 bilhões), mas uma queda de 16,6% nos resultados (R$ 592,1 milhões).

Os seguros marítimos foram fortemente afetados por uma alta da sinistralidade e fecharam o ano com resultados 20,9% menores que em 2016.

Entre os seguros patrimoniais, houve um crescimento de 5,5% em 2017, chegando a R$ 9,6 bilhões em prêmios emitidos. O número inclui tanto coberturas residenciais quanto comerciais.

Um dos segmentos em que a JLT espera forte crescimento é o de D&O, que se expandiu 8% em 2017, mas ficou abaixo das expectativas do mercado, segundo a corretora. Além disso, devido a casos como a Lava Jato, a sinistralidade aumentou em 58% no ano.

Neste ano, com as mudanças aprovadas pela circular 553 da Susep, a JLT prevê crescimento entre 10% e 15% no segmento.

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Gestão de sinistro evolui e ganha espaço no mercado

Alexander Mack, da AGCS
Alexander Mack, da AGCS

A gestão de sinistro está ganhando espaço no mercado segurador. Isso de acordo com executivos de seguradoras internacionais.

Isso significa, por exemplo, que os profissionais da área de gestão de sinistro, outrora relegados a entrar em ação somente quando o cliente sofria uma perda,  estão mudando. Agora estão cada vez mais envolvidos com o processo de subscrição da apólice. Bem como prevenção de riscos e prestação de serviços às empresas.

A mudança reflete o reconhecimento por parte do mercado. Dessa forma, salienta que a gestão de sinistros é a verdadeira vitrine de seus negócios. Uma vez que é a forma como se gere uma perda que define a percepção, por parte dos clientes, do real valor de uma apólice.

E também mostra que os subscritores estão preocupados em endereçar queixas comumente. Assim expressadas por clientes corporativos. Este,  muitas vezes sofrem para retomar seus negócios após sofrer uma perda complexa.

As conclusões se baseiam em uma série de entrevistas feitas no último ano. São entrevistas feitas  com os diretores de gestão de sinistro de algumas das principais seguradoras e resseguradoras do mundo. Igualmente, o tema das entrevistas foi a busca de maior eficiência para um processo. Historicamente, esse processo tendia a ser considerado secundário pelo mercado.

Este artigo trata do novo status que os departamentos de gestão de sinistros estão desfrutando. Principalmente nas empresas de seguro e resseguro. Na próxima semana, trataremos das inovações tecnológicas. São as inovações que buscam aumentar a eficiência desta importante função.

Não mais back office

Corinne Southarewsky, da Axa CS
Corinne Southarewsky, da Axa CS

“A gestão de sinistros passou por uma transformação nos últimos anos”. Isso segundo Alexander Mack, o diretor de Gestão de Sinistros da Allianz Global Corporate & Specialty, AGCS. “No passado, a gestão de sinistros era a principal tarefa dos departamentos de ‘Claims’. Agora isso mudou. A gestão de sinistros deixou de ser uma função de ‘back office’ para uma se tornar uma função estratégica, de contato com o cliente.”

Essa nova realidade implica que os profissionais da área já não devem mais ser chamados apenas no momento que ocorre uma perda. Pelo contrário. Seu engajamento deve começar já na hora em que os subscritores estão tentando convencer uma empresa a se tornar um cliente ou continuar trabalhando com a seguradora.

Eles devem preparar simulações de perdas. Assim também explicar para o cliente como, exatamente, um sinistro será administrado, caso venha a ocorrer. Além disso, devemcriar canais de comunicação para que o cliente não tenha dificuldades para contatar as pessoas corretas em uma emergência.

Segundo Mack, “A gestão de sinistros tem um grande impacto na decisão de um cliente corporativo que está escolhendo seu segurador”. Contudo, ele ressalta: “Os clientes que tiveram uma boa experiência de sinistros com a gente são cinco vezes mais inclinados a nos recomendar como subscritores que aqueles que não tiveram tal experiência.”

“Os clientes querem saber como seus sinistros serão geridos e pagos”, observou Stuart Willoughby, o diretor global de Gestão de Sinistros na resseguradora Scor. “A apresentação das nossas capacidades de gerar sinistros é parte da proposta que fazemos para os clientes.”

Relacionamento

Hannah Purves, da Markel International
Hannah Purves, da Markel International

Na visão de Corinne Southarewsky, a diretora global de Gestão de Sinistro da Axa Corporate Solutions, a construção de um bom relacionamento entre o cliente e os professionais que vão gerir eventuais sinistros, antes mesmo que uma perda aconteça, é fundamental para as seguradoras.

“Quando se lida com sinistros, as relações que se têm são muito importantes”, disse a executiva. “Você tem que lidar com seus clientes. E é necessário agir como um gestor de projetos para encontrar soluções para situações complicadas.”

Por esse motivo, em seu departamento, além do conhecimento técnico, a Axa CS valoriza, na hora de recrutar novos profissionais, habilidades como a facilidade de se relacionar com as pessoas. Bem como a capacidade de comunicação e outros talentos antes ignorados pela área.

“É muito importante que nossos experts na área de sinistros tenham a mente aberta para lidar com culturas diferentes”, exemplificou Southarewsky.

Isso porque a empresa lida com perdas que acontecem ao redor de todo o mundo. Por exemplo,  lidando com 150.000 sinistros anuais.

Novas expectativas

Por sua vez, Sharon Long, diretora de Gestão de Sinistro na seguradora londrina Neon, acredita que uma nova forma de lidar com o tema se impõe. Principalmente, devido à evolução das expectativas dos clientes.

Com um número crescente de empresas promovendo executivos que cresceram utilizando a internet e as redes sociais, antigas e vetustas práticas do mercado segurador precisam se adaptar à maneira como eles fazem negócios.

Fatores como a experiência que se têm ao lidar com a seguradora. Assim como honestidade, transparência e integridade ganham peso. Assim, se somam ao pagamento de uma perda como elementos que definem se um cliente seguirá ou não trabalhando com suas seguradoras, afirmou a executiva.

Esse é um dos motivos porque, na Neon, a busca de novos profissionais de gestão de sinistros se ampliou para além do tradicional grupo de especialistas na área. Da mesma forma, a empresa está fazendo um esforço para atrair gente com trajetórias que, em outros tempos, nem seriam consideradas pelo mercado.

“Outras seguradoras tendem a contratar as mesmas pessoas que têm estado no mercado ano após ano”, disse Long. “Nós estamos olhando mais adiante. E  isso exige trazer novas ideias, uma orientação para os nossos serviços. Meu mandado é de construir uma equipe de profissionais para dar serviço na área de sinistros que atua de maneira diferente à dos nossos competidores.”

Da mesma forma, a contratação e retenção de talento é, em realidade, um dos desafios enfrentados pelo setor. Porém, executivos dizem que várias seguradoras estão aproximando os níveis salariais de gestores de sinistros com os de subscriptores. O que torna a função mais atraente para jovens profissionais.

O poder de dizer sim

Outra prioridade para várias empresas do setor é combater a ideia de que as seguradoras estão mais preocupadas em não pagar um sinistro. Mais do que em cumprir com os compromissos expostos na apólice.

Por exemplo, na Markel International,  os profissionais da área de gestão de sinistro possuem mais autonomia para decidir que um evento está coberto pela apólice do que para negar o seu pagamento. Isso de acordo com Hannah Purves, diretora de Gestão de Sinistros da empresa.

“Enquanto todos membros da nossa equipe têm o poder de pagar um sinistro, apenas um de cada três pode decidir por declinar o pagamento”, afirmou.

Outra preocupação da empresa é assegurar que uma decisão sobre o pagamento de um sinistro seja tomada o mais rapidamente possível.

“Na Markel, nós vemos a gestão de sinistros como uma vitrine para a subscrição”, disse a executiva.

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Axa cria líder global, mas mercado reage mal

A onda de fusões e aquisições no mercado de seguros teve um desdobramento dramático com a anúncio de que a francesa Axa decidiu comprar a XL, baseada em Bermuda.

O presidente da Axa, Thomas Buberl, descreveu a transação como uma “oportunidade estratégica única”. Isso para mudar o perfil da empresa. Assim aumentando sua exposição ao mercado de seguros comerciais, em detrimento das linhas de vida.

A Axa afirma que o novo grupo será a maior seguradora especializada em linhas para empresas de todo o mundo.

Para tanto, aceitou pagar US$ 15,3 bilhões, ou R$ 50 bilhões, pelo grupo XL, uma tradicional seguradora e resseguradora global com forte presença nos Estados Unidos e no mercado de Londres. No Brasil, a combinação das duas companhias criará a sexta maior seguradora de empresas do mercado, de acordo com ranking elaborado por RSB.

Comunicado

A Axa afirmou em um comunicado que seu plano é reduzir sua exposição a linhas de seguros. Os resultados técnicos dessas linhas são mais sensíveis aos humores dos mercados financeiros. O plano agora é focar em áreas como os seguros para empresas. Dessa forma, cuja performance está mais ligada à qualidade da subscrição de riscos.

A estratégia deve ser complementada nos próximos anos com a IPO da unidade de seguros de vida e gestão de ativos da Axa nos Estados Unidos.

A empresa considera que a forte presença da XL no mercado corporativo dos Estados Unidos e em Londres, bem como sua relevância no segmento de grandes riscos, complementa a própria atividade de linhas comercais da Axa. A gigante tem uma presença importante no continente europeu e em linhas dedicadas a pequenas e médias empresas.

“A Axa do futuro verá seu perfil ser rebalanceado. Da mesma forma com foco em riscos do mercado de seguro e distanciando-se dos riscos financeiros”, disse Buberl em um comunicado. “O grupo XL tem a presença geográfica correta. Assim como equipes de primeiro nível com expertise reconhecida e reputação por criar soluções inovadoras para os clientes.”

Onda

Todavia, a aquisição segue uma série de transações similares em um mercado que parece ter retomado o apetite pelas grandes operações de consolidação. Principalmente após um par de anos mais sossegados.

Segundo a consultoria Conning, em 2016 e 2017, a ênfase do setor esteve em operações de menor porte . Elas visaram recalibrar os negócios das empresas com vistas a um futuro incerto.

Porém, as grandes transações que têm o objetivo de incrementar a presença de empresas em mercados com potencial de crescimento parecem estar de volta em 2018.

Por exemplo, em janeiro, a americana AIG já havia comprado o grupo Validus, baseado em Bermuda, por US$ 5,56 bilhões.

No final de fevereiro, foi a vez da Zurich anunciar uma aquisição. A empresa pagou US$ 409 milhões pelas operações na Américas Latina da australiana QBE.

Igualmente, o mercado parece estar disposto a adotar uma estratégia de crescer por meio de aquisições. Uma vez que tanto os resultados técnicos quanto os financeiros estão difíceis de decolar no atual cenário global.

Analistas consideram que outros subscritores baseados em Bermuda, que sofreram bastante com o longo período de preços baixos no mercado não-vida, constituem alvos suculentos para grandes grupos em busca de aquisições.

Reação negativa

Ainda assim, a reação de investidores à compra da XL pela Axa foi negativa. Isso, com a ação da empresa francesa despencando quase 10% logo após o anúncio.

Analistas expressaram dúvidas com respeito ao preço pago pela seguradora francesa, ademais de incertezas sobre as sinergias que serão criadas.

A gestora de ativos Macquarie qualificou o raciocínio por trás da operação como “pouco convincente”. Dessa forma, expressando dúvidas sobre a capacidade da XL de obter os resultados esperados pela Axa nas atuais condições de mercado.

Para chegar aos US$ 1 bilhão de lucros projetados, os analistas da empresa calculam que o índice combinado da XL teria que fechar o ano em 95%.

Mas em 2017, um ano difícil devido ao elevado número de catástrofes naturais, a empresa registrou 106,8%, notou a Macquirie. Mesmo em 2016, mais favorável em termos de perdas catastróficas, o índice combinado foi de 96,9%.

Já a agência de avaliação de crédito S&P observou que a Axa planeja financiar boa parte da aquisição. Isso com recursos levantados pela listagem em bolsa de sua unidade de seguros de vida americana.

Risco de perda

Contudo, caso esta operação seja menos bem-sucedida que o esperado, alertou a agência, os níveis de capital da seguradora francesa poderiam ser significativamente fragilizados.

A S&P também observou que há risco de perda de clientes por parte da XL após a operação. Especialmente no setor de resseguros. Uma vez que seguradoras que são rivais da Axa no mercado primário podem pensar duas vezes antes de continuar trabalhando com a empresa.

Mas a S&P concorda com a visão de que a aquisição tem valor estratégico para a Axa. Isso devido à presença da XL no mercado de grandes riscos. Da mesma forma levando em conta a complementaridade e potencial de ganhos de sinergia entre as duas empresas no mercado seguros comerciais não-vida.

A empresa francesa vai fundir sua unidade de seguros comerciais, Axa CS, à XL. Assim, formando uma operação com mais de US$ 15 bilhões em prêmios, dos quais um terço é formado por prêmios de resseguros.




Seguro de empresas cresce 6,8% graças a dois produtos

Seguro de empresas: duas linhas de negócio puxaram o carro e conseguiram superar a média de crescimento de toda a indústria seguradora em 2017.

Análise da Risco Seguro Brasil sobre os números consolidados da Susep no ano passado mostram que os prêmios de seguros de 38 linhas empresariais registraram um aumento de prêmios de 6,8% no ano passado. Isso comparado com 4,2% do mercado como um todo.

Da mesma forma, a performance foi também bastante superior à inflação, que fechou o ano passado em 2,95%, segundo o IPCA.

Todavia, dois produtos foram os grandes responsáveis pelo desempenho das linhas empresariais em 2017. O seguro garantia (setor público) cresceu 30%, enquanto que os riscos diversos se expandiram 23%.

Assim, das 38 linhas analisadas, 18 encolheram durante um ano marcado por uma lenta e ainda pouco convincente saída de vários anos de crise. Portanto, algumas, como a de riscos nucleares, até mesmo desapareceram do mapa.

As maiores

Em 2017, de acordo com a Susep, as linhas analisadas fecharam o ano com um volume de prêmios de seguros de R$ 16,83 bilhões.

Contudo, a lista não inclui os seguros agrícolas e nem as coberturas de vida e saúde coletivas pagas pelas empresas a seus funcionários.

Dessa forma, em 2016, o número era de R$ 15,78 bilhões. Assim, juntos, os produtos de seguro garantia e riscos diversos acrescentaram R$ 1 bilhão em prêmios, correspondendo à quase totalidade do aumento.

Essas duas linhas são, respectivamente, a segunda e a terceira maiores do mercado, com 14,2% e 14% do total de prêmios. A maior de todas, com 16,4%, é a de riscos nomeados e operacionais, que se expandiu em 5% no ano passado.

Por outro lado, a quarta maior, de compreensivo empresarial, apresentou pequena retração. Juntas, estas quatro linhas respondem por 57.3% do mercado de seguros para as empresas, conforme a definição da RSB.

Outros destaques

Assim ambém tiveram um desempenho positivo no ano passado, em termos de crescimento, produtos como crédito interno (24% de crescimento), lucros cessantes (19%), RC ambiental (27%) e crédito à exportação (55%).

Em contrapartida, a outra linha de seguro garantia, para o setor privado, cresceu 85%, mas ainda corresponde a menos de 10% da garantia para interações com o setor público.

Igualmente, esta última se beneficiou do aumento notável do uso de seguro garantia em substituição aos depósitos financeiros e garantias imobiliárias em processos judiciais.

Algumas linhas de seguro de transporte também se expandiram bem no ano passado, com crescimento de 17% nos seguros de responsabilidade civil para transporte e desvio de carga (RCF), que é uma das dez maiores do mercado.

Já os que mais perderam volume de prêmios foram produtos ligados a setores fortemente afetados pela longa recessão econômica.

Os seguros para riscos de engenharia e de petróleo encolheram 36% e 35%, respectivamente. Já os aeronáuticos murcharam 28%.

Também houve recuo em alguns produtos de transportes, como o seguros de RC para ônibus (-20%) e o facultativo para embarcações (RCF), com -15%.

Outra queda notável foi a dos seguros para satélites, que quase sumiram do mercado após minguar mais de 90% no decorrer do ano. Os seguros globais de banco, por sua vez, despencaram 55%.

As linhas pesquisadas:

Compreensivo empresarial
Lucros cessantes
Riscos de engenharia
Riscos diversos
Global de bancos
Riscos nomeados e operacionais
Riscos de petróleo
Riscos nucleares
Satélites
D&O
Riscos ambientais
RC geral
RC profissional
Transporte nacional
Transporte internacional
RC ônibus
RCFV ônibus
RC transporte de carga viagem internacional
RC transporte ferroviário de carga
RC viagem international de pessoas – Carta Azul
RC transporte aéreo de carga
RC transporte rodoviário de carga
RC transporte desvio de carga
RC transporte aquaviário de carga
RC operador de transporte multimodal
Stop loss
Crédito interno
Crédito à exportação
Garantia segurado – setor público
Garantia segurado – setor privado
Seguro compreensivo operadores portuários
RC facultativo para embarcações
Marítimos (cascos)
DPEM
RC facultativo para aeronaves
Aeronáuticos (cascos)
RC hangar
Responsabilidade explorador ou transporte aéreo

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Zurich cresce 54% em 2017 e é 3ª maior em linhas para empresas

A Zurich mostra crescimento, mas a Mapfre segue liderando o mercado de seguros para empresas no Brasil. Isso apesar de ter apresentado um recuo de 4% no seu volume de prêmios no ano passado.

A subsidiária da seguradora espanhola fechou o ano com R$ 1,87 bilhão em prêmios, ou 11,9% do mercado.

O segundo lugar do ranking elaborado anualmente pela RSB, a partir de dados da Susep, é ocupado pela Chubb. Da mesma forma, repetindo a performance de 2016.

Assim, a filial da gigante americana não apresentou variação significativa no volume de prêmios. Fechou o ano com R$ 1,5 bilhão, o equivalente a 8,9% do total.

Mas foi a Zurich a companhia que teve o desempenho mais destacado no setor de seguros nas empresas em 2017. Isso de acordo com o levantamento baseado em dados da Susep.\

Performance

Antes mesmo de assimilar a operação da QBE no Brasil, que foi adquirida pela seguradora suíça junto com a unidade latino-americana da sua rival australiana, a Zurich postou um crescimento de 54% no volume de prêmios nas 38 linhas de seguros pesquisadas.

Dessa forma, a performance foi o suficiente para alçar a empresa à terceira posição do ranking, com R$ 1,3 bilhão em prêmios seguro e uma fatia de 8% do mercado.

Igualmente, a assimilação da QBE, se tivesse ocorrido no passado, teria acrescentado outros R$ 67 milhões em prêmios ao portfólio da empresa. Portanto insuficiente para mudar sua posição no ranking.

Só para termos de comparação, em 2017, o crescimento orgânico da Zurich chegou a mais de R$ 450 milhões.

O top five de 2017 foi completado pela Sompo. A empresa cresceu 5,9% e chegou a R$ 1,08 bilhão, ou 6,4% do total,. Logo seguida pela Tokio Marine, cujo volume de prêmios encolheu 4%, chegando a R$ 1,02 bilhão, 6,1% do mercado de seguros para empresas.

Mais aquisições

Uma operação que terá mais efeito no ranking das maiores seguradoras de empresas no Brasil é a compra da XL Catlin. A empresa é sediada em Bermuda, pela francesa Axa.

Em 2017, a Axa, que vem investindo com ganas no país, registrou um aumento de 35,1% nas linhas pesquisadas, ocupando a décima colocação com R$ 632,7 milhões em prêmios.

Já a XL completou o ano na 20ª posição, com R$ 288,7 milhões, após um crescimento de 8%. Juntas, as duas teriam ficando em sexto no ranking.

Assim, as aquisições já ajudaram a Swiss Re Corporate Solutions a galgar posições. Igualmente após ter acertado uma joint venture com a Bradesco Auto/Re em 2016.

Portanto, com a assimilação de uma significativa parcela dos prêmios da sucursal de seguros corporativos do banco, a Swiss Re CS viu seus prêmios aumentarem em 138% e agora ocupa a 13ª posição no ranking.

Altos e baixos

Dessa forma, entre as 20 maiores do ranking, também merecem destaque as taxas de crescimento obtidas pela 10ª, AIG (21%), e a 12ª, HDI (36%).

Assim, entre as duas há um exemplo ainda mais notável de crescimento. Trata-se da Pottencial, muito atuante no setor de garantia e cujos prêmios aumentaram em 61% em 2017. Além disso, outra empresa focada em garantia, a Pan Seguros, cresceu 46%.

Em contrapartida, a sétima colocada foi a Allianz, que encolheu 5,9% nas 38 linhas pesquisadas. No entanto, não incluem seguros agrícolas ou coletivos de vida e saúde. (Veja a lista abaixo.)

Também apresentaram recuo, entre as 20 maiores, a Fairfax (-8,2%), a Aliança do Brasil (-11.9%), a JMalucelli (-3,1%) e a Seguros Sura (-22.4%).

Além, é claro, da Bradesco Auto/Re. A empresa, após transferir parte de seu portfólio à Swiss Re CS, teve uma redução de 21,8% no volume de prêmios. Assim fechando o ano na oitava colocação.

As linhas pesquisadas:

Compreensivo empresarial
Lucros cessantes
Riscos de engenharia
Riscos diversos
Global de bancos
Riscos nomeados e operacionais
Riscos de petróleo
Riscos nucleares
Satélites
D&O
Riscos ambientais
RC geral
RC profissional

Transporte

Transporte nacional
Transporte internacional
RC ônibus
RCFV ônibus
RC transporte de carga viagem internacional
RC transporte ferroviário de carga
RC viagem international de pessoas – Carta Azul
RC transporte aéreo de carga
RC transporte rodoviário de carga
RC transporte desvio de carga
RC transporte aquaviário de carga
RC operador de transporte multimodal
Stop loss

Créditos

Crédito interno
Crédito à exportação
Garantia segurado – setor público
Garantia segurado – setor privado
Seguro compreensivo operadores portuários
RC facultativo para embarcações
Marítimos (cascos)
DPEM
RC facultativo para aeronaves
Aeronáuticos (cascos)
RC hangar
Responsabilidade explorador ou transporte aéreo

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Blockchain chega à indústria do seguro sem o drama do bitcoin

A tecnologia blockchain está chegando também ao mercado segurador. Ainda que sua aplicação na indústria deva ser bem menos dramática do que o fenômeno do bitcoin e outras criptomoedas.

Projetos em desenvolvimento por consórcios de seguradoras e resseguradoras, além de parceiros tecnológicos e consultorias, buscam a melhor forma de traduzir ao setor o potencial da tecnologia. Assim. permite adotar maneiras seguras de compartilhar informações. Bem como tornar mais eficiente a interação entre participantes de um contrato.

“Blockchain possibilita que muitas fontes de dados sejam agregadas, compartidas e compatibilizadas. Ao mesmo tempo em que se garante que a informação é segura”, afirmou Shawn Crawford, líder global da área de Seguros da consultoria EY.

A descrição soa menos emocionante do que a criação de valor monetário via “mineração de dados” em diversos computadores que caracteriza as criptomoedas.

Mas, em realidade, as características da blockchain, ou tecnologias de registro contábil descentralizado, como alguns especialistas preferem chamar, tornam esta inovação especialmente útil para o setor segurador.

Novos contratos

Isso porque elas criam a possibilidade de implementar contratos entre vários participantes. Eles são, ao mesmo tempo, constantemente adaptáveis e seguros. Ou seja, podem variar de acordo com a evolução do risco. Simultaneamente em que se reduz o risco de fraude.

Isso acontece porque, ao participar de um contrato baseado na tecnologia do blockchain, compradores, subscritores e corretores entram em uma “corrente” comum em que cada elo (ou bloco) necessita ser aprovado por todos os participantes antes de ser integrado ao contrato.

Cada vez que uma modificação no contrato é feita, por menor que seja, um novo bloco é adicionado (após aprovação dos participantes). Dessa forma  implica na criação de um novo registro que pode ser rastreado e checado.

O mais importante, possivelmente, é que ninguém tem o controle do processo. Isso já que todos os participantes têm o mesmo poder. Assim, na visão dos defensores da tecnologia, reduz o risco de fraudes ou de comportamento monopolístico que se encontra em sistemas centralizados de compartilhamento de informações. Por exemplo, como os bancos centrais ou as bolsas de valores.

Exemplo

O potencial da tecnologia pode ser ilustrado por um exemplo citado por Ryan Rugg, a chefe da área de seguros da R3, um consórcio internacional de instituições financeiras que desenvolve sistemas baseados em blockchain para o setor.

O exemplo envolve uma protegida por uma apólice de danos materiais que, durante a vigência da cobertura, recebe a instalação de sprinklers. Além de outros sistemas de contenção e prevenção de incêndios.

Em um contrato firma via blockchain, o proprietário do imóvel pode acrescentar a informação ao sistema. Assim, uma vez que todos os outros participantes aprovem, ela é acrescida ao contrato.

Uma vez feito isso, o sistema pode adaptar automaticamente o valor do prêmio cobrado. Bem como utras condições vigentes no contrato.

“A apólice jamais será inserida no registro. A menos que todas as partes concordem com os novos termos”, explicou Rugg. “Todos os diferentes campos e subcampos são então codificados em um contrato inteligente.”

A R3 desenvolveu um sistema operacional, chamado CORDA. O sistema tem o objetivo de ser usado pelas instituições participantes do projeto em seus próprios sistemas para implementar a tecnologia blockchain.

Segundo Rugg, a ideia é que o CORDA funcione como o sistema operacional iOS, da Apple. Provendo, assim, uma base tecnológica para que cada usuário desenvolva ou instale suas próprias apps baseadas em blockchain.

Assim, ela acredita que, uma vez que a tecnologia esteja difundida, auxiliará os seguradores a reduzir custos operacionais de forma significativa. Sob o mesmo ponto de vista, ajudando o setor a aumentar seus níveis de rentabilidade.

Experiência

Uma das primeiras experiências que estão chegando ao mercado segurador envolve o setor de seguros marítimos. Na opinião de Crawford, o setor apresenta um potencial todo especial para a tecnologia.

“Empresas de navegação marítima têm a capacidade de coletar enormes quantidades de informação de seus navios”, observou Crawford. “O grande problema é que, hoje em dia, os dados disponíveis não são compartilhados com as seguradoras que assumem os riscos de operação dos navios.”

Em sua opinião, a tecnologia blockchain pode ajudar a mudar esta situação. Por exemplo, o registro compartilhado pode ser automaticamente alimentado com dados como o percurso percorrido pelo navio segurado. Da mesma forma, adaptando o valor do prêmio aos riscos envolvidos.

Por exemplo, se o capitão decide passar por uma região com risco de pirataria ou de guerra para chegar mais rápido ao seu destino. Durante este período o armador teria que pagar um prêmio adicional ao subscritor.

Projeto piloto

O projeto-piloto do qual a EY participa visa testar exatamente este tipo de possibilidade. A empresa se aliou à tecnológica Guardtime para desenvolver um sistema blockchain. O sistema interliga a Maersk, maior armadora do mundo, com seus corretores. Também com seus subscritores e outros participantes das apólices.

Segundo Crawford, o sistema fará com que a Maersk disponibilize uma grande quantidade de dados a seus corretores. Eles então compartilharão estas informações, de forma segura, com os seguradores. Willis Towers Watson, MS Amlin e XL Catlin também participam do projeto.

Além da possibilidade de precificar o risco de maneira mais satisfatória para todas as partes, existem outras vantagens. Segundo Crawford, encontram-se melhoras na área de compliance de todos os envolvidos.

Isso porque os reguladores terão maior facilidade de conferir o cumprimento das normas de cada setor envolvido, já que os contratos serão totalmente rastreáveis.

“Todas as transações com todos os participantes serão rastreáveis em qualquer momento, e cada pedaço de informação pode ser armazenada de forma segura”, afirmou Crawford. “Isso possibilita uma negociação mais rápida das coberturas, a precificação inteligente dos ativos segurados e a automatização do processo.”

Além disso, no caso de um sinistro, todos os participantes podem ter acesso imediato a informações que podem ajudar na sua gestão, como vídeos e fotos feitos imediatamente pela companhia que opera os navios.

Novas coberturas

Michael Mainelli, CEO da Z/Yen, uma empresa que desenvolve sistemas de blockchain, considera que a tecnologia também oferece possibilidades interessantes para a criação de novas coberturas, por exemplo na área de seguros paramétricos.

Ele mencionou o caso dos seguros cibernéticos, em que uma empresa um dia pode lançar uma cobertura que seja acionada automaticamente se um determinado número de computadores ligados a uma corrente blockchain deixe de funcionar por um determinado número de horas.

Por exemplo, na apólice poderia constar que o sinistro está coberto se 25% dos computadores cobertos pela seguradora em São Paulo ficarem fora de operação durante quatro horas, um evento que o registro detectaria automaticamente.

Por outro lado, Mainelli alertou que, quem estiver pensando em surfar a onda do bitcoin para usar blockchain em sistemas de pagamento vai dar com os burros n’água.

“Em áreas como as criptomoedas, as pessoas estão começando a entender algo que já estamos dizendo faz anos, ou seja, que o custo dos pagamentos é alto demais”, afirmou. Ele estima que pagamentos em bitcoin têm um custo de US$35 a US$40 por transação.

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Seguro ficou para trás e sabe disso, diz pesquisa

A indústria de seguro ficou para atrás de outros setores na adoção de novas tecnologias. E seus executivos sabem disso. É o que afirma um relatório da agência de qualificação AM Best.

Para conseguir tirar o atraso há algumas práticas. Por exemplo,  é necessário que os próprios CEOs e outros chefes das empresas de seguro tomem a iniciativa de aprender sobre as novas tecnologias. Bem como acompanhar seu desenvolvimento e implementação. Sob o mesmo ponto de vista, mandar os departamentos de informática darem um jeito no problema já não é o suficiente. Isso de acordo com a firmação da agência.

Consequentemente porque a indústria do seguro também está vivendo a chegada de novos atores. E estes ameaçam mudar totalmente a maneira como o setor atua.

Contudo, a boa notícia é que alguns subscritores já estão trabalhando no tema. Por exemplo, utilizando novas tecnologias. São elas, tecnologias de predição do comportamento dos clientes e inteligência artificial. Dessa forma, pode agilizar o processo de subscrição. Bem como precificar melhor suas coberturas e implementar sistemas de gestão de sinistros mais eficientes.

“As seguradoras simplesmente necessitam continuar a investir em novas tecnologias. Assim esperamos que os subscritores calquem uma porção material de suas despesas a melhorias tecnológicas e atualizações de seus sistemas”, afirma a AM Best no relatório.

Prioridades

Todavia, as áreas em que as empresas acreditam haver mais necessidade de atualizar suas tecnologias incluem a coleta e utilização de dados (“data mining”). Também a melhoria da interação com os clientes e distribuição de produtos.

Dessa forma, o “data mining” foi apontado por 27% dos entrevistados como a parte do seu modelo negócio que mais necessita adotar novas tecnologias. Simultaneamente, a AM Best nota que, pela própria natureza de seu negócio, as seguradoras coletam quantidades enormes de informações. Dessa forma, sua utilização pode trazer grandes avanços em termos de precificação e seleção dos riscos que elas tomam de seus clientes.

Por outro lado, é corrente no mercado a visão de que a qualidade dos dados coletados nem sempre é a melhor possível. Dessa forma acarreta riscos. De qualquer maneira, afirma o documento, tanto seguradoras como insurtechs estão investindo em ferramentas analíticas para digerir os dados coletados pelo setor.

É seguro dar atenção aos clientes

Contudo, o segundo item mais citado pelos executivos das empresas entrevistadas é a melhoria da atenção aos clientes. Afinal, o dado foi mencionado por 26,5% do total. A tendência, neste quesito, é que cada vez menos contato com os clientes se faça pessoalmente e com um uso de papelada, com um volume crescente de interações se realizando digitalmente, com uso de chatbots e outras tecnologias.

A distribuição de produtos veio em terceiro lugar. Representa 18,5% das escolhas. Uma vez que as redes sociais estão criando oportunidades para que as seguradoras distribuam seus produtos ao consumidor final sem necessitar de intermediários.

A criação de novos produtos que acompanhem os modos de consumo sempre mutantes das pessoas e empresas recebeu 18% das menções. Enquanto que os processos de subscrição ficaram com 10%.

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