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Ace, Chubb, Willis e Towers Watson dão novo impulso a onda de fusões

A onda de fusões e aquisições no mercado de seguros global ganhou um novo impulso esta semana com duas operações envolvendo algumas das maiores seguradoras e corretoras do planeta.

Na quarta-feira, 1º de julho, a seguradora norte-americana Ace anunciou a compra de sua rival Chubb por US$ 28,3 bilhões.

Um dia antes, a britânica Willis e a norte-americana Towers Watson divulgaram sua fusão, em uma operação que criará um gigante global nas áreas de corretoria de seguros e consultoria em recursos humanos.

As duas operações seguem uma tendência observada os últimos meses no mercado segurador em que grandes grupos internacionais buscam diversificar seus negócios investindo em novos mercados e buscando aumentar eficiência com fusões e aquisições.

Um prolongado período de baixas taxas de juros e excesso de capital na indústria são fatores determinantes desta tendência. (Clique aqui para saber mais.)

A Ace, por exemplo, argumentou que a Chubb atua em linhas de negócios complementares aos seus próprios e adiciona musculatura à sua rede de distribuição e à sua linha de produtos. A empresa unificada manterá a marca da Chubb e se tornará uma das maiores players globais no setor de seguros corporativos.

Em comunicado, a Ace argumentou que a aquisição agrega valor ao grupo já que, nos Estados Unidos, por exemplo, seus próprios pontos fortes são os setores corporativos industrial, multinacional e as empresas médias de maior porte, com forte distribuição via o mercado de corretores. Já a Chubb é mais forte no segmento de empresas médias, seguros especializados e seguros de caução, operando especialmente via uma rede própria de agências.

A Ace está presente em 54 países, e a Chubb, em 25. Ambas atuam no Brasil, onde, no ano passado, a Ace adquiriu o negócio de grandes riscos da Itaú Unibanco.

“Nós seremos uma empresa bem equilibrada com uma maior presença e capacidade em produtos que possuem menor exposição ao ciclo dos seguros de bens e responsabilidades,” disse Evan G. Greenberg, presidente e CEO do grupo Ace.

Corretora
A complementaridade dos negócios também foi o principal argumento apresentado pelos dirigentes da Willis, uma três grandes corretoras de seguros globais, e a consultora Towers Watson para justificar a fusão entre as duas companhias.

A nova Willis Towers Watson será uma empresa global integrada por consultoria, corretora e soluções de gestão, com 39.000 empregados e presente em 120 países. Tanto a Willis quanto a Towers Watson possuem operações no Brasil.

“Vamos prestar consultoria a mais de 80% das mil maiores companhias do mundo, além de ter uma presença significativa no mercado de médias e pequenas empresas em todo o mundo,” disse Dominic Casserley, o Chief Executive Officer da Willis, que terá 50,1% do capital do novo grupo.




Aumento de interesse atrai novos atores ao seguro de crédito

Com a inadimplência correndo solta no mercado e crédito mais caro nos bancos, muita gente corre atrás de se prevenir por meio de seguro. É aí que o ramo de crédito cresce quando há crise. No primeiro quadrimestre deste ano houve aumento de 90% nos prêmios emitidos.

As consultas estão aceleradas. A Euler Hermes recebeu até maio deste ano cerca de 400. No ano passado inteiro, foram 864. Na Coface, as consultas cresceram 40%.

De acordo com Luciano Mendonça, diretor comercial, de subscrição e marketing da seguradora Euler Hermes, a seguradora não está recusando contratação de seguros em nenhum setor, mas está mais seletiva nas análises. Ele diz que a proporção de recusas de contratos não mudou, continua no patamar de 20%, por serem riscos ruins de cobrir ou então que não se enquadram no crédito, que é a especialidade da companhia (segunda maior neste ramo no Brasil).

Embora a chegada de novos potenciais clientes seja bem-vinda, a empresa precisa ter cuidados em momentos como o atual: aumentar sua carteira de clientes ao mesmo tempo em que é preciso mantê-la financeiramente segura e equilibrada, afirma Mendonça.

Na Marsh, as consultas este ano somam entre 30 e 40 por mês; em 2014 eram de 25 a 30.

O esforço de atrair novos clientes pode valer a pena. De acordo com Eduardo Burmann, da Aon Brasil, a taxa de renovação no seguro de crédito beira os 95%, mesmo que eventualmente o cliente troque de seguradora ou de corretora.

Além disso, o mercado brasileiro neste ramo é ainda modesto. Estima-se que havia em 2014 cerca de 700 apólices de seguro de crédito no país inteiro, concentradas em grandes multinacionais. Os prêmios chegaram a R$ 220 milhões, com expectativa de R$ 250 milhões para este ano.

“Acredito que no Brasil ainda é uma questão cultural, as empresas fazem outros tipos de seguro mas não entram no de crédito”, afirma Kiyoshi Watari, da Marsh.

Tamanho mercado a ser explorado não fica fora do radar das empresas estrangeiras. Atualmente são nove empresas que operam neste ramo no país. No ano passado a Swiss Re começou a trabalhar com seguro de crédito por aqui. Este ano foi a vez da Ace, que deve ser acompanhada de XL, QBE e Liberty.




Com escândalos e crise, seguro de crédito fica mais difícil

Kiyoshi Watari
Kiyoshi Watari, Marsh Brasil (Crédito da foto: Divulgação)

Junte duas situações potencialmente complicadas —crise econômica e escândalo de corrupção em grandes empresas — e um problema surge para assombrar muitos departamentos financeiros: o calote.

Para os gestores de risco isso significa empenho extra nas negociações e custos maiores nos seguros de crédito: a renegociação de contratos está mais difícil, há recusa na aceitação de riscos e aumento de até 30% das taxas cobradas pelo seguro.

Esse quadro é embalado pelo aumento da sinistralidade e da gravidade dos sinistros. De janeiro a abril deste ano, o valor dos sinistros pagos pelas nove seguradoras do ramo aumentou 400%. Já o índice de sinistralidade passou de 24% em 2014 para 68% este ano.

Peso Petrobras
De acordo com Kiyoshi Watari, líder das Práticas de Risco Politico, Crédito e Garantia da Marsh Brasil, em grande medida a situação atual no mercado de seguro de crédito se deve ao escândalo da Petrobras, que atrasou pagamentos e afetou toda a cadeia produtiva de seus grandes fornecedores.

Luciano Mendonça, Euler Hermes (Crédito da foto: Divulgação)
Luciano Mendonça, Euler Hermes (Crédito da foto: Divulgação)

De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, a dívida de prestadores de serviço da petroleira com cem fornecedores atingiu no fim de abril R$ 411,5 milhões, 1.424% a mais que o registrado em dezembro de 2014.

Mas o grosso do problema se deve a uma economia que não cresce.

Setores
Os setores mais afetados no mercado de seguro de crédito são a construção e atividades ligadas, como o fornecimento de mármore e granito e cimento.

As áreas de óleo e gás, siderurgia e automóveis também enfrentam situações que vão desde a recusa a firmar novos contratos à inclusão de mais restrições nas apólices. Mesmo setores historicamente “tranquilos” para o seguro de crédito enfrentam dificuldades, como é o caso da área de alimentos.

Segundo agentes do mercado ouvidos pela Risco Seguro Brasil, a situação vai piorar antes de começar a melhorar. “O problema ainda não parou de crescer”, diz Luciano Mendonça, diretor comercial, de subscrição e marketing da seguradora Euler Hermes.

Na Euler Hermes — segunda maior do país e líder mundial de seguro de crédito — o número de sinistros mais que dobrou, e a gravidade deles cresceu muito. “Até o ano passado, o normal eram casos envolvendo dívidas de R$ 100 mil ou R$ 200 mil. Agora, esses casos continuam chegando, mas estão acompanhados de outros com valores bem maiores”, afirma Mendonça.

Há outros agravantes. Além dos casos considerados comuns, de atraso nos pagamentos, há novas situações de insolvência das companhias que estão deixando de pagar suas dívidas com as empresas que contrataram seguro de crédito, conta o executivo. “E a tendência é que mais empresas quebrem.”

A Coface, líder em seguro de crédito no país, por sua vez, relatou ao jornal Brasil Econômico um crescimento de 45% nas notificações de atraso nos pagamentos a seus segurados. E o número de pedidos de recuperação judicial entre parceiros comerciais dos segurados subiu para um ritmo de sete ocorrências todos os meses — era de uma a cada quatro meses, segundo o jornal.

Preços
O gerente de produtos financeiros da corretora Aon Brasil, Eduardo Burmann, diz que por enquanto o aumento nas taxas não é generalizado, mas logo será. A média das tarifas se segura porque seguradoras estão tentando compensar o aumento da sinistralidade com a atração de novos clientes através de preços camaradas. A tática se observa em setores da economia que ainda se encontram em boa situação.

Burmann projeta para setembro, no entanto, um aumento generalizado nas taxas de seguro de crédito, quando então as seguradoras não terão mais margem de manobra para salvar a rentabilidade do ano.

Em algumas seguradoras, contudo, setembro já chegou — com registros de aumentos entre 15% e 30%, dependendo da situação do setor produtivo a ser coberto. O de mármores e de óleo e gás, por exemplo, enfrentam situações graves.

“Não se vê recusa nas renovações, mas os contratos estão sendo ajustados”, diz Watari. “Alguns compradores de seguro entrantes neste mercado, de setores complicados, no entanto, podem não conseguir fazê-lo neste momento. As seguradoras estão conservando suas posições.”

O aumento da sinistralidade afeta o resultado das seguradoras, mas Bermann afirma que “o risco de solvência [das seguradoras] é zero”. “São empresas multinacionais e que fizeram bastante caixa nos últimos anos.”

Para Watari, o índice de sinistralidade em 68% liga o sinal de alerta das companhias seguradoras. “Até 60% é aceitável, dá para cobrir os custos fixos e os de sinistros”, diz. “Passando disso, vai depender da estratégia de cada seguradora, do apetite que elas têm por risco. Algumas, vão ter uma postura mais conservadora.”

A taxa de sinistralidade varia bastante entre as operadoras deste mercado: pode chegar a 130%, mas em outros casos é próxima de zero. As seguradoras que trabalham com seguro de crédito pulverizado em várias áreas são as que estão enfrentando os maiores problemas. Nas que trabalham com nichos específicos, o problema é menor.




Demanda por seguro contra risco cibernético cresce nos EUA

Um número crescente de empresas americanas está interessada em apólices de seguros exclusivas contra riscos cibernéticos, de acordo com uma pesquisa divulgada pela principal associação de gestores de riscos dos Estados Unidos.

Os gestores de riscos entrevistados pela Risk Management Society (Rims) também disseram que os danos de imagem são sua principal preocupação na área de riscos cibernéticos. Mas menos da metade das empresas que já possuem coberturas exclusivas contra estes ricos tem apólices que incluem ações para mitigar danos à reputação.

A pesquisa foi feita com 284 empresas, 60% das quais têm faturamento superior a US$ 1 bilhão por ano.

Metade das participantes disseram que já possuem apólices dedicadas exclusivamente ao risco cibernético. Mais significativo, porém, é o fato de que 74% das empresas que ainda não possuem tais coberturas estão considerando sua aquisição.

Os perigos ligados aos riscos cibernéticos voltaram a ganhar destaque nos últimos dias com a notícia de que o governo americano sofreu um gigantesco ataque de hackers que teriam obtido acesso a dados pessoais de todos os funcionários públicos que trabalham para a administração federal.

A interrupção da atividade devido ao vazamento de dados é uma das exposições diretas mais graves das empresas americanas, de acordo com 70% dos respondentes. Quando a pergunta se refere aos danos que podem ser causados por ataques contra parceiros comerciais, a perda de dados lidera a lista com 88,5% das respostas.

Os custos ligados à mitigação de efeitos, como a notificação e a reação imediata aos ataques, foram citados por 72,5% dos participantes, enquanto a interrupção das atividades devido à queda do sistema de informática foi mencionada por 72,5%.

Fora do alvo
Os danos causados à reputação da companhia lideraram a lista de exposições com 79% das respostas. Ao mesmo tempo, a experiência de companhias que já possuem apólices exclusivas mostra que nem sempre é possível transferir os danos à imagem ao mercado de seguros. Apenas 44% dos contratos já assinados incluem tais danos entre suas coberturas.

Apesar das lacunas ainda existentes, gestores de riscos de empresas globais têm relatado nos últimos meses uma melhora substancial na qualidade das coberturas contra riscos cibernéticos oferecidas pelo mercado de seguros. Um dos temas que seguem restringindo o crescimento do mercado, porém, é o alto custo de tais seguros.

Nesse sentido, as empresas pesquisadas pela Rims relataram uma concentração nos extremos superior e inferior das gamas de preços.

Quase 55% delas reportaram estar pagando mais de US$ 100 mil em prêmios por suas coberturas. Em seguida aparecem as empresas que pagam menos US$ 50 mil em prêmios, com 27,5%. Os valores intermediários foram citados por menos de 18% dos entrevistados.

Já os limites mais comuns variam entre US$ 5 milhões e US$ 19 milhões, com 35% das respostas, seguidos por menos de US$ 5 milhões, com 23%. Apenas 10% das empresas pesquisadas possuem apólices limites entre US$ 100 milhões e US$ 200 milhões, e nenhuma apólice chega a valores maiores do que esses.

Limite x preço
Tais números sinalizam que o mercado ou não está dando os limites desejados pelas empresas de maior porte, uma queixa comum entre multinacionais, ou está cobrando preços elevados para chegar a patamares mais altos.

Vale notar que o grande ataque sofrido pela varejista americana Target em 2013 já resultou em custos estimados em mais de US$ 250 milhões para a empresa.

Um argumento comum de críticos às coberturas exclusivas de riscos cibernéticos é o de que vários dos danos causados por um eventual ataque já são cobertos por outras apólices compradas pelas empresas, como as de responsabilidade civil, D&O (diretores e oficiais) ou E&O (erros e omissões).

Mas apenas 34% das empresas entrevistadas afirmaram que já estão protegidos por outras coberturas. Entre esse grupo, as apólices de E&O foram as mais frequentemente citadas.

 




Após aquisição, AXA promete mais flexibilidade em contratos

Philippe Jouvelot, CEO da AXA no Brasil.
Philippe Jouvelot, CEO da AXA no Brasil.

Uma maior flexibilidade nos clausulados dos contratos é o diferencial que a AXA Corporate Solutions promete oferecer ao mercado brasileiro após a aquisição, em maio, da unidade de grandes riscos do Grupo Sul América.

Em entrevista exclusiva à Risco Seguro Brasil, Philippe Jouvelot, presidente e CEO da seguradora francesa no país, também afirmou que a operação vai acelerar a estratégia do grupo de crescer no Brasil pelo segmento dos seguros comerciais.

“A aquisição é chave para a empresa porque a AXA decidiu entrar no mercado brasileiro por meio das linhas de riscos corporativos”, disse Jouvelot.  “A integração da nova unidade nos proporciona um avanço de quatro anos no plano de investimentos para o desenvolvimento da AXA CS no Brasil, que tem um prazo de 25 anos.”

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Além disso, para ele, a nova dimensão do negócio serve como um atrativo para os grandes clientes brasileiros.

“As grandes corporações gostam de fazer negócios com grandes seguradoras”, afirmou Jouvelot. “Pode ser um tema mais psicológico que outra coisa, mas a verdade é que agora somos grandes seguradores corporativos também no Brasil.”

A intenção é visar não apenas as empresas brasileiras que transferem grandes riscos para o mercado, mas também multinacionais que necessitam comprar coberturas no Brasil e integrá-las a seus programas internacionais.

“Cerca de cem subscritores vão se integrar à AXA CS com a aquisição”, informou o executivo. “A expertise que os novos colaboradores nos trazem é extremamente valiosa. Tendo em vista especialmente os programas internacionais, é muito interessante ter em nossos quadros gente que conhece o mercado local a fundo. E eles também nos proporcionam de forma imediata um novo escritório brasileiro, no Rio de Janeiro, que é o segundo maior mercado de seguros do país.”

Produto sob medida
Em uma afirmação que deve soar como música aos grandes compradores de seguro no Brasil, Jouvelot prometeu que a companhia vai se diferenciar por uma maior capacidade de elaborar contratos sob medida para seus clientes corporativos.

“A AXA CS aporta um nível extra de capacidade, especialmente financeira, e muito mais flexibilidade com os clausulados”, garante. “É importante ter flexibilidade com os clausulados para refletir as necessidades reais dos clientes e para tornar possível a integração das coberturas a programas internacionais.”

A rigidez dos clausulados é uma queixa comum de gestores de risco no Brasil. Seguradoras costumam reclamar, por sua vez, que a Superintendência de Seguros Privados (Susep) lhes dá pouca margem para inovação ao exigir que os clausulados sejam aprovados pelo órgão antes de ser vendido aos clientes.

Jouvelot, no entanto, acredita que desde o fim do monopólio do resseguro, em 2008, aumentou a possibilidade para as seguradoras darem uma resposta às necessidades de seus clientes. “Durante o monopólio, todo mundo tinha os mesmos clausulados nos contratos”, disse. “Mas a Susep tem o objetivo de modernizar o setor, mesmo que ainda exista no mercado alguma resistência contra mudanças.”

Transferência diversificada
Mesmo as restrições de transferências de riscos ao resseguro não precisam ser um obstáculo para uma empresa como a AXA CS, argumenta Jouvelot. Como exemplo, ele cita o fato de que as seguradoras não podem passar mais do que a metade de seus riscos para o mercado ressegurador.

“A restrição dos 50% de transferência de prêmios não se aplica a cada contrato de seguro”, afirma o executivo. “Ela se aplica ao portfólio total de uma seguradora. Portanto, se uma empresa possui um portfólio diversificado, ela tem a possibilidade de transferir ao mercado ressegurador uma proporção mais elevada de um grande risco para um cliente em particular, no contexto do programa internacional deste cliente.”

Otimismo
A AXA CS entrou no mercado brasileiro em 2013 e no passado recebeu autorização para montar uma resseguradora local. Segundo Jouvelot, a estrutura do grupo no Brasil permite oferecer coberturas requeridas por clientes cada vez mais globalizados. Ele também segue acreditando no potencial do mercado brasileiro, apesar do fraco desempenho da economia.

“O desenvolvimento do mercado de seguros no Brasil está mais relacionado com a penetração do setor na economia do que com o crescimento do PIB”, avalia. “Cinco anos atrás, os seguros representavam 1,7% do PIB. Hoje, a proporção ainda é de apenas 3%. Em comparação, na França atinge quase 10%. Há, portanto, potencial de crescimento, e a CNSeg estima que o volume de prêmios vai aumentar 15% neste ano.”

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Para Swiss Re, seca no Brasil como desafio para o seguro global

A seca está causando danos à economia brasileira – e também representa um sério desafio para o mercado global de seguros, de acordo com a Swiss Re.

Um relatório divulgado pela resseguradora suíça em maio incluiu a seca brasileira em uma lista dos desafios emergentes para o setor devido ao impacto que ela está tendo e na economia e na sociedade do país.

O documento diz que a seca está causando crescimento econômico menor do que o esperado, exigindo o racionamento de água em algumas regiões e aumentando o risco de que empresas sofram ações na Justiça devido a eventos ligados às mudanças climáticas

Além disso, o fenômeno eleva o preço da água e dos alimentos, o que pode gerar mais atritos sociais no Brasil, avalia Swiss Re.

A seca brasileira aparece no relatório como uma ameaça emergente de potencial de impacto médio, o segundo mais elevado. No mesmo patamar estão ameaças como o maior chance de ocorrência de pandemias, a possibilidade de que cidades afundem devido ao aumento do nível dos oceanos e os riscos ligados à engenharia genética.

Estado das coisas
Um nível acima aparecem os principais riscos emergente, segundo o relatório. Eles são a reversão do processo de globalização, as políticas monetárias expansionistas de diversos países, os desafios trazidos pela chamada “internet das coisas” e as supercatástrofes naturais.

O relatório diz que os efeitos da seca são agravados por falhas de planejamento e de ação política, além de uma escassez de investimentos em recursos hídricos e a má gestão do setor.

“Como o Brasil é altamente dependente de energia hidroelétrica, a seca também está tendo um impacto sobre a geração e o fornecimento de energia”, afirma o documento. “Em resposta, as usinas geradoras estão utilizando mais combustíveis fósseis, aumentando o preço da energia e as emissões ligadas ao efeito estufa.”

“A seca cria reações em cadeia para todo o setor econômico”, disse à Risco Seguro Brasil José Cullen, responsável pela área de Seguros Rurais da Swiss Re Corporate Solutions no Brasil e América do Sul.

A agricultura é um dos setores que mais sofrem, ainda que no Brasil isso se passe de forma desigual, afirmou Cullen. Enquanto as regiões Sudeste e Nordeste estão passando por momentos difíceis devido à seca, os agricultores do Sul vivem uma situação até de excesso de água, observou.

Soluções
Segundo Cullen, o mercado hoje oferece soluções de seguros para que os agricultores reduzam as perdas causadas pela falta de chuva. Mas nem todas as culturas podem se beneficiar das coberturas existentes.

“Há vários tipos de produtos que cobrem os riscos climáticos, o principais dos quais, para a agricultura no Brasil, é a seca”, disse ele. “Grãos como soja e milho possuem coberturas para a seca. É mais difícil no caso do café e das frutas, mas em geral há como se proteger deste risco.”

A introdução de seguros paramétricos no Brasil pode ajudar, porém, a obter cobertura mesmo para este setores mais complicados, afirmou.

No entanto, Cullen estima que apenas 15% da área cultivada no Brasil possui coberturas de seguro na atualidade.




Modelo atual trava seguro agrícola, diz especialista

Wady Cury
Wady Mourão Cury, da BB Mapfre.

O seguro agrícola tem um grande potencial de crescimento no Brasil, mas o desenvolvimento do mercado depende de uma série de aprimoramentos pelos quais o setor precisa se empenhar.

A avaliação foi feita por especialistas reunidos no 4º Encontro de Resseguro do Rio de Janeiro, realizado em abril, e que reuniu cerca de 500 executivos do setor. “Há um grande espaço e um grande caminho a ser percorrido”, resumiu Eduardo Porcel, vice-presidente de agrobusiness underwriting da TransRe Panamá.

“No modelo de gestão de hoje, estamos fadados a não crescer muito”, disse Wady José Mourão Cury, diretor da BB Mapfre, seguradora que domina 70% do seguro agrícola brasileiro. A cadeia do agronegócio é responsável por 23% do Produto Interno Bruto brasileiro.

De acordo com Cury, a alavancagem do setor passa por mudanças em sete eixos. São eles:
–         criação de um modelo nacional integrado de informação;
–         melhorias na capacitação profissional da mão-de-obra;
–         gestão atuarial mais eficiente;
–         modelos mais precisos de monitoramento (do clima, safras, riscos etc);
–         regulamentação específica para o setor;
–         desenvolvimento de produtos mais aderentes ao agricultor;
–         criação de um fórum de integração.

Olhar único
Em cada um desses itens, há obstáculos que hoje atravancam os negócios. Sobre as informações do setor, por exemplo, Salomão lembrou que elas existem, mas estão dispersas pelas cooperativas e secretarias estaduais e municipais, entre outros órgãos.  “Precisamos de um olhar único”, afirma ele. “A partir daí, cada companhia [seguradora] vai definir como transformar informação em conhecimento [para os negócios].”

Já sobre a dificuldade de encontrar profissionais capacitados para trabalhar no setor, , o diretor da BB Mapfre ressaltou a significativa expertise necessária para lidar com as diferentes culturas agrícolas. “Um regulador (de sinistros) de seguro de soja é muito diferente do de um de hortaliças”, citou como exemplo.

Por sua vez, o vice-presidente TransRe Panamá acrescentou que as incertezas nas políticas governamentais representam uma grande dificuldade em vários países da América Latina. Ele acredita que a ampliação das parcerias público-privadas e a entrada de novos players no mercado ajudariam a estimular o crescimento do seguro agrícola no subcontinente. “Não há uma só solução. O negócio é interpretar as necessidades do mercado”, afirmou.

O subscritor de agronegócios da Austral RE, Bruno Valentin, defendeu que o mercado busque soluções de crescimento que não dependam tanto das subvenções governamentais, que tendem a ser menos generosas em tempos de arrocho orçamentário. “Houve um grande crescimento deste seguro nos últimos anos, mas ele estagnou,” disse ele.

 




Resseguro cresce, mas rentabilidade ainda é desafio

Francisco Galiza
Francisco Galiza, consultor.

Passados sete anos do fim do monopólio do resseguro, o Brasil tem um mercado mais dinâmico, fruto de um acentuado aumento no número de empresas e uma mão-de-obra altamente qualificada. Mas ainda há diferenças bastante acentuadas em termos de rentabilidade das empresas parti-cipantes no mercado.

Essas são algumas das conclusões de um estudo elaborado pela Rating de Seguros a pedido da resseguradora Terra Brasis. A base do levantamento são os dados publicados pela Susep (Superintendência de Seguros Privados),  até 2014.

“Analisando historicamente e de maneira bem objetiva, o resultado (da abertura) é bem positivo”, disse à Risco Seguro Brasil o consultor Francisco Galiza, responsável pelo estudo. Ele lembrou que o fim do monopólio ocorreu num momento, em 2008, em que a economia mundial estava em crise. “Teve esse percalço e mesmo assim o setor conseguiu triunfar.”

Para os próximos anos, Galiza acredita na continuidade do crescimento, que será influenciado pelo desempenho geral da economia e especialmente das empresas de seguro. Outro ponto destacado pelo consultor diz respeito à estabilidade do que o mercado chama de “arcabouço regulatório” — em outras palavras, as leis do setor.

Segundo ele, regras estáveis são um fator importante para o desenvolvimento do mercado de res-seguros. “Mas isso não vale só para o seguro”, disse Galiza. “Estabilidade é sempre estimulante para novas empresas.”

Desenvolvimento
O estudo lembra que os principais objetivos da quebra do monopólio foram o aumento da capacidade do mercado ressegurador brasileiro e a dinamização do setor, com novos produtos, a aplicação de práticas internacionais, mais qualificação profissional e mais empregos.

Houve evolução nesses itens, segundo o levantamento. O número de resseguradoras que operam no Brasil, por exemplo, mais que triplicou, passando de 40 em 2008 para 123 em 2014, entre locais, admitidas e eventuais.

O ano de 2010 representou um divisor de águas neste curto espaço de tempo pós-abertura. Apesar das polêmicas causadas por medidas do governo que restringiram a liberalização do mercado, a partir daquele ano os números do resseguro deram um salto.

Os prêmios emitidos aumentaram de R$ 4,5 bilhões para R$ 9,2 bilhões, chegando a 10,2% dos prêmios de seguro emitidos no país. Em ambos os casos, o crescimento a partir de 2010 foi contínuo.

Naquele ano, resoluções do Conselho Nacional de Seguros Privados passaram a exigir que pelo menos 40% do contrato fosse oferecido primeiramente a uma resseguradora local. Também foram criadas restrições ao repasse de contratos de resseguro para empresas de um mesmo grupo.

As medidas causaram alvoroço. Críticos disseram que elas limitavam o mercado, enquanto seus defensores elogiaram a preservação das empresas nacionais.

Posteriormente, o governo concedeu que 20% dos prêmios possam ser repassado a empresas de um mesmo grupo sediadas no exterior.

Mais produtos
As resoluções foram aplicadas logo após uma acentuada queda na participação das resseguradoras locais no faturamento geral do setor. Elas saíram de um patamar próximo a 90% do faturamento total em 2009 para menos de 50% em 2010. Após as medidas, as locais recuperaram algo do terreno perdido, ficando atualmente com uma parcela de cerca de 70%.

A receita obtida pelos diferentes ramos mostra que as resseguradoras conseguiram nos últimos anos uma certa diversificação e aumentaram sua penetração em alguns setores da economia.

O estudo da Terra Brasis mostra que o ramo patrimonial representa a maior fatia dos resseguros, com 34% dos prêmios em 2014 (contra 38% em 2012). O seguro agrícola teve um salto, passando de 7% para 12%. Já o ramo de riscos financeiros saiu de 10% para 11%, o de responsabilidades passou de 5% para 6%, enquanto o de transportes manteve seus 9% de participação.

Rentabilidade variável
O IRB Brasil RE, a empresa agora privatizada que até 2008 detinha o monopólio estatal do setor, é de longe a principal resseguradora do Brasil. Com quase a metade (49%) das receitas obtidas por todas as resseguradoras locais, a empresa é responsável por entre 80% e 90% do lucro no setor, graças a margens de rentabilidade significativamente maiores do que as da concorrência, aponta o levantamento.

A rentabilidade média entre todas as resseguradoras locais varia de 5% a 15% ao ano. Mas, se o IRB Brasil for excluído dessa conta, a média fica entre -5% e 5%.

O IRB Brasil garante sua rentabilidade pelos resultados de sua carteira de seguros e também gra-ças a ganhos tributários obtidos em anos recentes.

Seus concorrentes, porém, têm apresentado mais dificuldades para obter lucros. Dados da Susep compilados pela Terra Brasis mostram que, em 2013, um período de sinistralidade desfavorável para o setor, 9 de 14 resseguradoras locais fecharam o ano no vermelho. No ano passado, o número caiu para 5 entre 16 companhias.

Mão-de-obra
O nível de escolaridade do pessoal que trabalha com resseguro no Brasil surpreendeu o consultor. Um total de 90% dos profissionais que trabalham nas resseguradoras locais têm nível superior, e 49% completaram cursos de pós-graduação.

As 24 resseguradoras locais e admitidas que responderam ao questionário da Rating de Seguros somam 699 funcionários. O IRB Brasil é o maior empregador, com 371 colaboradores. Fora ele, pode-se dizer que uma resseguradora local típica tem de 20 a no máximo 30 funcionários; uma admitida tem entre três e cinco funcionários — sendo que 27% deles ocupam cargo de direção.




Perdas em alta ameaçam capacidade em D&O

Rosangela Tito, do IRB Brasil RE.
Rosangela Tito, do IRB Brasil RE.

O mercado de seguro D&O pode sofrer falta de capacidade no futuro próximo, de acordo com um membro do mercado do Lloyd’s.

Darren Powell, executivo da resseguradora Allied World, disse à Risco Seguro Brasil que recentes perdas registradas no Brasil, por exemplo entre as empresas envolvidas no escândalo da Petrobras, podem elevar os limites pedidos por clientes até níveis que o mercado local não será capaz de absorver.

A situação se complica porque a legislação brasileira de resseguros exige que ao menos 40% dos riscos de uma seguradora ou de um cliente que recorra diretamente ao mercado de resseguros sejam oferecidos primeiramente a resseguradoras locais.

Somente depois que ficar comprovado que não há apetite para tomar esta parcela do risco localmente é que uma parcela maior do que 60% pode ser transferido para os mercados globais, onde a capacidade é mais abundante.

“O que vai acontecer se você só consegue encontrar limites de no máximo US$ 150 milhões, mas necessita transferir US$ 500 milhões ao mercado de resseguros? Se você tem que encontrar um ressegurador local que fique com 40% deste risco, a operação pode não funcionar”, disse Powell.

Oportunidades
O resultado pode ser a criação de oportunidades para resseguradoras internacionais.

“Nós sempre vimos a linha D&O como uma oportunidade no Brasil, mas durante muito tempo não houve grandes perdas no segmento. Como resultado, os preços não estavam nos mesmos níveis dos Estados Unidos ou da Europa”, afirma o executivo.

Na opinião dele, porém, a situação está mudando, e a demanda por coberturas e limites mais elevados tende a se acelerar.

“O volume de pedidos de informação que temos recebido de clientes brasileiros tem aumentado muito na esteira do caso Petrobras. O mercado está muito mais consciente da necessidade de cobertura.”

Distorções
O caso Petrobras também está colocando em evidência algumas distorções que precisam ser corrigidas no mercado de D&O brasileiro, de acordo com especialistas.

Participantes de um debate no 4º Encontro do Resseguro organizado pela Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização, CNSEG, em abril no Rio de Janeiro, criticaram, por exemplo, práticas relaxadas de subscrição que por muito tempo persistiram no mercado.

Segundo os experts, apólices com abrangência de cobertura excessiva criaram situações em que mesmo réus confessos — uma vez que entraram em acordos de delação premiada — têm o pagamento dos custos legais discutidos para serem pagos.

Rosangela Tito, gerente de Riscos Financeiros no IRB Brasil Re, disse que o seguro D&O foi “banalizado” no Brasil e cobrou critérios mais rigorosos de subscrição.

Já Gustavo Galrão, superintendente de Linhas Financeiras da Argo Seguros, observou que a sinistralidade do seguro D&O atingiu níveis recordes no Brasil nos últimos meses e que a tendência parece que não vai se reverter no futuro próximo.

Caso as previsões se confirmem, o mercado viverá uma situação em que a demanda por seguro D&O estará em alta em um momento em que as perdas aumentam e os clientes pedem limites de coberturas mais elevados. Isso tudo ao mesmo tempo que as seguradores precisam adotar uma maior disciplina na hora de aceitar os riscos de seus clientes.