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Ataques em Paris mostram risco de terrorismo em alta

Os ataques do fim de semana em Paris mostram as mudanças por que vem passando o risco de terrorismo, o qual já não pode ser ignorado por empresas que possuem presença internacional.

A escolha da capital francesa como alvo dos ataques que mataram pelo menos 129 pessoas e feriram mais de 300 não é uma surpresa devido à ativa participação da França no combate ao Estado Islâmico, agrupamento que assumiu a autoria dos atentados.

Mas a eleição dos alvos revelou um nível de arbitrariedade que destoa de estratégias mais tradicionais utilizadas por grupos terroristas.

Os bares e restaurantes visados pelos terroristas não possuem um caráter simbólico relevante como a revista Charlie Hebdo e o comércio judaico que que foram alvos em janeiro deste ano também em Paris, ou as Torres Gêmeas do World Trade Center, atacadas em 2001.

Tampouco são estruturas capazes de causar um caos generalizado como os trens de subúrbio visados em Madrid em 2004 e o sistema de metrô de Londres, atacado em 2005.

Analistas observam que o Estado Islâmico procura deixar claro, através da matança indiscriminada de grandes quantidades de pessoas, que ninguém está a salvo de suas ações, e assim fomentar a rejeição, pela opinião pública, a campanhas contra o grupo.

Ao mesmo tempo, utiliza uma sofisticada estrutura propagandística para atrair novos militantes e possui notável capacidade técnica, como revelado pelo padrão dos explosivos usados pelos militantes suicidas no fim de semana, e significativo músculo financeiro.

Por isso, com a inevitável reação a ser desenvolvida pela França e seus aliados contra o grupo no norte da África e no Oriente Médio, é bem provável que os ataques aconteçam com maior frequência no futuro próximo.

“Com o mesmo modus operandi ou não, é de se esperar que haja novos atentados”, disse ao jornal Les Echos o ex-juiz Marc Trévidic, um especialista em terrorismo islâmico na França.

Destinos de risco

As empresas que possuem unidades em países onde o risco de terrorismo é elevado devem portanto estar atentas para os possíveis efeitos de ataques terroristas sobre seus negócios.

Os alvos mais óbvios são os países do Oriente Médio e Norte da África onde o Estado Islâmico e outros grupos fundamentalistas estão envolvidos em conflitos armados de longa duração, como a Síria, a Líbia e o Iraque, ou que os abrigam, como o Líbano. Na semana passada, 44 pessoas morreram em um ataque a bomba em Beirute também atribuído ao grupo.

Países ocidentais engajados diretamente na luta contra o Estado Islâmico, como a França, tendem a ser visados pelas ações do grupo. Prova disso é que o Estado Islâmico também clamou responsabilidade pela queda de um avião russo no começo de novembro, depois que a Rússia intensificou seus bombardeios contra o grupo na Síria.

Os Estados Unidos, o Reino Unido e a Turquia são outros exemplos de países que estão em campanha contra o Estado Islâmico. Outros, como a Espanha, que possui regiões que são considerados partes do mundo islâmico por grupos radicais, também constituem alvos em potencial. O mesmo vale para nações com grandes populações muçulmanas em estado de conflito com outros grupos religiosos, como a Indonésia, a Índia e, uma vez mais, a Rússia.

Eventos esportivos apresentam atrativas oportunidades de exposição para os grupos terroristas, como refletido pela escolha do estádio de futebol de Saint-Denis como um dos alvos dos ataques do fim de semana. Motivo porque o risco de ataques contra as Olimpíadas de 2016 no Rio Janeiro é visto como real por muitos especialistas.

Efeitos nas empresas

Os ataques terroristas também podem afetar os negócios das empresas tanto direta quanto indiretamente.

Em um guia sobre o tema, a resseguradora Catlin (agora parte da XL) explica que a gestão do risco de terrorismo implica uma série de aspectos, a saber:

– a identificação de fontes potenciais de ações terroristas;
– identificação dos riscos de ataques e suas consequências;
– definição da exposição de empregados, clientes e visitantes à estrutura física da empresa;
– estimativa do potencial de danos físicos e de contaminação resultantes de um ataque;
– temas relacionados à responsabilidade social corporativa.

Já a atividade de uma empresa pode ser afetadas através de:

– danos direto a seus bens e propriedades;
– danos colaterais resultantes de atos ocorridos em propriedades vizinhas;
– interrupção do acesso à empresa;
– interrupção de faturamento;
– transtorno às cadeias de suprimento;
– risco reputacional;
– fragilização do balanço da empresa.

Companhias que trabalham em setores como a energia, transportes, finanças e outras infraestruturas críticas são consideradas como mais expostas ao risco de terrorismo. Mas negócios capazes de simplesmente atrair uma grande quantidade de pessoas, como bares, restaurantes e casas noturnas, também apresentam risco.

Dependendo da sua exposição, a empresa deve tomar medidas como a garantia de continuidade de negócio em caso de ataque (a si mesma ou a parceiros-chave), a elaboração de planos de contingência para a evacuação de pessoal, a criação de uma estratégia de mídia para a eventualidade de um ataque e a implementação de sistemas de segurança para controlar o acesso de visitantes às premissas da empresa.

A reação aos atos do Estado Islâmico também podem ter efeitos mais corriqueiros, mas ainda assim reais, para as empresas que possuem negócios no exterior.

Por exemplo, os controles de entrada e de saída nas fronteiras, assim como de embarques em aviões, tendem a ficar cada vez mais estritos. Documentação em ordem e paciência se tornam mais fundamentais do que nunca para uma bem-sucedida viagem de negócios.

Seguros

Em muitos casos, também se pode recorrer ao mercado de seguros para transferir parte do risco. A capacidade alocada ao segmento está crescendo nos últimos anos, com as tarifas baixando como resultado, de acordo com corretores, apesar de uma frequência significativa de ataques.

Mas não é em todos os países que apólices específicas de seguro contra terrorismo se fazem necessárias. Mercados como a Espanha, o Reino Unido e a própria França possuem sistemas de mutualização do risco, nos quais um fundo manejado pelo Estado assume a responsabilidade pelas indenizações. Os fundos são geralmente custeados por uma taxa obrigatória agregada aos prêmios de seguro de bens e propriedades.

Após os ataques de 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos também criaram um programa de seguro de terrorismo, conhecido como TRIP, que tem sido constantemente renovado pelo Congresso do país. O atual prazo de validade do programa é 2020.

 




Empresa identifica 90 milhões de ciberataques em 3 meses

Uma empresa especializada em segurança virtual americana afirma ter identificado 90 milhões de ciberataques contra seus clientes – e isso só no terceiro trimestre deste ano.

Em um relatório que ressalta o crescimento dos risco cibernético em uma economia cada vez mais globalizada, a ThreatMetrix afirma o número é 20% maior do que o registrado entre abril e junho de 2015.

O aumento é ainda maior entre as empresas de e-commerce, alvo de metade dos ataques registrados pela ThreatMetrix, em um crescimento de 25% comparado ao período anterior.

O número ganha ainda mais peso considerando que o terceiro trimestre é tradicionalmente um período mais lento para as vendas de varejo nos Estados Unidos, opina o relatório.

A empresa atribui o aumento dos ataques à maior sofisticação das gangues de cibercriminosos, além da crescente disponibilidade de dados de clientes que estão sendo armazenados pelas empresas.

“A maioria dos ataques que observamos foram na área do e-commerce, utilizando robôs ‘low-and-slow’ que driblam as defesas de segurança tradicionais”,  disse Vanita Pandei, diretora da ThreatMetrix. “Os varejistas devem permanecer vigilantes no que se refere à proteção de identidades virtuais.”

Como clientes

Os chamados ataques “low-and-slow” (que pode ser traduzido como ‘suave e lento’) utilizam programas que utilizam os processos normais de registro de clientes das empresas para ingressar em seus sistemas.

Eles visam as páginas de log in, tentando roubar as identidades de clientes que se registraram anteriormente. Dessa maneira, penetram nos sistemas por meio do tráfego lento de informações que caracterizam as atividades mais corriqueiras realizadas pelas companhias por meio da internet, explica a ThreatMetrix no relatório.

Com isso, conseguem enganar boa parte dos dispositivos de segurança, que são programados para identificar ataques massivos e súbitos que visam o roubo de uma grande quantidade de informação de uma só vez – e que são os que geralmente acabam nas manchetes do noticiário.

O problema é especialmente agudo para os varejistas, segundo o documento, já que eles não têm como obrigar seus clientes a utilizar sistemas mais robustos de proteção virtual, diferentemente, por exemplo, dos bancos.

Mas os bancos também enfrentam uma ameaça em mutação, de acordo com o relatório, uma vez que é cada vez maior a quantidade de ataques através de suas páginas de log in e de pagamentos, em detrimento da abertura de novas contas.

Os ataques a páginas de log in, entre todos os tipos de empresas, identificados pela ThreatMetrix aumentaram 30% em comparação com o trimestre anterior.

A empresa afirma ainda que o Brasil está entre os 20 maiores países de onde partem ataques cibernéticos do mundo, e um dos cinco maiores no que se refere a fraudes contra empresas nos Estados Unidos.




Após tragédia, Câmara vai analisar 4º projeto de seguro para barragens

A Câmara dos Deputados vai analisar em regime de urgência o quarto projeto de lei a tramitar pela Casa prevendo tornar obrigatório o seguro para barragens.

A proposta mais recente é de autoria do deputado Wadson Ribeiro (PCdoB-MG) e foi apresentada no dia 10 de novembro, cinco dias após o rompimento de duas barragens da Samarco em Mariana (MG).

Ele obteve assinatura dos líderes dos principais partidos da Casa, o que garante a tramitação emergencial. A expectativa no seu gabinete é de que a comoção e cobranças decorrentes das mortes, destruição e prejuízos causados pelos desastre pressionem pela apreciação do texto.

O rito está nas mãos do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Ele precisa definir três deputados para darem pareceres sobre o projeto, sobre aspectos de meio ambiente, financeiro e constitucional.

Se os pareceres forem favoráveis, o texto é submetido ao plenário. Se aprovado, segue para o Senado. Caso a casa mantenha o conteúdo, o último passo é a sanção da presidente Dilma Rousseff. Se mudar, volta para Câmara.

De acordo com o jornal Valor Econômico, também está em análise a ideia de inserir a obrigatoriedade de seguro ambiental no novo Código de Mineração, que está em tramitação no Congresso. O jornal também relata que seguradoras costumam recusar coberturas ambientais a mineradoras devido ao elevado risco envolvido.

Histórico

O mesmo tema já foi tratado em outros três projetos de lei pela Câmara. Segundo Marcos Tenório, chefe de gabinete do deputado e coautor do projeto atual, todos foram arquivados sem terem sido apreciados por todas as comissões que deveriam — normalmente, são três.

O primeiro foi apresentado em 2004; o segundo, em 2007; e o terceiro, em 2013. Este último não teve nenhum parecer, segundo Tenório. O de 2007 foi arquivado em 5 de novembro, mesmo dia do desastre em Mariana.

Uma hora vai

O projeto atual versa praticamente sobre o mesmo conteúdo dos anteriores, diz Tenório. O objetivo principal é assegurar o ressarcimento por danos que venham a ser causados por barragens às pessoas, ao patrimônio e ao meio ambiente.

Vale para todo tipo de barragem, de água, rejeitos industriais ou de esgoto sanitário. São cerca de 15 mil no país.

Segundo consultor de risco Gustavo da Cunha Mello, o seguro seria importante porque muitas empresas responsáveis por essas estruturas vão à falência depois de um acidente ou desastre, o que compromete o ressarcimento de danos. Há casos que se arrastam na Justiça por anos.

Na quinta-feira, a presidente Dilma Rousseff, que visitou a área do desastre, afirmou que a Samarco terá que pagar uma multa de R$ 250 milhões por danos ambientais causados pelo rompimento das barragens. Custos de limpeza e recuperação das áreas atingidas, além de indenizações à vítimas, devem levar o custo a patamares bem superiores, de acordo com especialistas.

As estruturas, por sua vez, inspiram cuidados. Segundo a Fundação de Meio Ambiente de Minas Gerais, o estado tem 35 barragens operando sem o nível adequado de segurança. Só no estado, são 750 barragens para despejo de resíduos.

A fiscalização no Brasil também deixa a desejar. De acordo com a Agência Nacional de Águas, apenas 5,7% das barragens passaram por vistoria entre 2012 e 2014.

Diante desse quadro, os acidentes ou desastres são constantes. Minas Gerais registrou pelo menos três desde 2001 — dois deles com mortes e grandes danos.

Tenório cita como exemplo outros três casos ocorridos no Pará somente em 2009.

Atropelo

De acordo Tenório, o gabinete de Wadson Ribeiro vinha trabalhando no projeto há meses e pretendia apresentá-lo um pouco mais à frente. Mas a tragédia fez o deputado cortar etapas.

O chefe de gabinete diz que não foram ouvidas outras instituições — ligadas ao seguro ou ao meio ambiente, por exemplo — para confecção da peça. Ele acredita, no entanto, que o texto possa receber sugestões durante o processo de tramitação.

Além da comoção em torno do assunto, Tenório acredita que a força da bancada de Minas Gerais, palco do desastre, também vai ajudar a fazer o projeto andar. “Há um acúmulo de discursos no plenário sobre esse assunto”, diz ele.




‘Iniciativa da Amcham ajuda a diminuir gaps de mercado’

Marcia Santos Ribeiro, especialista seguros da Light
Marcia Santos Ribeiro, da ABGR e da Light (Foto: Carlos T. Mizumoto/ABGR)

A iniciativa da Câmara de Comércio Americana do Rio de Janeiro (Amcham) de incluir os compradores de seguros no Comitê de Seguro, Resseguro e Previdência da organização é um passo importante para desenvolver melhores práticas e produtos de seguros, na avaliação de Marcia Ribeiro Santos, especialista em seguros da Light e membro do grupo.

O fórum tem a participação de agentes do mercado e instituições do setor, podendo se tornar um importante canal para auxílio na promoção de mudanças. “A iniciativa da Amcham-RJ foi excelente para os compradores”, disse ela.

A especialista, que também faz parte da Associação Brasileira de Gerência de Riscos (ABGR), vê no estreitamento da distância entre seguradores e compradores um fator fundamental para diminuir os “gaps que possam inibir a viabilização de soluções inovadoras” no setor.

Essa é umas das principais demandas dos gestores de riscos, que muitas vezes têm expectativas em relação a produtos com características de cobertura mais ajustadas ao perfil e risco.

Para Ribeiro, porém, relações de parceria “ganha-ganha” levam tempo para serem bem construídas.

“A maior aproximação entre os principais atores do mercado segurador propiciará o entendimento sobre as possibilidades de desenvolver melhores produtos”, avalia ela. “O foco é manter a relação ativa. Por outro lado, também é necessário conhecer a real aplicabilidade da gestão de riscos para o fortalecimento e com isso se desenvolver produtos aderentes e custos diferenciados.”

Ela lembra que “proximidade é uma das práticas mais comuns entre as empresas, pois o desenvolvimento de retenção de clientes está interligado a qualidade do atendimento e vantagens competitivas oferecidas pelas companhias”.

De acordo com Ribeiro, há vários exemplos de relacionamento de longo prazo que resultaram em aperfeiçoamento no relacionamento, produtos e custos. “Mas para isso é necessário amadurecimento da relação”, afirma, notando que esse é um processo que pode levar tempo para ser construído.

Temas

Como forma de fazer catalisar o processo, Ribeiro pretende discutir no comitê questões que são caras aos gestores de riscos das empresas brasileiras.

Uma de suas ideias será a de apresentar ao grupo bons exemplos que já foram desenvolvidos no setor.

“São temas ligados aos riscos intrínsecos do cliente, maior participação do mercado, com maior participação nos eventos, apresentação de cases, produtos com maior aderência e soluções inovadoras.” E as dificuldades serão abordadas da mesma maneira.

Outra forma de expandir a participação dos gestores de risco será ampliar a participação deles nas reuniões do comitê da Amcham. Novos participantes, diz Ribeiro, serão presença pontual nas reuniões de grandes compradores de seguro.

“É notório o quanto a atuação mais firme e abrangente dos gestores de risco pode fazer diferença”, diz ela. “O comitê tem como um dos principais focos o desenvolvimento da cadeia de fornecimento e integração com os compradores. Nesse sentido será uma convergência de interesses.”

Para Ribeiro, a iniciativa da Amcham-RJ é mais uma amostra da crescente participação dos gestores de riscos no mercado.

“O movimento dos gestores de risco está tomando proporções maiores e, consequentemente, a valorização do profissional está mais forte. É um caminho sem volta.”




Samarco terá que pagar pesados custos de ressarcimento, diz consultor

Gustavo Mello, da consultoria Correcta.
Gustavo Mello, da consultoria Correcta.

As causas exatas do rompimento das barragens da Samarco em Mariana (MG) dependem das investigações. Apesar de ainda ser cedo para dizer se houve falha no gerenciamento de risco,  é certo que a companhia mineradora vai ter de arcar com ressarcimentos que chegarão facilmente à cifra de muitos milhões de reais.

A avaliação é do especialista e consultor em gerenciamento de riscos Gustavo da Cunha Mello, diretor da consultoria Correcta. Relatório do Citi, citado pelo jornal Valor Econômico, estima em “centenas de milhões de dólares” os custos para retomar a produção e arcar com compensações sociais e ambientais.

Na quinta-feira, 12/11, a presidente Dilma Rousseff anunciou que o Ibama pedirá multa de R$ 250 milhões para a companhia.

“Não dá pra dizer nem sim nem não ainda”, afirmou, em entrevista à Risco Seguro Brasil, sobre eventuais falhas da empresa. “Mesmo que se venha a descobrir, depois das investigações, que o acidente foi um fato aleatório, independente de ação da empresa, há, sem dúvida nenhuma, a responsabilidade objetiva da empresa por manter, cuidar e assumir o risco pela barragem”, diz ele. “Como a barragem causou dano a terceiros, ela vai ter de pagar sem a menor dúvida.”

“Vão ter de ser feitos vários testes na região para saber qual a extensão do dano ambiental. Isso demora anos”,  afirma o especialista. “Mas o gerenciamento de risco de mais curto prazo, dos motivos que levaram ao rompimento, isso é mais rápido. Uma coisa difícil vai ser é o acesso a todas as informações, de quanto resíduo havia ali. Talvez o Ministério Público tenha de ver isso.” O MP de Minas Gerais já abriu investigação sobre o caso e pretende agir por mudanças na lei das barragens. O órgão considera que “houve negligência” no episódio.

A tragédia em Mariana está sendo considerada o maior desastre ambiental de Minas Gerais (veja vídeo). A empresa deu licença remunerada para 85% (2.500 pessoas) dos funcionários.

Danos

A lista de danos é extensa e potencialmente trágica e custosa. E vai além de Mariana. A lama deve chegar até o Espírito Santo.

Houve pelo menos oito mortes e 19 pessoas ainda estão desaparecidas na região do desastre. Os danos materiais incluem moradia das 600 famílias atingidas. Todas terão de ter suas casas reconstruídas. No tempo em que isso demorar para ser feito, será preciso arcar com a moradia dessas pessoas. Há também a questão de lucro cessante para elas. Mello lembra que boa parte dos moradores ganhava a vida com pequenas plantações, agora devastadas. Isso precisará ser ressarcido. Não sobrou muita coisa em pé no distrito.

O dano ambiental deverá ter atenção especial. A Samarco informou que a barragem era composta por material inerte “composto, em sua maior parte, por sílica (areia) proveniente do beneficiamento do minério de ferro e não apresenta nenhum elemento químico que seja danoso à saúde”. A questão do “em sua maior parte” deixa aberta a possibilidade de uma parte ser tóxica.

De acordo com Mello, é possível que haja apenas material inerte. “Mas não é o que se observa em outras minerações. Quando se faz o beneficiamento do ferro, não se coloca só sílica, mas outros elementos químicos, que não são inertes. Muitos são inertes, mas tem um porcentual que não é. Até por isso que tem a barragem. Se fosse tudo inerte poderia ir descartando na natureza.”

Segundo ele, há no país cerca de 520 barragens de rejeitos de minério, algumas delas com capacidade para 1 bilhão de litros (o equivalente a 400 piscinas olímpicas).

Avisos

Há pelo menos dois alertas de que a situação da barragem em Mariana pedia cuidados. Duas das quatro barragens do complexo estavam no limite, segundo documentos do Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais, aos quais Mello teve acesso.

Por isso, a Samarco pediu em 2014 licença prévia para para construir mais duas barragens na região. O projeto, no entanto, ainda não havia sido iniciado.

A respeito à manutenção das barragens, a empresa mineradora assegura que cumpriu todas as exigências legais. Ela informa que a última inspeção foi feita em julho deste ano e não apontou nenhuma irregularidade.

Um laudo técnico feito em 2013 a pedido do Ministério Público de Minas, no entanto, apontou que uma delas tinha risco de rompimento.

Histórico

Problemas com barragens, que podem causar extensos danos às comunidades, resultaram na criação de uma lei específica no Brasil – a 12.334, de 2010.

A lei  não estabelece a periodicidade com que elas precisam ser monitoradas. Mas considera crime caso o responsável não zele pela manutenção adequada e garanta a segurança da instalação.

As punições pelo descumprimento, explica Gustavo de Mello, são as mesmas previstas para os crimes ambientais e vão desde suspensão das atividades e multa até prisão dos responsáveis.

Funções

A barragem abriga água e os materiais de descarte vão se acumulando no fundo (clique aqui para ver o vídeo do momento do rompimento). Uma de suas funções é justamente fazer essa separação. Existe uma “auto-limpeza”, que ocorre com a evaporação da água. Se o volume que evapora é maior do que o quem entra da produção de minério, a barragem dura mais. Mas chega uma hora em que a lama do fundo vai atingir um nível que força a aposentadoria daquela barragem. “Aí é tampar e pronto”, diz Mello.

A vida útil varia muito, dependendo do material e volume que é depositado em cada barragem. Mas normalmente a duração é de muitos anos.




Risco ambiental se intensifica e demanda por seguro cresce

Nathália Gallinari, da AIG.
Nathália Gallinari, da AIG.

As empresas brasileiras estão cada vez mais expostas a sofrerem punições relacionadas à poluição e desatenção com meio ambiente, motivo pelo qual as apólices de seguro para riscos ambientais estão crescendo no país, disseram especialistas reunidos em São Paulo.

O exemplo mais recente do tamanho deste risco ocorreu com o rompimento da barragem em Mariana (MG), na quinta-feira (5/11), que atingiu a comunidade de Bento Rodrigues.

Participantes de um painel sobre o tema durante o XI Seminário de Gerência de Riscos e Seguros, no final de outubro, observaram porém que poucas empresas ainda oferecem esta cobertura no Brasil, ainda que o número deva aumentar no futuro.

Gestores de risco que participaram do mesmo painel observaram porém que os preços das coberturas para riscos ambientais são elevados no Brasil. Em resposta, os seguradores presentes argumentaram que os custos de não ter uma apólice em vigor em caso de sinistro compensam o investimento.

“Pelo potencial de danos que pode trazer para a empresa, não é um produto caro”, disse Nathália Gallinari, coordenadora de Responsabilidades Ambientais da AIG.

“Os valores das penalizações são muito altos”, concordou Fábio Barreto, subscritor sênior de Meio Ambiente da ACE. “O próprio resultado da empresa pode ser comprometido.”

Eles também afirmaram que os preços podem cair na medida em que mais atores entrarem neste segmento, incrementando a oferta no setor.

Oferta restrita

Atualmente há apenas sete seguradoras operando no segmento de riscos ambientais no Brasil, e apenas três delas oferecem todos os três tipos de apólices utilizadas para transferir este risco, conhecidas pelas siglas em inglês PPL, CPL e TCL.

Mas os participantes do painel disseram que a oferta deve se ampliar com a maior conscientização das empresas brasileiras com relação à severidade do risco. Em 2014, o volume de prêmios no segmento aumentou 150%, e a expectativa para este ano é de um incremento de 50%.

O aumento da demanda reflete a intensificação do risco, em grande parte associado a novas legislações ambientais adotadas nos últimos anos no Brasil.

Além disso, de acordo com os especialistas, os órgãos fiscalizadores estão cada vez mais firmes, autuando as empresas com frequência crescente.

Outro motivo por trás do incremento da demanda tem sido a exigência de coberturas para riscos ambientais por parte de investidores e financiadores de projetos.

Este tipo de exigência deve seguir em alta porque a legislação permite a responsabilização de empresas mesmo quando o dano ambiental é cometido por terceiros, em casos em que há alguns tipos de relação comercial entre as partes.

Exposição generalizada

Os especialistas alertaram contra a complacência por parte de empresas que acreditam não estar expostas a qualquer tipo de risco de poluição.

De acordo com eles, os riscos podem estar presentes não só na atividade direta de uma empresa, mas também na ação de sua cadeia de suprimentos ou parceiros nas áreas de transporte e outras atividades complementares.

“Todas as empresas possuem exposições relacionadas a questões ambientais. Algumas podem não ter entendido quais são as suas exposições”, disse Gallinari.  “Todos os segmentos da indústria e dos serviços enfrentam o risco.”

Ela também alertou que apólices de responsabilidade civil que trazem cláusulas relativas à contaminação súbita muitas vezes não são suficientes para cobrir os danos causados por eventos ambientais.

Do lado positivo, algumas coberturas já incluem, em certos casos, proteção contra riscos pré-existentes – por exemplo, no caso em que uma instalação física adquirida por uma empresa apresenta contaminação derivada de ações realizadas pelo proprietário anterior.

Não é algo que todo segurador vai aceitar cobrir hoje em dia e que depende, por exemplo, do processo de due dilligence realizado pelo cliente antes da aquisição.

Mas os especialistas disseram que este tipo de cobertura deve ganhar espaço no mercado, a exemplo do que já está acontecendo nos Estados Unidos.

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Clique aqui para acessar a apresentação de Nathália Gallinari, Fabio Barreto e Marco Antonio Ferreira, da Sustenseg,  no seminário.




Clausulado imposto pela Susep é ‘tecnicamente atrasado’

Walter Polido
Walter Polido, advogado especializado em seguros (Foto: Carlos T. Mizumoto/ABGR)

Você acha que o setor de seguros corporativos brasileiro tem suas falhas? É bem provável que tenha razão. Neste caso, não é difícil identificar o culpado pelo atraso, segundo o advogado Walter Polido: trata-se de todo o mercado.

Em palestra realizada durante o XI Seminário Internacional de Gerência de Riscos e de Seguros, em São Paulo, Polido fez duras críticas à Susep, às seguradoras nacionais e estrangeiras e até mesmo aos compradores de seguros, que, em sua opinião, muitas vezes estão mais preocupados em obter um preço baixo do que uma boa cobertura.

O advogado, que também é árbitro da Câmara de Conciliação, Mediação e Arbitragem da Fiesp, descreveu os clausulados dos contratos de seguro como “coisa de país tecnicamente atrasado” e criticou a falta de técnicas de subscrição no país. “É tudo no olhômetro”, afirmou durante o seminário organizado pela Associação Brasileira de Gerência de Riscos (ABGR).

Polido se autodescreveu durante a palestra como uma das poucas vozes que se levantam para ressaltar as deficiências de um setor que, em sua opinião, não está evoluindo como deveria no Brasil. Leia abaixo as principais observações feitas pelo advogado:

Clausulados confusos

“Hoje, os modelos de clausulados comercializados pelas seguradoras nacionais e multinacionais no Brasil atendem de forma eficaz os segurados? Tem gente que responde que sim, que ainda defende o status quo do mercado. Eu gostaria que essas pessoas pudessem me explicar o volume expressivo de ações judiciais contra seguradoras existentes no país. A demora excessiva e o fator incerteza sempre presentes nos processos de regulação de sinistros, especialmente os grandes sinistros. Às vezes são necessários oito meses, quase um ano para a seguradora se manifestar se um sinistro é coberto pelo seguro ou não. Isto é um absurdo.”

“Isso acontece pela má elaboração dos clausulados hoje existentes. Hoje, se você vai para uma reunião de sinistros, a sala tem que ser muito grande. Não pode ser em qualquer lugar, porque vão participar umas 20 pessoas, ou mais. Cada ressegurador vai levar seu advogado, seu loss adjuster. Parece que um não confia no outro. E cada corretor, cada seguradora envolvida vai estar presente. Isso porque existe uma falta de confiança nos clausulados.”

Cláusulas absurdas

“Eu dou muito parecer sobre sinistros, mas há cláusulas que eu às vezes leio dez vezes, dou para outra pessoa ler e tentar me explicar o significado, e muitas vezes eu não consigo entender o espírito da coisa.”

“Hoje eu pego casos de sinistros, por exemplo em RC, e além das condições gerais, há mais umas dez condições especiais, e 39 cláusulas particulares. Isso é absurdo. É coisa de país tecnicamente atrasado.”

Muito comercial e pouco técnico

“As seguradoras internacionais não usam no Brasil os mesmos clausulados que em seus países de origem. E por que isso? Por que o segurado não cobra. E nós temos um Estado com visão estúpida e despreparada, de gente que ainda vive no século 19 em matéria de seguros.”

“O Estado teve um papel muito grande no mercado durante os quase 70 anos do monopólio do resseguro. Isso desgastou o mercado. Mas eu não vou jogar todas as culpas no IRB, mesmo porque trabalhei lá por 23 anos e sempre cobrei que as seguradoras apresentassem ideias, e a grande maioria não apresentava. Todas cresceram muito à sombra do IRB, incluindo as multinacionais.”

“Hoje nós somos um mercado altamente comercial e pouco técnico, os corretores em geral reclamam que não existe ninguém com quem conversar sobre uma cláusula, uma linha, uma situação nova de risco dentro de uma seguradora.”

Paternalismo tupiniquim

“Há um grande paternalismo do Estado em uma área que requer grande especialização técnica. A Susep não tem que ser especializada em D&O, em riscos de engenharia. Ela botou agora em audiência pública que vai padronizar os riscos de engenharia no Brasil. Isso é coisa de gente atrasada, fora da realidade. Isso não existe em país sério. O mundo inteiro usa o padrão Munich Re em riscos de engenharia. Quem é a Susep para criar um clausulado tupiniquim para o segurador que vai reter muito pouco do risco inclusive e que o ressegurará em grande parte com os internacionais?”

“E então as seguradoras se movimentam. A Fenseg movimenta comissões para analisar o padrão apresentado pela Susep e sugerir melhorias. Ora, não tem que sugerir melhorias. Tem que sugerir que a Susep cumpra o papel dela, que é fiscalizar a provisão técnica e a reserva de sinistros das seguradoras. Não é o papel dela sugerir produtos para o setor privado.”

“A elaboração do produto padronizado é para seguradora desqualificada se esconder. Se eu não quero investir em empregados, não quero pagar bons salários, não quero preparar um corpo técnico decente, eu uso o produto padronizado da Susep.”

“Vivemos um momento de estagnação dos modelos há décadas, e as seguradoras utilizam isso sem ficar com vergonha. O Brasil não está integrado às boas práticas de seguros que existem no mundo. Está na hora das seguradores trazerem os clausulados que possuem nos Estados Unidos, na Alemanha, na Espanha.”

Seguros singulares

“A Susep fulminou o que ela chama de seguros singulares. Isso é o máximo do despreparo e da incapacidade do Estado. Ela tentou fulminar o que é inerente à nossa atividade, que é a subscrição de riscos.”

Inexperiência no mercado

“É preciso dar um jeito nesta ausência total de técnicas de subscrição. Nós não temos técnicas aqui no Brasil. É tudo no olhômetro. As seguradoras também não sabem regular sinistros, não preparam as pessoas.”

“Nós precisamos de especialização dos subscritores. A seguradora precisa de profissionais preparados para realizar esta tarefa. Nós estamos em uma fase de transição no mercado, onde as pessoas com mais experiência estão saindo, e muitos jovens estão assumindo cargos de projeção nas empresas. Hoje todo mundo é senior underwriter com 24 anos de idade. Isso é ridículo. A seguradora precisa preparar esta gente. Precisa mandar para a matriz no exterior, para ver como são as coisas em um mercado civilizado e depois trazer a boa ideia aqui para o Brasil.”

Comprador merece o que recebe

“Um reflexo de tudo isso é que há uma maior seleção de riscos no mercado. Cada vez mais, grandes riscos já não são aceitos em algumas atividades, e isso vai continuar. E tem muito segurado que não merece ser segurado, e não o será.”

Resseguro local

“Resseguro local é coisa de país atrasado. Resseguro é internacional. Nós precisamos de capacidade, e não de capital nacionalizado.”




Gestão de riscos em alta reúne mais de 2.000 pessoas em São Paulo

Os gestores de riscos brasileiros participaram nesta semana em São Paulo de sua 11ª conferência em um momento em que sua voz está sendo mais ouvida no interior das empresas.

É o que afirma Cristiane Alves França, a presidente da Associação Brasileira de Gerência de Riscos (ABGR), instituição que organiza o evento.

O XI Seminário Internacional de Gerência de Riscos e Seguros reuniu cerca de 2.000 pessoas na sede da Amcham, na capital paulista, entre gestores de riscos, seguradores, corretores e outros profissionais do setor.

Eles discutiram vários dos temas-chaves para a profissão, incluindo assuntos presentes no noticiário como a crise hídrica, os seguros para fusões e aquisições, as coberturas D&O, a consolidação do mercado de seguros, a gestão da saúde dos funcionários da empresa, as perspectivas para a economia brasileira, riscos climáticos e os programas internacionais de seguros.

Uma pauta variada de temas que interessam as empresas e que cada vez mais caem no âmbito de responsabilidades dos profissionais que tratam da gestão de riscos empresariais. Um grupo que, para Alves, vem ganhando peso nas empresas nos últimos anos.

Isso porque os altos executivos estão tendo que prestar mais atenção a uma área que, em outros tempos, não representava necessariamente uma prioridade.

Empurrãozinho da crise

“A crise, neste sentido, foi positiva”, afirmou Alves em entrevista à Risco Seguro Brasil. “Hoje há uma percepção maior do risco entre as empresas.”

Ela acrescentou que não só o gestor de riscos ou o diretor de seguros estão se preocupando com o tema. Na verdade, o profissional tem trabalhado com todos os departamentos das organizações com o objetivo de identificar e mitigar riscos.

“Sempre foi complicado levar para dentro da empresa a necessidade da gestão de riscos”, disse a presidente da ABGR. “Mas eu tenho notado que, no atual momento difícil em que a gente está vivendo, as empresas estão mais preocupadas em fazer o seguro de crédito, o seguro de garantia. Está havendo um envolvimento de todas as áreas dentro da empresa e  isso recaindo sobre o gestor de riscos e seguros. É um processo que está começando a se espalhar para além das empresas grandes.”

Até mesmo eventos que causam transtornos a muitas companhias no curto prazo estão tendo um efeito salutar no que diz respeito à governança corporativa. “A questão da Lava Jato ressaltou como é importante fazer a gestão de riscos relacionados ao compliance, à parte financeira da empresa”, disse Alves. “De uma certa forma o gestor de risco também participa deste processo.”

Ela acrescentou: “É preciso conversar com o pessoal do departamento financeiro, com a área legal, com todas as áreas da empresa, para mapear os riscos e identificar onde existe exposição, o que se deve monitorar ou o que exige que se tome uma ação.”

ABGR

Dentro deste contexto, a ABGR está trabalhando para disseminar a cultura do risco e aprimorar os processos de gestão empresarial.

“A função da ABGR é educar o gestor de riscos, trazer o que há de mais avançado lá de fora para o Brasil”, observou.

O desafio para a associação é cumprir esta tarefa em um país de dimensões continentais como o Brasil. Com sede em São Paulo, a ABGR já possui membros e representantes em outros estados, como o Rio de Janeiro, Paraná e Bahia. O objetivo é conseguir mais associados que levem a mensagem a outras partes do país.

“O Brasil é um país muito grande”, disse Alves. “Nós queremos encontrar pessoas que façam em outros Estados o que já fazemos em São Paulo.”

Ela notou que é importante estar em contato com as empresas em todo o país até porque os desafios enfrentados por elas podem variar amplamente de acordo com a região onde elas estão sediadas.

“Em Santa Catarina, por exemplo, as empresas do setor têxtil sofrem muito com seguro negado”, mencionou Alves como exemplo. “Muitas vezes isso pode ser porque elas são atendidas por corretores menores, que tudo o que fazem é apresentar uma proposta aos seguradores.”

A associação recentemente reformou sua estrutura de governança, incluindo a contratação de um secretário-executivo para agilizar a organização de iniciativas que promovam a gestão de riscos no país.

“Queremos fortalecer o nome da ABGR e tornar a associação mais presente dentro de empresas que hoje ainda não são associadas.”

Hoje há cerca de 260 empresas associadas à instituição, um número que varia um pouco de um ano para outro, mas que em geral está aumentando, segundo a presidente.

Mercados

Uma das funções da ABGR é se comunicar com o mercado para desenvolver as coberturas de seguros que as empresas necessitam.

No entanto, na opinião de Alves, que também é a gerente de riscos da CSN, o mercado tem feito escasso progresso nesta área no Brasil. “Houve pouca evolução,” disse ela.

A presidente da ABGR reconheceu que as seguradoras enfrentam problemas como as dificuldades de aprovar clausulados na Superintendência de Seguros Privados (Susep) o que torna mais difícil a oferta de coberturas que contemplem as necessidades específicas de grandes compradores.

Mas ela também disse que talvez esteja na hora de os próprios clientes fazerem um trabalho mais intenso neste sentido junto aos seus subscritores.

“Antes a gente acreditava que era uma questão de pedir às seguradoras que batessem na porta da Susep e tentassem aprovar as mudanças necessárias”, afirmou. “Agora eu estou achando que é a gente mesmo quem tem que fazer isso. Talvez as próprias seguradoras, por tentar e ver que não há evolução, tenham parado um pouco. É o caso portanto de a gente exigir isso das seguradoras.”

Ela também expressou dúvidas a respeito da entidade supervisora, uma preocupação compartilhada por vários palestrantes nos três dias do evento.

“Não sei se quem está hoje na Susep entende de seguros”, disse ela. “Não me refiro a quem está nos cargos de liderança, mas às pessoas que fazem o trabalho do dia-a-dia.”




Saúde de funcionário ‘exige gestão integrada da empresa’

Mauricio Vinhão, da Willis
Mauricio Vinhão, da Willis

A saúde dos funcionários das empresas está exigindo uma gestão cada vez mais integrada. Um “elo” mais fraco dessa cadeia pode comprometer significativamente os resultados da companhia,  alertou especialista a uma plateia de gestores de risco em São Paulo.

Por elo, entenda-se não um funcionário com saúde claudicante, mas as diferentes áreas que precisam trabalhar juntas para garantir uma boa qualidade no serviço de saúde para os empregados com os custos bem ajustados. Algo que, segundo Maurício Vinhão, diretor de desenvolvimento de negócios e produtos da corretora Willis, apenas 10% das grandes empresas podem dizer que tem no Brasil.

“Não é mais um problema só do RH, já que envolve vários outros setores da empresa”, disse Vinhão. “As áreas de compras, de gerenciamento de risco, a área médica estão muito envolvidas no tema.”

Capital humano

Vinhão apresentou um painel sobre o impacto financeiro do capital humano nas empresas no segundo dia do XI Seminário Internacional de Gerência de Riscos, em São Paulo.

“A questão é como ter controle para não ter um risco futuro ou um pagamento muito alto a ser feito. É preciso cruzar todas as ‘caixinhas’ dentro das empresas, saber como proceder e que riscos as pessoas correm”, afirmou.

As palavras-chave deste processo são controle e integração. Se estes dois aspectos estão bem contemplados, geram economia de custos sem comprometer o atendimento de saúde dos funcionários – um ponto sensível em qualquer corporação e que pode ser fonte de inúmeras dores de cabeça para a companhia.

A integração entre os departamentos permite, por exemplo, saber se o funcionário com sobrepeso está utilizando o convênio com a academia de ginástica da companhia.

“A integração de todas as peças é o que permite a entrega de resultado efetivo”, afirmou ele. “Não posso falar em gestão de saúde se não tenho controle dos atestados médicos [dos funcionários]”, exemplificou.

Custos

Os custos são parte sensível no setor, já que tem impacto no financeiro corporativo e no bolso do funcionário.

A inflação dos custos médicos nos últimos 12 meses foi de 17,7%, segundo Vinhão – em 2008 era de 7%.

Já os planos de saúde tiveram o maior reajuste nos últimos dez anos, de acordo com o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec): 13,5%. “A conta [das empresas] não fecha. Quem aguenta um reajuste desses?”, disse Vinhão.

A parte mais complicada é saber como estimular os funcionários a cuidar da saúde, fazer os exames certos, utilizar os serviços de forma adequada e evitar problemas de saúde futuros. “Os usuários precisam estar bem engajados”, disse Vinhão.

Além de terem a própria saúde envolvida no processo, são eles que acabam pagando boa parte dos custos dos programas de saúde.

A coparticipação, por exemplo, que é a parte que o funcionário banca de um plano empresarial começou em 5% anos atrás e hoje já está batendo nos 30%, informou o executivo da Willis.

Ao lado disso, aparece o fato de que os brasileiros com diabete, por exemplo, somarão 9,4% da população em 2050, segundo dados apresentados pelo executivo. Em 2008, eram 6%. Já a hipertensão atingirá 33% da população em 2050, contra 22% há sete anos.

Mais gente doente significa mais custos, além de piora da qualidade de vida e funcional as pessoas.

Dificuldades

Segundo Vinhão, o grande desafio para trabalhar bem a gestão de saúde é mudar a cultura, primeiro das próprias empresas e depois dos usuários, com os quais é preciso estabelecer uma relação próxima para conhecer os problemas e a melhor forma de tratá-los.

“Hoje ainda eles não têm essa cultura de prevenção. Têm um cartão [do plano de saúde] que eles acham que usam da forma certa,” afirmou.

Muitas vezes, disse ele, o usuário simplesmente não sabe que um procedimento custa R$ 50 mil.

Segundo Vinhão, o usuário pode sentir que passou a ser investigado no momento em que a empresa passa a procurar mais informações sobre sua saúde. A forma de trabalhar isso é comunicar com clareza o programa de saúde. “Ele não está sendo investigado, mas acolhido.”

Sobre redução de custos, diz Vinhão, é preciso mostrar que não há perda de qualidade dos serviços ou da cobertura, mas mudanças – como utilizar um outro médico ou fazer exame em outro laboratório.

“A empresa pode pagar menos, mas dentro de uma qualidade aceitável,” observou.

Mas isso costuma gerar bastante estresse dentro das companhias. De qualquer forma, Vinhão assegura que é possível implementar uma gestão adequada numa empresa num prazo entre seis e 12 meses.




Setor elétrico precisa de ‘pontes’ e soluções de seguro inovadoras

Victor Garibaldi, da MDS Seguros, e Marcia Ribeiro, da LIght
Victor Garibaldi (MDS) e Marcia Ribeiro (Light)    (Foto: Carlos T. Mizumoto/ABGR)

Enfrentando pressão em várias frentes e com riscos cada vez mais complexos, os gestores de riscos do setor elétrico precisam construir mais pontes, internas e externas, a fim de enfrentar de maneira mais eficaz as ameaças que rondam as empresas do setor.

A avaliação é de Marcia Santos Ribeiro, especialista em seguros da Light e coordenadora do comitê do setor elétrico da Associação Brasileira de Gerência de Riscos (ABGR).

“O que a gente quer são soluções inovadoras”, disse ela, que participou nesta terça-feira, ao lado de Rodrigo Violaro, da Swiss Re, e da Victor Garibaldi, da MDS Seguros, do painel Gestão de Risco Energético, no XI Seminário Internacional de Gerência de Riscos da ABGR, realizado em São Paulo entre 26 e 28 de outubro.

“Precisamos de gente interessada em fazer produtos [de seguros] diferentes, inteligentes e aderentes. Os produtos de prateleira, muitas vezes com clausulado que fica difícil até para inglês ver, precisam ser melhorados.”

Ribeiro entende que esse desenvolvimento depende do esforço do mercado segurador, mas também – no caso do setor elétrico – é necessário focar mais o trabalho das próprias empresas, a fim de calibrar as reais necessidades para a companhia mitigar com mais precisão seus diferentes riscos.

“Para ir ao mercado também precisamos fazer um trabalho interno”, afirmou ela. “Queremos mais diálogo para termos produtos com mais substância. Se o mercado entender melhor nossos riscos, terá mais eficácia.”

Desafios

As pontes que Ribeiro defende ganham mais força quando se olham as fontes de pressão para os gestores de risco e para os desafios do setor elétrico, sejam empresas geradoras, distribuidoras ou transmissoras de energia.

A pressão vem de acionistas, executivos, conselhos de administração e stakeholders variados. Já o campo das ameaças é vasto, complexo e diversificado: riscos hidrológicos e crise hídrica; instabilidade regulatória e riscos políticos; riscos climáticos e outros.

Para Victor Garibaldi, diretor da MDS, os riscos mais importantes atualmente são os hidrológicos e os ligados à legislação e regulação, além da necessidade de investimentos grandes e recorrentes, que fazem pressão no caixa da empresas.

Sentido médio das coisas

Ainda que não seja um produto customizado, o seguro paramétrico caminha no sentido proposto pela especialista da Light. O modelo trabalhado pela Swiss Re CS, uma das pioneiras no Brasil neste setor, “é um instrumento adicional para gestão do caixa no curto e médio prazo”, explica Rodrigo Violaro, diretor de energia da seguradora de soluções corporativas. “Ele atende riscos que não estavam sendo administrados.”

O seguro paramétrico trabalha com médias de ocorrências climáticas. Acima ou abaixo de determinado nível, o seguro é acionado automaticamente.

“Não é um seguro para casos extremos, para eventos que ocorrem a cada 40 ou 50 anos”, explicou Violaro à Risco Seguro Brasil. “É um seguro para ocorrências mais frequentes, a cada 10 ou 20 anos, mas para perdas menores. Não trabalha com riscos de probabilidades pequenas de grandes eventos, mas frequência maior para perdas menores. Tem uma função mais operacional.”

As coberturas incluem precipitação (chuva, vazão de rio), vento, temperatura, irradiação solar, terremoto, El Niño e preço de commodities – todos fatores que impactam diretamente as empresas de energia.