Mercado abre 2016 com dúvidas sobre preços e resultados
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- Rodrigo Amaral
- 11 de fevereiro de 2016
- Sem categoria
Resseguradoras reportam moderação de queda de tarifas, mas abundância de liquidez deve continuar, o que alimenta preocupação sobre saúde do setor
Na medida em que divulgam seus resultados anuais, algumas seguradoras e resseguradoras globais têm deixado saber que há sinais de que o longo mercado brando pode estar finalmente chegando ao fim. Mas é possível também que os preços estejam se estabilizando porque os subscritores já não têm mais capacidade financeira de seguir reduzindo as tarifas.
Empresas como a Hannover Re, a Munich RE e a Scor, três das principais resseguradoras do mundo, anuciaram que as quedas de preço foram mais moderadas nas renovações de janeiro do que em períodos anteriores.
Durante a conferência anual dos gestores de riscos franceses, entre os dias 3 e 5 de fevereiro em Lille, players no mercado de grandes riscos como a Zurich avisaram que vão ter de atualizar suas políticas de subscrição, resultando em uma “revisão” de preços ou no abandono de contratos por meio de uma seleção dos melhores clientes.
No mesmo evento, a corretora AON avisou que não está mais aceitando participar, na França, de licitações realizadas por grandes clientes que visam achatar cada vez mais preços e comissões.
As esperanças de endurecimento do mercado global, porém, enfrentam um sério obstáculo, que é a manutenção das condições do mercado financeiro que inundaram o mercado de seguros de liquidez nos últimos anos.
A recente redução das taxas de juros do Banco do Japão para patamares negativos ilustra a dimensão do problema. Com a economia mundial entrando em um período que parece ser de crise generalizada, é bem pouco provável que as taxas de juros aumentem nos países desenvolvidos.
Mesmo a esperada elevação gradual dos juros pelo Fed americano poderia estar em risco, já que a economia do país parece menos pujante do que se esperava. As turbulências nos mercados de ações desde o começo do ano constituem um fator a mais a afugentar investimentos.
Com ativos de risco pouco atraentes, e instrumentos de renda fixa pagando uma miséria, investidores europeus, americanos e asiáticos devem continuar vendo o mercado de seguros e produtos de transferência de risco alternativos como uma opção menos pior para fazer seu dinheiro trabalhar.
Como resultado, os mercados de seguros podem continuar recebendo grandes quantidades de capital, mantendo níveis abundantes de capacidade para a maioria das linhas de seguro corporativo.
Pressão sobre resultados
O fator que está motivando as grandes seguradoras e resseguradoras globais a conter as baixas de preço parece ser, portanto, o impacto que as sucessivas quedas estão tendo em seus resultados.
De acordo com a Amrae, associação francesa de gestão de riscos, o mercado brando já dura doze anos. Neste período, as baixas ininterruptas vêm colocando pressão sobre o resultado técnico das empresas.
Baixos níveis de sinistralidade catastrófica em 2014 e 2015 ajudaram o setor a minimizar o impacto. Mas há evidências de que, mesmo neste entorno benéfico do ponto de vista das grandes perdas, os resultados financeiros das empesas estão se deteriorando cada vez mais.
A Argo, por exemplo, divulgou que seu lucro líquido caiu 31% no quarto trimestre de 2015, comparado com o mesmo período do ano anterior. Isso apesar de a empresa ter registrado um aumento de 5% no volume de prêmios.
Em todo o ano, o lucro líquido da Argo caiu 11%, apesar de o volume de prêmios ter aumentado 5,6%. A empresa afirmou que os preços apresentaram uma “modesta queda” no período.
Já a Zurich anunciou que espera uma perda operacional de aproximadamente US$ 100 milhões no quarto trimestre de 2015, quando a empresa sofreu um significativo impacto das enchentes no Reino Unido. A Zurich também anunciou a troca de seu CEO. Mario Greco, ex-Generali, vai assumir a empresa em março. Problemas financeiros já haviam levado a companhia a suspender a aquisição da RSA no decorrer de 2015.
Por sua vez, a Hannover Re comemorou o fato de que os preços caíram uma média de “um modesto 1,5%” nas renovações de janeiro. A Munich Re e a Scor anunciaram que os preços caíram 1% nas últimas renovações. Como em anos recentes as quedas comumemente superavam mais de 10%, tais números podem ser interpretados como sinais de estabilidade no mercado.
Há poucos indícios, porém, de que os subscritores estejam em condições de impor aumentos efetivos de preços a seus clientes. Por isso, o temor de analistas é que os resultados se deteriorem cada vez mais devido à contínua, ainda que mais moderada, queda de preços.
Maquiagem
Em uma conversa reservada com Risco Seguro Brasil, o CEO de um dos maiores corretores da Alemanha expressou sua preocupação de que muitas seguradoras e resseguradoras vêm maquiando seus resultado por meio de estratagemas como a liberação de reservas de capital que servem para vitaminar os dividendos e manter seus acionistas felizes.
Na opinião dele, no entanto, o acúmulo de vários anos de maus resultados técnicos, agravados pelo baixo rendimento dos investimentos financeiros em renda fixa resultantes das minúsculas taxas de juros vigentes nos Estados Unidos e na Europa, estão tornando cada vez mais difícil manter o que este executivo considera ser uma imagem algo enganadora da saúde do setor.
O caso da Zurich seria um exemplo do que pode estar acontecendo com outras empresas do setor. A pressão por melhor lucratividade também está entre os motivos de uma campanha de investidores ativistas pelo desmembramento da americana AIG.
Gerentes de riscos de grandes multinacionais também têm expressado preocupação com a situação. Alguns veem com desconfiança o fato de que, devido ao aumento do número de subscritores e dos preços cada vez mais baixos, muitas vezes terem de fechar programas de grande valor com sindicatos formados por dezenas de seguradores e resseguradores.
Esses grupos frequentemente incluem empresas recém-chegadas ao mercado, que têm pouco renome entre os compradores e, por isso, geram incerteza a respeito da robustez dos programas de seguros.
A dúvida é o que pode acontecer caso uma grande catástrofe afete o setor e empresas que estão trabalhando no osso necessitem pagar altos volumes de indenização.
Mais consolidação
Outro sintoma da possível fragilidade financeira de algumas seguradoras e resseguradoras é que analistas continuam apostando em mais fusões e aquisições no setor neste ano.
Em parte o processo é movido pela abundância de capital no mercado e a falta de melhores oportunidades de investir o dinheiro do caixa das empresas, de acordo com uma pesquisa feita pela Willis Tower Watson.
Mas a busca de oportunidades geradas por empresas em aperto financeiro, especialmente entre seguradoras e resseguradoras de menor porte, especializadas em nichos de mercado, também está contribuindo para o alto volume de operações.
Em 2015, as operações de fusão e aquisição no mercado de seguros e resseguros somaram US$ 143,5 bilhões, segundo a Willis Towers Waston. Trata-se do maior valor já registrado e equivale ao triplo de 2014.
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