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Em alta, ataques cyber aparecem em resultados de empresas

Ataques cyber: na medida em que eles seguem aumentando, o custo que representam para as empresas fica cada vez mais claro. E já começa a se refletir nos seus resultados.

Multinacionais como a Merck, Mondelez e FedEx divulgaram nos últimos dias resultados trimestrais. Eles mencionam o impacto de ataques cyber recentes como o ramsonware NotPetya, que se espalhou pelo mundo no final de junho. Entre as vítimas mais recentes dos hackers está a HBO, que produz a série de TV Game of Thrones.

De acordo com especialistas, a divulgação de informações sobre o efeito dos ataques cyber no resultado das empresas deve se tornar mais comum. Isso devido à pressão de acionistas e reguladores.

E as oportunidades para ser transparente devem seguir em alta. Segundo a seguradora Beazley, uma das mais ativas no setor de riscos cibernéticos, o número de sinistros do tipo ramsonware processados pela empresa aumentou 50% no primeiro semestre de 2017. A comparação é feita com o mesmo período do ano passado.

Contudo, com os riscos cibernéticos se tornando parte da rotina das empresas, o mercado segurador está tentando entender qual seria a paulada, no caso de um grande evento catastrófico que afetasse milhares de empresas e entidades públicas ao redor do mundo.

Por exemplo, a consultoria Cyence e do Lloyd’s de Londres fez um estudo. E estimou que um evento global que causasse distúrbios generalizados nos serviços de nuvem poderia ter um impacto econômico de até US$ 121,4 bilhões (R$ 379 bilhões).

Entre 13% e 17% das perdas totais seriam coberturas por apólices de seguro, de acordo com o estudo.

Vilões e empregados

A Beazley processou mais de 120 incidentes de ramsomware no primeiro semestre deste ano. Assim também espera chegar ao final de 2015 com mais de 250 incidências de ataques cyber.

Em 2016, o número foi um pouco maior de 200. Isso de acordo com dados divulgados pelo serviço de reação a incidentes cibernéticos que a empresa coloca à disposição de seus clientes.

Alguns setores são particularmente afetados. Como o de serviços de saúde em que os incidentes de ramsomware cresceram 133% em 12 meses.

Ao todo, a Beazley lidou com 1.330 incidentes cibernéticos nos primeiros seis meses do ano. E o grupo de incidentes classificados como hacking e mailware, que inclui os ataques conhecidos como ramsonware, representou quase um terço do total.

Mas a empresa também observou que não são só os vilões virtuais que causam dor de cabeça às empresas. De fato, 30% dos incidentes com que a empresa lidou no primeiro semestre se devem a violações de dados acidentais por parte de empregados ou parceiros comerciais.

Resultados

Todavia, estatísticas como as que foram divulgadas pela Beazley ganham maior urgência. Uma vez que se pode vê-las refletidas na prática no desempenho das empresas. E a atual temporada de resultados trimestrais está proporcionando uma boa oportunidade para comprovar o potencial de danos dos riscos cibernéticos.

Na quarta-feira, 2 de agosto, a farmacêutica Merck afirmou que ainda estava se recuperando do ataque que sofreu com o vírus NotPetya, em junho. Isso afetou suas atividades de produção, pesquisa e vendas, de acordo com CEO Kenneth Frazier.

A empresa disse que o ataque não afetou de maneira substancial os resultados semestrais. Porém, motivou a companhia a reduzir a indicação de dividendos esperados para este ano. A empresa teve até que interromper a produção de alguns medicamentos devido ao ataque.

Por sua vez, a fabricante de doces Mondelez, atribuiu parcialmente ao NotPetya uma queda trimestral de 5% em seu volume de vendas. A informação é da agência Reuters.

Outras empresas que reportaram ter sofrido com o ataque incluem a FedEx. Também a TNT, AP Moller Maersk. Seguida da Reckitt Benckiser. É o que relata a agência de notícias.

Por sua vez, a HBO sofreu com um outro tipo de ataque. Desta vez de hackers. Eles divulgaram na internet capítulos inéditos da série Game of Thrones. Trata-se do programa mais influente veiculado hoje pela rede de TV a cabo.

Perdas catastróficas

As perdas vão pouco a pouco tornando-se pública. E dão uma ideia do prejuízo que a economia em geral e o mercado segurador em particular podem sofrer com os ataques cibernéticos.

Porém, ainda há uma falta de dados disponíveis para o mercado. Isso para quantificar o potencial de danos com precisão. Para tentar sanar esta lacuna, a Cyence e o Lloyd’s elaboraram cenários para simular os efeitos de grandes ataques sobre os sistemas de nuvem. Bem como de falhas generalizadas de softwares causada por hackers.

De acordo com estes cenários, um único grande ataque contra sistemas de nuvem poderia causar perdas entre US$ 4,6 bilhões e US$ 53,1 bilhões. Com a agregação de potenciais perdas ligadas a este ataque. O total de prejuízos poderia chegar a US$ 121,4 bilhões.

Da mesma forma, as duas entidades estimam que entre 13% e 17% das perdas econômicas estariam asseguradas.

Já no caso de em ataque que causa falhas generalizadas de softwares, as perdas variariam. O  valor estimado ficaria entre US$ 9,7 bilhões e US$ 28,7 bilhões. Com 7% deste total estando coberto por seguro.

O estudo afirma que, com base nestes valores, um grande ataque cibernético poderia aumentar os índices de sinistralidade da indústria. Ficando entre 19% e 250%. Isto eleva o potencial de danos dos ataques cibernéticos ao de catástrofes naturais. Por exemplo, como os furacões.

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Regra de proteção de dados da UE deve render multas milionárias

Uma nova regra de proteção de dados implementada pela União Europeia pode causar perdas milionárias às empresas. Ainda que elas estejam baseadas no Brasil e não tenham presença física em solo europeu.

O Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados, conhecido como GDPR por sua sigla em inglês, vai entrar em vigor em 28 de maio de 2018 . O regulamento deve afetar as atividades de empresas de todo o mundo. Isso desde que elas coletem ou processem dados de indivíduos, empresas ou organizações presentes na Europa.

De acordo com essa regulamentação, as empresas que preenchem os requisitos definidos pela UE terão de adotar novas medidas. Como por exemplo, a implementação de sistemas de proteção de dados. Assim como estruturas para reportar eventuais violações de forma imediata às autoridades. E até mesmo a indicação de um profissional ou parceiro comercial para desempenhar a função de Data Protection Officer, ou DPO.

A não-conformidade com tais exigências pode render multas à empresa. São valores podem chegar a até €20 milhões ou 4% do seu faturamento anual em todo o mundo. Vale o que for maior.

Expectativa

A expectativa é que as autoridades europeias vão fazer farto uso destes novos poderes. De acordo com relatório sobre o tema publicado pela corretora Marsh, apenas as empresas que compõem o índice FTSE 100 da Bolsa de Londres devem receber um total de US$ 6 bilhões em multas ligadas ao GDPR. Isso apenas no primeiro ano de vigência da nova regra.

Já a consultoria Hyperion calculou que os bancos europeus estão expostos a levar multas de €4,7 bilhões nos três primeiros anos do GDPR. Com uma média de €260 milhões por violação.

As multas podem ser tão elevadas que, mesmo que estejam cobertas por apólices de seguros contra riscos cibernéticos, é bem possível que as capacidades não sejam suficientes. A informação é de corretores consultados pela Risco Seguro Brasil.

Uma pesquisa global divulgada em abril pela Veritas, outra consultoria, constatou que uma em cada cinco empresas consultadas temem que multas derivadas de violações do GDPR possam levá-las à bancarrota.

Exposição X proteção de dados

Ainda que a norma esteja mais diretamente relacionada com empresas baseadas ou com subsidiárias na União Europeia, mesmo companhias que só estão presentes no Brasil podem ter que se adaptar ao GDPR.

Para se tornar um alvo em potencial dos reguladores, basta que a empresa colete dados de sujeitos europeus. E que haja motivo para acreditar que ela pretende fazer uso dos dados em questão.

Por exemplo, uma empresa baseada no Brasil pode acabar debaixo de fiscalização. Isso se tiver um website que pode ser acessado na Europa. E que ofereça a opção de fazer compras e pagar em euros ou libras esterlinas.

As informações concernidas pelo GDPR incluem desde dados biométricos e financeiros de indivíduo. Bem como seus endereços e dados sanitários. E até informações de fornecedores e clientes. Entre várias outros tidos de dados privados.

Umair Javed, um advogado associado no escritório Wiley Rein, em Washington (EUA), observa que o GDPR introduz conceitos de jurisdição mais relacionados com o local onde os dados são coletados do que com o país onde a empresa possui sua sede legal.

“Isso torna o GDPR basicamente uma lei global”, disse Javed à Risco Seguro Brasil.

Porém, sua aplicação fora da Europa, dependerá de acordos legais internacionais. Da mesma forma, da habilidade dos governos europeus de conseguir convencer seus pares de outras partes do mundo de que eles têm o dever de processar os culpados.

Javed observou, por exemplo, que a EU trata o direito à privacidade como um direito fundamental do ser humano. Portanto, pode argumentar que têm a obrigação de processar violações da privacidade de seus cidadãos em qualquer lugar do mundo. Igualmente seguindo os acordos internacionais de direitos humanos dos quais é signatária.

Seguro

As novas exposições criadas pelo GDPR devem funcionar como um fator a mais a alimentar a demanda por seguros contra riscos cibernéticos em todo o mundo.

De acordo com corretores consultados pela Risco Seguro Brasil, as coberturas que existem hoje no mercado podem prover alguma proteção contra este risco. Uma vez que já incluem cláusulas ligadas ao cumprimento de regulamentações de privacidade.

Mas eles também recomendaram que os gerentes de riscos consultem os seus corretores. Isso para discernir se o clausulado é amplo o suficiente para incluir especificamente a regulamentação europeia. Em geral, há uma tendência das apólices de se focar nos regimes regulatórios das jurisdições onde são assinadas.

“Os requerimentos de reação a uma violação de dados e sua notificação implicam um papel bastante maduro dos seguros cibernéticos”, disse Matthew McCabe. Ele é expert em riscos cibernéticos da Marsh nos Estados Unidos.

GDPR

“O seguro cibernético também pode funcionar como um ponto de avaliação do quanto as companhias estão em conformidade com o GDPR. E o mercado de seguros pode ainda prover assessoria especializada às empresas,” continuou McCabe. “A grande pergunta é se as multas e punições emitidas pelas autoridades sob o GDPR serão seguráveis.”

“Se uma companhia global recebe a pena máxima (4% de seu faturamento em todo o mundo), ela não terá capacidade suficiente em sua apólice de seguro cibernético para cobri-la”, disse Michael Born. Ele é vice-presidente de Tecnologia e Privacidade na Lockton, também nos Estados Unidos.

De qualquer maneira, a adaptação às novas regras exigirá trabalho das empresas expostas ao GDPR. E os custos podem ser relevantes. Pesquisa global realizada pela consultoria PwC encontrou que três de cada quatro empresas consultadas esperam gastar mais de US$ 1 milhão com os preparativos para a entrada em vigor do GDPR.

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Combate a risco cibernético exige novas funções nas empresas

Risco cibernético: as empresas devem criar um Grupo de Governança de Riscos Cibernéticos para lidar com um volume crescente de ameaças originadas pela digitalização de seus negócios.

Esta é uma das recomendações feitas pela FERMA e pela ECIIA. São as federações europeias de gestão de riscos e auditoria interna. A recomendação integra um novo relatório sobre a gestão de risco de cibernético.

O relatório é dirigido às empresas europeias. Porém, pode muito bem servir às brasileiras como um guia para a mitigação de um risco cuja amplitude ficou bastante evidente em eventos recentes. Por exemplo, como o ataque WannaCry.

Além disso, regras internacionais como o Regulamento Europeu de Proteção de Dados (GDPR, na sigla em inglês), que também afeta multinacionais que têm negócios na União Europeia, tendem a tornar ainda maior a exposição das empresas aos riscos cibernéticos.

De acordo com o relatório das duas associações, a adequada proteção contra tais riscos exigirá a criação de novas funções de controle e prevenção no interior das empresas. A versão em inglês do relatório pode ser descarregada aqui,

Assim, se sua companhia ainda não tem um CISO ou DPO, é bem possível que no futuro ela se sinta instada a implementar tais funções. As siglas se referem aos nomes em inglês do Executivo-chefe de Segurança da Informação (Chief Information Security Officer) e do Executivo de Proteção de Dados (Data Protection Officer), respectivamente.

Todo mundo ligado

Dessa forma, a necessidade de criar novas estruturas dentro da organização se justifica. Principalmente, de acordo com a FERMA e a ECIIA, pelo fato de que toda a empresa precisa estar envolvida no combate aos riscos  cibernéticos.

Isso significa que o tema deve ganhar relevância nas chamadas três linhas de defesa da empresa. Ou seja, as unidades de negócio (primeira linha). As funções de gestão de risco, compliance e controle financeiro (segunda). E finalmente a auditoria interna (terceira).

Porém, para que essa abordagem ganhe força, é necessário que o conselho da empresa compre a ideia. Da mesma maneira, a promova e a monitore através dos comitês de Riscos e de Auditoria.

Mas a execução e coordenação das atividades de prevenção e combate aos riscos cibernéticos exigem também a criação de um Grupo de Governança de Riscos Cibernéticos. O que, na proposta das duas entidades, deve estar subordinado ao Comitê de Riscos.

Este grupo deve estar composto por representantes de departamentos como informática, finanças, comunicações, recursos humanos e jurídico,. Além de incluir também as novas figuras do CISO e DPO.

Contudo, para liderar este grupo, o profissional mais indicado é o gestor de riscos. Uma vez que esta função já pressupõe uma visão global dos riscos enfrentados pelos diversos setores da empresa, argumentam os autores.

DPO e CISO

O papel deste novo órgão deve ser o de avaliar as exposições da empresa aos riscos cibernéticos. Assim como definir as estratégias para sua mitigação e para reagir a eventuais incidentes.

Isso implica também propor à alta direção políticas de investimento em segurança cibernética. Também a contratação de apólices de seguro cibernético para transferir o risco, quando possível.

“A decisão de criar um Grupo de Governança dos Riscos Cibernéticos para administrar a gestão de riscos cibernéticos enviaria uma poderosa mensagem positiva aos stakeholders externos a respeito da governança do risco ‘cyber’ na organização”, argumentam os autores do relatório.

Igualmente, o documento também propõe uma definição para as duas novas funções de liderança. O que, na opinião das duas entidades, devem ganhar força na organização.

“O DPO é responsável por todos os temas ligados à proteção de dados”, define o relatório. “A função cobre desde a provisão de informação e assessoria à organização até o monitoramento do compliance (às regras de proteção de dados). Assim como a atuação como um ponto de contato com as autoridades de proteção de dados.”

Os autores lembram que a figura do DPO vai ser obrigatória a partir de maio de 2018. Isso para as empresas que atuam na União Europeia e cujas atividades implicam o monitoramento regular e sistemático, e em grande escala, dos dados de terceiros.

Dessa forma, para o CISO, a definição oferecida é a seguinte:

“O CISO exerce um papel-chave na gestão eficiente e efetiva dos riscos cibernéticos através da seleção de planos de mitigação propostos pelas diferentes funções em acordo com (o departamento de) sistemas de informática. Isso a fim de assegurar que eles estão em linha com a política de segurança informática implementada pela organização.”




Sinistros em navios caem, mas setor enfrenta novos desafios

O número de sinistros envolvendo embarcações com mais de 100 toneladas segue em declínio em todo o mundo. Chegando em 2016 à metade dos incidentes observados em 2007.

De acordo com relatório divulgado pela Allianz Global Corporate and Specialty, no ano passado foram registrados 85 sinistros. Foi o nível mais baixo dos últimos dez anos. Em 2007, o total fora de 171.

Da mesma forma, o total de 2016 também foi 29% inferior à média da última década. O número chegou a 119 sinistros por ano. Os motivos, segundo a AGCS, incluem uma melhoria na regulamentação do setor. Assim como a consolidação de uma cultura de segurança mais firme entre as empresas do ramo.

Ao mesmo tempo, o número de mortes ocorridas no setor de transportes marítimos apresentou uma queda de 4% no ano passado. Chegando assim a 2.611 fatalidades. Segundo o relatório, danos ao maquinário dos navios e falhas dos motores são os principais responsáveis por estas mores.

Entre os tipos de navio, os ferries que transportam passageiros e automóveis estão os que preocupam os profissionais de segurança. Especialmente em regiões afetadas por ciclones e tufões, como a Ásia.

Desafio econômico

Mas a AGCS alerta que outros fatores menos positivos também podem ter reduzido os níveis de sinistralidade. Especialmente a redução do volume do comércio global redução do volume do comércio global observado nos últimos anos.

Por esse mesmo motivo, o setor se encontra sob forte pressão econômica. Portanto, enfrentando a queda nas tarifas de transporte em um período em que a capacidade dos armadores é a mais alta jamais vista.

Igualmente os problemas vividos pela indústria de transporte marítimo foram ilustrados no ano passado pela falência da sul-coreana Hanjin Shipping. “As falências estão em alta e as pressões econômicas têm levados a cortes de custos”, afirma a AGCS.

A empresa alerta que esses cortes podem acabar comprometendo a manutenção dos navios. Assim como causar um repique no número de sinistros no futuro.

Empresas do setor apontam que negligência por parte da tripulação e a manutenção inadequada dos navios são os riscos que mais preocupam o setor hoje em dia.

Por regiões

A região onde houve o maior número de sinistros em 2016 foi a que reúne o sul da China, Indochina, Indonésia e Filipinas, com 23 ocorrências, seguida pelo Mediterrâneo Oriental e o Mar Negro, com 12, e o norte da China, Coréia e Japão, com 11.

Estas três regiões foram também as que mais tiveram sinistros nos últimos dez anos, com 249, 162 e 139, respectivamente.

O maior navio a sofrer sinistros foi o New Mykonos, um cargueiro de 81,152 toneladas, que afundou na costa de Madagascar no mês de maio do ano passado.

Os navios de carga de mercados são os mais expostos a perdas, com 30 no ano passado e 481 desde 2007, seguidos pelos pesqueiros, com 9 e 198. Em ambos os casos, porém, o número de sinistros significativamente nos últimos anos. Houve 70 sinistros com navios de carga em 2007, e 34 com pesqueiros.

Mas a AGCS alerta que novos riscos pairam sobre o setor, como uma dependência cada vez maior da tecnologia.

Digitalização

Por um lado, a digitalização da atividade de transporte marítimo tem potencial reduzir o número de sinistros, uma vez que entre 75% e 96% dos incidentes registrados podem ser atribuídos a erros humanos.

Por outro, porém, é cada vez maior o temor de que as empresas marítimas sejam vítimas de ataques de hackers, que podem um dia chegar a controlar virtualmente algum navio.

“Enquanto a tendência de uma redução do número de sinistros é positiva, não há espaço para ser complacente”, disse Baptista Ossena, o chefe da área de Transportes Marítimos na AGCS. “O setor está sob pressão por vários riscos interconectados em um momento de desafios econômicos inerentes.”

Um exemplo desta interconexão é que a pressão por otimizar custos está levando cada vez mais empresas a encomendar navios cargueiros cada vez maiores. Estima-se que um acidente envolvendo dois megacargueiros, por exemplo, poderia gerar perdas de até US$ 4 bilhões.

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Guia chega em boa hora para disseminar gestão de riscos

A capa do guia. (Imagem: Reprodução)
A capa do guia. (Imagem: Reprodução)

Considerando as práticas empresariais que foram reveladas nos últimos anos por investigações como a Operação Lava Jato e a Operação Carne Fraca, o guia chega em boa hora,. Deveria ser levado a sério pelos proprietários e administradores de empresas.

O guia, chamado Gerenciamento de Riscos Corporativos, destaca a importância da função e a necessidade de abordar o tema de uma forma holística. Dessa forma, integrando todos os desafios enfrentados pela organização. E não os dividindo em segmentos. Por exemplo, colocando ênfase em alguns riscos e ignorando outros.

Assim pode-se evitar erros como os cometidos pela Petrobras. Cuja gestão de riscos operacionais na extração de petróleo detém boa reputação no mercado. Porém, a detecção de riscos de compliance mostrou-se no mínimo insatisfatória.

Para não falar de casos como a Odebrecht e a JBS. Cujas falhas na identificação de riscos de corrupção por parte de seus próprios diretores ajudou a fazer com que a reputação de ambas empresas fosse para o brejo.

O documento pode ser baixado através da página do IBGC na internet (clique aqui). Pode não ser uma má ideia imprimir o guia e deixar uma cópia na mesa de seu chefe.

Aumento do interesse

Uma das observações feitas pelos autores do guia é que a gestão de riscos ganhou muita força nos Estados Unidos. Principalmente no começo dos anos 2000. Foi uando escândalos como os da Enron e da WorldCom colocaram em evidência os estragos que a má gestão corporativa pode trazer para acionistas, consumidores e a economia em geral.

É impossível não fazer o paralelo com a situação atual no Brasil. Além dos casos de corrupção citados acima, eventos como a tragédia de Mariana, em que o vazamento de lama de uma barragem da Samarco causou dezenas de mortos e enorme destruição ambiental, têm ilustrado o quanto as empresas nacionais ainda estão atrasadas no tema da gestão de riscos.

Contudo, a situação pode estar mudando. É o que aponta Mercedes Stinco, coordenadora da Comissão de Riscos Corporativos do IBGC.

“A procura sobre a temática do gerenciamento de riscos se intensificou muito nos últimos dez anos”, afirmou. “Mas ainda há muito espaço para crescimento.”

Este é o segundo guia lançado pela comissão do IBGC sobre o tema. O primeiro foi publicado em 2007, agregando o conhecimento acumulado por legislações como o FCPA americano e as regras de gestão de riscos para entidades financeiras do Banco Central, além das normas então recomendadas pela americana COSO.

Novos riscos

Desde então, muita coisa mudou. Na época, mesmo a norma ISO 31000 sobre a gestão de risco ainda estava em processo de elaboração, lembra Stinco. Novos riscos, como os cibernéticos e os reputacionais, ganharam espaço na agenda das empresas. O Brasil aprovou normas de governança mais rígidas, incluindo a Lei da Empresa Limpa, em 2013.

“Antes havia uma tendência a segmentar os riscos em categorias, como os riscos financeiros, de crédito e operacionais”, disse Stinco. “Mas hoje está claro que o gerenciamento de riscos é muito mais abrangente.”

A necessidade de prestar atenção nos riscos corporativos se tornou ainda mais premente com os escândalos de corrupção e o desastre da Samarco. O efeito das redes sociais sobre a reputação das empresas também entrou na agenda de todo o mundo, e o ataque com o vírus WannaCry ajudou a concentrar o foco dos dirigentes quanto ao risco cibernético, algo que até pouco tempo atrás, observa Stinco, muita gente ainda parecia achar que era algo que “só acontecia lá fora”.

Resistência

“A esperança é que estamos aprendendo”, disse ela. “Dando dois passos para a frente e um para trás, mas aprendendo.”

A percepção do IBGC é que as empresas do Rio de Janeiro e de São Paulo são as que mais avançaram na adoção de conceitos de gestão de risco, mas o restante do país também está começando a se desenvolver.

Novos profissionais que estão entrando no mercado mostram interesse sobre o tema, que também está ganhando espaço na formação de conselheiros, segundo Stinco.

Tudo isso ajuda a minar a resistência dos antigos líderes empresariais, muitas vezes fundadores de suas próprias empresas, que tendem a duvidar que as formas de fazer negócio que sempre utilizaram já não têm a mesma eficiência de antanho.

“A resistência existe, mas era maior no passado”, disse Stinco. “As novas gerações que estão entrando nas empresas familiares já têm uma visão diferente.”

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Protecionismo pode limar US$ 18 tri do PIB global, diz estudo

O avanço do protecionismo pode limar US$ 18 trilhões do PIB global até 2035. Isso de acordo com um relatório da seguradora Zurich.

Segundo o documento, os maiores prejudicados por um retrocesso no comércio internacional seriam os países emergentes. Por exemplo, as estimativas de crescimento do Brasil seriam reduzidas entre 2,6% e 3,3%, caso o aumento do protecionismo resulte em um conflito comercial aberto entre os Estados Unidos e a China.

O alerta é feito em um estudo sobre riscos geopolíticos encomendado pela Zurich e o Atlantic Council. Um think tank sediado em Washington.

O estudo aponta os desafios que três grandes riscos geopolíticos vão criar para os governos. E também para as empresas nas próximas décadas.

O avanço do protecionismo preocupa muitos analistas desde o ano passado. Desde que a a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos e a aprovação da saída do Reino Unido da União Europeia revelaram o quanto tais ideias ganharam força nos países desenvolvidos nos últimos anos.

Discurso

A eleição presidencial francesa, em que dois candidatos de discurso protecionista acumularam mais de 40% dos votos, confirmou que esta tendência não está restrita aos países anglo-saxões.

Com relação aos governos, os autores estimam que uma eventual vitória abrangente de forças protecionistas nos debates comerciais terá consequências. A princípio, levará a um aumento do número de pessoas que vivem em extrema pobreza. Além de fomentar instabilidade em nada menos do que 64 países.

Já no caso dessas últimas, as repercussões serão sentidas. Tanto no acesso a mercados externos quanto em turbulências em suas cadeias de suprimento, entre outros efeitos. O relatório convoca as empresas a dar ênfase à gestão de riscos geopolíticos em suas estratégias de negócios.

Além do protecionismo, os outros cenários analisados são uma crise energética derivada de um conflito no Oriente Médio. O que pode custar até US$ 54 trilhões ao PIB global até 2035. Além de uma piora acentuada no acesso à água. Assim agravada por maior escassez de alimentos, com um custo de até US$ 7 trilhões.

Protecionismo

O estudo da Zurich projeta dois cenários para um dos riscos geopolíticos analisados. E olha também para as interligações entre eles.

Contudo, os cenários ligados ao protecionismo preveem uma vitória convincente das forças protecionistas. Ou uma reversão da tendência atual que levaria a uma retomada do processo de globalização.

Ambos os casos são comparados ao que os autores chamam de cenário-base. Ou seja, que se materializaria caso as condições atuais fossem mantidas.

Dessa forma, o cenário-base, o estudo projeta que o PIB global chegará a US$ 141,4 trilhões em 2035. Caso o protecionismo se reforce, este número seria US$ 18 trilhões mais baixo. Da mesma maneira, em um cenário otimista, haveria um aumento de US$ 25,9 trilhões na riqueza global.

Portanto, um mundo duramente protecionista contaria com 743 milhões de pessoas vivendo em estado de extrema pobreza em 2035, o que seria 33 milhões de pessoas a mais do que no cenário-base. A classe média perderia 54 milhões de membros com base nos mesmos critérios.

Crescimento

O crescimento seria afetado em todo o mundo. Os autores preveem por exemplo que a América do Sul crescerá 2,5% ao ano no cenário-base, mas o número cairia para 1,9% no cenário pessimista. Caso a globalização ganhe novo ânimo, a expansão do GDP poderia chegar a 3% anuais.

Além do custo direto para as pessoas e as economias, os autores também alertam para outras possíveis consequências de um mundo mais protecionista, como o aumento da instabilidade em 64 países e uma maior possibilidade de conflitos armados.

O relatório diz que, caso o protecionismo continue avançando, as empresas terão que desenvolver planos de continuidade de negócio que levem em conta altos níveis de turbulência em suas cadeias de suprimento. Os custos de produção também podem aumentar como resultado de imposições de tarifas de importação mais elevadas.

Os governos também devem tentar entender como os problemas causados a cadeias de suprimento podem afetar sua própria capacidade de prover serviços fundamentais à população.

Crise energética

A interligação entre os riscos políticos é exemplificada pela possibilidade de uma crise energética causada pelo acirramento dos conflitos no Oriente Médio.

Os autores notam que, caso o protecionismo aumente a instabilidade nos países emergentes, áreas do mundo já problemáticas, como o Oriente Médio, se tornarão ainda mais combustíveis.

Além disso, a região é fortemente afetada pelo terceiro risco analisado, o de escassez de água e alimentos, que já foi um dos motivos das revoluções árabes do começo da década.

O relatório diz que o risco de conflitos mais graves no Oriente Médio é real desde a invasão do Iraque pelos Estados Unidos, já que a instalação de um governo xiita no país afetou o equilíbrio de forças da região. Os dos grandes rivais regionais, Irã e Arábia Saudita, têm governos xiitas e sunitas, respectivamente.

Os conflitos podem ganhar um caráter militar mais forte, mas também tomar outras formas, como a guerra cibernética, já manifestada por um poderoso ataque sofrido pela estatal petrolífera saudita Saudi Aramco em 2012, notam os autores.

No cenário mais pessimista elaborado pelos analistas, que prevê grandes restrições ao acesso de energia como resultado dos conflitos, o preço do petróleo chegaria a US$ 76 por barril e o PIB global cairia US$ 54 trilhões, na comparação com o cenário-base.

No cenário “otimista”, em que as energias renováveis recebem incentivos para compensar parcialmente os problemas causados pelos conflitos da região, o preço do petróleo chegaria a US$ 54 por barril, com o PIB global perdendo US$ 46,4 trilhões comparado com o cenário-base.

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Chegada de estrangeiras fomenta gestão de risco no agronegócio

Eduardo Martins, da Marsh. (Foto: Divulgação)
Eduardo Martins, da Marsh. (Foto: Divulgação)

O agronegócio é uma das locomotivas da economia brasileira. Porém, também é um setor em que a gestão de riscos e o uso de seguros corporativos ainda precisam se desenvolver.

Contudo, a chegada de um número cada vez maior grandes empresas internacionais, está ajudando a aumentar a conscientização do setor sobre a gestão de riscos. Isso s egundo Eduardo Martins, líder da área de Agronegócios da Marsh.

“No geral, as empresas estão se mostrando mais preocupadas com os riscos”, disse Martins a Risco Seguro Brasil. “O agronegócio é uma atividade de risco, com muitas exposições e bastante volátil.”

Ele notou que a segurança alimentar é uma preocupação em alta no mundo. E isso tem trazido vários grandes players internacionais ao Brasil. Especialmente de países como a China e o Japão.

Muitas entram no Brasil comprando terra para produzir e exportar alimentos para seus países de origem. Como o governo pretende liberalizar a venda de terras para entidades estrangeiras, este fluxo de produtos estrangeiros pode se tornar ainda mais firme no futuro.

Um dos lados positivos deste processo é que muitas destas empresas chegam ao Brasil com políticas de gestão de riscos mais maduras que suas rivais nacionais. Assim, podem dar um impulso ao desenvolvimento da atividade no setor.

“Essas empresas em geral têm a figura do gerente de riscos administrando seus riscos e programas de seguros”, observou Martins.

Seguros

O executivo disse que o mercado de seguros está buscando prover o agronegócio brasileiro. Dessa forma, com os instrumentos necessários para complementar políticas de gestão de riscos mais eficientes.

“Antes, o mercado era muito voltado ao produtor rural, que compra um produto de seguros de prateleira. E não atendia a necessidade do lado corporativo”, disse. “Agora estão sendo lançados produtos como o seguro paramétrico, que atende bem mais as necessidades corporativas.”

A Mapfre, com sua parceira com o Banco do Brasil, segue sendo de longe a principal player do setor. Isso devido à sua forte presença no seguro rural. Mas outras empresas, como Swiss Re CS e Allianz, também são ativas no agronegócio. Já a Tokio Marine acabou de entrar neste mercado. Assim reforçando a oferta para as empresas do setor, disse Martins.

Conforme Martins, “O setor está chamando a atenção das seguradoras por seu potencial de crescimento”. “No Brasil, apenas 14% do agronegócio tem algum seguro para cobrir riscos inerentes ao negócio. Nos Estados Unidos, 90% da lavoura está protegida contra algum tipo de risco.”

A Marsh criou uma área especializada em agronegócios no começo de 2016. Dessa forma, aglutinando o atendimento às empresas que atuam no setor.

A ideia é oferecer atendimento especializado a toda a cadeia de valor. Isso significa desde companhias que fornecem insumos como os fertilizantes, sementes e defensivos agrícolas, até as agroindústrias e as empresas de trading.

“Enxergamos uma necessidade de soluções corporativas em um setor onde as soluções de seguros sempre foram muito voltadas ao produtor rural”, afirmou.

Nova unidade

O principal risco enfrentado pelo setor é o de eventos climáticos. Além de pragas e doenças que ameaçam a colheita. São problemas que tiveram um forte efeito no setor no ano passado.

Contudo, fatores macroeconômicos como a taxa de inflação, variação cambial e a política fiscal. Bem como a instabilidade econômica também exercem um efeito importante nos vários estágios da cadeia de produção.

É neste conjunto de riscos que entra o mercado internacional, cuja influência sobre o agronegócio foi ilustrada com força com a reação de diversos mercados, que bloquearam as importações de carne brasileira após a eclosão da Operação Carne Fraca.

O terceiro pilar das ameaças enfrentadas pelo setor é constituído pelos riscos operacionais. Neste âmbito, Martins ressalta a logística como um fator que costumeiramente traz dores de cabeça para as empresas de agronegócio.

“Estima-se que as perdas de transporte sofridas pelo agronegócio cheguem a US$ 4 bilhões por ano”, afirmou o executivo. “Isso acaba encarecendo toda a cadeia de valor.” Segundo Martins, os riscos logísticos equivalem a 15% do faturamento das empresas de agronegócio brasileiras. Nos Estados Unidos, o número é menor que 9%.

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Gestor de risco deve ter papel central contra ameaças cibernéticas

O gestor de risco deve assumir um papel de liderança em suas empresas. Isso para enfrentar os riscos cibernéticos e outros temas ligados às novas tecnologias. É o que afirma uma das principais representantes europeias da profissão.

Brigitte Bouquot, presidente da AMRAE, a associação de gestão de riscos da França, convocou os profissionais do setor a ganhar espaço em suas empresas. Eles devem mostrar “liderança” em temas como os riscos cibernéticos. Bem como providencir uma visão estratégica sobre o tema para os conselhos de direção.

Da mesma forma, ela também afirmou que o mercado de seguros está trabalhando duro para oferecer soluções de transferência deste risco. Porém, que elas ainda seguem sendo uma mistura “barroca” de produtos e serviços.

“Em um mundo em que a conectividade entre as organizações está aumentando de forma exponencial, a gestão de riscos é global. E os gestores de riscos (ocupam um lugar) central”, disse Bouquot em discurso. A fala foi proferida na abertura da 25ª edição dos Rencontres de l’AMRAE. Trata-se da reunião anual dos gestores de riscos franceses, em Deauville, no norte da França.

“Gestão de risco, neste caso, não é algo que podemos impor: é algo que temos que conquistar”, acrescentou ela. Também observando que isto se faz mostrando liderança na hora de enfrentar os novos desafios das organizações.

Riscos e oportunidades

Antes de mais nada, o encontro anual da AMRAE é um dos principais eventos do setor em todo o mundo. Fica atrás apenas do americano RIMS em termos de presença de público e de companhias do setor.

Assim, neste ano, os riscos cibernéticos e novas tecnologias como a biotecnologia e a nanotecnologia ocupam lugar de destaque no evento. O encontro celebra em 2017 um quarto de século de existência.

O tema ganhou relevância ainda maior com os efeitos que as redes sociais e as chamadas “verdades alternativas” tiveram nas recentes eleições americanas. Bem como na difusão de ideologias contrárias à globalização.

Afinal, a própria França enfrenta eleições presidenciais e legislativas em 2017. Da mesma maneira, partidos contrários à globalização, como a Frente Nacional de Marine Le Pen, estão ganhando espaço nas pesquisas de intenção de votos.

Em seu discurso de abertura, Bouquot ressaltou que, quando a AMRAE começou a organizar os encontros, não havia nem sinal dos riscos tecnológicos que as empresas estão enfrentando hoje.

Porém, ela também lembrou que as novas tecnologias também trazem grandes oportunidades para as empresas. E que o principal risco que elas enfrentam é não ter a capacidade de aproveitar tais oportunidades.

Uberização da profissão

Os próprios profissionais de riscos podem ter de enfrentar ameaças. Como a de se tornar obsoletos devido ao surgimento de atores que rompem com os modelos de negócios em seu campo de atuação.

“Precisamos ter cuidado para não ser ‘uberizados’ pelos sistemas preditivos. Sistemas que visam causar um curto-circuito nas atividades de gestores de riscos e seguradores”, disse Bouquot. Ela também é a chefe de gestão de riscos e seguros da gigante de defesa Thales.

Igualmente,  ela expressou uma visão otimista do papel que os gestores de riscos podem desempenhar no seio das organizações. Assim como da sociedade como um todo. Principalmente como resultados das transformações que estão ocorrendo atualmente.

“Vendo o quadro mais amplo, a gestão de riscos é uma das forças positivas que estão unindo interesses macro e micro. Isso ao reconciliar (os interesses de) acionistas e empregados, consumidores e eleitores”, afirmou a presidente da AMRAE.

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AXA CS cobra mais apoio do resseguro contra risco ‘cyber’

Risco cibernético: o mercado de resseguros tem sido muito tímido neste campo. Porém, está começando a dar mais apoio às seguradoras que trabalham neste segmento.

A observação foi feita por Mathieu Caillat. Ele é CEO da AXA Corporate Solutions na França. Afirmou a sentença no primeiro dia dos Rencontres de l’AMRAE. Trata-se da conferência anual dos gestores de riscos franceses.

A princípio, ele fez o comentário ao falar da expansão da oferta de produtos e serviços para a transferência de riscos cibernéticos. Um segmento do mercado que está mais desenvolvido nos Estados Unidos. Contudo, agora ganha corpo também na Europa.

Ao mesmo tempo, Caillat observou que os riscos “cyber” são um segmento-chave para a AXA CS em seus planos de desenvolvimento global. Assim, a empresa está procurando expandir sua gama de coberturas. E diz já poder prover apólices que incluem temas espinhosos. Por exemplo, c omo a proteção contra a interrupção de negócios sem danos materiais. Essa é uma antiga demanda dos gestores de riscos de empresas multinacionais.

A AXA CS espera que o volume de prêmios cyber chegue a US$ 1 bilhão na Europa na década de 2020. Isso na medida em que a demanda cresce com a percepção do risco cada vez mais acentuada entre as empresas.

Contudo,  o desenvolvimento do setor depende de que o mercado ressegurador dê mais apoio aos subscritores primários. Foi o que alertou o executivo.

Risco cibernético X timidez

“O resseguro tem sido muito tímido com os riscos cibernéticos, o que é compreensível”, afirmou Caillat durante um encontro com a mídia especializada em Deauville. “A modelização do risco ainda não se encontra no mesmo nível de outras linhas. E há o problema da acumulação dos riscos.”

Caillat se referia às incertezas causadas pelas chamadas exposições ocultas dos riscos cibernéticos. Ou seja, os danos que podem ser causados por eventos cibernéticos. Porém, que o mercado ainda não consegue antecipar.

Devido a esta incerteza. E à própria natureza do mercado ressegurador, que tende a agregar exposições dos seguradores primários, os resseguradores têm se mostrado relutantes a oferecer capacidade para o segmento.

Mas Caillat disse que a situação está melhorando. Ainda que não para todo o mundo. “Em 2017, temos coberturas [de resseguro cyber] melhores do que em 2016”, afirmou ele. “Mas isso exigiu uma atividade intensa de lobby [junto ao mercado ressegurador].”

“Nós notamos que as resseguradoras estão mais preparadas para acompanhar as seguradoras. Empresas que investiram nos meios adequados para lidar com essas exposições de forma apropriada. Assim como investiram em ferramentas internas e externas para entender melhor o risco”, acrescentou.

O executivo disse ainda que, entre as novas soluções que empresas como a AXA CS podem oferecer no futuro, encontra-se a possibilidade de adotar índices paramétrico. Isso para acionar as coberturas de riscos cibernéticos.

O que vai depender, porém, de o mercado evoluir cada vez mais na compreensão de um risco que segue sendo bastante difícil de quantificar. “A questão, nesse caso, é realmente encontrar os índices corretos”, afirmou.

Prioridades

Os riscos cibernéticos e paramétricos foram apontados por Caillat como duas das grandes prioridades da AXA CS em seus planos de crescimento global.

Outra área em que a empresa está olhando com carinho é a de riscos de energia. Especialmente as atividades de “midstream” e “downstream”. Ou seja, no caso de petróleo, por exemplo, incluindo o refino e distribuição. Mas não a exploração.

A AXA CS também está buscando expandir cada vez mais sua presença global. Com o executivo citando especificamente a América do Sul como uma região de interesse. Ao lado da China e da Austrália. Vale lembrar aqui que a empresa comprou em 2015 a área de grandes riscos da Sul América no Brasil.

A presença territorial também se explica pelo investimento que a AXA CS está fazendo no setor de programas internacionais para grandes clientes corporativos.

A habilidade de prestar serviços em vários países é fundamental neste segmento. E a AXA CS hoje em dia até presta serviços para outras seguradoras menores em vários mercados internacionais, disse Caillat.

Em 2016, a seguradora francesa registrou um aumento de 11% no volume de apólices locais emitidas como parte de programas internacionais de seus clientes. Essas apólices chegaram a mais de 10.300 no ano passado.

A AXA CS afirma ter mais de 1.900 programas internacionais em seu portfólio. Um aumento de 12% comparado a 2015, representando €1 bilhão em prêmios. As perdas seguradas ligadas a estes programas chegaram a €708 milhões em 2016. Foram relacionadas a nada menos do que 43.200 sinistros.

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Crise e lei ‘ampliam’ espaço para ataques cibernéticos

José Pela Neto, professor da Fecap.
José Pela Neto, professor da Fecap.

Ataques cibernéticos: como se não fosse suficientemente ruim por si só, a crise econômica tem criado um ambiente mais favorável aos ataques de hackers.

Na avaliação de José Pela Neto, professor do MBA de Gestão de Riscos e Compliance da Fecap e especialista em riscos cibernéticos, como os problemas econômicos impactam os resultados, muitas companhias enfrentam um “conflito de prioridades” sobre as áreas a que vão destinar seus recursos disponíveis. “Muitas delas estão lutando para continuar no mercado”, diz Neto.

“Hoje estamos num momento em que as empresas de um modo geral não dão a segurança adequada que o problema exige”, avalia ele.

Do outro lado do balcão, os bandidos digitais vêem o cardápio de opções à sua disposição crescer. Da mesma maneira, podendo explorar com mais desenvoltura as brechas no sistema de segurança das companhias.

Assim, no resumo da ópera, uma situação que está entre os principais riscos a serem enfrentados em todo o mundo ganha contornos ainda mais complicados no Brasil.

No entanto, Pela Neto ressalta que a vulnerabilidade atual não é culpa só do buraco econômico em que o país se meteu.

Segundo ele, a legislação brasileira também não ajuda. Principalmente ao não resguardar adequadamente os clientes de empresas que são alvo de ataques digitais.

Nos Estados Unidos, nota ele, há por exemplo obrigação legal de se informar publicamente se ocorreu algum vazamento de dados. Este tipo de obrigação põe mais pressão para as empresas se manterem mais seguras. Até porque geram uma série de desdobramentos sobre cada caso específico.

Também na questão legal, o Brasil está num momento único. Já que mudanças na lei dependem do Congresso. Contudo, com a situação política atual, vai passar um bom tempo até que os legisladores encontrem tempo e vontade para colocar o tema no seu radar de atividades. “Hoje está se lutando para manter o país em pé”, diz o professor sobre a situação política nacional.

Cases

Todavia, num cenário como o descrito por Pela Neto, continuam a pipocar no noticiário casos de ataques que complicam a vida das empresas. No Brasil, na semana passada, houve o episódio da XP Investimentos, com roubo de dados de 29 mil clientes de uma das principais administradoras de recursos do país. Mas nos últimos meses vieram à tona casos como o do Yahoo!, com vazamento de dados de 500 milhões de usuários. Assim como do XBox, entre outros.

Enfim, a coisa está num ponto que um hotel precisou rever seu sistema de chaves eletrônicas depois que hackers trancaram as portas e a travaram a emissão de novas chaves, deixando os hóspedes do lado de fora dos quartos.  “É neste nível que estamos hoje”, diz Neto.

Trata-se de um caso grave. Em que a empresa cedeu aos bandidos. E que vem acompanhado de danos “clássicos” cada vez mais comuns. Por exemplo, como roubo de propriedade intelectual e de informações sigilosas. Danos que podem comprometer anos de estudos e investimentos de uma companhia. “Hoje, quase tudo está no ambiente digital”, lembra Neto.

Essas atividades, diz o professor, geraram uma indústria com variados níveis de atuação. “Há o hacker a serviço de países ou empresas mal intencionadas. Também há o hacker que trabalha ele próprio com informações vitais das companhias”, explica. Da mesma forma, complementando que a atuação desses criminosos não enfrenta o problema de fronteiras. Assim podendo atuar em qualquer parte do mundo.

“As ações [de segurança] das empresas estão abaixo do que seria necessário para enfrentar o problema”, resume Neto.