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Desaceleração do comércio global deve continuar, alertam seguradoras

O processo de desaceleração do comércio internacional deve continuar em 2017, criando mais um obstáculo à recuperação da economia global, alertam seguradoras de crédito.

Em relatório divulgado nesta semana, a espanhola Crédito y Caución observou que a redução do ritmo de crescimento do comércio internacional se deve sobretudo à desaceleração da economia chinesa e à modesta performance dos Estados Unidos.

Mas a situação tende se agravar devido a desdobramentos políticos, especialmente após a eleição de Donald Trump como presidente americano.

Trump adotou um discurso contrário à globalização e ao livre comércio, prometendo durante sua campanha renegociar os acordos comerciais com países que, em sua opinião, tiram vantagem dos Estados Unidos – um grupo que, para ele, inclui o Brasil.

Mas a rejeição à ideia de que o livre comércio é bom para todo mundo não é uma exclusividade do magnata americano, já que a oposição a acordos internacionais como o TPP (Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica) e o TTIP (Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento) se torna cada vez mais acirrada ao redor do planeta.

Grupos que se opõem ao livre comércio, tanto de esquerda como de direita, também obtiveram ganhos eleitorais no Reino Unido e na Espanha, e em 2017 podem avançar em eleições a serem realizadas outros países importantes para o comércio global, como a Alemanha, a França e a Holanda.

“O que está claro é que, com toda esta incerteza, está mais difícil fazer previsões a respeito do comércio,” afirma a Crédito y Caución.

Mais fraco

A incerteza preocupa economistas e investidores. “É algo preocupante que estejamos dispostos a jogar fora 300 anos de filosofia econômica segundo a qual o comércio é uma coisa boa”, afirma David Lafferty, estrategista-chefe da Natixis Global Asset Management, em Boston.

“É certo dizer que a ameaça do protecionismo está em alta, e isso é preocupante”, disse Léon Cornelissen, economista-chefe da Robeco, em Roterdã.

A oposição ideológica ao livre comércio ganha força em um momento em que as transações comerciais entre países já se encontram em queda.

Um recente estudo da Euler Hermes, outra seguradora de crédito, afirma que o crescimento do volume de bens negociados entre os países deve se limitar a 2,1% neste ano e chegar a meros 3,1% no ano que vem. Trata-se de um ritmo bem inferior ao do que havia antes da Grande Recessão iniciada em 2009, quando a média anual chegava a 7%.

Mais grave é que, segundo a empresa, tudo indica que no futuro o crescimento do comércio deve ficar a taxas inferiores a 4% anuais no futuro.

Em termos de valores movidos pelo comércio internacional, a queda de ritmo é ainda mais evidente. No ano passado, o comércio gerou 10,5% menos em movimentações de dinheiro do que no ano anterior. Neste ano, a sangria se estancou um pouco, mas deve chegar a 2,9%.

A Euler Hermes estima que isso significa que, nos últimos dois anos, a perda econômica ligada à desaceleração do comércio chega a US$ 3,12 trilhões – um número quase equivalente ao PIB da Alemanha.

Isso tudo constitui uma má notícia para as organizações que apostam no setor externo para crescer, observa a Euler Hermes. “As empresas terão que encontrar novas alterativas para expandir seus negócios”, alerta a seguradora.

Os motivos

A Euler Hermes quatro fatores que estão detrás da atual tendência de desaceleração do comércio global.

A primeira é uma demanda reprimida ligada à desaceleração da economia a nível global, especialmente nos países emergentes. “A China especialmente tem controlado sua conta de importação”, afirma o relatório.

Outro fator é a queda acentuada dos preços das matérias-primas, e um terceiro, a chamada “guerra cambial”, na qual vários países tentam ganhar espaço no comércio mundial desvalorizando suas divisas na comparação com o dólar.

A estratégia tende a não funcionar quando todo mundo está tentando fazer a mesma coisa, e a empresa observa que desvalorizações tiveram parcos resultados recentemente para países como o Brasil, a Colômbia, o Chile, o Peru, a Indonésia e a Rússia.

O quarto fator é o processo que a empresa chama de “domesticalização”. Isso se reflete no aumento do consumo de artigos que não podem ser comprados de outros países, como o lazer e o ócio, os investimentos imobiliários os produtos financeiros.

Já a Crédito y Caución adiciona o tema da falta de financiamentos ao comércio como outro elemento reprimindo o crescimento. A empresa estima que, em 2015, houve um déficit global de US$ 1,5 trilhão em recursos para financiar as atividades comerciais internacionais.

Trata-se de um volume de dinheiro US$ 200 bilhões superior ao observado em 2014, e em grande medida pode ser atribuído ao endurecimento da regulamentação da atividade dos bancos em países como os Estados Unidos e a Europa.

Estes dados ilustram uma realidade mais ampla em que o processo de globalização, do qual o comércio internacional é uma das facetas mais visíveis, pode estar se revertendo.

“O novo consenso parece ser que a desglobalização vai continuar”, afirmou Daniel Morris, estrategista sênior de investimentos do BNP Paribas Investment Managers.




Consultoria prevê mais ciberataques de governos e morte da senha

O gradual desaparecimento das senhas e o aumento dos ciberataques patrocinados por governos são duas das tendências para os riscos cibernéticos em 2017, de acordo com uma empresa de segurança digital dos Estados Unidos.

Em relatório divulgado esta semana, a Experian também alertou que as empresas do setor de saúde devem ser as mais visadas pelos hackers, e que os casos de violações de dados internacionais vão causar grandes dores-de-cabeça para as empresas multinacionais.

A Experian também alerta que empresas que sofreram invasões em seus sistemas em anos anteriores podem sofrer as consequências dos ataques no ano que vem.

Como exemplo, a empresa cita o caso do Linkedin, Dropbox e Yahoo, que sofreram invasões entre 2012 e 2014, mas neste ano viram os dados roubados serem vendidos na internet.

A Experian estima que 732 milhões de endereços de email e senhas foram expostas como resultados desses ataques.

“A preparação para uma violação de dados digitais se transformou em uma tarefa muito mais completa nos últimos anos”, disse Michael Bruemmer, vice-presidente da Experian. “As empresas devem ficar de olho em muitas novas ameaças que estão em constante evolução.”

Outro estudo, realizado pela IBM e pelo Instituto Ponemon, que é especializado no tema da privacidade digital, concluiu que as empresas continuam pouco preparadas para enfrentar os ataques cibernéticos.

Apenas 32% das empresas globais entrevistadas pelos autores do estudo afirmaram que suas empresas já possuem um alto nível de resiliência cibernética, comparado com 35% em 2015.

Já dois de cada três entrevistados opinaram que suas empresas não estão preparadas para enfrentar um ataque cibernético.

A pesquisa aponta que o principal foco de ataques cibernéticos sofridos pelas empresas entrevistadas são os seus próprios funcionários, e que o custo médio de um roubo de informações bem-sucedido chega a US$ 4 milhões.

Efeitos de longo prazo

A Experian alerta ainda que os casos citados mostram que, mesmo após reagir a um ataque cibernético, as empresas podem estar expostas a seus efeitos por bastante tempo.

Por isso, devem procurar reforçar seus sistemas antifraude. Por exemplo, por meio da adoção de processos duplicados de autenticação da identidade de usuários.

Os sistemas de autenticação secundária incluem a utilização de mensagens de SMS, localização geoespacial ou identificação biométrica, entre outras opções.

Como resultado do aumento da frequência dos eventos cibernéticos, a empresa prevê que se acelerará o processo de desaparecimento do uso de senhas, em benefício de outros tipos de autenticação de usuários.

Quanto à tendência de utilização de hackers pelos governos, a Experian prevê que em breve os conflitos cibernéticos podem passar do campo da espionagem, onde prevalecem hoje em dia, para o das agressões ativas entre países, quem sabe até derivando em guerras.

Prova disso foi o uso de vazamentos de informações, supostamente por governos estrangeiros, para influenciar o resultado das eleições americanas deste ano, afirma a empresa.

A Experian diz esperar que o governo americano revela a realização de ao menos uma ofensiva cibernética contra organizações terroristas como o Estado Islâmico no futuro próximo.

Sequestros digitais

Quanto os ataques promovidos por criminosos, a empresa coloca a indústria médica no centro das atenções dos hackers, que buscam roubar dados de clientes de hospitais e outras instituições a fim de colocá-los à venda na internet.

Além disso, os hospitais constituem alvo privilegiado para os chamados ataques conhecidos como ransomware, em que os hackers bloqueiam o sistema de uma empresa até que um resgate seja pago.

Como os efeitos de um bloqueio das atividades de hospitais e clínicas podem ser catastróficos, a Experian diz que eles se tratam de alvos fáceis e convenientes para os hackers, já que as empresas preferirão pagar os resgates a ver seus serviços interrompidos por muito tempo.

Outra tendência para 2017 é o aumento dos eventos cibernéticos de âmbito internacional, cujas consequências se tornarão ainda mais severas na medida em que novas legislações de proteção de dados entrem em vigor ao redor do mundo.

O risco mais imediato neste sentido é a nova lei de proteção de dados da União Europeia, que começa a valer em 2018.

Quando isso acontecer, se uma empresa que maneja dados de pessoas que vivem em um país do bloco sofra um ataque, deve notificar as autoridades europeias em 72 horas ou sofrer sérias consequências. Mas especialistas alertam que, especialmente no caso de vazamentos de dados de dimensão internacional, o prazo de três dias será muito difícil de ser respeitado.

Além da UE, a Austrália e o Canadá estão reforçando suas leis de proteção de dados, lembra a Experian.

Ataques em alta

Os alertas foram feitos em um momento em que levantamentos apontam um considerável aumento na frequência de ataques contra as empresas.

Por exemplo, a ThreatMetrix, uma consultoria em segurança digital, afirmou que os 130 milhões de ataques que detectou no terceiro trimestre deste ano constituem um número 40% superior ao do mesmo período de 2015.

A empresa também afirmou que o Brasil aparece entre os dez maiores países de onde partem ataques cibernéticos, junto com os Estados Unidos, México, Reino Unido, França, Itália, Alemanha, Espanha, China e Itália.

A empresa analisa transações online feitas pelos setores financeiros, de e-commerce e de mídia, englobando três tipos de atividades: pagamentos, conexões a contas online e criações de novas contas.

Dos três, as criações de novas contas são as mais sujeitas a fraude, já que cerca de 10% das transações deste tipo analisadas pela Threatmetrix foram fraudulentas no terceiro trimestre.

Mas o número de fraudes realizadas em processos de pagamento online aumentou 54% no período, o que mostra que este tipo de ataque está crescendo de forma acelerada, afirma a empresa.

Clique aqui para ler o estudo da Experian, aqui para baixar o da Threatmetrix, e aqui para ver um infográfico com as conclusões da IBM e Instituto Ponemon.




Banco Mundial propõe novo foco a gestão de risco catastrófico

O Banco Mundial (Bird) quer que as políticas públicas de gestão de riscos de desastres naturais levem em conta não apenas as perdas econômicas causadas por enchentes, tempestades, secas e terremotos, mas também a redução do bem-estar das pessoas afetadas por tais eventos.

Desta maneira, as políticas de prevenção teriam um foco mais claro nas populações vulneráveis, e não tanto nos setores mais ricos da sociedade, argumenta a organização. Como resultado, seria possível salvaguardar US$ 100 bilhões por ano em capacidade de consumo, mitigando o impacto global dos desastres naturais. No Brasil, os ganhos chegariam a US$ 2,7 bilhões por ano.

A proposta é apresentada em um relatório divulgado nesta semana pelo Bird. O objetivo do documento é romper a relação que existe entre a pobreza e os eventos climáticos mais extremos.

Para tanto, propõe a utilização de um novo tipo de metodologia para calcular as perdas causadas por desastres naturais, atribuindo um peso relativo aos danos sofridos pela população de baixa renda e pelos mais ricos e avaliando a capacidade de cada grupo social de reagir aos eventos.

Os relatórios de impacto catastrófico publicados periodicamente por entidades de mercado, como a resseguradora Swiss Re e a corretora Marsh, calculam as perdas econômicas causadas pelos mesmos. Desta maneira, logicamente, as regiões que concentram maiores níveis de riqueza aparecem como as mais afetadas, ainda que o impacto sobre a vida das pessoas não seja necessariamente mais dramático.

Um exemplo desta distorsão ocorreu no mês de abril, quando terremotos atingiram, no espaço de uma semana, tanto o Japão quanto o Equador. Os tremores da ilha japonesa de Kyushu mataram 69 pessoas e causaram um prejuízo estimado em US$ 25 bilhões pela resseguradora Munich Re. Já os terrremotos que devastaram o litoral equatoriano causaram um número de mortes dez vezes maior, mas os prejuízos foram estimados em um décimo dos sofridos no Japão.

Exatidão

O Banco Mundial afirma que, com sua nova metodologia, seria possível estimar com maior exatidão o impacto das catástrofes sobre o bem-estar da população.

Com base em estatísticas sobre a resiliência econômica de 117 países, o banco calcula que a redução de consumo causada por desastres naturais chega a US$ 520 bilhões, o que é 60% mais do que as perdas econômicas resultantes dos mesmos eventos catastróficos.

Ao colocar um valor no impacto sobre o padrão de vida da população, e não sobre as perdas econômicas, seria possível direcionar melhor os recursos públicos destinados à construção de diques, à atualização de normas de construção ou outras medidas destinadas a reduzir o impacto das catástrofes.

Os autores estimam que, se medidas preventivas fossem tomadas para reduzir o impacto de todos os desastres naturais esperados para o próximo ano, o número de pessoas que vivem abaixo do nível da pobreza no mundo cairia em 26 milhões.

Isso porque este grupo de pessoas está mais exposto a sofrer com os eventos catastróficos e, ainda que suas perdas absolutas sejam menores do que as sofridas pelos ricos, elas representam uma parcela maior de seu patrimônio.

Além disso, elas tendem a receber menos ajuda de familiares, amigos e organizações governamentais.

“Em realidade, os desastres podem lançar as pessoas à pobreza, e portanto a gestão de riscos de desastres pode ser considerada uma política de redução da pobreza”, afirma o documento. “E, como as políticas de redução da pobreza deixam as pessoas menos vulneráveis, elas podem ser consideradas como parte das ferramentas de gestão de risco de desastres.”

Economia

Para enfrentar estes problemas, o banco propõe uma série de medidas para aumentar a resistência dos países aos eventos naturais que, se adotadas completamente, poderiam gerar economias de US$ 100 bilhões por ano.

Este número seria alcançado pela proteção do bem-estar das populações mais afetadas, assegurando assim boa parte de sua capacidade de consumo.

O objetivo das medidas propostas seria evitar episódios como o impacto do furacão Ágatha na Guatemala em 2010. O consumo per capita caiu 5,5% no país após a passagem do furacão, aumentando o nível de pobreza em 14%.

Os pobres afetados pelos desastres também acabam tendo que tomar decisões drásticas, como tirar as crianças da escola para que trabalhem e ajudem a recuperar a renda familiar.

Mas o relatório lembra que não são só os grandes desastres que afetam os mais pobres. De fato, esse grupo de pessoas tende a sofrer mais, por exemplo, com pequenas enchentes que atingem cidades com sistema de saneamento insuficiente. Como são eventos que causam perdas econômicas agregadas modestas, eles não recebem atenção da mídia e acabam sendo pouco contemplados pelas políticas de prevenção de desastres.

A metodologia

Os autores do estudo argumentam que a metodologia tradicionalmente usada para medir os impactos de desastres naturais se focam nos danos causados a propriedades, já que focam em três fatores: a possibilidade de que um evento ocorra, a exposição da população e dos bens localizados nas áreas de risco, e a perda de valor dos bens quando eles são atingidos por um evento.

O relatório propõe agregar um quarto elemento a este método, que é a resiliência socioeconômica das regiões atingidas.

Desta maneira, é possível estimar o efeito dos eventos naturais tanto sobre as populações pobres quanto sobre as mais abastadas, calculando como os desastres podem afetar sua renda e sua capacidade de consumo.

As medidas propostas pelo banco incluem um direcionamento mais claro dos recursos públicos de prevenção de desastres, dando preferência às áreas com menor resiliência socioeconômica, além da utilização de programas de distribuição de renda para ajudar na recuperação das populações atingidas.

O banco estima que, no Brasil, por exemplo, cada dólar dedicado às populações mais pobres após um desastre resulta em US$ 4 de ganhos em termos de melhoria de bem-estar.

O Banco Mundial também diz que o mercado de seguros tem um papel a desempenhar, especialmente no atendimento à classe média, reduzindo a pressão sobre os cofres públicos em tempos de desastre. Desta maneira, os recursos governamentais podem se focar nas populações mais expostas.

Clique aqui para baixar o relatório em inglês.




Tsunamis matam mais de 250 mil em 20 anos, estima ONU

O risco de que um tsunami atingisse a Nova Zelândia nesta segunda-feira (14/11) colocou mais uma vez em evidência uma ameaça que é descrita pela ONU como a catástrofe natural mais mortal que existe.

De acordo com um estudo publicado em novembro, ao menos 94 tsunamis ocorreram nos últimos 400 anos. A maioria ocorreu na região dos oceanos Pacífico e Índico, mas outras áreas do globo – incluindo o oceano Atlântico – também registraram importantes eventos do tipo.

Os tsunamis estudados pelos pesquisadores da Universidade de Tóquio, no Japão, levaram em conta apenas os tsunamis que foram originados por terremotos com uma magnitude superior a 7,5 pontos na escala Richter e que geraram ondas de ao menos dois metros de altura.

Outro estudo calcula que 16 grandes tsunamis causaram quase 251 mil mortes em 21 países nos últimos 20 anos. A Indonésia, com 167.044 mortes, foi o país que mais sofreu com esta catástrofe no período. Em seguida vêm Sri Lanka (35.399), Japão (19.847) e Índia (16.389).

A ONU qualifica os tsunamis como os desastres naturais que mais matam no mundo.

Preocupantemente, a organização acredita que, se a frequência e a intensidade dos tsunamis se repetirem nas próximas duas décadas, o número de pessoas afetadas será 16% maior que no período anterior.

Os estudos foram divulgados durante o Dia Mundial de Conscientização sobre os Tsunamis, 5 de novembro, uma data criada pela Organização das Nações Unidas para fomentar medidas de prevenção contra os efeitos da catástrofe natural.

Além do potencial número de mortes que podem ocorrer, a ONU lembra que a catástrofe de Fukushima revelou outro grave risco ligado aos tsunamis: o de desencadear acidentes nucleares.

A organização lista mais de 70 usinas nucleares que foram ou serão construídas em áreas de risco de tsunami na Ásia. Trinta e oito delas estão na China, 19 no Japão e 14 na Coréia do Sul.

Força devastadora

As ondas geradas por este tipo de evento se deslocam em uma velocidade assustadora.

De acordo com os cientistas, no fundo do mar, elas podem se mover tão rapidamente quanto o vôo de um avião. Em áreas mais rasas, sua velocidade é comparável à de um automóvel.

Por esse motivo, é vital para as áreas de risco contarem com sistemas de alerta imediato para o caso de ser atingidas por um tsunami. No Japão, mesmo áreas distantes do epicentro do tremor que dá origem ao evento podem receber avisos em um período de três minutos. Na Tailândia, as autoridades levam sete minutos para disseminar os alertas.

Com tanta força, as ondas muitas vezes conseguem penetrar grandes distâncias nas áreas atingidas.

O tsunami de Sumatra, em 2004, entrou até 2 quilômetros no interior da região de Khao Lak, na Tailândia, e até 4 quilômetros em Banda Aceh, na Indonésia.

Em 2011, durante o tsunami do leste do Japão, as ondas chegaram a avançar 5 quilômetros na planície de Sendai.

Mortes

Por vezes, o número de mortes causadas por tais eventos pode ser muito superior às duas fatalidades ocorridas na Nova Zelândia.

O tsunami que varreu a costa leste do Japão em 2011, por exemplo, matou 18.453 pessoas, de acordo com o estudo.

Além disso, causou grande devastação física, incluindo o acidente nuclear na usina de Fukushima, e prejuízos estimados em mais de US$ 220 bilhões.

Já o gigantesco tsunami de 2004 no sul da Ásia deixou 227.899 mortos, o maior número de fatalidades registradas pelo estudo.

Outros eventos de grande porte listados pelos cientistas incluem um tsunami que atingiu o Peru em 1868, matando ao menos 25.000 pessoas, e o que se seguiu ao grande terremoto de Lisboa, em 1755, que deixou cerca de 50.000 vítimas mortais.

A tragédia portuguesa é o exemplo mais claro de que, ainda que os tsunamis tendam a acontecer mais na região dos oceanos Pacífico e Índico, eles também podem ter lugar no oceano Atlântico. Nenhum grande evento, porém, foi observado no Atlântico sul, que banha o Brasil.

Outra área de risco incluem o mar Mediterrâneo, o mar Negro e o Caribe. Na América do Sul, o Chile e o Peru são os países mais expostos.

Nova Zelândia

Nesta segunda-feira, a Nova Zelândia sofreu um terremoto de 7,5 pontos na escala Richter que gerou alarme de tsunami por todo o país.

Ao final, porém, os alertas foram rebaixados para eventos menos graves. Há notícias porém de que ondas de vários metros de altura causaram devastação em partes do país.

Vários tremores secundários ocorreram após o terremoto principal.

Dezenas de milhares de pessoas deixaram suas casas como medida de prevenção a um possível tsunami. O terremoto causou ao menos duas vítimas mortais.




Trump eleva risco de guerra comercial que pode atingir Brasil

A eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos eleva a possibilidade de guerras comerciais com outros países, incluindo o Brasil, de acordo com analistas.

A surpreendente vitória do candidato republicano sobre a democrata Hillary Clinton também suscita dúvidas sobre os próximos passos da política monetária do Fed, o Banco Central americano, o regime fiscal das empresas que operam no país e a situação fiscal do próprio governo.

Acima de tudo, analistas dizem que a falta de clareza e as contradições em temas econômicos expressadas por Trump durante a campanha eleitoral adicionam um elemento extra de incerteza a uma economia global que está em dificuldades para voltar a crescer.

A consultoria The Economist Intelligence Unit, por exemplo, qualificou a eleição de Trump, que terá o controle tanto do Senado quanto da Casa de Representantes (o equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil), como um “terremoto político” que a obrigará a revisar todas as suas previsões a respeito do futuro da economia americana.

“A vitória eleitoral de Trump causará um alarme generalizado ao redor da economia global devido ao seu frouxo domínio de política econômica, seu populismo político desenfreado e sua tendência para a contradição”, afirmou a EIU em uma nota após a divulgação do resultado da eleição.

“Esperamos ver fortes movimentos nos mercados de renda fixa, de renda variável e de câmbio até que Trump forneça alguma clareza sobre sua agenda política.”

Comércio

Um dos temas que preocupam os analistas é a ameaça feita por Trump de renegociar os tratados comerciais assinados com países que, segundo ele, se aproveitaram da generosidade americana para aumentar seus superávits com a maior economia do mundo.

O México pode ser o mais afetado na América Latina. O país tem um acordo de livre comércio com Estados Unidos e Canadá, por meio do Nafta, e viu sua moeda despencar com a eleição de Trump.

“Em nossa opinião, o maior potencial de um impacto negativo sobre os mercados emerge da possibilidade de [Trump] dar início a uma guerra comercial”, disse James Carthew, diretor da empresa de pesquisa financeira QuotedData. “E o México está no topo da lista.”

Outro país que deve estar na mira do presidente eleito é a China, de acordo com os analistas.

Mas a consultoria Verisk Maplecroft lembra que o Brasil também foi mencionado pelo republicano como beneficiário dos acordos comerciais que, em sua opinião, são injustos para os norte-americanos.

“A revisão das relações de comércio e acordos bilaterais com parceiros comerciais pode afetar os exportadores brasileiros, para quem os Estados Unidos constituem o segundo maior mercado”, afirma a consultoria em nota.

A Verisk Maplecroft também advertiu que as moedas e os mercados de capitais das economias emergentes devem se encontrar sob forte pressão dos investidores nos próximos dias.

Política monetária

Economistas têm expressado preocupação com os planos de Trump de baixar os impostos e aumentar os gastos em defesa e infraestrutura, entre outras medidas econômicas que têm o objetivo de dar novo impulso à economia.

Na opinião da Verisk Maplecroft, o desequilíbrio fiscal que políticas desse viés poderiam causar arriscam até mesmo ameaçar a posição do dólar como uma moeda de referência para a economia internacional.

Saker Nusseibeh, CEO da gestora de ativos britânica Hermes, alertou que, se Trump voltar a falar na renegociação da dívida americana, muita volatilidade pode ser criada no mercado, incluindo nos títulos da dívida americana, um tradicional refúgio para investidores.

No curto prazo, um efeito quase imediato da eleição de Trump deve ser a mudança de ritmo do aumento das taxas de juros por parte do Fed, o Banco Central americano, afirmou Paul Jackson, chefe da área de Pesquisas da Source ETF.

Para ele, o mais provável é que o Fed, diferentemente do esperado, não aumente os juros em dezembro, e se mostre relutante em fazê-lo no futuro próximo após ter sido criticado por Trump durante a campanha por manter os juros baixos demais. A Hermes lembra que há temores no mercado de que Trump tente interferir nas atividades do Fed, algo que presidentes anteriores evitaram fazer.

Por outro lado, Jackson acredita que o consumo americano, um elemento vital para a recuperação da economia global, pode se beneficiar por um aumento da confiança das famílias trabalhadoras no país. “O principal problema agora é a falta de clareza”, disse Jackson.

Impostos

Trump prometeu durante sua campanha reduzir os impostos pagos pelas empresas americanas, o que lhe valeu o apoio de pesos-pesados do mercado de capitais, como o megainvestidor Carl Icahn.

Segundo o escritório de advocacia tributária Crowe Horwarth, caso os planos de Trump se concretizem, a taxa de imposto de sociedades mais elevado no país deve passar de 35% para 15%.

Com isso, seria possível simplificar o código tributário americano e eliminar exceções que, segundo críticos, possibilitam que empresas paguem menos impostos do que deveriam.

O presidente eleito dos Estados Unidos também prometeu harmonizar os impostos pagos por profissionais da área de investimentos, como os gestores private equity, com os que são pagos por outros tipos de investidores – uma medida que durante anos tem enfrentado resistência em Wall Street.

O movimento de desregulamentação da economia pregado por Trump também poderia chegar ao mercado de seguros.

A Associação Americana de Seguradores (AIA, na sigla inglês) expressou esperança de que a ação conjunta de um presidente e um Congresso republicanos possibilite a adoção de um regime regulatório mais equilibrado que “permita à indústria crescer e desenvolver novos mercados que respondam a avanços tecnológicos como a telemática, o big data e os veículos autônomos”.




Utilização de Uber e Airbnb gera novos riscos para empresas

As empresas tendem a utilizar cada vez mais serviços de economia compartilhada, como o Uber e o Airbnb, criando uma série de novos riscos que elas vão ter que aprender a administrar, alerta uma consultoria especializada em viagens de negócios.

Segundo um relatório da International SOS, é só uma questão de tempo para que o transporte e a hospedagem compartilhados tenham um grande peso nas viagens de negócios, assim como está acontecendo no dia-a-dia das pessoas.

As vantagens econômicas de usar tais serviços são muitas vezes evidentes, mas o relatório alerta que não são todos os países que oferecem as garantias legais ou de segurança para que as empresas estejam tranquilas com a sua utilização.

Ainda que o relatório não cite o Brasil, o país aparece como um caso lógico de lugar onde as empresas devem tomar cuidado com estes novos recursos.

Durante a Rio2016, consultorias alertaram seus clientes internacionais sobre o fato de que os motoristas do Uber muitas vezes eram abordados e até agredido por taxistas que protestavam contra a legalização do serviço de transporte compartilhado.

“As empresas devem compreender que o uso da economia compartilhada para viagens de negócios cria novos riscos e desafios que precisam ser geridos e mitigados”, afirmou Tim Daniel, vice-presidente executivo da International SOS.

Em aumento

A International SOS fez uma pesquisa com empresas de vários países e descobriu que 27% delas já usam o Uber ou outros serviços similares em suas viagens internacionais, e quase metade espera que a utilização aumente no futuro.

Já 22% esperam que seus funcionários façam mais uso do Airbnb e outros sistemas de compartilhamento de hospedagem. Tanto o Uber quanto o Airbnb já possuem departamentos dedicados a atender os clientes corporativos.

Por outro lado, três quartos das empresas não possuem políticas de utilização de serviços compartilhados.

No estudo, a empresa de advocacia Herbert Smith Freehills aponta três fatores legais que as empresas devem considerar a respeito do uso destes serviços em viagens internacionais.

Em primeiro lugar, é preciso estar seguro de sua legalidade no país onde o funcionário está viajando. Em segundo, a empresa deve se assegurar de que o nível de segurança oferecido é comparável aos dos meios de transporte e hospedagem tradicionais.

Finalmente, para evitar problemas legais, a empresa deve estabelecer uma política com critérios claros a respeito das situações e condições em que os empregados podem fazer uso da economia compartilhada. Esses critérios devem ser definidos por meio de uma análise cuidadosa do risco envolvido.

Hospedagem

O relatório observa que muitas empresas já identificaram as vantagens de serviços como o Airbnb em termos de contenção de custos, por exemplo, ao poder hospedar vários funcionários em um mesmo apartamento.

Mas vários aspectos necessitam ser levados em conta antes de dar esse passo. Por exemplo, as empresas devem verificar se os imóveis alugados possuem procedimentos de evacuação em caso de emergência – uma prática comum nos hotéis, mas rara nos apartamentos de particulares.

Os imóveis privados também raramente oferecem fontes alternativas de energia elétrica ou telecomunicações, o que pode causar transtorno para os profissionais hospedados, caso haja um corte na provisão destes serviços.

Os hotéis mais gabaritados muitas vezes colocam à disposição de clientes corporativos serviços de tradução, de aluguel de veículos, motoristas e até assistência médica, além de recepção 24 horas, e isso não é o caso dos imóveis alugados por particulares, lembra o relatório.

Por outro lado, os autores observam que as empresas de economia compartilhada já estão começando a providenciar serviços adicionais que podem contemplar algumas destas necessidades em termos de hospedagem.

No entanto, em países de elevado risco para os viajantes, conforme a classificação de empresas como a própria International SOS, os autores afirmam que as propriedades particulares são quase certamente inapropriadas, do ponto-de-vista da segurança dos funcionários.

Transportes

Quanto aos provedores de meios de transporte compartilhados, como o Uber, o americano Lyft e o chinês Didi Chuxing, a International SOS observa que as empresas mais consolidadas tendem a fazer um trabalho cuidadoso de seleção dos membros de suas redes, o que reduz o risco de entrar em um carro de um malfeitor ao usar estes aplicativos.

Mas a consultoria diz que há outros riscos envolvidos, como a possibilidade de que o automóvel em que o funcionário esteja seja atacado por opositores deste serviço, como aconteceu nos últimos meses no Brasil, no Quênia e no Canadá, entre outros países.

A consultoria também alerta que, na América Latina, os serviços de transporte privado de mais alta categoria muitas vezes utilizam automóveis de luxo padronizados, o que torna seus passageiros potenciais alvos para possíveis assaltantes.

De qualquer maneira, a International SOS recomenda que as empresas busquem provedores estabelecidos no mercado, e que os funcionários sejam orientados a somente usar automóveis que podem ser rastreados por meio dos aplicativos que os conectam.

Além disso, devem se recusar terminantemente a aceitar que o motorista recolha outros passageiros, sentar-se no banco traseiro e, caso sintam-se seguros, pedir ao motorista que pare em um lugar movimentado.

A consultoria observa ainda que, tanto no caso dos automóveis compartilhados quanto nas acomodações, as condições variam de país a país, e uma política única para todas as viagens internacionais pode se mostrar inadequada para garantir a segurança dos funcionários.

Um importante lembrete feito pela consultoria é que as empresas precisam checar se suas apólices de seguro de viagem contemplam eventuais sinistros sofridos durante o uso de serviços de economia compartilhada.

Clique aqui para ler o relatório em inglês.

 




Riscos cibernéticos: empresas vivem ‘ilusão de segurança’, diz estudo

As empresas podem estar vivendo uma “ilusão de segurança” com relação aos riscos cibernéticos, de acordo um estudo da Swiss Re e da gigante de informática IBM.

O alerta é motivado pela baixa penetração de seguros cibernéticos entre as companhias, especialmente fora dos Estados Unidos.

Uma das razões porque a contratação de soluções de seguros para riscos cibernéticos segue restrita é a pouca clareza, no mercado, a respeito dos riscos cibernéticos que já são cobertos pelas apólices de seguros patrimoniais e de responsabilidades que as empresas já possuem.

Ainda assim, o mercado está confiante de que a demanda vai aumentar consideravelmente no futuro, e metade das seguradoras que ainda não oferecem o produto planejam lançar suas próprias coberturas nos próximos anos.

A pesquisa foi feita com 1.004 empresas e 802 executivos de seguros de todo o mundo.

Um total de 48% das empresas respondentes afirmou que os riscos cibernéticos já são ameaças mais graves que outros riscos que elas enfrentam, e 60% acredita que eles se tornarão ainda mais relevante na próxima década.

Na América Latina, os números são 52% e 69%, respectivamente. As empresas latino-americanas aparecem como as mais preocupadas sobre o tema, junto com as norte-americanas, e isso reflete a forte atividade de hackers na região, segundo o relatório.

Riscos

Os riscos que mais tiram o sono das empresas são a alteração de dados, seu roubo e exposição pública, mas as preocupações variam de acordo com o setor onde elas atuam.

No setor farmacêutico, por exemplo, existe um forte temor com respeito à ocorrência de fraudes. O mesmo ocorre nas indústrias automobilística e varejista.

Segundo os autores do estudo, é crescente a preocupação com destruição física originada por ataques cibernéticos, enquanto que no setor de saúde as empresas temem sofrer perdas na área de erros e omissões como resultado da ação de hackers.

Outro tema que ganha peso é a exposição das empresas a perdas causadas por danos sofridos por terceiros, algo que tende a se tornar cada vez mais relevante na medida em que novas leis de proteção de dados pessoais são implementadas ao redor do mundo.

Mais da metade (52%) dos entrevistados acredita que este é um risco que vai se tornar mais grave nos próximos dez anos. A proporção é especialmente alta, 57%, entre as empresas da América Latina.

Em termos de setores da economia, as companhias de aviação (63%) e hoteleiras (62%) apresentam maior preocupação com o tema.

Seguro

Uma outra conclusão do estudo é que poucas empresas já institucionalizaram a gestão do risco cibernético, e isso vale até mesmo para aquelas que estão muito preocupadas com o tema.

Ainda que mais de 40% das empresas entrevistadas façam análises periódicas de suas exposições ao risco, a grande maioria ainda lida com o tema de uma maneira ad hoc – ou seja, depois que acontece um evento.

As transferências do risco cibernético ao mercado de seguros também constituem uma prática minoritária entre as empresas globais, mesmo entre as maiores corporações.

O estudo apurou que 55% das 190 empresas com mais de 10 mil funcionários entrevistadas ainda não têm coberturas para riscos cibernéticos. Entre as empresas médias, 54% estão descobertas, e entre as pequenas a proporção é de 63%.

O motivo apontado com maior frequência é a falta de interesse em buscar soluções de seguro, apontado por 144 empresas, seguido pelo uso de auto-seguro (136) e a crença de que a exposição da empresa não é grande o suficiente para justificar o investimento em seguro (135).

Mas o mercado parece acreditar que a demanda vai se acelerar no futuro. Quase metade (46%) dos executivos do setor entrevistados afirmou que suas seguradoras já oferecem coberturas para riscos cibernéticos, seja de forma independente ou como parte de apólices já existentes. Deste grupo, 63% têm em seus portfólios produtos específicos para esse risco.

Entre as que ainda não oferecem a cobertura, 31% planejam lançar um produto nos próximos dois anos, e 19%, dentro de três anos ou mais. Outras 35% afirmaram ainda não ter decidido se vão entrar ou não no segmento.

Clique aqui para ler o estudo em inglês.




EUA planejam impor padrão de gestão de risco cibernético a bancos

Grandes bancos americanos podem ser obrigados a adotar uma série de medidas para gerir o risco de ataques cibernéticos, caso seja aprovada uma proposta dos reguladores do mercado financeiro do país.

Como resultado, os gestores de risco podem ter uma maior participação no processo de análise e combate aos riscos cibernéticos nos bancos e outros atores do setor.

A proposta foi elaborada pelo Fed, o banco central americano, o Departamento do Tesouro do governo e o FDIC, a agência que garante os depósitos dos clientes dos bancos. Ela foi apresentada na semana passada e está aberta para discussão pública até a metade de janeiro.

O documento prevê que as normas sejam obrigatórias para entidades que apresentam risco sistêmico para os mercados financeiros.

Além dos bancos, também seriam afetadas, por exemplos, entidades que realizam a compensação de pagamentos e outras atividades de interconexão dos diversos atores do sistema.

As normas também podem ter repercussões para empresas não-financeiras, já que incluem medidas que os bancos terão de adotar para garantir que fornecedores como provedores de serviços de eletricidade e telecomunicações não lhe exponham a riscos cibernéticos.

Risco setorial

O alvo da futura regulamentação são as grandes instituições financeiras de maior porte e nível de interconexão com o restante do sistema financeiro.

O objetivo é reforçar suas estruturas de gestão de riscos cibernéticos, reduzindo a possibilidade de que todo o sistema venha a ser atingido devido a um ataque sofrido por um de seus participantes.

Uma das medidas que estão sendo estudadas é a classificação das empresas financeiras em diferentes níveis de risco, com as mais expostas se sujeitando a parâmetros mais elevados ou de proteção.

As estruturas de informática destas empresas seriam classificadas como “sistemas de risco setorial”. As novas regras reforçariam os programas de fiscalização do risco informático já implementados pelas agências regulatórias do sistema financeiro dos Estados Unidos.

As empresas visadas seriam instituições financeiras com ativos consolidados superiores a US$ 50 bilhões, que seria o patamar a partir do qual, na avaliação dos reguladores, a interrupção de suas atividades poderia causar significativos problemas para outras empresas e o sistema financeiro como um todo.

Sucursais de empresas financeiras estrangeiras que atuam nos Estados Unidos e ultrapassem este patamar também estarão obrigadas a seguir as recomendações, caso elas sejam adotadas.

Cinco prioridades

O objetivo dos reguladores é que as organizações consideradas de risco sistêmico demonstrem ter adotado medidas eficazes em cinco áreas.

A primeira é a governança do risco cibernético, o que implica a definição de uma estratégia de gestão do risco e os procedimentos para sua implementação.

Um dos requisitos analisados é que tais estratégias sejam aprovadas, e sua adoção, fiscalizada pelo conselho de administração da empresa, assumindo a responsabilidade por elas. Outro seria a inclusão de membros com expertise no tema de segurança cibernética, e que os responsáveis pela área tenham autonomia, reportando diretamente ao conselho.

A segunda área a ser contemplada é a implementação de uma estrutura de gestão de riscos que integre elemento como as chamadas três linhas de defesa – as unidades de negócio, a gestão de risco corporativa e a auditoria.

Isto inclui a designação de um gestor de risco independente responsável pela área cibernética, que reportaria diretamente ao Chief Risk Officer da organização.

“A função do gestor de riscos independente deveria estabelecer e manter a compreensão atualizada da estrutura dos programas de segurança cibernética da entidade (…) e os processos e sistemas de apoio, assim como sua relação com a evolução da ameaça cibernética”, afirma o documento.

A terceira área abrange o que o relatório chama de “dependências internas”, ou os riscos que se originam na própria atividade das empresas por meio de seu pessoal, recursos tecnológicos ou equipamentos, ou em negócios que são agregados à organização por meio de fusões ou aquisições.

Já a gestão de “dependências externas” diz respeito à possibilidade de que as empresas sofram com eventos cibernéticos originados em fornecedores e clientes.

Os reguladores planejam, por exemplo, exigir que as empresas financeiras implementam sistemas que identifiquem vulnerabilidades originados em terceiros e assegurem que seus parceiros comerciais estão fazendo o possível para lidar com estes problemas da forma mais adequada.

As empresas também devem ser obrigadas a estabelecer parâmetros e procedimentos relacionados à capacidade de responder a incidentes de uma forma efetiva, reforçar a resiliência cibernética e aumentar a conscientização dos funcionários sobre o risco.

Desta maneira, terão de garantir que poderão desempenhar funções essenciais mesmo no caso de um ataque cibernético, incluindo a manutenção de centros de armazenamento de dados off-line ou até mesmo processos de transferência de informações para outras entidades em caso de emergência.




Aperto regulatório e riscos cibernéticos preocupam bancos, mostra pesquisa

Detalhe da capa do estudo. (Reprodução)
Detalhe da capa do estudo. (Reprodução)

O aperto regulatório e os riscos cibernéticos constituem os principais riscos enfrentados pelos bancos globais atualmente, de acordo com uma pesquisa feita com instituições financeiras de vários países.

Levantamento feito com 67 bancos de 29 países pelo Instituto Internacional de Finanças (IIF) e pela consultoria EY apontou que metade dos executivos entrevistados disse que a adaptação de suas empresas a novas normas e métodos de supervisão é um dos três principais riscos na mesa dos conselhos de administração.

Uma proporção um pouco menor (48%) incluiu os riscos cibernéticos, e 37% destacaram a definição do apetite de risco das organizações.

Em quarto lugar, com 27%, vem a cultura e os valores dos bancos, um tema que voltou às manchetes dos jornais com recentes escândalos envolvendo grandes bancos nos Estados Unidos e na Europa.

Com relação especificamente aos Chief Risk Officers (CROs), os dois temas principais se repetem, porém com mais ênfase, já que os aspectos regulatórios e de supervisão estão no topo da agenda de 68% dos entrevistados, e os riscos cibernéticos, de 51%.

Mudanças constantes

A presença dos riscos cibernéticos entre as principais preocupações dos bancos se insere em um contexto mais amplo de crescimento da importância da gestão dos riscos não-financeiros nas atividades bancárias, segundo os autores do estudo.

Essa é uma das três grandes mudanças que estão alterando a forma como os bancos gerem seus riscos. As outras duas são a necessidade de prestar mais informações aos stakeholders sobre os riscos enfrentados pelos bancos e as mudanças nos modelos de negócio dos bancos para que eles sejam negócios sustentáveis no longo prazo.

“Os bancos vivem hoje um período de mudanças e evolução constante”, disse Andreas Portilla, chefe do Departamento de Assuntos Regulatórios do IIF, durante webcast de apresentação do estudo.

Trata-se de um processo que começou com a crise simbolizada pela quebra do Lehman Brothers, em 2008, e que tem fôlego para seguir na agenda dos bancos por um bom tempo, segundo Patricia Jackson, uma especialista em controle prudencial da EY no Reino Unido.

“O processo atual poderia durar mais de 15 anos”, afirmou ela. “Os reguladores subestimaram o tempo que se leva para mudar a forma com que os bancos fazem negócios.”

Linhas de defesa

Para acompanhar os desafios que estão sendo criados, os bancos estão reformulando suas estruturas de gestão de riscos, de acordo com os especialistas.

O tradicional sistema das “três linhas de defesa” está sendo adaptado a um ambiente em que se exige maior responsabilidade, com relação à gestão de riscos, dos profissionais que estão mais diretamente envolvidos com as atividades comerciais dos bancos.

Trata-se das unidades de negócios, ou a chamada primeira linha de defesa, que hoje cada vez mais são vistas como as “proprietárias” dos riscos implícitos às suas atividades.

Já a segunda linha inclui as atividades como os gestores de riscos, que identificam e medem os riscos e definem sistema de controle e prevenção dos mesmos, e a terceira é constituída pela auditoria interna.

“A questão é como este sistema evoluiu com o tempo. As empresas tradicionalmente tenderam a reduzir a segunda linha e retirar responsabilidades da primeira”, disse Jackson.

Mas 60% dos bancos entrevistados afirmaram que estão mudando o sistema, e para 38%, a prioridade é tornar as unidades de negócio mais responsáveis pelos riscos que assumem. Já 28% estão enfatizando a necessidade de que a primeira linha assuma maior propriedade dos riscos não financeiros.

Uma proporção similar (27%) está fazendo o mesmo, mas com relação aos riscos financeiros, e 23% estão reforçando a independência de gestores de riscos e outras funções da chamada segunda linha de defesa.

Para aumentar a responsabilidade das unidades de negócio, quase três quartos das empresas pesquisadas estão investindo no treinamento sobre gestão de risco dos profissionais que trabalham diretamente nas atividades comerciais, observou Jackson.

“Mas está claro que é preciso pensar de uma forma mais ampla, incluindo por exemplo o sistema de incentivos aos funcionários”, afirmou a especialista da EY.

As técnicas de motivação comercial dos bancos estão sendo severamente questionadas após episódios como o escândalo das aberturas de contas falsas pelo banco americano Wells Fargo, que resultou na demissão do CEO da empresa.

CROs

Por sua vez, Portilla ressaltou que, ainda que o processo de fortalecimento da gestão de risco nas operações comerciais seja essencial, não se deve perder de vista a importância das funções da chamada segunda linha, que define o apetite de risco, identifica as ameaças ao bom funcionamento da empresa, e estabelece os mecanismos de controle e transferência de riscos.

Segundo ele, a continuada relevância destas funções se reflete no aumento da importância que os Chief Risk Officers estão assumindo nos grupos financeiros com o aperto regulatório dos últimos anos.

“Não há dúvida de que os CROs se tornaram o principal ponto de contato entre os reguladores e as empresas”, afirmou ele. “Isso vem acompanhado de um aumento das expectativas a respeito da responsabilidade da função.”

Clique aqui para ler o estudo, e aqui para assistir ao webcast, ambos em inglês.




Gestor de risco cresce na estratégia das empresas, mostra Ferma

Detalhe da capa do estudo. (Foto: Reprodução)

Os gestores de riscos europeus estão ganhando importância em suas empresas, participando em um crescente número de decisões estratégicas e cada vez mais reportando diretamente a membros dos conselhos das companhias.

Mas a profissão continua sendo dominada por homens, que constituem quase três quartos dos gestores de riscos europeus, e segue concentrada nas empresas de grande porte.

A boa notícia é que a diversificação está aumentando na profissão, e entre os profissionais com menos de 25 anos já quase há equilíbrio na participação de homens e mulheres no mercado.

Estas são algumas das conclusões do estudo sobre a gestão de riscos e de seguros publicado a cada dois anos pela Ferma, a federação europeia de associações de gestão de riscos.

O estudo, divulgado nesta semana pela organização em um seminário em Malta, também constatou que 46% dos gestores de riscos entrevistados recebem salários superiores a € 100 mil por ano – o equivalente a mais de R$ 360 mil.

Um pequeno grupo, estimado em 7% do total, ganha salários equivalentes ao dobro desse valor.

Principais riscos

“A pesquisa nos mostra que os gestores de risco estão chegando a uma posição em que eles estão ajudando a integrar a gestão de riscos no modelo de negócio e na cultura de suas organizações”, disse Jo Willaert, presidente da Ferma, ao apresentar o estudo.

“Eles estão assumindo uma visão ampla dos riscos das empresas, incluindo o ambiente de negócios de uma forma mais abrangente, e a maioria já se reporta a um membro do conselho.”

A pesquisa apurou que dois terços dos gestores de riscos entrevistados estão subordinados diretamente a membros dos conselhos das empresas. Entre gestores de riscos puros, 26% se reportam aos CFOs, e 16%, aos CEOs. Entre os diretores de seguro, as proporções são de 35% e 12%, respectivamente.

A pesquisa da Ferma também revela que as difíceis condições econômicas da Europa, que já duram quase uma década, ocupam o topo das preocupações da profissão. O tema foi mencionado por 63% dos 634 entrevistados como um dos seus principais riscos; em 2014, esse item ocupava a quarta colocação no ranking.

O segundo principal risco é da continuidade das atividades, que nem aparecia no top 10 em 2014, seguido pela instabilidade política e risco-país.

Segundo a Ferma, o envolvimento dos profissionais de risco em temas estratégicas é ilustrado pelo fato de que 68% dizem ter, entre suas atribuições, a responsabilidade de difundir a cultura de risco por toda a organização.

Além disso, 62% dizem que a gestão de riscos já faz parte da cultura de suas empresas, e 59% estão envolvidos em temas como a gestão da continuidade do negócio e de crises.

Seis em cada dez gestores de riscos entrevistados trabalham em empresas com faturamento superior a € 1 bilhão, e 80%, em companhias com mais de 20 mil empregados.

Mais cyber, menos cativas

A pesquisa também revela alguns fatos interessantes sobre as políticas de transferência de riscos das grandes empresas europeias.

Ela mostra, por exemplo, que a aquisição de apólices de risco cibernético, ainda que em crescimento, continua sendo limitada a umas poucas empresas. Apenas 37% dos entrevistados afirmam ter tais coberturas em suas companhias.

As que adquirem o seguro, porém, tendem a fazê-lo com grandes limites. Mais de dois terços das empresas que compram apólices de risco cibernético adquirem limites superiores a € 50 milhões.

Outra importante revelação é a queda no uso de empresas cativas, que são utilizadas para empresas de grande porte para implementar políticas de altas retenções de risco.

Em 2014, 39% dos entrevistados pela Ferma faziam uso de cativas. Neste ano, a proporção caiu para 34%.

A queda pode ser um efeito do longo mercado brando, que torna altos níveis de retenção menos atraentes, mas também um efeito do endurecimento da legislação sobre empresas cativas por meio de medidas como a diretriz europeia Solvência II e o acordo BEPS, da OCDE.

Clique aqui para ler o estudo em inglês.